Alguém (ficção científica, +18 )
Tema da semana: máquina
(muitas questões pra debater com esse conto, viu?)
Ele a conheceu em uma promoção. Nunca tinha reparado naquelas coisas, mas algo nela fisgou seus olhos de imediato.
Resolveu comprá-la, sem saber se fora seu cérebro ou seu pinto quem tomara a decisão. A vida toda ele ouvira que precisava de "alguém" em sua vida. Bem... ela prometia ser o "alguém" de alguém como ele, um velho solitário e sem graça.
O caminho até sua casa foi calçado por perguntas e incertezas. E mesmo enquanto a desembalava do pacote, fazia-o com as mãos trêmulas e a respiração ofegante.
Mas quando apertou o botão e a viu tomar vida, todos os seus temores se derreteram. Ela tinha voz de passarinho, rosto doce de adolescente e um jeito de se mover que exalava sedução e servidão.
Ele se rendeu logo no primeiro dia. E a cada vez que a tomava, permitia-se descer um degrau a mais da escada da perversão. Ela aceitava tudo. Não havia barreiras, melindres ou nojos. O amor era como um vício, ouvira certa vez. E ela era a droga e o traficante ao mesmo tempo, alimentando aquela embriaguez semana após semana.
Mas tempo é implacável e o seu corpo já era velho e cansado. De vez em quando, entre uma foda e outra, ele desejava apenas sentar-se em frente à TV, exatamente como fazia naquela vida solitária de antes.
Certo dia, chamou-a para que se sentasse ali com ele. Em dois segundos, a mãozinha boba de sempre tentou atiçá-lo. Riu, sentindo-se o homem mais sortudo do mundo. Mas tirou a mão de sua virilha e a segurou com delicadeza, enquanto voltava sua atenção para o programa de auditório que passava, um pequeno prazer que ele descobrira e que nada tinha a ver com sexo.
Mas, então, um língua úmida percorreu o lóbulo de sua orelha e, desta vez, ele se incomodou.
Aquela frustração se repetiu em todas as tentativas seguintes: cozinhar juntos, conversar na cama de manhã, ir ao mercado... Tentou até mesmo discutir com ela, provocar uma briga, encontrar uma desavença! Mas ela não reagia. Não opinava sobre nada. Todo aquele desejo desenfreado evaporou quando ele finalmente caiu em si: ela não era "alguém". Era "algo".
E quanto mais ele a rejeitava, mais ela insistia. Tornou-se insuportável! Um dia ele se trancou no banheiro para ter um momento de paz. Mas não demorou muito para que ela começasse a esmurrar a porta, socos poderosos que contrastavam com a voz manhosa de sempre.
A tranca não iria durar muito tempo. Seu estômago se revirou de medo. Ouviu um crack e a porta escancarou.
Ela o arrastou para fora. Amarrou-o na cama. Ele gritava os comandos de emergência, mas ela respondia com risinhos e o acariciava com as unhas. Doía.
Montou nele. Seu corpo viciado e idiota respondeu de imediato.
Ele não queria! Não queria de verdade!
Seu coração batia rápido. O ar começou a faltar. Ele gritava, implorava por ajuda, mas nada era capaz de pará-la. Ela apenas seguia a programação.
Ela agarrou seu pescoço, exatamente como ele fazia às vezes. Apertou forte, tão forte quanto os murros na porta. O corpo frágil não resistiu mais que alguns segundos.
Ele morreu amarrado nu na cama.
E sozinho.
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