PARTE 1
O lugar onde eles estavam parados era conhecido como " Beco do gozo sinistro " e era comumente usado por pessoas em busca de um local tranquilo para uma trepada. Durante o dia era fácil você encontrar uma grande quantidade de camisinhas usadas no local. Era o pequeno motel ao ar livre de Santo Antonio do Pinhal. Tratava-se básicamente de um conjunto de estradas abandonadas que tinham sido abertas no meio da mata para a construção de um condomínio que mais tarde acabou sendo embargado pelos órgãos ambientais competentes.
A maioria das pessoas que moravam na cidade, principalmente os mais jovens, já tinha frequentado o lugar. Ali você podia gemer alto sem ser incomodado, podia foder uma vagina, dar a bunda e puxar o fumo à vontade, ninguém se importava. Você podia foder no banco traseiro de um carro, ou entrar em alguma trilha que cortava a floresta e fazer um belo piquenique sexual.
Leandro tinha 19 anos de idade e dirigia um VW fusca ano 79 rebaixado, azul e em impecável estado. Uma das coisas que Leandro se orgulhava naquele carro era o frigobar que tinha sido instalado em baixo do capô dianteiro e que custara três vezes o valor do próprio carro. Uma idiotice para alguns (inclusive para seu pai) mas não para Leandro. Para ele o frigobar era uma questão de status, além disso ele não tinha usado um único maldito centavo que não tivesse saído da porra do seu bolso. Aquele carro era tipo a alma de Leandro, e uma das coisas que ele mais gostava de fazer (além de foder uma vagina de vez em quando) era dirigir aquele fusca, e ele achava que iria dirigi-lo até morrer. Era uma coisa prazerosa, podia ser equiparado a fazer sexo, e isso não era (na opinião de Leandro ) nenhum exagero.
Leandro passara na casa de Rosemari por volta das oito da noite daquela enluarada sexta-feira, a colocou no banco do passageiro e saiu por ai, dirigindo como um rei, fazendo questão de que as pessoas vissem que era ele dirigindo o melhor fusca de toda a região, tendo ao lado dele uma das melhores garotas da cidade. " Morram de inveja filhos da puta."
Rosemari tinha 18 anos, era uma garota bonita, morena, estatura mediana, os seios fartos para uma garota de 18 anos, os olhos verdes e os cabelos ligeiramente loiros, podia-se dizer que era popular na escola, os caras pagavam o maior pau para ficar com ela mas ninguém tinha o fusca de Leandro. Com aquele fusca, e, principalmente com o frigobar que havia nele, Leandro podia pegar a garota que quisesse.Talvez isso não fosse possível se ele não tivesse o fusca e se não houvesse investido os cinco mil no frigobar. Leandro era um cara comum, não era nem bonito. É claro que ele sabia beijar e tinha um pau que cá entre nós não fazia feio na hora do "vamo ver", mas era um cara comum. O que ele tinha era sorte e o fusca, e com o fusca as coisas ficavam melhores com as garotas. Mas, naquele momento, a única garota que lhe interessava era Rosemari. Sua linda Rosemari. Já fazia algumas semanas que ele vinha saindo com Rosemari. Ele reconhecia que ela estava sendo uma das garotas mais difíceis. Geralmente transava com as garotas no terceiro, no máximo no quarto encontro. Por duas vezes conseguira o trunfo de trepar na primeira noite. Mas com Rosemari as coisas estavam sendo mais difíceis. Mas aquela noite era especial, porque naquela noite ele a levaria para o " Beco do gozo sinistro". Rosemari ligara para ele ainda de manhã e dissera que estava pronta e isso era tudo o que Leandro queria ouvir. Ela estava pronta e ele também. Ele se abastecera de camisinhas, colocou duas garrafas de um bom vinho em seu frigobar e partiu para a jornada épica. É claro que não era a primeira vez que ele visitava o beco com alguma garota em seu carro, tinham sido várias, mas nenhuma como Rosemari.
Ele tinha que admitir que a coisa estava sendo diferente com Rosemari. Por ela ele sentia algo mais além de simples tesão. Gostava de estar com ela, de sua companhia, de ouví-la falar. Podia-se dizer (ele sabia que era verdade mas não queria admitir) que Leandro estava apaixonado pela primeira vez em toda a sua vida, e isso desde que transara pela primeira vez com uma de suas primas, episódio esse que lhe custara uma surra que ele jamais esqueceu na vida.
Agora o relógio passava das onze da noite. Eles estavam parados em algum ponto do Beco do gozo sinistro, os vidros fechados para não deixar o ar frio da noite (estava frio, muito frio) entrar no carro, a única iluminação vinha da pequena luz de leitura no teto do fusca, o rádio estava ligado tocando uma música romântica bem baixo. Os dois estavam nús e transavam, e Leandro estava propenso a crer que aquela era a melhor trepada que ele já tinha dado em toda a sua vida. Talvez porque ele esperara por aquilo com afinco desde a primeira vez que saira com Rosemari.
Rosemari era linda e muito gostosa, a garota mais gostosa que ele já tinha visto, e ele diria isso à ela se ela pedisse. Ele comeria bosta se ela pedisse, ele faria isso, porquê Leandro era um cara picado pelo bichinho malvado da paixão. Leandro estava num estágio em que não era senhor de suas próprias ações, sua vida era da garota que estava com ele, mesmo que ele não percebesse aquilo.
Os dois foderam uma vez, depois repetiram a dose, ficaram largados no banco traseiro do carro por alguns instantes enquanto Elvis Presley cantava Love me Tender a plenos pulmões:
Love me tender, love me sweet
Never let me go
you have made my life complete
and I love you so
Ele a beijou e sussurrou em seus ouvidos:
- Você tornou minha vida completa. Eu te amo.
Ela não respondeu. Limitou-se a pedir mais.
Depois deram uma terceira, e Leandro pensou que fosse morrer de tanto tesão. Por alguns instantes ele chegou a temer que pudesse não dar conta do recado, Rosemari parecia uma máquina de sexo insaciável, mas então a coisa parou na terceira e Rosemari relaxou. A noite estava ganha, o que viesse seria lucro.
Leandro a beijou novamente e disse:
- Você é muito gostosa, sabia?!
- É. Eu sabia.
- Oh, sua " arrogantizinha "!
- Mas sou gostosa, mesmo, não sou?
- É. Você é. Quer tomar um vinho, sua gostosa?
- Você tem vinho?!
- Espere e verás.
Leandro saiu do carro fechando a porta.
O vento frio da noite atingiu seu corpo nú como se milhares de dardos estivessem penetrando na sua carne. Ele estremeceu.
Um pensamento estranho surgiu na sua mente e ele ficou pensando em como seria se perder naquela floresta durante à noite, sozinho e palado no meio do frio congelante. Provavelmente você seria encontrado no dia seguinte, duro como um bloco de gelo, a boca cheia de formigas; seu pau estaria duro mas não era tesão, era frio, um frio terrível que congelaria seu sangue.
Ele afastou o estranho pensamento de sua mente. Caminhou uns três passos até a parte da frente e começou a mijar. Dali dava para ver boa parte da cidade toda acesa lá embaixo, era uma vista incrível. A noite não podia estar mais perfeita. Ele abriu os braços e gritou como se a cidade pudesse ouvi-lo:
- QUE TREPADA BOA, PORRA!!!
É, a trepada fora boa, inesquecível.
Voltou ao carro e abriu o capô acendendo a luz que havia ali.
Pensou ter ouvido um ruído vindo de algum ponto na mata. Parou e ficou em alerta. Olhou à sua volta e não ouviu nem viu nada. A floresta parecia estar estranhamente mergulhada no mais absoluto silêncio. Nem mesmo um único grilo ousava cricrilar.
"Deve ser a porra do frio", pensou ele.
Pegou o vinho e dois copos e voltou a fechar o capô, entrando no carro em seguida.
- Aqui está. Nada melhor do que um bom vinho depois de uma trepada. É o que eu acho.
- Você tá tremendo!
- Tá um frio do caralho lá fora.
- Nossa! Que chique! O seu fusca tem até frigobar!
- Meu fusca é especial, gata.
Leandro serviu o vinho.
- Vamos fazer um brinde.
- E a que brindaremos?
- À nós, meu amor, e à essa noite maravilhosa.
Os dois brindaram e Leandro serviu mais uma rodada.
Rosemari consultou o relógio e arregalou os olhos.
- Nossa! Já são quase meia noite!
- E o que tem, gata?
- Já é bem tarde.
- Relaxa. O tempo não importa. - Ele a abraçou. - Tudo o que importa está aqui dentro.
Rosemari olhou para fora através da janela. Vislumbrou apenas sombras que eram formadas pela difusa luz da lua cheia que brilhava intensamente.
- Não é um lugar perigoso para se estar a uma hora dessas?
Leandro deu risada.
- Perigoso?! De onde poderia vir o perigo, gata? Não precisa ter medo, eu protejo você.
- Não estou com medo.
- Não? Mas eu aposto que ficaria se você soubesse da merda que aconteceu nesse lugar, há alguns anos.
- Lá vem você inventando essas merdas para tentar me assustar!
- Mas isso não fui eu que inventei. É uma história que o povo conta, uma lenda local. Dizem que há dezenas de anos atrás, um cara, morador da cidade, trouxe a namorada dele para cá e a matou à machadadas.
Rosemari perguntou, curiosa:
- Por que ele a matou?!
- Ele descobriu que ela estava dando a buceta para outro cara...
Rosemari lhe deu um tapinha no braço.
- Credo que termo mais chulo! Dando a buceta!
- Está bem. Ela estava fodendo a buceta.
Rosemari riu. Leandro continuou:
- Então, em uma noite de lua cheia, ele colocou a garota dentro do chevette velho que ele dirigia e a trouxe para esse lugar. Ele tentou estuprá-la dentro do carro, a garota conseguiu escapar e saiu correndo pelo meio da floresta. O cara pegou um machado e foi atrás dela. Quando ele a alcançou, partiu a cabeça dela com o machado, depois aproveitou e deu um jeito na própria cabeça.
Rosemari riu com ar de deboche.
- Fala sério! Você está inventando isso, confesse. Quem se mataria com uma machadada na cabeça?!
- Vai dizer que não é possível?!
- Isso deve ser uma falácia!
- Não! É verdade! Vai dizer que você nunca ouviu essa história!
- Pior que não, cara.
- Quem me contou foi o meu avô. O cara trouxe a mina dele até aqui e a eliminou, depois se matou. Desde então o lugar ficou assombrado. Dizem que em noites de lua cheia é possível ouvir os gritos da mulher gritando por socorro no meio do mato.
O sorriso morreu no rosto de Rosemari e ela sentiu um arrepio. Olhou novamente para fora, mas lá só existiam as sombras.
- É... é melhor a gente ir embora.
Leandro riu.
- Você ficou com medinho.
- Não. Só quero ir embora. Pode me levar para a casa, Don Juan?
- Está bem. A gente vai. Só vou guardar a garrafa e os copos lá no frigobar.
Leandro deu um beijo em Rosemari e saiu do carro. Guardou a garrafa e os copos no frigobar e fechou o capô.
Então, de repente, um grito ecoou na noite quebrando o silêncio sepulcral que desabava sobre o lugar.
Era um grito estridente, de mulher, vindo diretamente de algum ponto no meio da mata.
No mesmo instante ele sentiu um arrepio percorrer todo o seu corpo, seus cabelos ficaram em pé e ele ficou paralisado, sentindo seu coração palpitar.
Leandro olhou para a floresta, e depois para o carro, para certificar se Rosemari não estava fazendo uma brincadeira, pelo fato dele ter contado a história à ela. Tudo estava imerso nas sombras e mergulhado no mais absoluto silêncio. Não havia qualquer vestígio do grito que ele ouvira, ou pensara ter ouvido, ainda a pouco.
" Não seja idiota, cara, não houve grito nenhum. Você sabe disso."
Ele sabia? Estaria ele ficando louco?
Ele abriu a porta do carro, pegou sua calça e começou a vesti-la.
- Está tudo bem? - Perguntou Rosemari. - Você está pálido. Viu um fantasma?
- Não é nada.
Leandro abriu o porta luvas e pegou uma lanterna.
- O que foi Leandro? Aonde você vai?
- Eu acho que vi uma coisa ali. Vou dar uma olhada e já volto.
- Vai me deixar sozinha?!
- É rapidinho meu anjo. Não se preocupe. Feche a porta.
Leandro assoprou um beijo para ela e saiu caminhando.
Acendeu a lanterna e embrenhou-se pela estrada. Caminhou uns duzentos metros e fez uma curva. Olhou para trás e já não podia ver mais o carro.
"O que pensa que está fazendo meu chapa? Volte já para aquele carro e dê o fora."
Era o que ele devia fazer, era o que seria sensato. Mas não foi o que ele fez.
A floresta ao seu redor era uma mancha escura e silenciosa, nem mesmo um único curiango ousava emitir seu agourento piado.
Seu avô, oitenta e nove anos e completamente senil, costumava dizer que se um curiango cantasse alguém iria amanhecer morto. Mas ali não havia curiangos, ali não havia nada. Apenas a noite silenciosa. Um silêncio sepulcral, o silêncio da morte...
Leandro viu uma coisa à frente e se aproximou. Para sua surpresa viu que era um carro. Por um segundo ele chegou a pensar que mais alguém além dele e Rosemari resolvera parar ali no beco do gozo sinistro para dar uma trepada, seria normal, as pessoas costumavam, vir ali exatamente para aquilo, mas então viu que aquele carro estava ali há muito tempo. Estava inteiro apesar da deterioração de tantos anos, e para sua surpresa ele constatou que era um chevette. Ele se aproximou do carro e com a lanterna iluminou seu interior. Nada, era apenas um carro abandonado.
" Mas quem iria abandonar um carro aqui ? "
Ele pensou na história que tinha acabado de contar para Rosemari e meneou a cabeça.
" Não seja patético! Volte agora mesmo para o carro e de o fora daqui!"
Uma sombra passou como uma bala atravessando a estrada e embrenhando-se floresta adentro.
Leandro deu um grito e dirigiu o foco de luz da lanterna para a frente. Ficou ali parado por alguns instantes esperando que alguma coisa irrompesse da floresta e saltasse em cima dele. Nada porém aconteceu.
Ele deu uns cinco passos para a frente e viu o que parecia ser uma trilha que entrava na floresta e desaparecia na escuridão.
Parte dele sabia que o mais prudente a fazer era voltar ao carro e dar o fora daquele lugar o quanto antes.
- Merda. - Disse Leandro e entrou na trilha.
Seu coração estava palpitando, ele percebeu que um suor frio brotava da sua testa. Era um nervosismo por uma coisa que ele não tinha a menor ideia do que pudesse ser.
Percorreu a trilha, a floresta parecia desabar sobre ele e formar um túnel. Era mais escuro ali dentro do que na estrada.
- SOCOOOORROOO!
O grito fez Leandro gelar de alto a baixo. Um medo intenso o envolveu e ele começou a tremer.
Parou, olhou à sua volta com a ajuda da lanterna.
- Olá. Tem alguém ai?!
- ME AJUDE! ME AJUDE, POR FAVOR!
Era uma mulher, e o grito estava vindo de algum ponto à frente. Leandro apertou o passo e chegou à uma clareira.
- Oi. Onde você está? Você está bem?
- ME AJUDE! ME AJUDE POR FAVOR!
O pedido de socorro vinha de algum ponto nas suas costas. Leandro sentiu todos os pelos de seu corpo se arrepiarem. Girou os pés e voltou-se para trás projetando a luz da lanterna para o ponto de onde estava vindo o grito.
Seus olhos saltaram da órbita. O pavor o envolveu de uma forma intensa.
Havia uma mulher caída no chão em uma poça de sangue podre e fétido. A carne podre e flácida pendia dos ossos. Larvas se retorciam onde antes estavam suas visceras. Os cabelos estavam grudados no couro cabeludo. Um cheiro terrível de podridão entrou pelas narinas de Leandro e invadiu sua alma. Instintivamente ele deu um passo para trás. A mulher estendeu o braço podre e implorou:
- ME AJUDE!
Leandro soltou um grito e saiu correndo.
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