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III. Margem Do Lago

Na manhã seguinte, os monitores acordaram com os gritos de Peter. Ele não era paciente com ninguém e para ele, aquela era a forma mais eficaz de acordar alguém.

Lacey, Julie, Billie, Shirley e Chloe se levantaram e foram para o banheiro das meninas, enquanto Mike e Finn tentaram continuar seu longo sono.
Peter Jackson, no entanto, chegou na cabana e deu um grito que assustou os dois à ponto de os derrubar da cama.

— Eu não tenho paciência para molengas — disse ele batendo palmas —, vamos! Levantem!

Mike e Finn se indignaram por Peter os ter acordado tão cedo, mas logo o obedeceram e foram ao banheiro também.

Após todos terem tomado banho, se encontraram no refeitório, onde Joe havia preparado omeletes para o café da manhã. Shirley pegou o prato e se sentou ao lado de Finn, que já estava na companhia de Billie.

Lacey se sentou com Mike e Julie, obviamente contra a sua vontade, enquanto Chloe se acomodara em qualquer lugar.

De repente, a madeira começara a ranger e os olhos de todos os adolescentes e os dos monitores-chefes pararam para admirar uma bela moça que além de ter incríveis cabelos loiros, usava uma jaqueta em um tom berrante de rosa. Tudo o que ela estava usando era rosa, para falar a verdade.

Mike não conseguia entender por qual motivo uma pessoa usava tanto rosa em um conjunto de roupas, e ele sabia que todos ali pensaram do mesmo jeito.

— Algum dos cavalheiros podem me ajudar com a minha mala? — Perguntou ela tirando os óculos de sol (também rosas), e colocando-os pendurados em sua blusa.

Os garotos se levantaram rapidamente, mas Peter foi até ela e pegou a mala. Antes que Finn e Mike pudessem sentar-se em seus lugares, Peter deu uma olhada repreensiva aos dois.

— O que foi isso? — Indagou Julie.

— Foi uma clássica tentativa dos meninos de ficar com alguém mais velha — respondeu Shirley alto demais.

— O que? — Perguntou a bela moça se aproximando do grupo — Não que isso importe para você gordinha, mas eu tenho 27, então eu peço que não se confunda quando for usar “mais velha”.

Shirley a encarou perplexa, mas antes que pudesse soltar uma frase que acabasse com o ego daquela garota, Pauline chegara ao refeitório para receber a convidada.

— Olá querida, você deve ser a Liz — disse ela apertando a mão daquela coisa rosa. — Eu sou Pauline Geovanne, a monitora-chefe do acampamento.

— Sim, conversamos pelo telefone, é um prazer conhece-la pessoalmente.

— Eu poderia ter te encontrado na entrada, não precisava ter carregado sua mala até o refeitório.

— Ela deve ter sentido o cheiro de comida — debochou Shirley.

— Podemos ir ao seu escritório? Os adolescentes parecem realmente enxeridos.

— Claro — disse Pauline, que repreendeu Shirley com o olhar antes de seguir com Liz para a sua cabana.

— Você fala demais — comentou Billie para sua amiga, que comia sua omelete como se nada tivesse acontecido.

— Aquela azeda me cheira à problema, eu sinto isso.

— Em defesa, eu acho que você foi muito grossa dizendo que ela era mais velha.

— Não foi sobre isso que eu fiquei com receio. Ela é muito nojenta, e eu sinto isso.

— Vou fingir que mais ninguém reparou naqueles peitos — comentou Finn olhando diretamente para Mike, que deu um daqueles sorrisos que só os garotos entenderam.

— Acho que ela é a decoradora do acampamento — disse Julie.

— Em que mundo você estava? — perguntou Lacey. — Foi exatamente isso que Pauline nos disse.

— Desculpa, acho que eu realmente não estava prestando atenção — respondeu ela voltando a comer sua omelete.

Enquanto os monitores terminavam de tomar café, Pauline e Liz entravam na cabana dela para discutirem os interesses pessoais de ambas.

— Eu gostaria de me apresentar formalmente. Meu nome é Lis, mas gosto que se refiram à mim como uma Lady.

Pauline pegou um copo de água e ofereceu para ela, que recusou o mesmo.

— Muito exótico — disse Pauline —, mas respeito esse seu direito Lady Liz. Agora vamos falar sobre a decoração do acampamento.

— Sim, eu adoraria te contar algumas ideias, esse lugar está um pouco caído.

— Temos nossos charmes, não pense que vamos querer deixar tudo rosa.

— Está zombando de mim? — Perguntou Liz.

— De modo algum, eu sei que você é uma decoradora muito famosa, foi por isso que eu solicitei que viesse para cá.

— A reinauguração é em quantas semanas?

— Na verdade acontecerá no domingo que vem.

— Em uma semana? — Questionou. — Sinceramente eu acho que não posso trabalhar em todo esse lugar se você só me der uma semana.

— Eu estou te pagando muito dinheiro para deixar esse lugar incrível, então comece seu trabalho imediatamente.

— Que imparcial, gostei desse seu estilo.

— Não é um estilo, eu sou assim.

— De qualquer forma, foi um prazer te conhecer.

— Igualmente.

Liz saiu da cabana de Pauline e sorriu com alegria ao respirar o ar daquele local. Assim que ela viu Peter Jackson recolhendo algumas folhas, caminhou em sua direção.

— Com licença homem forte — chamou ela, que ficou feliz por ele estar totalmente atento ao que falava. — Eu preciso de alguém para me mostrar o ambiente, será que você não estaria disponível?

— Claro senhorita, venha comigo.

Peter segurou no braço esquerdo de Liz, e acompanhou ela até as cabanas, onde ela só conseguia demonstrar nojo e desprezo por aquele lugar ser tão horrível.

— Eu preciso urgentemente que seus “monitores” comecem limpando este lugar. — comentou —, e é crucial que estas cabanas estejam limpas até amanhã de manhã, você pode fazer isso para mim querido?

— Claro, é para já madame, eu já volto.

Peter deixou Liz olhando as cabanas e foi dar a ordem de limpeza para os monitores. Enquanto ele fazia isso, a moça olhou com cuidado cada uma daquelas nojentas cabanas que só não haviam se tornado parte da floresta pelo fato de que o musgo não atingiu o topo. Liz, no entanto, ficou assustada com a energia que sentiu ao parar seus olhos na pequena cabana com o número nove na porta.

Se aproximou com cuidado da mesma. Ela realmente parecia não ter sido usada há anos, e Liz viu isso claramente. Antes que pudesse tocar em um simples pedaço de madeira daquela cabana, Peter Jackson deu um grito ordenando que ela não o fizesse.

— Não mexa nessa cabana, por nenhum motivo — concluiu Peter estendendo a mão para a direção da entrada do acampamento. — Pode ir.

Apesar de ter sido bastante grosso com Liz, Peter Jackson sentiu que precisava se desculpar, mesmo que o motivo de seu surto tivesse sido bastante consistente. Assim que viu Liz longe de sua vista, Peter tocou na porta da cabana e tirou um pouco de musgo da fechadura, que estava trancada com cadeado.

— Você vai ficar seguro — disse olhando para a fechadura, onde um olho apareceu e o encarou.


Peter Jackson apareceu no refeitório e disse para todos que ali estavam para começarem a se organizar, pois teriam que limpar as cabanas imediatamente. Apesar de nenhum deles concordar com a ordem dele, foram sem reclamar para os seus dormitórios, onde trocaram de roupa e saíram para decidirem quem ficava com qual cabana.

— Eu acho que devemos nos dividir em duplas, assim todo mundo trabalha igualmente — disse Lacey.

— Concordo — respondeu Mike, indo em direção à Julie. — Eu vou com a Julie.

Billie foi até Finn e segurou em seu braço.

— Eu e o Finn vamos juntos — disse.
— Se importa de ficar com a Shirley, Lacey? — Indagou Mike.

— Não, a gente vai se divertir, não é não? — Perguntou Lacey passando seu braço ao redor do pescoço de Shirley.

— Claro que sim! — disse ela claramente desanimada.

— Então ótimo — comentou Mike. — Nós dois vamos limpar a cabana 3; Billie e Finn, a 4; e vocês duas limpam a 5.

Os grupos seguiram para suas cabanas. Assim como a cabana 2, a 3, em que Julie e Mike tinha entrado, era cheia de beliches para acomodar as crianças.

— Tem muita bagunça aqui — comentou Julie.

— Sim — respondeu Mike parecendo aflito.

— O que foi? — Indagou Julie ao perceber que ele queria desabafar algo.

— Eu não fiz dupla com a Lacey por um motivo.

— Qual?

— Precisava falar com você.

Julie congelou. Mike talvez falasse que aquilo com Lacey era demais para ele aguentar, e que seria melhor que nenhum dos dois tivessem contato, mas para sua surpresa, não.

— Eu acho que você está muito fechada.

— Como assim?

— Quis dizer que não está interagindo de verdade com ninguém.

— Mas é que eu só estou aqui há um dia, e já causei problemas para você e a Lacey, então não é o melhor momento para eu interagir com ninguém.

— Julie, eu sei que você acha que causou problemas para todos nós, mas concordamos em entrar para te ajudar.

— Não é algo que eu escuto com frequência, principalmente de caras bonitos.

— Você vai ser amiga de todo mundo facilmente, em breve verá como é incrível.

Mike se levantou e começou a sacudir os lençóis e os colchões dos beliches. Julie também se levantou e começou a ajudar Mike, que parou para encarar ela.

— Costuma achar caras como eu bonitos? — comentou Mike.

— Não, foi um modo de falar — disse sacodindo um lençol.

— Tudo bem então.

Os dois continuaram organizando o local enquanto Lacey soltava fogos pelos olhos arrumando a cabana 5 com Shirley.

— Eu juro que vou acabar com aquela garota — resmungou.

— Olha, eu não quero passar o verão inteiro ouvindo você reclamar sobre o Mike e a Julie juntos, ok? Nem todo mundo se importa com quem o seu galã transa.

— Mike e Julie transaram?

— Ainda não, mas é bem provável que aconteça porque os dois andam muito próximos.

— Eles não vão transar, ouviu bem? Não vamos permitir. Principalmente você, que gosta de prestar atenção em tudo.

— Não sou fofoqueira — contestou Shirley.

— Por favor, não tente me enganar, nós sabemos muito bem que você estava observando cada passo do pervertido do Finn.

— É por causa da Billie, ela gosta muito dele.

— Você está mesmo ajudando sua amiga a ficar com um garoto que disse que prefere transar com a Chloe ao invés dela? Corajosa.

— Eu sei que as chances são mínimas, mas eu preciso ajudar ela, de alguma forma.

— Mentirosa — disse Lacey debochando da cara dela —, você gosta dele também.

— Não é só você que tem dramas com possíveis namorados, a diferença é que eu não deixo evidente.

— O que você acha de eu ficar de olho no seu pretendente e você ficar de olho no meu? — Sugeriu Lacey. — Nós duas seremos a garantia de que nem a Billie e nem a Julie consigam o que é nosso.

— Eu geralmente não concordo em trabalhar com uma branquela, mas já que eu estou precisando muito disso, eu concordo.

Enquanto Lacey e Shirley bolavam um plano, Billie e Finn arrumavam a cabana 4 em total silêncio. Ela, apesar disso, acabou quebrando o gelo com ele.

— Como está a sua família? — Perguntou Billie.

— Quer dizer, como eles estão depois do que aconteceu?

Junho de 1974.

A mãe de Finn Lockwood chorava todas as noites, pedindo para Deus que aquilo não fosse real. Já estava se completando um ano desde o ocorrido, e ela não conseguia acreditar que o filho dela tinha desaparecido.

Finn se aproximou da porta do quarto da mãe e a ouviu chorar baixinho. Foi até ela e a abraçou, mas a mulher se sentiu desconfortável e gesticulou os ombros para que seu filho percebesse que, naquele momento ela não o queria por perto.

O pai dele viu a cena e tentou acalmar Finn, mesmo que ele já estivesse conformado com a situação.

— Dê um tempo para ela, sua mãe ainda vai demorar um pouco para superar a morte do Damon. — disse ele para o filho mais novo da família Lockwood.

— Ele não morreu pai — afirmou Finn indo para o seu quarto e se trancando dentro do mesmo.

Outubro de 1986.

— Faz 13 anos que ele desapareceu, meus pais já perderam a esperança há muito tempo — comentou Finn.

— Mas e você? — perguntou Billie — Já perdeu a esperança?

— Eu nunca tive.

Assim que as três duplas terminaram de arrumar as cabanas três, quatro e cinco, todas se dividiram novamente para arrumar o restante delas: a cabana seis, sete e oito.

Poucos minutos depois, todas as cabanas tinham sido limpas, com exceção da cabana nove, a qual Peter os proibiu de entrar.

Chegando à frente do píer, os seis jovens olharam para o pôr do sol e ficaram com vontade de entrar no lago. Todos tiraram suas roupas, deixando somente as íntimas, e correram para pular de cabeça na água gelada daquele extenso lago.

Todos se divertiram. Brincaram alegremente durante o pôr do sol, e Lady Liz observava aquilo com estranheza, pois todos eles estavam usando roupas íntimas vermelhas. Apesar de não saber exatamente o porquê de as vestimentas serem daquela cor, Liz aproveitou a chegada da noite para caminhar um pouco pelos arredores.

Julie, Mike, Shirley, Lacey e Billie saíram do lago após Joe os chamar para o jantar. Pauline acompanhou os adolescentes até o refeitório, mas não notaram que um deles tinha ficado para trás.

Finn observou atentamente a figura na margem do lago e esperou que a luz da lua a iluminasse e revelasse o rosto de Damon Lockwood, seu irmão mais velho desaparecido.

Finn não pensou duas vezes e correu atrás dele. Ao se aproximar, ele sentiu o tecido da camiseta, mas acabou por não ver um barranco que estava à sua frente. O corpo dele rolou abaixo e somente quando chegou em uma elevação sentiu uma dor absurda na perna esquerda. Ele a tinha quebrado.

Desesperado para conseguir ajuda, Finn gritou, mas percebeu que ali era muito longe do acampamento para poder conseguir a ajuda de alguém. Seus olhos então ficaram cansados, e antes que pudesse cair em um sono profundo, Finn viu o rosto de seu irmão todo ensanguentado e gritou novamente, sem perceber que uma figura rosa estava acima do barranco vendo toda a situação.

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