Telefonema*
*Baseada em fatos reais.
A bebê Ana passou mal a noite inteira, com febre. Hoje minha mãe não foi trabalhar.
-- Izabel*, eu preciso que você vá na padaria Santa Ângela e ligue na casa da dona Maria Turca, avisando que vou levar a Ana para o hospital e por isso não vou trabalhar hoje. -- Minha mãe trabalhava em três casas de gente rica, uma do lado da outra, como faxineira, avisando em uma as outras também saberiam.
Ela me entregou o número do telefone em um papelzinho.
-- Mas filha, você não pode chamar ela de dona Maria Turca, entendeu? É só dona Maria.
-- Tá bom, mãe.
Saí pela rua, papelzinho na mão, pensando sem parar: Não é pra chamar de dona Maria Turca, não é pra chamar de dona Maria Turca, não é pra chamar de dona Maria Turca.
Chegou minha vez de telefonar, meu primeiro telefonema na minha curta vida de 9 anos. O telefone fez uns barulhos e de repente ouvi uma voz do outro lado:
-- Alô?
-- ALÔ? É DA CASA DA DONA MARIA TURCA?
A pessoa do outro lado da linha começou a rir muito e eu só passei bem rápido o recado que minha mãe tinha pedido, sofrendo porque tinha feito ao contrário do que ela tinha me falado e a moça que ria ia contar tudo pra ela. Eu ia apanhar.
No outro dia, só pensei nisso, o dia passou e minha mãe chegou em casa. Mas, estranho, ela não me chamou pra conversar nem me deu bronca. Ela fez a janta, com um pequeno riso no canto do rosto. Acho que eu estava salva.
Jantamos. Depois da louça lavada ela me chamou para o quarto que todos nós, sete irmãos, dividíamos. É, acho que vou apanhar sim.
-- Izabel, eu não te falei que não era pra chamar a dona Maria de dona Maria Turca?
-- Ai mãe, perdão, eu tava tão preocupada em passar o recado e por telefone, eu nunca tinha falado no telefone, que acabei esquecendo!
Minha mãe começou a rir. Rir muito, assim como a moça no telefone, no dia anterior.
-- Oh filha, ainda bem que foi minha colega de serviço que atendeu o telefone. E ela riu muito depois me contando da sua ligação.
-- Eu não vou apanhar?
-- Não. -- Passou a mão com carinho na minha cabeça, ainda rindo.
E essa é a história do meu primeiro telefonema.
****
*Essa história aconteceu de verdade com a minha mãezinha quando ela tinha 9 anos, lá no começo dos anos 1960.
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