O Olhar E A Literatura
Júlia formou-se em licenciatura e logo em seguida fora encaminhada para uma escola unidocente do interior do interior.
Ao saber de tal novidade, Júlia maldisse sua sorte e começou a se perguntar por qual motivo havia escolhido ser professora. Não era um sonho. Não fora obrigada. Simplesmente iniciou o curso de pedagogia e sentiu-se na necessidade de terminá-lo.
Mas nunca havia se imaginado em sala de aula. Os estágios obrigatórios da faculdade foram feitos apenas no papel.
Agora fora convocada para dar aula em uma escola com um amontoado de crianças caipiras.
Não estava gostando da ideia. Porém, precisava de dinheiro e, como não encontrou nada melhor, teve que submeter-se a docência.
Para seu primeiro dia de aula, pegou a primeira bolsa que encontrou, colocou um caderno com algumas questões de português e matemática dentro e seguiu para a escolinha.
Ao chegar, deparou-se com uma senhora de sorriso educado que logo lhe informou que ela era a responsável pela chave da escola, nos períodos de ausência de professor.
Júlia pegou a chave e a senhora lhe disse:
_ Que você seja luz para essas crianças que estão na escuridão.
Aquela frase ficou ecoando no pensamento de Júlia até o momento que as crianças todas chegaram e procuraram um lugar para se sentarem.
A jovem professora apanhou seu caderno e levantou-se da cadeira onde estava com o intuito de prostrar-se na frente daqueles alunos, passar o conteúdo e ir para casa ver a sua novela favorita.
Mas algo mudou seus planos.
Ao ficar de pé a frente daquelas quinze crianças e olhar para elas, seu coração acelerou. Pode perceber no olhar curioso de cada uma delas a vontade de conhecer algo novo. Fazer descobertas e sorrir por isso.
Ao fitar aqueles rostos inocentes, Júlia os identificou como folhas em branco a procura de um bom artista para preenchê-la.
E o artista, no caso, era ela.
Depois daquele primeiro, e arrebatador, contato Júlia adequou seu modo de lecionar de forma a levar para aquelas crianças sonhos, esperança e persistência. A cada história que os alunos ouviam, seus olhos brilhavam mais intensamente e o seu coração batia contente.
Vinte anos se passaram e aquela professora ficou com a saúde fragilizada. Sua enfermidade a deixara em estágio terminal em um hospital qualquer na rede pública. Abandonada por todos os que diziam serem seus amigos e até mesmo pelos parentes. Por tal motivo, a enfermeira sempre lhe fazia companhia nos horários de visita.
Porém, um dia algo diferente aconteceu.
No horário de visita uma silhueta diferente apareceu na porta. Um homem robusto e bem vestido aproximou-se e dando-lhe um forte abraço disse:
_ Como é bom vê-la novamente minha professora querida!
Os olhos de Júlia encheram-se ainda mais de lágrimas quando aquele homem formado contou-lhe que suas aulas naquela escolinha do interior, com todas as histórias e contos que lera para eles, permitiram que ele e seus colegas sonhassem em ser algo a mais na vida, tanto que se tornaram profissionais dedicados e de sucesso.
O coração dela bateu mais forte – assim como quando olhou aquelas crianças, vinte anos atrás – quando ele levantou-se para sair e ao chegar na porta, virando-se para ela disse:
_ O olhar da senhora, juntamente com aquelas histórias e fé em nós, nos fez acreditar que poderíamos ser o que sonhássemos.
E naquela noite, ao pensar que pode mudar a vida de alguém, uma lágrima escorreu pelo rosto daquela professora. E seu coração tanto bateu que parou...
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro