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Blitz - 1

A garota fitava o céu coberto pela névoa espessa, imaginando mais uma vez o que se esconderia por trás daquela cortina cinzenta. Seria um céu límpido e azul? Ou o dia do outro lado estaria tão nublado que não haveria diferença em qual lado do Véu ela estivesse? Seu desejo na verdade, seria contemplar um céu noturno, imensamente negro e pontilhado de estrelas, mas naquele momento tudo que via era cinza, não fosse pelo círculo esbranquiçado no alto que delineava a posição do sol.

A jovem balançou a cabeça, fugindo de seus devaneios, e voltou a caminhar pela rua deserta. Contou as rachaduras da calçada como uma forma de fugir de seus pensamentos. Seus passos eram rítmicos e os saltos de seus coturnos faziam questão de deixá-los soar através do vento frio que cortava aquela tarde monótona. Seus cadarços estavam desamarrados como sempre e, agora que reparava, sua meia-calça listrada parecia gasta. Talvez fosse hora de comprar outra.

Endireitou o vestido preto e simples no corpo magro e puxou bem as mangas compridas para que nenhum centímetro da pele de seus braços ficasse exposto. Ajustou as luvas de cetim com o mesmo intuito.

Parou ao lado de uma vitrine. Não havia nada do outro lado, a loja fechara há meses, mas o ambiente escuro do interior, junto com a luz esbranquiçada do lado de fora, criava um efeito espelhado no vidro repleto de arranhões.

Checou seu reflexo.

Não observou sua pele pálida ou seu cabelo negro e curto que se arrepiava em todas as direções. Era inútil tentar arrumá-lo. Queria apenas saber se seu batom preto e seu rímel carregado não haviam enfraquecido.

A cor escura ainda pintava seus lábios e olhos, por isso ela continuou a caminhar.

Atravessou a rua em direção ao sobrado de três andares que se erguia entre dois lotes baldios. Tábuas gastas cobriam quase todas as janelas do prédio antigo. Rachaduras e limo cobriam quase todas as paredes de tijolos.

A garota subiu os degraus que levavam à porta da frente e girou a maçaneta, mas não antes de olhar pela centésima vez para o aviso pregado na porta de mogno que, em jargões extremamente burocráticos, descrevia que o prédio em questão havia sido condenado e estava destinado a ser demolido dali a três meses.

A data do aviso era de três anos atrás, por isso a jovem não acreditava que a construção encontraria seu destino iminente tão cedo.

Entrou.

O interior era bastante amplo. O lugar há muito havia sido uma pensão com inúmeros quartos e uma taverna no térreo. O balcão junto à parede do fundo ainda sustentava algumas garrafas empoeiradas e um espelho quebrado. Algumas mesas e cadeiras se espalhavam pelo local. A luz era pobre, provinda de algumas janelas tapadas com menos tábuas do que as outras. O lugar cheirava a mofo e poeira.

‒ Atchim! – a jovem espirrou e sentiu uma onda de eletricidade estática percorrer seus cabelos, arrepiando-os ainda mais ao estalar centelhas azuis no ar seco.

Coçou o nariz ao fungar. Definitivamente o lugar cheirava mais à poeira do que a mofo.

A garota dirigiu-se à escadaria que levava aos andares de cima e pôs-se a subir, os saltos de seus coturnos ressoando contra a madeira a cada passo. Chegou ao terceiro andar sem muito esforço. Havia se acostumado a subir e descer aqueles degraus. Caminhou pelo corredor empoeirado até a última porta.

Ao se aproximar, ouviu vozes e estacou. Não deveria haver mais de uma pessoa ali.

Olhou para baixo. Havia um par de tênis pretos ao lado da entrada onde deveria haver apenas um par de sapatos formais. A jovem franziu o cenho. Levantou a mão para bater na porta, hesitou, mas bateu mesmo assim.

– Entre – a voz forte de um homem soou através da madeira.

A garota retirou suas botas e as colocou ao lado dos outros dois calçados, tomando cuidado para pisar somente no tapete, que era mantido limpo, diferente da maior parte da construção.

O escritório estava bagunçado como sempre. Livros se espalhavam por todos os lados, nas estantes das paredes, no sofá, na mesa de centro e no chão. A quantidade de poeira ali era praticamente nula, mas o cheiro de papel antigo ainda irritava seu nariz. A jovem o coçou com certa irritação.

– Ah – o homem no fundo da sala proferiu sem muita emoção. – Blitz. Chegou em boa hora. Aproxime-se.

Blitz. Aquele nome ainda soava estranho aos seus ouvidos e, mesmo quase um ano após recebê-lo, ela ainda tentava se acostumar a ser chamada assim.

Blitz obedeceu, caminhando até a mesa no fundo do escritório enquadrada por uma grande vidraça que merecia um pano úmido e uma boa esfregada vinda do lado de fora.

Havia duas figuras ali, onde deveria haver apenas uma.

Zephir sentava-se em seu lugar de direito, atrás da mesa. Vestia uma camisa amarrotada, suspensórios e gravata frouxa. Seu paletó pendurava-se no encosto de sua cadeira. Não era um homem velho, mas tão pouco era novo. Tinha a barba sempre por fazer e olheiras perenes embaixo dos olhos verdes que contrastavam belamente com sua pele cor de cobre. Seu cabelo preto precisava urgentemente de um corte.

Zephir era o dono do prédio, o empregador de Blitz e também a pessoa responsável por ajudá-la no passado quando tanto precisou. A garota não conhecia nada do passado do homem, mas suspeitava que ele já havia sido um policial antes de vir para Linsel, talvez até mesmo um detetive. Não tinha certeza, mas aquilo explicaria as ligações com pessoas poderosas que ele possuía. O próprio aviso de demolição pregado na porta da frente era um exemplo: um pagamento por um serviço realizado três anos atrás, Blitz suspeitava. Zephir não pagava impostos pelo prédio, afinal de contas, ele havia sido demolido há dois anos e nove meses, ou pelo menos era isso que deveria constar nos arquivos da prefeitura.

Já o garoto ali ao lado era desconhecido para Blitz. Um novo cliente, talvez? Ela considerou a hipótese, mas algo a dizia que não.

Era jovem, dezoito ou talvez dezenove anos, o que o fazia no máximo dois anos mais novo que ela. Era bastante alto em relação à garota, mas isso não queria dizer muito, considerando que Blitz lutava para alcançar pouco mais de um metro e cinquenta. Seus cabelos pretos bagunçados caíam a alguns centímetros abaixo de suas orelhas, quase lhe tocando os ombros. Não era tão pálido quanto a garota, mas sua pele era clara. Uma expressão de descaso parecia ter sido pintada em seu rosto. Vestia uma jaqueta escura sobre uma camiseta de listras pretas e brancas. Calças jeans rasgada e meias pretas completavam sua vestimenta.

– Wulfric, essa é Blitz. – Zephir apontou para a jovem. Depois inverteu o gesto. – Blitz, esse é Wulfric Hund.

O jovem deu um passo à frente, retirando a mão direita do bolso da jaqueta e a estendendo para a garota. Um brilho na orelha esquerda do rapaz chamou a atenção de Blitz, fazendo-a estreitar os olhos para enxergar o brinco que ali se pendurava. O objeto tinha a forma de uma cruz céltica simétrica em todos os lados, o que fazia do rapaz um devoto da religião dos Quatro Planos ou apenas mais um garoto que achava o símbolo algo descolado.

– É um prazer – Sua voz, para a surpresa da jovem, não era tão indiferente quanto sua expressão, possuindo um tom animado que contrastava com a natureza sóbria das outras duas pessoas na sala.

Blitz olhou para a mão do rapaz e depois para seu rosto.

– Um-hm – resmungou.

Wulfric ergueu as sobrancelhas ao recolher a mão para dentro do bolso novamente.

Zephir cruzou os dedos à frente do rosto e fitou Blitz, dizendo:

– Ele será seu novo parceiro.

– O quê?! – Uma nota de emoção finalmente soou na voz da jovem.

– Você ouviu.

– Eu não preciso de um parceiro.

– Eu não me importo.

Blitz estreitou perigosamente os olhos ao dar um passo à frente e descansar suas mãos sobre a mesa. Ela pôde sentir seus cabelos se arrepiando ao encarar o homem sentado na cadeira.

– Me dê uma boa razão pra eu simplesmente aceitar isso calada.

Zephir aproximou-se ainda mais ao sibilar:

– Eu te dou mais que uma. – Recostou-se novamente, com expressão confiante. – Você precisa pagar o aluguel?

– Eu...

– Comer? Vestir-se? Você precisa de dinheiro?

– Você sabe que sim. – Ela quis gritar, mas controlou sua voz.

– Então você irá trabalhar com ele. – Seu rosto ficou ainda mais sério. – Além disso, você ainda me deve, Blitz.

A expressão de fúria da garota vacilou por um segundo antes de se dissolver em uma mera irritação. Seus cabelos se assentaram em seu arrepiado natural. Ela se afastou, ajeitando suas luvas e puxando as mangas de seu vestido.

– Por que eu preciso de um parceiro? – perguntou ao cruzar os braços. – Meu trabalho não foi bom até hoje?

– Eu diria que sim, mas essa não é a questão. Você tem experiência, mas é impulsiva e acredita que consegue resolver tudo utilizando a força. Você precisa de alguém que pense antes de agir.

– E ele é esse alguém? – Blitz acenou com a cabeça para Wulfric.

– Eu espero que sim – Zephir respondeu.

A garota virou-se para o jovem.

– O que você consegue fazer?

Wulfric foi pego de surpresa, mas acabou por dizer:

– Eu lavo, passo e cozinho. Infelizmente faço tudo isso muito mal.

Blitz voltou-se para Zephir.

– Já sabemos que ele não consegue contar piadas, mas ainda não sei por que você o contratou.

– Ei! – Wulfric exclamou.

Zephir suspirou.

– Ele é um animorfo.

Blitz ergueu as sobrancelhas com legítima surpresa.

– É mesmo? Nunca conheci um pessoalmente. – Ela encarou novamente o garoto. – Em que animais você pode se transformar?

Wulfric recuou um passo quase imperceptível e abaixou o olhar.

– Em alguns – respondeu em voz baixa.

A reação do jovem não passou despercebida por Blitz, mas Zephir interveio antes de qualquer coisa.

– Vocês podem se conhecer depois. – O homem tirou uma pasta de papel pardo de uma gaveta e a jogou sobre a mesa. – Temos um novo trabalho – disse ao abri-la e separar três fotos.

Blitz olhou para as imagens, sua expressão imutável. Wulfric se aproximou fazendo o mesmo, mas sua reação foi a oposta. Seus olhos se arregalaram antes que ele se virasse para o outro lado, levando a mão à boca. Blitz achou que ele segurava o vômito e não o culpava. Demorara a se acostumar com aquele tipo de visão.

As três fotografias retratavam o que um dia haviam sido três pessoas. Descrever uma era como descrever as outras. O rosto não mais existia. Pele, ossos e cartilagem haviam sido arrancados com selvageria até restar apenas um buraco no lugar. Em um dos cadáveres ainda era possível distinguir o restante de massa cinzenta no crânio. A garganta havia sido rasgada de forma bastante irregular. O torso fora aberto e as costelas afastadas para os lados, quebrando-se e saltando para fora do corpo como garras sangrentas. Parte dos pulmões e menos da metade do intestino ainda se encontravam em um dos cadáveres, mas o resto, Blitz apostava, havia sido devorado. Um dos corpos não tinha mais uma de suas pernas e o outro perdera vários dedos das mãos. Os membros restantes haviam sido quase que completamente limpos de sua carne e pele, deixando expostos ossos pintados de escarlate.

Zephir pigarreou.

– Um... conhecido meu que trabalha na polícia trouxe este caso à minha atenção. Quando acharam a primeira vítima, pensaram ser um crime isolado, mas logo depois os dois outros corpos foram encontrados. A maioria da força policial aposta em um serial-killer, mas só porque não desejam perder o caso para uma agência privada.

– Aposto que é um ghoul – Blitz disse, ainda fitando as fotos.

– Se fossemos apostar, eu diria o mesmo – comentou Zephir. – Mas não vamos e incertezas não são bem-vindas.

– Eu não sei... – Wulfric disse, ainda sem se virar. – Eu pensei que ghouls fossem carniceiros, sabe? Que preferissem carne já em decomposição. Mas pela quantidade de sangue nos corpos, eu... – Ele engoliu a saliva. – Eu acho que eles estavam vivos quando... Quando começaram a ser... devorados.

– E como você ia saber? – Blitz perguntou. – Você mal olhou as fotos.

– Eu vi o suficiente – Wulfric rebateu.

– E onde você aprendeu sobre ghouls mesmo?

– Eu li em um livro.

– Ah, um intelectual – Blitz ironizou.

– Ei! Eu só estou tentando ajudar.

– Parem os dois – Zephir interviu, depois fitou Wulfric – O que Blitz está querendo dizer é que há divergências entre teoria e prática. Por exemplo: ghouls são realmente conhecidos pela dieta carniceira, mas já houve casos onde pessoas foram atacadas e devoradas logo em seguida.

Wulfric suspirou, parecendo desapontado.

– Mesmo assim... – insistiu. – Só me parece estranho. O corpo foi quase todo devorado. Ghouls não comem tanto assim.

– Pode ter sido mais de um – Blitz justificou.

– Ah, ótimo... – Foi a vez do jovem abusar do sarcasmo.

– Bem... – Zephir começou: – Vocês não vão descobrir nada estando aqui. Tome – O homem entregou uma folha de papel para a garota. – Este é o endereço do galpão onde as duas últimas vítimas foram encontradas. O local da primeira deve estar contaminado demais para se achar algo de útil, então comecem por aí. Vão até lá e coloquem seus narizes para funcionar.

Blitz fitou Zephir.

– Eu realmente preciso levar ele? – perguntou ao acenar com a cabeça para Wulfric.

– Sim – o homem respondeu sem vacilar.

– Tch – Blitz estalou a língua antes de sair do escritório.

– Ei! – A voz do garoto soou às suas costas. – Espere aí!


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