PARTE 6
O escritório era a única coisa na casa que parecia pequeno.
Praticamente não havia móveis, a única mobília era uma escrivaninha empoeirada e uma cadeira.
Sandra entrou no cômodo. Ela estava pensativa. Aquela sensação de estranheza que ela passou a sentir tão logo chegou naquele lugar ainda não havia ido embora. Parecia haver alguma coisa extremamente errada com aquela casa, ela só não sabia o que. Talvez fosse apenas uma impressão infundada, aquela era apenas uma casa abandonada, talvez o silêncio e o cheiro de um lugar fechado por tantos anos evocassem aquelas sensações que deveriam ser normais.
Mas ela não estava convencida.
Toda casa, principalmente as abandonadas escondem algum segredo. Qual deveria ser o segredo daquela casa? Quem teriam sido as pessoas que viveram dentro daqueles vastos cômodos? E como teria sido suas vidas? Teriam acontecido mortes ali dentro?
Eram perguntas para as quais ela procurava respostas, mas dentro da esfera morta daquela casa, não parecia haver qualquer resposta. As respostas foram sepultadas, deviam estar emboloradas por causa da ação do tempo, escondidas em algum canto escuro e mofado daquela imensa vivenda.
Sandra olhou para a parede e viu uma espada antiga pendurada ali. Aproximou-se da vidraça e dali pode vislumbrar o jardim lá fora que em tempos passados devia ter tido um certo prestígio, hoje era o retrato do total abandono.
Sandra caminhou até a escrivaninha e sentou-se na cadeira, suspirando.
Havia duas gavetas na escrivaninha. Na primeira não havia nada, mas Sandra encontrou alguns papéis na segunda. Curiosa, ela colocou os papéis sobre a escrivaninha e passou a examiná-los.
Havia documentos antigos parecidos com notas fiscais, um deles estava em nome de Cristiano Augusto dos Anjos. Teria sido o dono da casa?
Sandra foi examinando os papéis velhos, alguns deles já comidos pelas traças, e achou alguns recortes de jornais. Não havia qualquer data no recorte, mas a julgar pela aparência devia ter mais de quarenta anos.
Sandra leu a manchete que alguém fizera questão de destacar de algum jornal:
SURTO DE ESTRANHA DOENÇA MATA MAIS DE CINQUENTA PESSOAS ENTRE ELAS DEZ CRIANÇAS.
Uma doença desconhecida que por enquanto os médicos apelidaram de o mal negro, já vitimou dezenas de pessoas nas imediações da zona rural de Pindamonhangaba, entre as vítimas estão dez crianças todas do sexo feminino entre 5 e 11 anos de idade.
Até agora as autoridades envolvidas no caso não conseguiram explicar a causa da estranha enfermidade e não há nenhuma forma de tratamento.
Na intenção de evitar que a desconhecida doença se espalhe as autoridades colocaram uma área de quase cinquenta quilômetros ao redor da zona rural em quarentena.
Havia algumas fotos em preto e branco, a qualidade delas era muito ruim, mas mostravam uma paisagem rural, ao fundo podia-se ver uma casa, e Sandra achava que era aquela casa em que eles se encontravam agora.
Ela foi remexendo os papéis e outro recorte de jornal lhe chamou a atenção:
POPULARES DA REGIÃO FAZEM DENÚNCIA JUNTO AO MINISTÉRIO PÚBLICO E AFIRMAM QUE A DOENÇA DESCONHECIDA QUE JÁ MATOU MAIS DE CEM PESSOAS, TEVE SEU INÍCIO NA ANTIGA CASA DA FAMÍLIA DOS ANJOS.
A notícia relatava um estranho acontecimento: Um grupo de pessoas armadas com foices enxadas e tochas invadiu a antiga mansão da família Anjos que agora Sandra tinha certeza que era aquela casa. A intenção do grupo era matar a família e colocar fogo na casa, já que eles afirmavam serem os habitantes da casa os responsáveis pela misteriosa doença que estava matando as pessoas. Todos foram parar na delegacia e foram indiciados por invasão de domicílio. A notícia não fazia qualquer alusão sobre as pessoas que moravam na casa.
Era uma coisa estranha. Sandra não tinha a menor ideia de como a família que morava naquela casa poderia ser a culpada pela propagação de uma doença, e os demais recortes que ali havia não esclareciam os fatos.
Outro recorte lhe chamou a atenção, este estava datado de 4 de fevereiro de 1963 e trazia a seguinte manchete:
MISTÉRIO NA ANTIGA MANSÃO.
Sandra leu a reportagem com interesse:
A polícia do primeiro distrito de Pindamonhangaba recebeu uma denuncia e averiguou um estranho caso envolvendo a antiga casa da família Dos Anjos. Dois caçadores que estavam acampando na mata nas imediações da propriedade relataram ter ouvido gritos aterradores vindo da casa na última noite de sábado.A polícia foi averiguar o caso na manhã de segunda, e encontrou a casa completamente abandonada. Até o presente momento o caso é um mistério e a polícia não tem a menor ideia sobre o paradeiro da família.
Sandra coçou a cabeça. A coisa não deixava de ser estranha, muito estranha. Uma família não podia desaparecer assim sem mais nem menos. Sandra desejava ter mais informações sobre aquela família, mas não havia nada.
Ela continuou folheando os papéis e encontrou algumas fotos e presumiu logo de cara que eram fotos da família.
Havia a foto de um homem, e era uma foto sinistra, a foto mais sinistra que ela já tinha visto em toda sua vida. O homem era velho, a barba hirsuta, estava trajado de maneira impecável dentro de um terno e tinha uma cartola na cabeça.
Sandra estremeceu ao ver o rosto do homem. Era um rosto terrível. Na foto seus olhos pareciam estar acesos e eram estranhamente vermelhos. Ela presumiu que aquele homem devia ter sido um demônio em pessoa, sua face deixava transparecer aquilo.
O homem estava posando para a foto sentado em um sofá que ela presumia ser aquele que estava na imensa sala diante da escada.
Sandra estava pronta para pegar outra foto quando alguma coisa lhe chamou a atenção. Ela ergueu a foto até mais próxima dos olhos e viu que havia alguma coisa na escadaria, no andar superior. Parecia a sombra de alguém mas era estranhamente disforme.
Ela franziu o cenho e tocou a foto com a ponta do dedo para ver se não era alguma mancha.
Deixou a foto de lado e pegou outra. Essa mostrava uma mulher. Ela estava sentada aparentemente no mesmo sofá. Usava um vestido preto imenso. Um véu branco ocultava completamente seu rosto.
Sandra olhou para o fundo da foto e viu no alto da escada a mesma sombra que tinha visto na primeira.
Era uma foto bizarra, Sandra sentiu- se arrepiada.
Outra foto mostrava o homem e a mulher juntos. Uma terceira mostrava a mulher e duas crianças, Outra foto mostrava apenas as crianças. Era uma foto de péssima qualidade, mostrava duas crianças que pareciam ser uma menina e um menino, sentados no mesmo sofá.
A primeira coisa que veio na cabeça de Sandra era que havia alguma coisa de muito errada com aquelas crianças.
A sombra estava na foto das crianças também, mas agora parecia ter descido os degraus da escada, estava mais próxima das crianças e Sandra podia jurar que era uma mulher.
Sandra não gostou daquelas fotos. Havia algo de muito macabro naquilo tudo. Deviam ser apenas fotos antigas de uma família estranha, mas Sandra sentia algo mais, Sandra sentia algo terrível, uma coisa oculta que ao mesmo tempo estava patente aos olhos e era terrível.
Havia mais fotos na gaveta e Sandra as pegou. Estavam reunidas em um bolo amarradas com uma tira de barbante.
Sandra desamarrou o barbante com uma certa dificuldade e começou a ver as fotos.
A primeira era uma simples foto da casa. Seus olhos logo foram atraídos para uma das janelas do terceiro andar. Havia uma sombra ali.
Sandra franziu o cenho e sem entender porque, sentiu medo.
A foto seguinte era uma foto do gramado. estava bem cuidado na ocasião. Sandra reconheceu o caminho de pedras que levava até o depósito de ferramentas. Ela viu a cerca de sebes e... havia alguém entre as sebes da cerca. Apenas uma sombra, mas perfeitamente visível.
- Meu Deus! Mas quem é essa?!
Ela pegou outra foto. Era uma mulher, a mesma mulher com o véu. Estava de costas olhando no patamar da escada. Sandra olhou para a cerca e lá estava a sombra.
A outra foto mostrava a mulher do véu parada no mesmo lugar, mas agora ela estava de frente para a câmera. Também ali aparecia a sombra.
Sandra pegou outra foto, a mulher estava apontando para alguma coisa lá em baixo.
Outra foto, e agora o rosto da mulher aparecia parcialmente. Era um rosto terrível. Os olhos estavam esbugalhados de pânico. A sombra nas sebes havia desaparecido.
Sandra puxou outra foto. A mulher havia desaparecido. O véu que ela usava cobrindo o rosto estava no chão.
Sandra franziu o cenho. Seu coração palpitava.
Ela puxou outra foto.
A foto mostrava ela mesma sentada diante da escrivaninha. Havia uma sombra na vidraça. Uma sombra negra e disforme.
Sandra arregalou os olhos e atirou a foto para longe de si. Olhou para a vidraça e viu a sombra negra olhando para ela. Seus olhos eram vermelhos, terríveis.
Ela gritou em estado de pânico e se levantou da cadeira afastando-se da escrivaninha.
Sandra sentiu alguém atrás dela.
Seu coração agora disparava no peito. Um medo profundo a dominava.
Ela voltou-se abruptamente para trás e deu de cara com Leonardo.
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