PARTE 7
Amanda não sabia quantos quilômetros tinha rodado, nem quantas horas tinham se passado desde que fugira daquele horror, quando o motor começou a falhar, ela apenas sabia que tinham sido muitos, pelo menos uns cinquenta, sem dúvida. Ela olhou para o ponteiro da gasolina. O tanque estava vazio.
O motor deixou de funcionar e o carro foi aos poucos parando.
Não havia nada que ela pudesse fazer. Ela rodara todos aqueles quilômetros e não vira nem um maldito sinal de civilização. Podia seguir à pé, era a sua única opção. Ou podia ficar ali, dormir no carro e tentar pedir ajuda de manhã.
Foi o que ela fez.
Amanda estava exausta, machucada e com dor. Ela começou a chorar, chorou como um bebê durante muito tempo.
Seu namorado e seus amigos estavam mortos, e não havia nada que ela pudesse fazer para evitar.
Quando as lágrimas cessaram, Amanda ficou ali, recostada no banco, enquanto, aos poucos, era vencida pelo sono.
******
- Ei moça.
Uma leve batida no vidro.
Amanda abriu os olhos e os sentiu ofuscados pela luz do sol.
Sua cabeça e todo o resto de seu corpo doíam. Seu rosto e suas roupas estavam manchados de sangue.
Ela não tinha a menor ideia de onde estava.
- Moça. Abra a porta.
Alguém estava batendo no vidro do lado de fora.
A consciência foi chegando aos poucos.
Ela se lembrou do terror que deixava para trás. Etrom. Todos seus amigos estavam mortos.
Ela começou a chorar.
Olhou para fora e viu um policial batendo no vidro.
- Abra a porta e saia do veículo, por favor, moça.
Amanda abriu a porta e saiu desesperada.
- POR FAVOR! POR FAVOR! ME AJUDE!
Ela tentou ficar em pé e caiu de joelhos. O policial correu para ajudá-la.
- Céus! Mas que raios aconteceu com você, moça?!
- Eles... eles tentaram me matar!...
- O que?! Quem?! Quem tentou matá-la?!
- Aquelas... aquelas coisas! Eles mataram meus amigos e meu namorado! Eles estão mortos lá no hotel!! Eu... eu consegui...
- Ei. Acalme-se! Por Deus! Do que é que você está falando?
Amanda tentou se acalmar. Ela precisava de ajuda e a ajuda estava ali, mas precisava se acalmar e relatar exatamente o que tinha acontecido.
Ela suspirou e começou aos soluços:
- Nós... nós estávamos viajando ontem... paramos em Etrom por causa da tempestade...
- Espere... Pararam onde?!
- Numa cidade... Etrom... fica a uns cinquenta quilômetros...
- Eu sei onde fica Etrom, moça. Mas você disse que parou lá!
- É. Por causa da tempestade. Ficamos em um hotel. Pensamos que estava abandonado, mas depois os donos apareceram. Um homem e uma mulher... Marcos e... e Daniela. Era assim que eles se chamavam.
O policial meneou a cabeça com ares de que estava ouvindo um absurdo. Amanda continuou:
- Aconteceu uma coisa! Uma coisa horrível... Tinha aquelas coisas... pareciam... pareciam pessoas... mas... mas não eram. Eram... eu não sei o que eram. Tinha um monte no hotel... na cidade. A cidade estava cheia deles... eles... - ela começou a chorar de novo.- Eles mataram o Fernando, a Dericéia e o Bruno! Meu Deus! Foi horrível! E aquele homem... ele tentou me matar! Atirou em mim e tentou me estuprar!
- Qual é o seu nome? - Perguntou o policial. O nome estampado no bolso do uniforme era Reis.
- Amanda.
- Certo Amanda. Você bebeu alguma coisa?
- O que?! Não... eu não bebi...
- Certo. Você vai ter que me acompanhar até a delegacia.
- O que?! Você não ouviu o que eu acabei de dizer?! Os meus amigos, estão lá, em Etrom! A Dericéia pode estar viva! Você tem que chamar os seus parceiros e prender aquele casal. Eles são psicopatas!
- Não tem nada em Etrom, moça.
- O que?!
- Você me ouviu. Você deve ter tomado um porre e está inventando essa história.
- VOCÊ FICOU LOUCO, PORRA!
- Ei. Olha como fala!
- EU NÃO INVENTEI MERDA NENHUMA! ESTOU DIZENDO A VOCÊ QUE ESTIVEMOS EM ETROM ONTEM E AQUELAS PESSOAS TENTARAM ME MATAR! MATARAM MEUS AMIGOS! ELES SÃO LOUCOS! TODOS ELES! A CIDADE INTEIRA! ELES... ELES NEM PARECEM HUMANOS...
- Isso não é possível!
- VOCÊ SÓ DEVE ESTAR DE BRINCADEIRA!
- NÃO. NÃO ESTOU. E SE COMEÇAR COM ESSE JOGO VOU TER QUE PRENDER VOCÊ. ONDE ESTÃO SEUS DOCUMENTOS?
- DANE-SE OS DOCUMENTOS! VOCÊ TEM QUE IR A ETROM E PRENDER AQUELA GENTE!
- NÃO TEM GENTE EM ETROM!
- MAS EU VI! SÃO LUNÁTICOS!
- NÃO!
- MAS...
- CALE A BOCA E ESCUTE!!!
Amanda arregalou os olhos e completamente desesperada se calou.
O policial Reis suspirou e começou a falar brandamente:
- Escute. Desculpe ter gritado, mas foi necessário. Eu posso garantir a você que não tem ninguém em Etrom. Não existe nada lá. Etrom está abandonada há mais de trinta anos. É uma cidade fantasma, moça. Só há ruínas e animais selvagens lá.
- Não pode ser!!! Isso não pode ser!! Eu vi ontem, as pessoas, havia carros nas ruas, luzes... Eu não acredito!! Não pode ser!!
- Eu vou te mostrar. Venha comigo. Vamos dar um pulo em Etrom para você ver com seus próprios olhos. Depois vamos para a delegacia de Veridiana.
O policial a conduziu até a viatura, abriu a porta traseira e a colocou sentada. Depois deu a volta no carro e assumiu o volante. Manobrou e pegou a estrada na direção de Etrom.
Devia ser algum tipo de piada. O povo daquela região era louco, só podia ser. Amanda simplesmente não conseguia entender o que estava acontecendo.
O policial Reis pegou o rádio e falou:
- 256 para central, Alô central, você me ouve?
Ouviu-se um som de estática e logo uma voz feminina respondeu:
- Oi 256, central na escuta.
- Eu estou na altura do quilômetro 86 da BR 381, indo na direção de Etrom.
- O que vai fazer em Etrom, Mauricio?
- Vou verificar uma coisa.
- Certo, mas não vá pegar sarna. Dizem que aquele lugar é louco para dar sarna.
- Fique tranquila, Vera, não vou pegar. Desligando.
Ele olhou para Amanda através do retrovisor.
- Você está bem?
- Não. Não estou.
- Você vai ficar. Não se preocupe.
Ficaram em silêncio por alguns quilômetros e Reis perguntou:
- De onde você é?
- Estado de São Paulo. Estávamos indo para Belo horizonte.
- E quantas pessoas eram?
- Quatro. Eu, meu namorado, Bruno e a namorada dele, Dericéia.
- E pararam em Etrom?!
- Por causa da tempestade.
- Escuta moça. Há uma coisa que precisa saber sobre Etrom: Há trinta e dois anos atrás houve um vazamento de um produto químico em uma mineradora, uma espécie de gás. Eu era criança na época, mas me lembro que a cidade começou a ser evacuada às pressas. Houve relatos de que os funcionários da mineradora, cerca de cinquenta deles, começaram a apresentar comportamento psicótico horas após o vazamento do tal gás. Eram tipo, visões alucinógenas, coisas do tipo. Trinta e oito deles morreram, o restante teve de ser internado em hospícios da região. Até hoje a mineradora paga indenização às famílias. Depois disso, a cidade acabou. Foi evacuada e virou uma cidade fantasma.
Amanda ficou em silêncio.
Reis completou:
- Se vocês ficaram mesmo lá, em Etrom ontem... bem... ainda há gás tóxico por toda a parte naquele lugar. Acho que vou ter que levar você para o hospital depois.
- Está dizendo que foi uma alucinação?- Perguntou Amanda.
- Causada pelo gás. Com certeza.
- Mas e meus amigos? Eles...
- Se eles estão lá. Com certeza não estão bem.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro