A chuva apertou por volta do meio dia. Leonardo arranjou um plástico para tapar o teto solar que Sandra quebrara. Um desperdício desgraçado. Aquilo lhe custaria os olhos da cara.

- Merda. - Disse Leonardo em voz alta e sua voz pareceu ecoar em meio ao silêncio que imperava no lugar.

Ele não gostava de silêncio. Na verdade ele não via a hora de ir embora dali. Não entendia porque mas não gostava daquele lugar. Já tinha visitado uma dezena de casas que sua mãe comprara mas aquela tinha algo de diferente que ele não sabia explicar o que era, mas não gostava.

Leonardo acendeu um cigarro e saiu caminhando pelo caminho de pedras que levava até a cerca de sebes.

Estava frio ali nas montanhas e ele ajeitou a lapela de seu casaco. Pelo jeito que as coisas iam aquela chuva iria durar dias, talvez semanas. Talvez o mais prudente fosse ir embora antes que as condições da estrada piorassem, a última coisa que ele queria era ficar preso naquela casa exatamente no fim do mundo, além disso já tinha feito o que viera fazer.

" Leeeeeonardooooooooo"

Leonardo parou e olhou para a casa. A fachada era estranha, era quase assombrosa. As janelas pareciam centenas de olhos que olhavam para ele de maneira intimidadora.

Viu uma silhueta parada por trás de uma das janelas do terceiro andar e acenou. Não tinha certeza, mas achava que era Tatiana.

" Leeeeeeonardoooooooo"

Ele olhou na direção da estrada. Não havia nada senão o jardim onde a grama crescera em profusão, e além dele a floresta.

Olhou de novo para a janela onde vira (ou pensara ter visto) a silhueta mas não havia nada lá.

Um arrepio percorreu todo  seu corpo e seu coração palpitou, algo que ele pensava ser medo. Um  medo inexplicável se apossou dele.

Voltou-se para a cerca de sebes e viu uma sombra se esgueirando pela escada.

Leonardo deu um salto, seu coração quase saiu pela boca. Agora ele estava completamente assustado.

" Veeeeeenhaaaaa Leeeeeonardoooooo! Veeeeenhaaaaaa até mim. "

- Ei. Quem está aí? Rose, é você?

Silêncio.

Ele atirou fora o cigarro ainda pela metade e caminhou até a escadaria. Parado no patamar viu alguém entrando no depósito de ferramentas lá embaixo.

" Veeeeenhaaaaaa Leeeeeeonardooooo! Mate pra mim! Mate todos eles."

Leonardo olhou para a casa. Era estranho, mas a fachada estava sorrindo para ele. Ele franziu o cenho, achando que talvez estivesse ficando louco.

Voltou a olhar para o depósito de ferramentas lá em baixo e começou a descer a escada.

A porta estava aberta, lá de dentro vinha apenas a escuridão.

- Olá. Tem alguém ai?

Silêncio.

- Marcos? É você?

Nenhuma resposta.

Empurrou a porta e as dobradiças rangeram produzindo um som metálico que em meio ao silêncio parecia um som ensurdecedor.

Leonardo entrou no depósito.
O lugar estava imerso na penumbra e aparentemente vazio.

" Mate pra mim Leonardo. Mate todos eles!"

Leonardo sentiu uma forte dor de cabeça e achou que fosse apagar.

Segurou na parede. Sua visão tornou-se turva.

Por Deus! Ele não tinha a menor ideia do que estava acontecendo, mas estava se borrando de medo. Parte dele queria fugir, mas suas pernas pareciam estar pregadas no chão.

- Marcos, se é você que está ai, vou lhe dar um murro, seu filho da puta.

Um ruído ecoou atrás dele e ele se voltou rapidamente para a porta.

Não havia nada.

De repente o ar tornou-se extremamente frio. Leonardo sentiu uma coisa atrás de si. Era uma coisa morta, ele podia sentir a morte que ela exalava. Ele queria mas não ousava olhar para trás. Todo  seu corpo agora tremia. O terror envolvia sua alma.

A coisa tocou seu ombro, Leonardo sentiu uma mão fria, pegajosa. O cheiro era de podridão.

- Mate pra mim Leonardo. - A voz era morta, amorfa. Sussurrava em seu ouvido esquerdo. - Mate pra mim!

Então desapareceu.

Leonardo ficou petrificado durante um tempo que pareceu uma eternidade. Então ouviu um ruído e olhou à direita.

Havia um machado encostado na parede.