PARTE 1
Aderval estava com sorte. Ele sentia isso. A noite era perfeita, uma enluarada noite de lua cheia, fria sim, mas perfeita. Ele estava dirigindo um opala diplomata 4.1 seis cilindros, ano 92 que estava em perfeito estado de conservação, tomava uma cervejinha e estava feliz. Ele fumava um cigarro enquanto dirigia e mantinha a janela aberta, apesar do frio para a fumaça poder sair, e pensava no que ia fazer naquela noite daqui a algumas horas, ele ia transar. Não era a primeira vez que ele transava, já tinha feito isso várias vezes, mas agora a coisa era diferente porque ele ia transar com a mulher da sua vida, a garota que ele amava, a garota com quem ele queria se casar e viver ao lado dela para sempre. Sim, Aderval era um cara apaixonado.
A garota era Regina, de 19 anos, simplesmente linda, simplesmente perfeita, sem dúvida alguma a melhor e mais gostosa garota com quem ele já tinha namorado em toda a sua vida.
Bem, não era bem um namoro, aquela era a quarta vez que ele ia sair com Regina, nas duas primeiras vezes não aconteceu nada, na segunda vez ele conseguiu beijá-la, na terceira noite rolaram uns amassos que não evoluíram para nada mais sério, porque Regina parecia estar com medo e ele também ficou com medo de forçar a barra e perder a garota para sempre.
Então, em uma semana fodida, de muita correria com o trampo (Aderval era mecânico de motos) e algum certo prejuízo financeiro causado por clientes filhos da puta que não passavam de malditos caloteiros, Regina ligou para ele. Regina ligou para ele e disse que estava sozinha em casa e que seu pai iria voltar apenas daqui a dois dias; Regina ligou para ele e disse que estava louquinha para dar a buceta, e essas foram as próprias palavras ditas por ela. Aderval sentiu que sua sorte estava mudando e que ele teria alguma compensação pela semana conturbada.
Agora, por volta das oito da noite daquela enluarada noite de junho, Aderval dirigia o imenso diplomata em direção à casa de Regina e sentia que era um cara de sorte. Era um cara de sorte porque iria foder uma garota gostosa como Regina, e era um cara de sorte porque aquele diplomata estava em seu nome e não tinha uma única dívida sequer.
É, ele tirara a sorte grande.
Aderval dirigiu uns cinco quilômetros da cidade até a casa de Regina, fumou dois cigarros e tomou uma cerveja, da caixa que ele tinha comprado e que ainda estava gelado, que era o que importava. Ele ouvia rock metal enquanto dirigia, e pensava que era um cara sortudo.
Logo ele deu seta e entrou à esquerda por uma rua de terra, atirou fora a lata de cerveja vazia e pegou outra. Dirigiu mais um quilômetro e meio até a casa de Regina e parou o carro.
A casa parecia fechada, mas havia claridade nas janelas indicando que havia gente em casa. O carro do pai de Regina não estava na garagem, o que era ótimo.
Ele desceu do carro e acendeu outro cigarro. Tudo ao redor estava em silêncio o que era uma coisa comum em regiões rurais como aquela, o único som vinha do rádio que à essa altura estava tocando sepultura.
Aderval caminhou até o portão da casa de Regina e o abriu. Tudo bem, ela não tinha cachorro, se tivesse ele não ousaria abrir o portão, Aderval odiava cachorros.
A grama estava bem aparada, o que era de se esperar, já que o pai de Regina era paisagista.
" Foda-se ", pensou Aderval. A profissão do velho não importava, tudo o que ele queria era comer a buceta da filha dele, e naquela noite ele faria aquilo, faria aquilo muitas vezes.
Ele caminhou até a porta e tocou a campainha, esperou, ninguém atendeu, tocou novamente. Tocou umas seis vezes e nada.
Ele sentia-se ligeiramente nervoso, não sabia porque, terminou o cigarro e atirou a guimba no gramado, depois foi lá, a recolheu a atirou na rua.
- Mas que merda.
Olhou para o segundo andar do sobrado onde Regina morava. Depois contornou a casa pelo gramado e viu uma estátua. Estava no meio do gramado no que parecia ser um chafariz. Aderval franziu o cenho e aproximou-se da estátua, e ficou ali por alguns instantes tentando adivinhar o que era aquilo. Era uma estátua bizarra, Aderval não gostou dela logo de cara. Parecia ser algum tipo de criatura bestial, alguma mistura de alienígena, peixe e ser humano, talvez um polvo.
Aderval balançou a cabeça e pensou em H.P. Lovecraft. Ele gostava de ler de vez em quando, e quando lia, lia caras como Lovecraft, Conan Doyle e Dickens. Lera um conto de Lovecraft intitulado no chamado de Cthulhu. Aquela estátua parecia aquilo, parecia Cthulhu de H.P. Lovecraft. Um ser bestial saído da mente de algum louco.
Era uma coisa horrível e estava ali bem no meio do gramado da casa da garota que ele amava, e isso o fez pensar que o pai dela era um paisagista de péssimo gosto.
De repente Aderval foi tomado por um intenso mal estar e estremeceu, um pânico sem explicação o dominou. Sua visão ficou turva, sentiu-se como se estivesse caindo em um abismo profundo, um abismo de escuridão intensa, onde aquela criatura horrenda vivia. Havia milhares, milhões delas e elas viam tudo, apesar da intensa escuridão. Aderval sentiu-se observado, era como se milhares de olhos o perscrutassem, sondavam sua alma, conheciam seus pensamentos, e por mais que ele quisesse fugir, jamais conseguiria.
"AAAdervaaal!"
Um chamado morto, vindo de muito longe, nascido no profundo do abismo negro onde as trevas habitavam.
"Aaaadervaaal! "
- Ei Aderval, você está bem?
Aderval olhou para cima, e como se tivesse despertado de um pesadelo levou um susto.
Regina estava olhando para ele da sacada.
- Oi... Eu... Regina...
- Você está bem? Parece pálido.
Ele estava branco como leite, suava frio e seu coração palpitava.
- Eu estou bem. Você... você vai demorar?
- Já vou descer, estou terminando de me arrumar. Quer entrar?
- Não... vou... vou esperar no carro.
- Está bem.
Regina lhe soprou um beijo e saiu da sacada.
Aderval olhou para a estátua e estremeceu. Ele saiu dali rapidamente.
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