A biblioteca era gigantesca, Tatiana sabia que iria precisar de um caminhão baú para levar todos aqueles livros. Ela achava que havia feito um achado e tanto. A maioria dos livros que estava ali eram encadernações antigas e gigantescas escritas em uma língua que ela não tinha a menor ideia de qual pudesse ser, mas agora ela tinha certeza de que não era latim.

As prateleiras estavam dispostas em dois níveis, havia uma escada que levava a uma espécie de deck feito de ferro. Os livros maiores e aparentemente mais antigos estavam no nível superior.

Ela subiu e começou a examinar os livros, percorria as lombadas com os dedos e lia os títulos mas não tinha a menor ideia do que estava lendo.

Um dos livros lhe chamou a atenção, porque aparentemente era mais velho que todos os outros, a lombada estava gasta e a capa rasgada.

Ela puxou o livro. Era uma encadernação enorme, a capa deteriorada era de couro.

Havia uma mesa de leitura ali por perto, ela levou o livro para lá e sentou-se, abriu-o e começou a folheá-lo. Era um livro de figuras bizarras intercaladas com textos completamente incompreensíveis. As páginas eram grossas, e não pareciam em nada com papel. Tatiana entendia de livros raros mas não tinha a menor ideia do que tinha em mãos.

Havia um título no meio da primeira página mas ele era incompreensível.

Tatiana virou a página e o que estava vendo era uma porção de símbolos e caracteres desconhecidos. Havia uma cabeça deformada no alto à direita da página. Era bizarro e medonho.

Ela virou a página, os caracteres se repetiam, mas agora a página mostrava a figura de um ser bestial e terrível. A próxima página mostrava um símbolo estranho, que aparentemente era um brasão onde apareciam as cabeças de dois dragões. A página seguinte era mais bizarra, mostrava seis seres semelhantes a vermes terríveis.

Ela foi passando as páginas, o livro estava cheio daquelas figuras bizarras, os textos mostravam caracteres que não se assemelhavam a nenhuma língua humana falada na atualidade.

- Mas que bosta é essa?! - Ela perguntou em voz alta e sua voz pareceu ecoar em meio ao silêncio que desabava sobre a biblioteca.

Tatiana virou mais uma página e estremeceu. A página mostrava um corpo esquartejado no meio de um pentagrama. Abaixo da figura ela conseguiu ler a palavra  "Dismembrant."

Tatiana sentiu um arrepio lhe percorrer a espinha.

Ela percorreu mais páginas, viu desenhos de seres bestiais, aparentes sacrifícios, cultos a divindades desconhecidas, rituais macabros. O livro era terrível e parecia tratar sobre rituais de ocultismo. Parecia... ela não tinha ideia do que pensar.

" Necronomicon."

O pensamento a atingiu como um dardo.

- Mas isso é impossível, não é?

O necronomicon era apenas uma obra de H. P. Lovecraft, não era?

" Você sabe que não."

Ela sabia. Aparentemente a coisa era real. O tal Necronomicon teria sido realmente escrito em torno de 730 d.c por um cara chamado Abdul Alhazred. Um livro que descrevia rituais, fórmulas mágicas e toda aquela coisa de ocultismo. Havia trechos, que segundo estudiosos do assunto, falavam sobre civilizações além do gênero humano que habitaram a terra vindas de outras esferas do sistema solar.

Estaria ela diante do obscuro e proibido Necronomicon?

" Não pode ser. É impossível! Uma coisa escrita em 730 dc?"

Talvez fosse uma cópia, uma cópia em excelente estado de conservação. Era uma possibilidade, uma possibilidade que a enchia de esperança, porque se fosse verdade, se aquilo fosse  o Necronomicon, mesmo que fosse uma cópia, devia valer rios de dinheiro. Talvez existisse algum colecionador milionário atrás de uma bizarrice como aquela, era uma questão de pesquisar.

Ela folheou novamente o livro, as figuras eram realmente bizarras, causavam arrepios.

Ela fechou o livro e suspirou.

" Tatiaaaaaaanaaaaaaaaa. "

Tatiana olhou à sua volta, sentindo um arrepio estranho percorrer todo o seu corpo.

De repente a esfera daquele lugar mudou, tornou-se algo opressor, ela sentia alguma coisa, uma presença. Era como se não estivesse sozinha ali.

" Tatiaaaaaaaanaaaaaaaa. "

- Quem está aí? Sandra? É você?

Tatiana olhou para baixo e viu alguém, uma mulher parada perto da lareira. Agora ela estava tremendo de medo, um medo profundo, que ela não conseguia compreender.

Ela se levantou e aproximou-se da balaustrada, olhou para baixo e viu a mulher parada lá, e ela podia jurar que havia algo de muito errado com aquela mulher.

- San... Sandra? É você?

Mas ela sabia que não era.

Tatiana ouviu um ruído e olhou para a mesa. O livro que ela havia deixado fechado agora estava aberto.

Tatiana se aproximou dele e viu a figura bizarra de alguém, alguém com um abismo no rosto. O abismo era profundo. Tatiana sentiu-se mal. Era como se aquele abismo a chamasse, ela podia ouvir um chamado morto e amorfo vindo da escuridão profunda daquele abismo

" Tatiaaaaaanaaaaaaa. Veeeeeenhaaaaaa até nós Taaaaaaaaatianaaaaaaa! "

Tatiana olhou para baixo novamente, a mulher havia desaparecido.

Ela saiu rapidamente dali.