After the storm 🌧️
After the storm - Depois da tempestade
A chuva cai lá fora e mais uma vez penso como seria uma sensação boa se eu pudesse aproveitar a sensação das gotículas caindo no meu rosto e no couro cabeludo.
Não sei como ainda consigo pensar nisso e em qualquer outra coisa, decidi que pararia de pensar há muito tempo. Nunca me ajudou em nada, eu podia só hibernar e escutar o barulho do relógio que ficava em cima do batente do lado de fora.
Nem sempre foi assim, consegui viver uma vida boa e feliz ao lado da minha família, até os meus 7 anos. Quando eu voltava pra casa, sozinha, porque os meus pais trabalhavam e não podiam pagar um transporte, um carro parou ao meu lado e um homem me pegou e me jogou dentro dele.
Fui para um passeio sem volta. Recebi um novo nome, tive meu cabelo cortado até ficar quase careca e minhas roupas femininas foram trocadas por roupas masculinas.
Aquelas pessoas ruins trocaram meu nome por Roberto, mas só para me levar até um avião e me levar embora. Depois, trocaram o meu nome de Lauren para Rafaela. Fui chamada de Rafaela por tantos anos que não sei como ainda lembro que meu nome um dia foi Lauren e que tive pais amorosos.
Nem pensava mais nele, se ainda lembravam de mim ou se me procuravam. Certa época senti ódio deles, enquanto sentia raiva de mim por ter sido burra e andado na rua sem prestar atenção à minha volta.
Não pensava mais nisso, a raiva e a culpa nunca, jamais me tirariam de onde estou aqui. Em um buraco embaixo de uma casa fedorenta e cheia de porcos.
Quando era criança, vivi em uma casa com outras crianças, éramos obrigados a ficar sem roupa frequentemente para tio Robin — como ele se chamava — nos olhar e nos filmar. Às vezes ele também nos passava a mão e fazia a gente brincar de cavalinho no colo dele.
Às vezes eu chorava tanto, com saudades da minha vida. Conforme fomos crescendo, fomos de lugar a lugar, trocamos de donos. Alguns nos faziam nos prostituir, outros nos faziam escravos. Não tínhamos ensino em escolas, dava vontade de rir por pensar nisso, ensino não era nada. Não ligava para ensino, naquela época só queria voltar pra onde eu morava.
Depois de um tempo desisti de tudo, desisti da vida, não queria mais viver aquilo e tentei me matar, mas me enfiaram nessa casa com um monte de homens imundos e "vivo" aqui por bastante tempo.
Não sei que idade eu tenho, mas eu cresci muito, tenho peitos grandes, cabelos no suvaco e na bocetinha. Os homens imundos daqui só chamam assim, de bocetinha. Então me acostumei a chamar assim depois de tanto tempo.
Eu não servia para nada, só um corpo para eles se aliviarem dentro. Às vezes me batiam, mas eu era tão magra e tão fraca, que pararam um pouco a fazer isso há um bom tempo atrás, com medo de me quebrar ou de eu sumir.
Eu bebia água e comia restos de comidas, um dia descobriram que eu precisava de vitamina para ficar viva, então me davam remédio e uma vez a cada século me levavam um pouco no quintal fechado para pegar 10 minutos de sol. Era assim que me diziam, e falavam que eu poderia gritar se quisesse, já que ninguém morava ali por perto.
Minhas necessidades eram todas feitas em um balde, eles me obrigavam a jogar no banheiro fora do buraco onde eu ficava e lavar o balde de tempos em tempos. Lá eu vomitava também e quando ficava doente cuspia e jogava meus fluidos por lá.
Às vezes ia no chão mesmo, eu já estava acostumada a viver na sujeira.
— Cheguei de viagem! — Gritou alguém já empurrando a porta onde eu era mantida trancada.
Entrou um dos caras nojentos, ele tinha umas bolotas na cara, os dentes amarelos, assim como os meus, já que não tinha escova de dente pra mim aqui e era gordo. Eu não sabia o nome de nenhum deles e já estava deitada na cama, então ele só se jogou em cima de mim, quase me esmagando.
Fazia um tempo que esse não entrava, como disse, estava viajando.
— Estava doido pra me aliviar, não encontrei nenhuma mulher querendo dar pra mim, boneca. — Ele tirou o pau queno pra fora, empurrou minha camisola velha e suja pra cima e se meteu dentro de mim.
Não fiz nada, fiquei lá parada enquanto ele se movia e gemia, entrando e saindo, eu não sentia mais nada. Depois de um poucos minutos ele gozou dentro de mim e saiu, beijando minha mão cadavérica e saiu sorrindo.
Sorte a minha de terem tirado meu útero em uma das viagens. Na época eu me sentia tão mal, foi horrível a operação e depois eu senti tanta dor que vivia com febre e passando mal. Até pensavam que eu ia morrer, depois de um tempo sofrendo na mão de todos, percebi que não ter útero era sorte. Uma das meninas com quem me prostitui junto, dizia que filhos eram mortos ou passavam pelo mesmo que a gente, sem nunca ficar com a mãe.
Nesse dia, eles pareciam felizes pela volta daquele e ouvi som, vozes altas e aquele cheiro característico de álcool. Alguns caras entraram no buraco e se aliviaram em mim, alguns que eu nunca tinha visto. Fiquei cansada, me colocaram em todas as posições possíveis e meus joelhos ficaram ralados.
Minha mandíbula ficou dolorida de tantos eles se forçarem na minha boca. Quando, enfim, tudo ficou em silêncio, me senti mais tranquila para dormir, sabendo que ninguém mais viria.
Meus olhos estavam se fechando, uma luz entrava na fresta da porta, me dizendo que estava amanhecendo...
Uma luz na fresta?!
Me sentei rapidamente na cama e encarei a porta do buraco meio aberta. Eles nunca deixavam aberta, alguém da festa que veio aqui deve ter esquecido de fechar. Fiquei olhando por um tempo pra porta, pensando que eu não deveria, se um deles me pegasse, eu ia ser arrebentada por sair sem permissão.
Meu subconsciente me dizia constantemente que eu não tinha nada a perder, e que se eu apanhasse ia ser até uma coisa boa, porque assim talvez eu poderia morrer em paz.
Me levanto bem devagar, estou dolorida e minhas pernas tremem um pouco. Saio do fedo de mijo e fezes e vou subindo as escadas sentindo cheiro de sexo, álcool e comida velha. A casa está uma bagunça, meu coração treme quando encontro uma pessoa jogada no chão do corredor, sua boca está saindo espuma, mas ele não se mexe.
Engulo em seco, ele não pode me fazer mal e posso seguir em frente. Passo pelo corredor e vejo a sala, tem outras pessoas lá, dormindo, inclusive os homens que moram aqui. Meus olhos ardem com as lágrimas e medo de ser pega, por algum motivo agora eu sinto tudo.
Não gosto de sentir, gosto de ficar entorpecida, ainda mais com aqueles remédios que às vezes eles me dão, no dia seguinte não lembro de nada. Continuo andando até chegar na porta, que está aberta, vejo a luz do dia e sinto a brisa fresca. Não está mais chovendo.
Apesar de querer correr, continuo andando até estar na rua, estou mancando, olho em volta e não tem ninguém pela estrada de terra. Só tem um caminhão parado com a caçamba tampada com lona. Não penso muito e subo no caminhão com muita esforço, me esgueiro por baixo da lona e deito ao lado de vários matos que tem ali.
Fico lá por um bom tempo, então começo a chover baixinho quando ouço vozes ao longe. Sou burra, era pra ter ido pra longe, mas estou perto de casa e de onde os caras que me mantém presa estão. Era para eu ter corrido sem parar, mesmo com o pé doendo e toda dolorida.
Fico bem paradinha, as vozes se aproximam e então ouço alguém se despedir e então a porta do carro bater. Não reconheço nenhuma voz, mas logo sinto alívio pelo caminhão começar a se movimentar.
Não sei quem está dirigindo, fico com medo de ser um dos caras, então vou ter que ficar aqui até ser pega ou até pular e rezar pra ninguém me ver. Prefiro morrer na estrada atropelada do que voltar para o mesmo lugar de antes e talvez morrer na mão na mão deles.
Ou viver na mão deles.
Não sei o que me reserva as horas seguinte, nem o futuro, mas eu podia achar um lugar e ficar escondido e morar na rua, me escondendo até estar bem longe.
O caminhão viajou por um longo tempo, depois parou um lugar de terra, ouvi o barulho dos pneus derrapando nas pedras da rua. Então ouvi uma conversa próxima e algo sobre comprar mais feno, então o caminhão volta a seguir caminho e eu fico aliviada por ninguém ter me visto ali debaixo da lona.
Minha barriga ronca de fome, mas também estou acostumada a ficar com fome, eles descobriram que posso ficar muito tempo sem comer e vivendo apenas de água, então eu também estava com muita sede. De repente o caminhão para novamente e ouço eles falarem de feno, então uma voz parece chamar o cara do caminhão pra ver algo e respiro fundo antes de levantar a lona.
Meu coração bate forte no peito e não vejo ninguém em volta, sinto alívio e pulo do caminhão. Minha perna me engana e caio no chão, mas logo fico de pé, as vozes dos homens não estão longe. Corro para a lateral de um barraco de madeira e continuo seguindo até chegar aos fundos do lugar. Tem umas coisas ali atrás como balde, luvas e madeiras.
Não reparo muito e seguido um campo aberto que dá para um matagal. Corro até me esconder atrás das árvores e ouvir o caminhão indo embora. Tudo fica em silêncio, mas sei que é um matagal que tem bichos e pássaros, pois ouço apenas os sons deles.
Adentro mais o matagal e vou andando descalça, as coisas do chão furam meu pé, mas não paro, vou andando por entre os matos e árvores até achar um riacho. Choro ao me jogar dentro dele e bebo a água com gosto estranho, me esfrego chorando e passo a mão no rosto e no cabelo todo embolado.
Mesmo me banhando, o cabelo não desembola. Fico ali na água, me balanço de um lado para o outro, começo a rir sozinha e pego um sapo na mão, a boca salivando de vontade de comer algo.
— Humm — resmungo para o sapo. Ele fica me olhando e eu olhando de volta. Vou dar uma dentada, talvez seja gostoso...
Ouço barulho de algo sendo cortado e saio da água rapidamente. Olho para todos os lados e não vejo nada, mas continuo ouvindo o barulho. Caminho sem fazer muita barulho, indo em direção daquela som até avistar umas pedras mais altas e um homem lá sentados.
Penso em correr pra longe, mas por algum motivo fico ali, aquele homem não é gordo e velho, ele é diferente, alto igual uma montanha e muito forte, os braços parecem duas rochas. Ele está com uma tábua de madeira apoiada na pedra e um facão enorme, cortando um mato verde.
Minha curiosidade não me deixa sair do lugar, então fico por lá bastante tempo, vendo ele cortando, picando e embalando algum animal, mas parece um peixe bem grande. Passo a língua nos lábios, sinto o gosto dos temperos, que ele mexe em uma cambuca, na minha boca.
Quando ele fica de costas para lavar o peixe em uma corrente de água ali próximo, observo suas calças sujas, mas sem rasgos, sua blusa de manga preta colada no corpo, a bota e o chapeu escondendo a cabeça.
Fico pensando se seria careca ou se tem cabelos curtos.
O homem faz uma blogueira com galhos tão rápido que ficou surpresa. Olho pra trás, mas parece que estamos sozinhos. Quando ele se vira na minha direção, consigo ver seu rosto de ângulos fortes e quadrado, ele não é um daqueles caras.
Mas talvez seja igual a eles. Penso em ir embora, mas quero muito comer alguma coisa, e aquele negócio que ele fazia parecia que ia ficar suculento. Se eu ficar, posso dar coisas que ele gosta em troca de comida.
Me sento no chão, onde consigo vê-lo e espero a comida ficar pronta, mas demora muito, então acabo pegando no sono. Quando acordo, assustada e deitada no chão de terra, toda suja, ergo a cabeça à procura do homem e o encontro arrumando o peixe pronto em um prato grande, colocando rodelas de alguma fruta em volta dele. Então se senta na pedra mais baixa e deixa o peixe lá, depois vai até o rio lavar as mãos.
Me levanto na mesma hora, posso pegar o peixe e correr, ele nem vai perceber. Saio detrás da árvore e vou cega em direção ao peixe, estou salivando e com as mãos esticadas.
— Não precisa pegar tudo escondida, podemos dividir. — Paro no meio do caminho e olho para as coisas do homem. Como ele me viu? Ele continua lavando as mãos e depois tira um pano vermelho do bolso para secá-las.
Não digo nada, não preciso falar, só preciso dar.
O homem se vira e volta para perto do peixe, me afasto alguns passos, assustada com o seu tamanho, preciso olhar pro alto para ver seu rosto, mas o homem não me olha de volta.
— Com fome? Vá lavar as mãos. — disse, seu tom era calmo, apesar da voz ser como um trovão. Nunca me pediram pra lavar a mão para comer.
Será que era um código para eu dar o que ele queria antes em troca da comida?
Balanço a cabeça afirmativamente, apesar dele não estar olhando, então ergo a camisola e a tira pela cabeça, ficando sem roupa e esperando ele mandar mais alguma coisa.
O homem se demora, apagando o fogo com um graveto. Quando finalmente se vira e me vê pelada, volta a ficar de costas rápida.
— Céus! Vista sua roupa.
Não digo nada, sem entender o que ele quis dizer. Eu tinha que me vestir e chupar ele então? Certo, estou com fome, então faço tudo rápido. Me visto e caminho devagar até o homem, ele é tão grande e forte que me dá medo, mas quero comer o que ele me ofereceu.
Apareço na sua frente e logo fico de joelhos, pegando os botões da sua calça.
— Não! — O homem pula pra trás e eu caio com as mãos no chão. — Já disse que não quero isso. Apenas vá no riacho e lave a mão, entendeu? Depois volte aqui e se sente. — Ele bate a mão grande na pedra. — Então eu vou te dar um pedaço de peixe e arroz, entende?
Balanço a cabeça e vou passar água nas mãos. Não adianta, minhas mãos e as unhas continuam sujas, porém volto assim mesmo e sento na pedra, esticando a mão.
— Você entende o meu idioma? — pergunta, colocando um pouco de comida em uma cambuca de madeira e me entregando.
Entendo o que ele diz, mas não respondo, ataco a comida e queimo a língua, mas volto a comer quente mesmo. Ele diz pra eu comer devagar e me oferece uma garrafa de água, que eu bebo toda de uma vez. Sinto que me observa, mas continuo comendo, ele pega o bote da minha mão e tira as espinhas quando vê que estou mastigando com tudo. Depois de que me devolve, acabo com a comida antes dele.
— Mais? — questiona, olhando pra mim. Balanço a cabeça e ele fica de pé na minha frente, então me ajoelho e espero que me faça agradece-lo, mas o se afasta novamente e aponta a pedra. — Fique aí sentada, você não precisa fazer nada por mim, me entende?
Fico sentada calada e olhando pra sua comida, que ele logo coloca na minha cambuca e me entrega depois de tirar as espinhas com cuidado. Devoro a comida dele toda em segundos, termino antes que ele coloque uma segunda remessa pra ti.
Ele come me olhando, sério, sei que vão haver consequências, talvez ele queira outras coisas, como me bater. Dessa vez eu morro, não vou aguentar uns braços daquele tamanho me batendo, mas pelo menos me deu uma refeição mais saborosa antes.
— Há quanto tempo está sem comer?
Não respondo, coço a cabeça cheia de terra e limpo a boca com o braço. O homem fica me observando, da cabeça aos pés, suas sobrancelhas são grossas e a barba é grande.
— Você fugiu dos seus pais?
Aquelas palavras causam um gatilho em mim e fico de pé, balançando a cabeça e pronta para me virar e correr.
— Espere, vai para onde? Eu posso levar você. — O homem começa a me seguir, catando suas coisas no caminho. Andando me escondendo atrás das árvores até chegar nos fundos naquele barracão.
Vou andando sorrateiramente até a frente, olho pra dentro e só vejo matos e coisas de trabalho. Ao invés de seguir em direção a estrada, vou andando pela frente até encontrar a porta de uma casa.
Sei que o homem está atrás de mim, mas ele não diz nada. Me escondo ao lado da porta e puxo a alavanca, está aberta. Eu entro devagar, olhando tudo e estranhando o silêncio, mas continuo andando pelos cantos e passando a mão nas paredes de madeira. O homem coloca suas coisas em cima de uma mesa pequena de madeira e fica me encarando de volta
Passo por uma sala, ignorando ele, o sofá é velho, mas está coberto com uma manta, há uma estante e aquilo que chamam de TV. A gente não podia assistir TV nas casas em que fiquei, aperto um botão daquele aparelho e pulo pra trás quando pessoas aparecem nela e falando. Aperto o mesmo botão e tudo fica preto, vou até as fotos que está na estante ao lado e pego.
Vejo duas crianças brincando en um brinquedo de parque, ao lado dela tem um homem sorridente com uma camisa de flanela xadrez. Olho para a foto e para o homem que se aproxima de mim devagar, aponto para a foto e para ele.
— Sim, sou eu e minhas filhas — diz, a voz ecoando à nossa volta. Fico em silêncio e observo a minha volta novamente, mas não vejo e não ouço ninguém, então olho para ele de novo. — Elas não estão aqui, elas moram com a mãe. Aqui.
Ele pega outra fotografia, nela há uma mulher muito bonita de vestido florido e grande sorriso branco, há um bebê em seu colo e uma criança no colo dele, que está ao lado e com o braço ao seu redor. Pego a foto de sua mão e com a outra pego o seu braço e passo por trás de mim, igual ele está na foto.
— É, uma pose. — Ele solta um pigarro e se afasta, tirando a fotografia de minha mão. — De quando eu tinha minha mulher e minhas filhas comigo, mas não as vejo há anos. Elas simplesmente sumiram do mapa.
Não entendi o que ele disse sobre sumir do mapa. Deixaram ele pra trás? Porque?
— Você não fala nada? É muda?
Balanço a cabeça negativamente de novo, e volto a explorar a casa. Toco na parede e vou até o homem, toco no seu peito, olho para ele, questionando.
— Se a casa é minha? Sim, quis me isolar depois que... Bom, moro aqui há bastante tempo, só vou na cidade às vezes comprar o que preciso. Mas tenho duas vacas, dois cavalos, 3 porcos e um galinheiro.
Corro até a cozinha e pego um ovo, quando vou mostrar a ele, o ovo desliza da minha mão e cai no chão. Me ajoelho para lamber do chão, para não desperdiçar, mas sou agarrada e erguida do chão.
— Não! Você não pode comer coisas do chão. Eu vou limpar e você pode esperar no sofá, está com fome novamente?
Acaricio minha barriga e faço uma cara e olhar pidão, ele contrai os lábios e a barba se mexe, então se vira e começa a mexer nos utensílios da cozinha. Vou até a sala e me sento no sofá, depois deito, é muito confortável. Sorrio, então puxo a manta e me cubro, acabo dormindo no sofá.
Quando acordo, tem um prato à minha frente, tampado com uma tampa de panela. Me ergo rapidamente e como os ovos com bacon, devoto tudo de uma vez, minha barriga dói, mas não tenho tempo de me importar, pois o homem sumiu. Começo a correr pela casa até ouvir um barulho de água, empurro a porta de onde vem o barulho e encontro o homem lá.
Olho assustada para o tamanho do pau dele, é tão grande que posso dizer com certeza que nunca vi um igual, devido a quantidade de homens que já me deitei. Ele não me vê, está esfregando o rosto com sabão, deve estar por um pagamento por toda a comida que comi. Então entro e tiro minha camisola velha e suja, fico sem roupa e entro no mesmo quadrado em que ele está.
— Mas que porra! — Ele grita e me encolho no canto. — Que susto, garota, você não pode entrar aqui comigo.
Ele coloca a mão por cima daquele negócio grande e ereto, continua me olhando no rosto.
— Saia! Pegue uma toalha e se cubra. — Não me mexo por uns segundos, ele continua se tampando, então me aproximo e acaricio seu peito, do jeito que aprendi. Fico na ponta dos pés e espero por um beijo do barbudo, que nunca chega. — Puta que pariu!
Xinga e se afasta, quase me deixando cair no chão, mas me equilibro na parede. Ele corre até suas roupas em cima de um armarinho baixo e veste sua roupa, ainda molhado.
— Você pode tomar banho, mas não pode ser ao mesmo tempo que eu, entendeu? Não pode entrar no banheiro enquanto eu estiver aqui, essa porta não tem como trancar. — Ele avisa, o rosto está sério e furioso, mas estou acostumada. Talvez só me dê umas palmadas na bunda, mas acho que dele vou gostar.
Caso ele não me desmonte.
— Ainda tem água quente, você pode trocar. — Ele começou a mexer nos armários em busca de água e eu olho em volta, sem entender o que ele disse, então vejo-o se aproximar novamente. Ele mexe em alguma alavanca e a água começa a esquentar.
Pulo e solto um gritinho, mas sorrio e volto a entrar na água quente. Ele me entrega um sabonete e um tubo, passo o sabonete na cabeça antes dele se virar, então o homem o toma da minha mãe e troca pelo tubo.
— Esse é o shampoo para você passar na cabeça. — Ele o pega de volta e despeja na próxima mão. — Parece que não sabe fazer isso sozinha, então vou lavar seu cabelo só hoje e depois você faz igual eu estou fazendo. Consegue entender?
Balanço a cabeça afirmativamente e ele me pede pra fechar os olhos. Faço o que pede e sinto seus dedos nos meus cabelos embolados. Ele lava mais duas vezes e massageia com os dedos, sorrio e tusso porque cai sabão na minha boca. Ninguém nunca tinha lavado meus cabelos, ou foi tão cuidadoso assim.
Não que me lembre.
Ouço o suspiro do homem e então ele pede para eu abrir os olhos, depois me entrega o sabonete de novo.
— Não consegui desenrolar seus cabelos, acho que vamos ter que cortar. Depois eu vejo isso. Agora você passe o sabonete no corpo e esfregue com essa esponja, vou sair e quando terminar, pegue essa camisa e esse short que deixei para você em cima do armário.
Ele se vira e sai do banheiro sem me olhar ou falar mais alguma coisa. Passo sabonete pelo corpo e sinto meus ossos protuberante, tento me esfregar com a esponja, mas dói, então só esfrego bem as unhas dos pés e das mãos. Quando saio do box e me olhou no espelho, meu rosto está bem mais limpo, o corpo também, apesar de ainda ter umas marcas de sujeira grudadas.
Coloco a camisa verde escura que vai parar nos meus joelhos e decido não vestir o short, pois ele cabe umas 4 de mim.
Quando chego em outro cômodo pelo barulho que ele faz, o vejo lavando meu vestido sujo, chego perto e fico observando. Ele mostra uma pedra pra mim e passa na roupa, faz espuma de sabão. Passo a mão e levo ao nariz, mas começa a arder, então o homem me ajuda a limpar com a manga de sua blusa.
— Isso foi engraçado. — diz, depois continua a lavagem. — Então, meu nome é Terry. Como você pode me dizer o seu nome?
Dou de ombros. Ele continua a lavagem, mas me olha vez ou outra.
— Vou precisar advinhar? Precisamos encontrar sua família, de onde você veio...
Me afasto quando diz isso e abraço meu corpo, não quero voltar pra lá, não quero de jeito nenhum. Terry me olha e se vira todo quando vê meu estado.
— Tem medo de voltar pra casa? Fugiu dos seus pais? — Ele me olha de cima a baixo enquanto nego com a cabeça. — Se você não é muda, por que não fala comigo?
Não respondo nada, então ele volta a lavar a roupa.
— Você deve ser uma criança ainda e vamos precisar procurar sua família, eles devem estar preocupados com você. E, infelizmente acho que esse vestido não vai poder ser salvo. A sua sorte é que sei costurar e vou postar costurar roupas pra você até eu ir a cidade de novo.
Seguro a blusa dele e balanço, olhando para o seu rosto, o homem solta uma pigarro, como se estivesse rindo de mim e balançando a cabeça.
— Não vai poder usar minhas camisas o tempo todo.
Faço uma expressão de pesar e rapidamente retiro sua camisa para lhe devolver.
— Não! Você pode usar essa. Meu Deus. — Terry pega a camisas rapidamente e coloca em minha cabeça, ajeitando as mangas em meus braços. — Eu lhe dei um short também, se me lembro. O que houve com eles?
Fiz um jeito que quis dizer ser grande, igual a ele, depois dei de ombros e voltei a explorar a casa.
Dias depois...
Terry era um homem, mas era diferente, ele me ensinava as coisas e não me machucava, de jeito nenhum, nem quando eu retirava a roupa na frente dele. Quando estava presa, ficava sem roupa praticamente todo dia e toda hora, pois era mais fácil para os homens me usarem.
Ali eu não estava presa em um buraco, Terry me deixava ir no matagal com ele colher frutas, na horta colher legumes e me deixava tomar banho no lago enquanto pescava peixes, minha nova refeição favorita.
Terry costurou dois vestidos com panos quadrados e floridos, três calcinhas e dois short. Eu não gostei das calcinhas, pois me incomodavam, então não as usava.
Terry me arrumou uma escova de dente e me ensinou a escovar. Nos primeiros dias, ele me levava ao banheiro e escovava meus dentes, assim como passou 3 dias tentando desembaraçar meus cabelos. Quando conseguiu, cortei boa parte dele, mas gostei, ficou mais leve.
Terry disse que me levaria para uma delegacia da cidade em alguns dias, quando ele fosse buscar feno para os seus cavalos, mas eu não iria, se ele quisesse me levar, eu fugiria.
Pra dormir, tivemos um trabalho, ele queria dormir na sala e me deixar no quarto sozinha, eu tinha medo, então saía do quarto e me deitava no tapete do chão, perto de onde dormira.
Terry acordava e me levava de volta pra sua cama, então eu me levantava e o seguia, ele tentou me explicar que eu não podia dormir no chão e que a cama não ficaria vazia se eu quisesse dormir no sofá. Mas ele não entendia que eu não queria ficar sozinha, enquanto a solução foi ele levar o sofá para o quarto e eu preferi dormir no sofá do que na cama enorme dele, me fazia lembrar dos tempos que eu ficava deitada no colchão velho daquele buraco.
— Ainda não consegui adivinhar seu nome?
Balanço a cabeça, sorrindo. Estávamos na frente da casa, comendo cana, enquanto Terry falava um monte de nomes para tentar adivinhar qual era o meu. Um barulho na estrada chamou a nossa atenção e erguemos a cabeça, vendo um carro vindo na estrada.
— Vá, entre e se esconda no quarto!
Eu entro correndo e assustada, mas paro escondida no corredor, não consigo ver a entrada da casa direito, mas vou conseguir ouvir e saber quem é.
Fico quieta até ouvir o carro parando, então o barulho de portas batendo e então uma voz mais próxima, falando com Terry, uma voz que faz meu corpo arrepiar e meus olhos encherem de lágrimas.
Fui encontrada.
O homens do buraco estavam lá fora, falando com Terry, procurando uma menina, eu, falando que eu era sobrinha deles e que eu tinha desaparecido. Fiquei bem quieto e com a mão na boca, para minha sorte, ouvi Terry falando que não sabia de nada.
Depois de alguns minutos, ouço o barulho de portas novamente e o carro vai embora. Estou com medo, mas vejo Terry entrando na casa sozinho e trancando a porta em seguida. Corro até ele e abraço sua cintura.
— Homens maus — sussurro, minha cabeça bate no início do seu peitoral.
— Está tudo bem, você está segura. Parece que estão te procurando, eles descreveram exatamente você, mas senti que algo não estava certo. Eles homens, você os conhece?
Me afasto e balanço a cabeça, afirmando. Terry me segura pelos ombros.
— Você sabe falar, precisa me dizer o que aconteceu.
— Machucada aqui. — Aponto para minhas partes íntimas e depois deslizo as mãos pelos meus braços, pernas e rosto. — Corpo todo.
— Esses homens sequestraram você e abusaram de você?
Afirmo.
— E você já os conhecia? — Nego. — Eles te roubaram dos seus familiares?
— Esses... não... Outros — digo, com dificuldade.
— Meu Deus! — Vejo Terry desesperado também, passa a mão na cabeça de cabelos bem curtos e então me chama pra ir até a sala em silêncio. Me sento ao seu lado. — Quando morava na cidade, fiz alguns anos de enfermagem, não quero tocar em você ou te machucar, só quero dar uma olhada.
Por alguns motivos, entendo o que ele quer dizer. Sem que diga mais nada, me deito no sofá ao seu lado e levanto o vestido, abrindo as pernas para ele.
— Meu Deus, eles... — Terry esfrega o rosto. Abaixo o vestido e me sinto envergonhada pela primeira vez em anos. Me sento de novo e olho pra frente. — Eram muitos?
— Muitos...
— Minha nossa. Eu sinto muito, você precisa de um médico urgente, moça. E também da polícia.
— Homens de farda... Maus.
— Alguém de farda já machucou você? — Me viro para ele, sem acreditar que ele não saiba como os homens são ruins. Talvez ele fosse o único bom.
— Vários.
— Inferno. Olha — ele se vira pra mim e segura em meus braços. — Eles pareceram não acreditar muito em mim, minha fazenda deve ser a mais perto de onde eles moram, além de terem visto roupas femininas no varal. Notei que um deles ficou olhando muito para as roupas e eu disse que morava sozinho antes de perceber isso.
— Voltarão? — Arregalo os olhos.
— Provavelmente. Mas já sei o que vamos fazer. Preste bem atenção, não temos tempo a perder.
Terry se levanta e corre para o quarto, pegando uma mochila e colocando alguns roupas e frutas. Enquanto arruma tudo e coloca em minhas costas, ele vai falando seu plano.
Ele tem uma casa no meio da floresta, não é longe de sua fazenda, é uma casa na árvore, vou ficar lá até que Terry retorno. Ele me deixa lá e vai embora, dizendo que vai resolver a situação e depois volta para me buscar.
Fico em silêncio durante todo tempo, deixo algumas lágrimas silenciosas rolarem. Anoitece e me dá fome, tenho tanto medo de fazer barulho que abro a bolsa bem devagar e como duas bananas. O tempo passa e sei que estamos na madrugada, ouço o barulho dos grilos na floresta e depois fecho os olhos, quando estou quase dormindo, o som de passo quebrando os galhos na floresta me assustam.
Quero me mexer e olhar pelo buraco da casa na árvore, mas estou com muita medo de não ser Terry, por isso agarro a bolsa e fico quieta, o coração batendo muito forte enquanto a pessoa lá embaixo sobe a escadinha no tronco da árvore.
— Ei, sou eu! — É a voz de Terry, o que me deixa tranquila instantâneamente.
— Tu-tudo bem? — pergunto.
— Estou, mas temos que ir logo, outros podem voltar.
Terry me ajuda a descer da árvore e diz que temos que correr pela floresta. Lembro do seu carro e aponto para a direção da floresta, mas ele diz que não quer que eu veja a cena de horror que está lá.
— Estou... mortos?
— Os três que foram lá. — Terry aperta a minha mão e corro em direção à sua casa, com Terry vindo atrás de mim com a mochila. A estrada está silenciosa, logo na frente da casa, há um homem pendurado pelo pescoço, o sangue escorrer pelo seu corpo e faz uma poça no chão. Passo por ele até a casa, ouvindo Terry protestar. Lá dentro, mais dois, um com uma faca perfurando o olho esquerdo e o outro com um machado afundado no peito.
Terry chama, já no carro, dizendo que precisamos ir. Mas, pego o machado e tiro do peito de um dos homens que tanto me machucou, acerto seu rosto, estourando os miolos da cabeça. O deixo lá.
O com a faca no olho, retiro e afundo novamente, dessa vez em seu peito, onde o coração batia antes de Terry terminar com sua vida. Sinto ondas de algo estranho no meu peito, uma vontade de continuar destruindo os corpos imundos até encontrar seus ossos, mas volto para Terry e subo no carro ao seu lado.
— Já que não vou te levar até a polícia, precisamos encontrar um esconderijo bem longe daqui, mas antes vamos ir até a cidade, não vou te levar a um hospital, mas tem um amigo que é médico e vai dar uma olhada em você.
Não digo nada, estou perdida em pensamento. Terry não parece com medo ou assutado, olho para o banco ao nosso lado e vejo as fotos de seus filhos e sua família que ele tirou do bolso e colocou ali.
— Coloque na mochila, por favor. — Faço o que ele pede e guardo as fotos.
O caminho até a cidade é um pouco longo, não sabia que ia demorar tanto, tiro um cochilo com a cabeça escorada no banco e acordo quando está amanhecendo e vejo algumas lojas. Terry estaciona em um pátio de carros e vai até uma lojinha de roupa que está abrindo, ele compra um chapéu para nós dois e um casaco para mim.
Não está muito frio, mas Terry o coloca em mim, me escondendo em seu braços fortes, parece que não sou nada ao seu lado, de tão grande que ele é. A gente fica escondidos em um beco perto do consultório do seu amigo. Quando ele chega, Terry vai até lá e uma recepcionista nos atende, ela sorri para Terry e diz que ele já sabe o caminho.
— Grande amigo, quanto tempo! Lembrou da minha existência? — O homem branco e loiro, não muito mais velho, mas mais baixo do que Terry, se aproxima e o abraça.
— Sinto muito, mas tenho um caso urgente e não vou poder ficar muito tempo. — Ele se vira e aponta para mim. — Está é... Thereza, preciso que der uma olhada nela e talvez lhe passe algum remédio.
O homem olha para mim parecendo surpresa, ainda mais quando seguro a mão de Terry e me escondo atrás dele.
— Nossa, outra Thereza, sorte ou azar? — Terry não responde o moço. — Ah, me desculpe, foi uma brincadeira de mal gosto. Bom, vamos até a outra sala, peço para que ela troque de roupa e vista isso.
O amigo de Terry lhe entrega o pacote e aponta para a sala ao lado. Entramos e tem um banho, Terry pede para eu me trocar, mas não fecho a porta por estar com medo. Visto o pano estranho e transparente que deixa tudo na frente a mostra. Quando me vê, ele se aproxima e amarra o tecido na frente.
O homem aparece e Terry sussurra algo em seu ouvido, o loiro balança a cabeça afirmando sobre o que Terry diz e me pede para se sentar em uma cama.
— Então, Thereza, tudo bem?
Não respondo. Não o conheço e esse não é o meu nome, não sei porque motivo Terry lhe disse isso.
— Ela não fala muito.
— Ah sim. Com licença, vou dar uma olhada em você, certo.
Abro a roupa antes que ele faça e tiro tudo, sob seu protesto, mas fico nua na sua frente para que examine, como Terry disse que ia fazer. O médico olha para o amigo de pé e ergue uma sobrancelha.
— Não temos muito tempo, só quero que diga se ela está bem, onde está machucada e qual remédio devo comprar.
— Certo.
O médico que usava luvas na mão está sentado em uma cadeira a minha frente, ele coloca um aparelho gelado no meu peito e pede para eu respirar fundo. Depois pede licença de novo e aperta meus seios de leve.
— Sente dor? — Nego com a cabeça. — Ele desço a mão e aperta minha barriga de leve, depois com mais força. Sinto uma fisgada e me afasto. — Deite- se, por favor.
Terry vem para o meu lado na cama e seguro sua mão. O médico abre minhas pernas, colocando um um suporto, então ouço-o fazer um barulho e chamar Terry. Eles falam baixo, mas o ouço dizer a palavra estourada.
Não entendo muito o que dizem, então fico quieta. O homem diz que vai me passar um remédio muito bom, seu olhar para mim agora é diferente. Sinto algo ser passado na minhas partes e logo a sinto um pouco dormente. Ele pede pra eu me sentar novamente e vai até uma mesa, pega papel e caneta para anotar algo.
— Vou lhe dar alguns tubos dessa pomada, é muito boa. Precisaria ser reconstruído, e por dentro deve estar pior, só com mais exames e talvez vá precisar de uma operação. Pode contar comigo para o que precisar, mas se não for voltar, vou lhe dar alguns remédios para ela tomar e também as receitas.
Terry olha para mim e acaricia meus cabelos curtos.
— Com todas essas pomadas que te dei, ela ficará melhor bem rápido. Vou preparar um coquetel para ela tomar, também posso prescrever um anticoncepcional. Ela já fez alguma operação, parece de gravidez, mas não parece ter sido feita por um hospital sério, entende?
— Ei, você já fez alguma operação? — Terry me faz olhar para ele, então confirmo.
— Sem útero.
— Meu Deus — dizem em uníssono, os dois colocam a mão na cabeça. O médico continha. — Bom, está explicado, recomendo ver isso com as autoridades, Terry. Ela não passa dos 18 anos, pode ter alguém procurando por ela.
— Homens maus. — resmungo e me levando da cama, abraçando Terry pela cintura.
— É só isso? Precisamos ir, doutor — Terry estende a mão ao doutor e este aperta de volta.
— Ham, tem mais isso que você pode levar também. — O doutor fica de pé e vai até uma caixa em seu armário, tira um monte de embalagens metálicas e coloca todas na mão de Terry.
— Não, eu...
— Leve, só pra deixar guardado. Deixe algumas com ela também. Até mais, amigo, espero te ver em breve e que ela fique bem. — Ele nos acompanha até a saída, Terry está atento a sua volta e me abraça até chegarmos a outro carro prata e muito bonito.
Franzo a testa, mas não digo nada quando retira uma chave do bolso e destranca a porta. Entramos em silêncio e então Terry começa a dirigir pela cidade até chegar a uma rodovia, onde uma pista reta e longa se estende e o carro ganha velocidade.
— Espero que ele não fique muito bravo comigo. — Terry resmunga sozinho.
— Quem?
— Nada, algum dia eu te explico. Pode se acomodar ou deitar no banco de trás, a viagem vai ser longa.
A viagem foi mesmo longa, parecia que não íamos parar nunca. Algumas noites dormimos no carro e uma noite em um lugar que se chamava motel. Terry disse que não tinha muito dinheiro para gastar e que precisávamos de dinheiro para combustível.
Ele estacionou em um mercado depois de alguns dias, me deixou sozinha, mas onde eu poderia vê-lo e ele me ver, então ficou no estacionamento ajudando as pessoas a carregarem suas compras pesadas e a acomodar em seu carros. De longe conseguia ver as pessoas depositarem algo em sua mão, até que entendi que era dinheiro, horas depois.
Estava anoitecendo quando voltou pro carro com o bolso cheio e então parou para abastecer o carro de gasolina. Ele me explicava tudo que estava fazendo e me ensinava cada coisinha nos mínimos detalhes.
Passamos dias na estrada, em alguns lugares, precisamos parar para Terry fazer um dinheiro do jeito que ele encontrasse, até pedi para ajudar também, mas ele não permitiu. Eu estava tomando meu medicamento certinho e usando a pomada, ele disse que eu precisava descansar disso.
Por fim, chegamos a uma cidade do interior, era tão pequena que a conhecemos por inteiro por um passeio só de carro, paramos em frente a uma casa de madeira pequena, assim como eram as outras. Terry desceu e pediu para eu ficar no carro, observei ele indo falar com um homem que saiu da casa e o abraçou como se eles se conhecessem. Vi o senhor dar algo na mão de Terry e então ele voltou pro carro.
O senhor me viu no carro, mas não acenou e nem fez nada, só ficou lá parado e me observando.
— Aquele é Otereo, um amigo meu. Ele tem uma casinha em cima, na montanha, vamos morar lá agora.
E foi isso que fizemos, a casa de madeira na montanha estava abandona e cheia de poeira, tivemos um trabalho para limpar tudo e Terry a reformou por inteira. Aos poucos, foi se tornando um lugar bom pra gente habitar. Estava grata por ele ter me salvado e me acolhido, por ser uma pessoa boa, por vezes ficava observando e pensando ele ia se voltar contra mim, mas isso nunca aconteceu.
Três anos depois...
Tanta coisa tinha mudado desde que chegamos nessa casa e desde que me liberei, que me sinto uma pessoa totalmente diferente.
Hoje me sinto uma mulher, um ser humano, alguém digno de viver, contar minha história, não temer o mal e alguém que conseguia dormir 8h inteirinha de sono. Era uma dádiva!
Ao mesmo tempo que tudo tinha mudado desde que chegarmos nesse chalé, nada tinha mudado, nossa rotinha que fizemos naquele ano permanece até hoje. Consistia em acordar, cuidar da casa, Terry me ensinar a ler e escrever — entre outras coisas básicas humanas — e fazermos a refeição juntos.
Conseguindo construir uma casinha para criar alguns animais e tínhamos um terreno bom para o plantio. Terry gostou de viver como vivia antes, quando raramente precisava ir até a cidade quando queria algo.
Aqui até que era bom, a cidade toda se conhecia, se gostavam e se ajudavam, mas nós éramos os mais excluídos e gostávamos de viver assim. Tínhamos sofrido tanto na vida e gostávamos de ser reclusos.
Só que, na verdade, algo tinha mudado, sim. A minha mente, pouco tempo atrás, começou a formular pensamentos totalmente diferentes sobre Terry. Olhando de fora, parecíamos pai e filha, ainda mais quando eu estudava com ele na mesinha da cozinha. Porém, quando eu o via sem camisa cortando tocos de madeira, ou quando pegava sem querer tomando banho e o vi por inteiro, meu corpo pegava fogo.
Eu estava diferente, me sentia renovada e meu corpo sentia falta de algo, de um homem, dessa vez um homem bom, que me visse além de um pedaço de carne e um depósito de esperma. Terry e eu éramos íntimos, mas não nossos toques não tinham teor íntimo, acredito que para ele não.
Ao contrário de como eu me sentia agora.
— Vou te pegar e você troca a luz. — Terry apareceu na sala, onde eu rabiscava em um caderno, ele me entregou uma lâmpada nova e fiquei de pé.
Fazemos o mesmo precedimento diversas vezes antes, mas dessa vez eu estava com uma espectativa ernorme, por causa dos meus novos sentimentos.
Terry me pegou no colo, segurando minhas pernas e me ergueu mais, até eu alcançar a lâmpada queimada e trocar pela nova. Seus braços enormes estava abraçando minhas coxas bem firmes, seus rosto estava na direção da minha bocetinha, tampada por um vestido e uma calcinha que ele tinha costura pra mim. Mas Terry olhava pra cima, pra mim.
— Terminou?
— Sim, mas... me desce devagar, estou com medo de cair.
Eu não estava nada com medo, só queria agir ao invés de ficar só pensando. Enquanto ele me escorregava devagar, chegamos ao ponto em que meus braços pousaram em seus ombros grandes como montanhas. Abracei seu pescoço e não o soltei, Terry ficou apenas me olhando. As mãos na minha cintura.
Me inclino para frente e o beijo na boca. No mesmo instante, ele me coloca no chão, me assustando com a rapidez, mas não me afasto, olhando pra cima.
— Não, nós... Não somos assim — disse, percebi que estava confuso.
— Nós podemos ser assim.
— Eu sou um velho, você é nova.
— As pessoas ainda ligam pra idade?
— Sim, nós nem sabemos a sua idade.
— Se eu tiver 15 ou 50 não vai fazer a menor diferença — respondo, começando a ficar impaciente, eu o quero muito. — Não tem ninguém aqui, somos só nós dois, aqui nessa montanha, e sempre será assim. Eu não tenho família e nem você.
Subitamente me lembro das fotos que temos na parede da sala, que ele pegou assim que chegamos, da sua família que sumiu. Vou até elas e retiro sem dificuldade a foto dele e de sua esposa, e pela primeira vez me sinto mal por vê-los juntos. Não quero vê-los juntos, quero me ver ao lado dele.
— É esse o problema? Ainda ama ela? — Coloco a foto bem no seu rosto, mas Terry desvia o olhar.
— Nem lembro mais da aparência dela. Não olho pra essa foto há um bom tempo, Thereza não tem nada a ver com isso.
Thereza... Eu me lembrava desse nome.
— Você queria que eu fosse ela, não é? — Se eu chorasse, choraria agora, mas não faço isso há séculos, estou seca, já tinha feito muito isso. Meus traumas não me deixavam mais chorar.
— Está falando besteiras, Lia. — disse o nome que escolhi para mim. — Você ter 15 anos faria diferente, sim, eu não foderia uma criança. Tenho critérios, porra!
— Você não seria preso, aqui nem cadeia tem! Somos só nós dois, nossa vida é nossa. E, se me lembro bem, o médico que você me levou naquela época, disse que meu corpo era de alguém maior de idade, talvez eu seja. Ele até te deu camisinhas para usar comigo.
Terry tinha guardado todas naquela época, no final do ano passado, quando ano o questionei sobre o que era que o médico tinha lhe dado, Terry confessou e jogou todas fora, dizendo que não precisava delas e que estavam passadas de validade.
— Mais uma coisa para isso não dar certo, não tenho camisinha aqui, e está tarde para ir até a farmácia da cidade.
— A gente não pode fazer sem? — Não me passou despercebido que ele tinha vontade, sim, de fazer comigo. Então eu só precisava convencê-lo mais.
— Impossível, você poderia engravidar de mim. — Terry ficou transtornado, começou a andar de um lado pro outro e então, quando cansou, se sentou no nosso sofá.
Acho que, só talvez, ele já tivesse pensado nisso bem antes de mim.
Com coragem, me aproximo e me sento em seu colo, de frente para ele. Terry mal respira, mas não me afasta, apenas me olhando de cima. Continua maior do que eu.
— Eu não tenho útero, lembra?
— Ah, Lia — Terry sussurrou, de repente murchando a expresso ao lembrar da minha condição e do meu passado. — Sinto muito, não queria lembrá-la disso, prometemos deixar o passado no passado. Eu realmente...
— Realmente podia me foder até o dia seguinte. Sem camisinha, sem roupas... Só eu e você, na sua cama ou na minha. Tanto faz, pode ser até na porra do chuveiro ou no chão do celeiro. Só quero que me preencha Terry.
— Você é tão pequena, Lia. Frágil... Olha pro meu tamanho, eu posso acabar te machucando sem querer.
— Não diga que sou frágil, sou muito forte. Posso aguentar qualquer tora. — Brinco, saindo seu colo para abrir sua calça, ele não me impede, só fica me observando.
Quando aquele pau enorme está para fora, mordo os lábios, é realmente bem grande. Volto para o seu colo e Terry finalmente se mexe, segurando a barra do meu vestido e tirando pela minha cabeça. Fico tão empolgada por esse gesto que quase tenho um treco.
— Que irônico eu ter costurado uma calcinha para te tampar e te proteger, para agora rasgá-la e te arrebentar. — Promete, um segundo antes de rasgar minha calcinha em pedaços só com os punhos. Fico tão excitada que já estou muito molhada.
— Vai me arrebentar? — Me seguro em seus ombros, sem parar de morder os lábios pela espectativa e um leve medo, um medo bem gostoso, por sinal.
— Não tenho outra alternativa senão te machucar muito, minha garotinha.
Jogando todo seu ideal de lado, ele me ergue um pouco em seu colo e segura o seu pau com uma mão, masturba com força e então estrega a cabeça na minha bocetinha, logo depois a encaixa na fenda curada depois de tantos remédios, pomadas e banhos medicinais.
— Minha nossa!
É o que eu exclamo quando Terry me desce de uma vez naquela porra de pau grande e grosso do caralho. Fecho os olhos com força, se antes eu estava recuperada, agora precisaria de uma nova rotina de remédios para me sarar de novo. Terry chegou tão fundo que eu tive que gritar.
Ele estava realmente me arrebentando.
— Você pode desistir, sabe, Lia — Terry provoca, então me segura com força pela cintura, forçando meu corpo pequeno e agora cheio de carne, a subir e descer.
— Não desistirei... nunca — digo, com esforço. Me penduro em seu pescoço e me deixou ser fodida. Ele aumenta a velocidade gradativamente e eu sacudida, meus peitos pulando pra cima e pra baixo.
— Eu sonhei... — Conta, olhando pro meu rosto e pra baixo.
— Com o que? — perguntei, respirando com muita dificuldade?
— Que eu engolia seu peito todo, cabia muito bem na minha boca. Ele inteiro.
— Sonhou comigo e... — Subo e desço no seu colo, estava difícil conversar enquanto pareço estar em uma montanha russa. — E não me contou?
— Não queria por ideias na sua cabecinha.
— E agora aqui estamos... Com você fodendo a minha bocetinha.
— Eu estou te arrebentado, pequena Lia.
Parou de falar, pois a boca estava ocupada, engolindo meu seio. Arregalo os olhos, ele estava literalmente engolindo uma mama toda, sugando pra dentro da boca, os dentes me arranhando. Sinto meu bico bater no céu da sua boca, vibro em cima dele, começo a ter espasmos e esguicho, tendo um orgasmo. Grito tanto que os passeiros voam, fugindo do lado de fora.
Molho Terry, ele tira a camisa e põe o pau dentro de mim de novo, que tinha escapado, como se não quisesse sair do meu interior nunca mais. Ele segura firme em minha cintura e se ergue um pouco, empurrando a calça pra baixo até tirá-la. Isso sem deixar que eu o engula dentro de mim.
— Olha só. — chama minha atenção, mas é difícil, estou flutuando. Meu corpo pinga suor, aqui é muito quente. — Está me ouvindo, Lia?
— Sim.
— Vai me dar a boceta todo dia, a hora que eu quiser.
— Todos os dias? Não vou aguentar, você é muito grande, vai me deixar larga.
— Essa boceta é minha agora, pode deixar que dela, cuido eu.
— Minha bocetinha é sua, Terry? — Sorriso, levando meu lábios suados aos dele.
— E daqui a pouco, esse cu também vai ser. — Dito isso, ele enfia um dedo por trás e me faz cavalgar no seu pau e na sua mão, sendo totalmente preenchida.
Não preciso dizer que gozei mais duas vezes e Terry gozou na minha boceta e nos meus peitos.
Ah, e ele cumpriu a promessa. Na minha primeira semana, foi ótimo, transamos na minha cama e na cama dele no mesmo dia. Depois na sala, na cozinha, em cima de um toco de árvore na frente de casa. Depois em cima de um cavalo, no estábulo, e em cima de uma árvore.
Na segunda semana, eu já estava tão cansada que não conseguia me levantar da cama e fazer nada. Ele realmente tinha me arrebentando, comecei a tomar banho de acento e ele me ajudava. Já não estava amando tanto e queria desistir.
Gritei com ele que não queria mais transar, Terry me deixou confortável na cama e saiu para fazer as coisas do dia, não voltou mais pro quarto. A noite rezei tanto para que ele não voltasse, que ele não voltou mesmo. Dormi aliviada e esparramada nos lençóis, acordei rindo, porque me sentia melhor e não queria desistir de fazer sexo.
Quando me levantei, o encontrei já acordado e na cozinha fazendo nosso café da manhã. Olhou para mim, vestida apenas com sua blusa, e então desviou.
— Volta pra cama, vou levar seu café lá.
— Vai me dar leite na boquinha também? — Sorri, vendo que ele engoliu em seco e ficou de pau duro na hora.
— Vá na frente.
Dei de ombros e fiz o que me pediu, fui na frente, mas fazendo questão de me espreguiçar e mostrar minha bunda pra ele.
— O diabo fez aulas com você.
— O que? — Fingi que não ouvi, entrando no quarto e me sentando na cama.
— Nada, garotinha. Coma e vá dormir. Tenho que ir.
— Senta aqui comigo. — Bato com as mãos na cama e Terry suspira, se sentando. — O que uma bocetinha não faz, não é? Você vira até um pau mandado.
— Você quer ver o pau mandado estourar a sua boquinha, dessa vez? — Ameaça, bem sério. Mas Terry não é capaz de matar uma mosca, quer dizer, nenhuma animalzinho e eu, o resto do mundo sim. Por isso, jogo a cabeça pra trás e dou uma gargalhada.
— Como eu disse, adoraria o seu leitinho de café da manhã.
Entendendo que poderíamos voltar da ativa, Terry ficou de pé e abaixou as calças junto com a cueca, o pênis ereto pulou na minha frente, bem no meu sorriso sacana. Ele pegou meu cabelo com violência e abundou meu rosto no seu pau, bateu com ele no meu rosto, o barulho preencheu o quarto e me deixou molhada.
Terry segurava o pau com uma mão e minha cabeça com a outra. Ora batia com ele no meu rosto, pra enfiava ele até a minha garganta. Ele fodeu minha boca com violência, fez eu engolir seu pau até minha língua encostar nas suas bolas.
— Terry, me solta! — gritei. Ele só parou de me foder quando gozou na minha boca.
Só então eu ri de novo, eu tinha ficado sem respirar? Sim. Mas gostava muito de tirar ele do sério. Voltou pro café da manhã e comi tudo, ainda sentindo o gosto da sua porra.
Então, a rotina voltou ao normal. A rotina em que ele me dizia em qualquer lugar, todos os dias e a qualquer hora. Às vezes eu fugia e me escondia, quando estava muito cansada, mas Terry já estava velho demais para ficar me procurando — além de muito ocupado —, então ele apenas ficava me esperando.
Apesar de tudo, vivemos uma vida boa. Até Terry morrer por algumas complicações de doenças da idade, me deixando sozinha no mundo de novo. Definhei naquele lugar, perdi o rumo, desisti de tudo, até de viver. Não queria estar em um mundo sem ter Terry comigo.
Os pesadelos voltaram e comecei a trocar o dia pela noite, ficava acordada imaginando que a qualquer momento alguém ruim ia aparecer na minha porta e me machucar, e Terry não estaria ali para me ajudar.
Passava os dias dormindo e quando acordava comia igual uma porca, para vomitar tudo de tanta me empanturrar. Eu sabia cuidar do gado e da colheita, mas não o fiz, então, uma hora tudo acabou e eu fiquei sem nada.
Comecei a ir com mais frequência para cidade para tentar comer algo enquanto acordada. Todos me olhavam com pena, a moça da lanchonete me acolheu e me oferecia pequenas refeições. Conheci a bebida e o entorpecimento que ela dava, então comecei a minha vida alcoólatra, mas não ia tão longe, porque sempre alguém da cidade me ajudava. Felizmente, as mulheres de lá eram mesmo boas e faziam de tudo para me ajudar.
Elas não me deixaram cair, como se o anjo de Terry estivesse por ali, surtando para que alguém me ajudasse e não desistiu de mim.
Assim como ele não tinha desistido.
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