06. Duas Caras (Break Season)
1954.
O pequeno Henrique Wolin brincava alegremente com seus amigos. Ele tinha somente cinco anos, mas já era um garotinho travesso. Em uma brincadeira de esconde-esconde, Henrique se escondeu em um arbusto. Alguns minutos depois, e ele foi encontrado.
― Eu te achei Henrique. ― disse Molly, uma de suas amigas.
― Você errou, vai ter que contar de novo. ― respondeu ele saindo do arbusto. ― Eu sou o Henry.
― Do que você está falando Henrique? ― perguntou Samuel.
― Pare de me chamar assim! Eu sou o Henry! ― gritou ele.
― Seu nome é Henrique.
― Eu sou o Henry! Eu sou o Henry! Eu sou o Henry!
Ele gritava enquanto tapava os ouvidos tentando não ouvir as outras crianças. Nenhuma delas sabia o que tinha acontecido, mas o Henrique estava erroneamente convencido de que era o Henry.
1962.
Assim que vi Joanne sendo esfaqueada, puxei a mão de Quinn e levei-a pelo corredor enquanto corria desesperadamente para fora daquele lugar.
― O que você fez foi loucura. ― disse parando ela na parede do corredor. ― Sabe o que pode acontecer se pegarem a gente?
― Seremos eletrocutadas?
― Exato, você podia pelo menos ser um pouco mais responsável.
― Não sei porque se preocupa tanto, nunca passou por terapia de choque.
Soltei minhas mãos dos braços de Quinn e fiquei um pouco triste.
― Posso não ter passado por isso ainda, mas é só questão de tempo, todos sabem que a Constance me odeia.
Comecei a ouvir passos, e vi o homem de preto no final do corredor, com a faca na mão e olhando para a gente. Desesperadas, nós duas corremos enquanto gritávamos pedindo ajuda. De repente as luzes começaram a se acender e paramos ao ver que algumas pessoas estavam saindo de seus dormitórios. Olhamos para trás e vimos que o homem de preto retornava para o lugar de onde veio. Abraçamos uma a outra e fomos em direção aos nossos quartos, mas Constance apareceu, nos impedindo de passar.
― Qual o motivo da gritaria? ― perguntou já sem muita paciência.
― A gente viu o homem de preto. ― disse Quinn rapidamente.
― É sério que vocês duas me atrapalharam para dizer isso?
― Mas é verdade! ― respondi. ― Ele esfaqueou a Joanne.
― O quê!?
Constance nos empurrou abrindo caminho para ela passar e correu pelo corredor até o quarto de Joanne. Quando voltou, deu um tapa em cada uma de nós.
― Qual de vocês a matou? ― perguntou ela furiosa.
― Não a matamos. ― respondi.
― Quer mesmo que eu acredite em vocês?
― Nenhuma de nós duas estamos com as mãos sujas de sangue.
― Uma resposta bem pensada Alice, o que me faz pensar que talvez você possa ter sido a líder.
― Por que eu mataria a Joanne?
― Eu não sei. Talvez seja porque ela foi encontrada no seu quarto com o rosto todo rasgado e que logo em seguida eu conversei com ela e ela disse que foi atacada por uma pessoa.
― Isso não me coloca na cena do crime, eu estava tomando café.
― Ninguém te viu tomando café.
― Se quer me culpar de alguma coisa me culpe agora.
― Preciso ter provas contra você, mas quando eu tiver, você vai se arrepender de ter pisado em Creedmoor. ― ameaçou enquanto voltava para seu dormitório, assim como todos ali.
Fui dormir também, esperando que o dia seguinte melhorasse.
***
Acordei sendo cutucada. Ao abrir meus olhos, dei de cara com Quinn, que parecia ainda mais assustada do que ela jamais esteve.
― O que houve? ― perguntei preocupada. ― Por que me acordou agora?
― Eles vão te mudar de quarto. ― Quinn parecia estar mais do que certa do que tinha falado. ― Vão interditar esse aqui até descobrirem o que houve com a Joanne.
― Eu vou para qual quarto?
― Não soube direito, mas a Constance disse que tem certeza absoluta de que foi você.
― Eu queria poder fazer algo, porque se eu não conseguir provar que foi o homem de preto que matou a Joanne, eu posso acabar indo para a terapia de choque.
― Tem uma forma. ― disse ela com um olhar preocupado. ― Mas eu admito que é um pouco problemático.
Enquanto Quinn estava ali me dando conselhos sobre como evitar ir para a terapia de choque, fiquei com a cabeça um tanto ocupada, me preocupando com o monstro no guarda-roupa e o homem de preto, que pareciam estar ali de propósito, com a única intenção de me fazerem sofrer nas garras de Constance Holden.
***
― Mas é verdade! ― disse Rick batendo à o garfo na mesa causando um barulho um pouco chamativo.
― Não disse que não era verdade. ― respondi calmamente como se não tivesse acontecido nada ultimamente. ― Só que não acredito em você.
― O que preciso dizer para que acredite que eu não quis fazer aquilo?
― Olha, a única coisa que eu sei é que você devia deixar seu irmão assumir novamente.
― Ele é um babaca!
― Não fale assim dele. ― disse apontando a faca para ele. ― Seu irmão te ama, e você fica aí achando que ele te oprime.
― Mas estou certo e sabe disso.
De repente, Ethan se aproximou da mesa com um prato na mão.
― Oi gente, o que perdi? ― perguntou sentando-se ao lado de Rick.
― Nada. O Rick estava me contando um pouco da história de como ele nasceu.
― É uma boa história Alice, não deveria duvidar do Rick por isso.
― Como sabe que eu duvido dele?
― Porque eu ouvi um pouco da conversa.
Nós três então nos calamos enquanto ouvíamos os gritos e gemidos de alguns dos pacientes que comiam e faziam estranhas caretas querendo indicar que, ou estavam desesperados, ou simplesmente não gostaram da comida. Após alguns segundos, Rick anunciou que iria voltar ao salão, antes de nos deixar sozinhos terminando aquela gororoba que uma das cozinheiras tinha preparado. Ethan estava encantador naquele chapéu e parecia que tinha arrumado o cabelo. Quando percebeu que eu o encarava, ele então olhou para mim.
― Qual seu plano? ― perguntou ele me pegando de surpresa, pois eu não tinha contado nada sobre meu plano para ninguém.
― Que plano? ― perguntei tentando disfarçar.
― Seu plano de fugir daqui. ― Agora ele me olhava no fundo dos olhos, e ele tinha algo naquele olhar que parecia saber exatamente cada passo que eu dava.
1954.
― Já levamos ele a diversos médicos. ― disse Leopoldina, a mãe de Henrique. ― Não sabemos o que fazer com ele.
O pai de Henrique ficava imóvel, deixando que sua esposa falasse as maluquices de seu filho que ele já não conseguia mais suportar.
― Não tinham reparado nisso antes? ― perguntou o doutor, que estava entusiasmado pelo caso. ― Geralmente as crianças desenvolvem doenças bem cedo.
― Isso não é algo que nasceu, é mais como se ele tivesse desenvolvido esses personagens fantasiosos que ele diz ser.
― E quem ele diz ser?
― Uma hora ele é o Henry, um garoto doce que é bem parecido com o nosso filho Henrique, mas outra hora ele se transforma em um garoto totalmente diferente, mais agressivo.
― Qual o nome desse outro? ― perguntou o doutor, com uma caneta na mão e um caderninho, no qual ele anotava tudo que os pais diziam.
Leopoldina olhou de seu marido para o médico.
― Rick. ― respondeu quase como um sussurro, indicando que ela só não achava estranho, como também tinha medo daquele que levava esse nome.
Enquanto isso, do lado de fora da sala, Rick encarava seu irmão Henry no espelho, que tentava a todo custo sair.
1962.
― Não vou fugir. ― disse tentando mudar o olhar assim como Henry e Rick.
― Vai sim. Dá para ver em seus olhos.
Antes que eu pudesse dizer alguma coisa, eu, Ethan, e todos ali viramos para encarar uma garota entrando na cozinha. A mesma parecia acabada, mas dava para saber muito bem quem ela era: Nancy Granson, filha de Noah, que eu tinha visto andando de dedos entrelaçados junto a Emma, minha terapeuta. Era estranho, ela estava vestida como uma paciente. Assim que ela me viu, veio direto em minha mesa e se sentou de frente a Ethan e eu, fazendo questão de se deitar sua cabeça na mesa e fingir estar se escondendo de algo.
Passados alguns segundos, Ethan cutucou-a, e o olhar dela era dominado pela fúria e pelo ódio.
― Você está bem? ― perguntou ele, mesmo sabendo que sua resposta seria mais do que grossa.
― Estou ótima. ― respondeu, me deixando surpresa por ela não ter descontado sua mais do que óbvia raiva em Ethan.
― Tem certeza?
Agora ele estava abusando.
Nancy respirou fundo e deu um breve sorriso a Ethan, que a olhava esperançoso.
― Absoluta. ― disse ela na maior maresia. Aquilo realmente me assustava. ― Nada que uma boa noite de sono não ajudasse.
Um dos enfermeiros chegou e anunciou o final do horário do jantar. Levantei e fui para meu novo quarto. Quando entrei no mesmo, não tinha ninguém ali então resolvi me deitar na cama da esquerda. Pouco tempo deitada, ouvi o barulho de alguém entrando. Nancy. Teria ela como colega de quarto daqui em diante, e estava com medo de conversas, principalmente por ela estar com muita raiva. Assim que ela entrou, começou a caminhar na minha direção.
Droga! Eu iria levar uma surra. Pensei comigo mesmo.
Quando ela estava próxima da cama, fechei meus olhos e esperei pela surra, mas ela não veio. Pelo contrário, ela continuou imóvel ali. Olhei então para cima, encarando o rosto dela, e ela só indicou que aquela cama era a dela. Levantei rapidamente liberando o local. Fui imediatamente para a outra cama e virei meu rosto para a parede, tentando não abrir espaço para uma conversa formal.
― Como veio parar aqui?
Droga! Por que fui perguntar isso?
Alguns segundos de silêncio se passaram, e Nancy continuava deitada, olhando para cima refletindo sobre algo.
― Meu pai me colocou aqui. ― disse ela tentando não transparecer o real motivo. ― Ele e Constance acham que estou doente.
Pronto, encerraria o papo ali. Já tinha minha resposta, não preciso continuar.
― Isso tem a ver com você e a Emma?
Porra.
Nancy pensou antes de responder.
― Também acha que estou doente? ― perguntou ela me fazendo ficar em um impasse. Odiava não ter opinião formada sobre tudo.
― Bom, eu acho que isso é entre você e ela. ― respondi tremendo.
― Queria que meu pai pensasse assim.
― Geralmente a circunstância acaba fazendo essas coisas. Você só foi vítima das circunstâncias.
Nancy me encarou, e eu fiz o mesmo.
― Você está certa, Alice. ― disse ela anunciando que ia dormir logo em seguida. Acabei fazendo o mesmo, mas admito, estava com medo de ser pega de surpresa durante a noite.
***
Acordei com Nancy arrumando sua cama.
― Bom dia. ― disse um pouco confusa.
― Bom dia. ― respondeu ela ofegante.
Nancy parecia que tinha corrido uma maratona.
De repente, Noah entrou no quarto. Tanto eu quanto ele nos assustamos ao ver um ao outro. Nenhum de nós dois esperava se encontrar nesse momento tão circunstancial. Ele então parou de olhar para mim e encarou Nancy, que continuava desenfreadamente a arrumar sua cama.
― Vim trazer seu remédio filha. ― disse ele, que se esforçava para Nancy prestar atenção nele, mas nada dava certo.
O tom dele ficou um pouco mais ameaçador.
― Nancy, olha para mim!
A garota parou de arrumar a cama, mas logo voltou com seus movimentos repetitivos. Agora o olhar dele parecia com...
― NANCY! ― Seu grito era assustador.
A mesma então o encarou e ele forçou ela a tomar um comprimido enorme de uma coloração esverdeada. Fiquei amedrontada com a atitude de Noah. Não tinha exatamente um motivo para ficar surpresa, até porque ele já tinha feito coisas assustadoras, mas Nancy era sua filha, achei que ela poderia ser uma pessoa importante para ele. Após ver que ela engoliu, ele olhou para mim e apontou seu dedo em minha direção. Ignorei-o, e ele se aproximou.
― ALICE! ― A sensação era ensurdecedora, ainda mais quando ele se aproximou do meu ouvido.
Um zumbido horrível começou a abafar tudo e eu já não sabia se conseguia ouvir como antes.
― Você...Daqui...Hoje. ― disse ele, me deixando confuso.
Esperei um pouco e o zumbido passou. Olhei então para Nancy e em seguida para ele, que ao ver minha expressão confusa, repetiu a frase que ele tentou dizer.
― Você vai sair daqui. A Constance me disse que seria hoje. ― disse ele, me deixando eufórica, mas ao mesmo tempo assustada.
Quem teria vindo atrás de mim? Perguntei a mim mesma. Será que vão finalmente me tirar daqui?
Eu não sabia exatamente, mas todas essas ideias pareciam excitantes demais, e qualquer uma delas já era o suficiente para mim.
1954.
― Mas mãe! ― gritava Henry decepcionado por não poder mais ir a pré-escola como antes.
― Mas nada Henry. ― disse ela firme. ― Você e o Rick não podem mais frequentar a escola juntos.
― O Rick vai se comportar ― Henry tentava argumentar ― eu prometo mãe.
Henry então mudou de expressão. Rick então ajoelhou em frente à sua mãe e implorou.
― Por favor.
― Sinto muito, vocês não vão voltar para a escola e ponto. ― disse Leopoldina firme em sua argumentação.
Não havia nada que Henry ou Rick pudessem fazer contra isso, e a agressividade de Rick piorou, tomando o corpo em momentos inoportunos. Em um desses momentos, Henry ajudava sua mãe a cortar tomates para fazer o jantar. Rick então assumiu o corpo. A única coisa que Henry se lembra, foi de ter tentado tapar o sangramento no pescoço de Leopoldina, que se afogava em seu próprio sangue, jorrando por todo o chão da cozinha.
Quando seu pai chegou em casa, nenhum dos dois foi perdoado pelo que fizeram, mesmo que não se lembrassem após sua nova casa ter se tornado um sanatório abandonado com algumas pessoas insanas.
1962.
Henry e Rick me olhavam andar pelos corredores alegre, e ficaram confusos. Se aproximaram aos poucos, me assustando ao cutucarem meu ombro.
― Oi meninos. ― disse aos dois, que permaneciam com aquelas caras de confusos.
― Por que está tão alegre? ― perguntou Henry.
― Noah disse que a Constance comentou que vou sair daqui hoje.
― Como assim sair? ― questionou Rick.
― É isso mesmo que ouviram, eu vou sair daqui.
― Ninguém sai Alice. ― disse Henry acabando com toda a minha felicidade.
― Por que Noah comentaria isso então?
― Não faço ideia, mas ele deve estar de brincadeira. A não ser que alguém morra, ninguém sai pela porta da frente.
***
O café foi bem calmo. Henry e Rick pareciam estar se dando bem quanto a divisão de quem assumiria o corpo. Ethan me olhava com um olhar preocupado, não entendia muito bem e decidi nem tentar. Nancy estava menos eufórica. Seja lá qual fosse o remédio que Noah tinha dado a ela, estava funcionando. E Quinn estava um pouco mais corajosa, porém, não passava perto das janelas. Parei um segundo e pensei.
Se o que Noah tinha dito era verdade, por que eu estava tão preocupada em ir embora?
A resposta era que eu tinha me acostumado àquele lugar. Sorte que antes de começar a sentir remorso, Henry e Rick me tiraram do transe.
― Precisamos de ajuda Alice. ― disseram logo de cara.
― Com o quê?
― Você já esteve na sala da Constance e sabe onde estão os arquivos dos pacientes não sabe?
― Não irão me pedir para pegar o arquivo de vocês, vão?
― O nosso passado está naqueles arquivos, estamos cansados de ficar à beira de coisas que nos contam. Queremos saber a verdade sobre o porquê de nossos pais nos deixarem aqui.
Comecei a lembrar da última vez que estive naquela sala. Olhei o arquivo de Henrique Wolin, e eu poderia simplesmente contar a eles sobre seu passado, mas comecei a pensar como ele tinha saído da terapia com Emma.
― Vou pegar o arquivo, mas preciso da ajuda de vocês. ― disse já me arrependendo de me meter novamente com Constance.
Merda! Pensei no momento em que subi aquelas escadas.
Hoje eu sairia daqui de acordo com Noah. Eu sabia que não podia confiar nele, mas Constance não perderia uma oportunidade de conseguir se livrar de mim, ainda mais depois que fui acusada de quase todos os assassinatos que ocorreram aqui.
Afastando-me um pouco de meus pensamentos, entrei na sala dela e fui direto para a mesa com os arquivos. Comecei a vasculhar eles, procurando em ordem alfabética pelo nome Wolin. Quando a pasta amarelada se destacou para meus olhos, peguei a mesma e fui em direção a porta, mas fui pega por Theo, que estava me esperando com cara de "eu te peguei" misturada a cara de pavor natural dele.
― Eu vi o Steve. ― disse ele. ― Ele me mostrou um coisa estranha, por favor vem comigo.
Cansada de pensar que hoje todos tiraram o dia para me meter em encrencas, fui até lá fora e entreguei a pasta para Henry e Rick, que correram imediatamente para seus quartos. Theo fechou a sala de Constance e desceu as escadas também, indicando que eu deveria o seguir. Passamos pelo mesmo corredor em que vimos o homem de preto nos seguir. No final dele tinha uma parede um pouco desgastada pela tinta velha. Theo então a empurrou e a mesma abriu uma pequena fenda que levava à uma escada espiral.
― Eu não vou entrar aí. Pode estar tramando algo contra mim. ― disse com meu tom de vítima mais convincente.
― Tem razão, vou descer primeiro. ― Theo desceu calmamente, e eu acompanhei-o até não sentir mais a iluminação natural do dia.
― Theo! ― gritei ao sentir o chão e não conseguir enxergar nada.
De repente, algumas luzes se acenderam, e pude ver alguns instrumentos de tortura. Três tipos de machados se encontravam na parede a minha direita, diversas facas e bisturis recheavam uma mesa. Cordas e correntes continuavam a trilhar todas as paredes. Quando segui uma delas, acabei quase caindo em cima de uma mesa de cirurgia bem parecida com as que Theo usava, mas essa estava cheia de sangue. Ao me aproximar, toquei no mesmo e vi que estava fresco. Gritei então ao sentir uma mão em meu ombro, mas Theo me acalmou assim que ele revelou ser dono daquela mão.
― Vamos sair daqui.
Concordei com a cabeça e acabei subindo correndo as escadas assim que ele apagou a luz. Aquele lugar era bizarro, mas o mais bizarro, era Theo ter descoberto por Steve, que já estava morto há mais de uma semana.
― Não conte para Constance. ― disse ele.
― Não conte o que para mim? ― perguntou Constance, que tinha me dado um baita de um susto.
Theo não sabia o que responder. Ele estava assustado, principalmente por se tratar daquela megera que tratava todos como lixo.
― Espero uma resposta. ― disse ela novamente, dessa vez aumentando seu tom de voz.
― Ele me contou que eu iria sair daqui hoje, e que eu não podia contar para você que eu sabia disso, se não você brigaria com ele. ― respondi tomando a dianteira, feliz por ter pensado nisso tão rápido.
― Você não vai sair exatamente, sua fedelha. ― gritou Constance, tirando todas as esperanças que alimentei. ― Vai para o tribunal ser julgada pela morte de Joanne, Rebeca e pelo sumiço de seu padrasto.
Meu chão caiu, e apesar de "sair" dali, não estava indo encontrar com minha família novamente, era tudo uma ficha para eu ser acusada de assassinatos que não cometi.
Comecei a aceitar isso melhor quando estava no carro, indo em direção ao meu julgamento. Encarei eu me afastar cada vez mais daquele lugar, daquele maldito sanatório. Era um breve sonho, que percebi ter se tornado um pesadelo no instante em que me virei para frente e vi o carro bater em um cervo, capotando imediatamente. Aquela sensação de estar girando não era como nas montanhas russas que te dão vontade de vomitar, essa sensação era mais dolorida, com um arranhão novo a cada vez que uma parte do carro atingia o chão e a outra subia novamente.
Finalmente após alguns giros, o carro se estabilizou no chão de cabeça para baixo. Olhei para o meu vestido e vi alguns rasgos e buracos. Tentei tirar o cinto, mas estava preso. De repente comecei a ouvir passos. Eles se aproximavam do carro. Quando pude finalmente ver quem eram, me assustei. Joanne, Steve e Rebeca, mortos enquanto diziam o meu nome com a voz puxada.
Alice.
Era só o que eu ouvia.
Até que não ouvi mais. A mão negra em meu guarda roupa, que agora era um monstro enorme nos quais eu só conseguia ver o pé, tinha rasgado a garganta dos três, matando-os novamente em minha frente. Meu grito foi tão alto, que acreditei ter chamado a atenção de todos naquela floresta.
1963.
― Você nunca me disse que isso tinha acontecido. ― disse Beatrice.
― Teria acreditado? ― perguntou Alice sem ânimo.
Beatrice anotou aquilo pasma, enquanto Alice encarava a janela. De repente, uma mão negra se aproximou da vidraça, encostando-ado lado de fora, e a mesma, ao invés de se assustar, encostou na vidraça pelo lado de dentro, fechando seus olhos enquanto "sentia o toque" daquela mão que ela descrevia a ter assustado.
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