Ticket para Estocolmo - Kuroo
Este conto é voltado para o público adulto conforme orientação etária estipulada na sinopse, este perfil repudia qualquer tipo de ato com cunho abusivo, manipulador ou que corrobore um ato criminoso. É uma obra ficcional inserida num contexto de situações extremas, alguns temas tratados podem ser de natureza sensível.
Alertas para: Abuso, Palavras de Baixo Calão, Invocação, Ritual.*se você aprecisa esse tipo de estudo, realmente pesquise antes de fazer qualquer tipo feitiço ou contato, o descrito nessa fic é apenas ficção*
Par: Kuroo Tetsurou
-Isso deveria ser uma festa do pijama não?
Tinha apenas uma fresta da porta do dormitório aberta, mas mesmo assim a luz roxa e o gelo seco teatralmente disposto dentro de tubos com água colorida entraram na minha visão.
Annya que me encarava do lado de dentro abriu o restante da porta dando passagem o suficiente para que pudesse passar - Michi está treinando para a peça de Halloween, ela diz que ajuda ela a entender melhor o personagem.
-E o que isso tem a ver com gelo seco e incenso - balancei a mão na frente do rosto me livrando da fumaça aromática que voou no meu rosto assim que coloquei os pés na sala.
-Ela vai fazer um papel de bruxa, ou feiticeira algo do tipo.
A loira pareceu encarar algo atrás das minhas costas com uma careta, então me virando para a acompanhar me deparei com uma figura encapuzada. A boca escura sendo a única parte visível do rosto. Numa das mãos levava um cajado de madeira retorcido enquanto a outra estava levantada na minha direção. Tinha garras cinematográficas pretas nas pontas dos dedos e a túnica de veludo escuro cobria um vestido tom verde esmeralda, balancei a cabeça e segurei sua mão cheia de pele falsa.
-É bom ver você também. - balancei os dedos em cumprimento antes de andar até a pequena poltrona no canto e me sentar soltando a bolsa no chão.
-Você é tão chata - Michi tirou o capuz revelando os recém pintados cabelos ruivos, batendo o pé no chão - Nem um gritinho?
Não consegui deixar de dar risada - Precisa de um pouco mais do que isso pra arrancar um grito de mim.
-Tipo ser o capitão do time de vôlei da universidade? - ela pareceu alisar a saia tirando uma dobra imaginária. Annya imediatamente a socou no braço dando um olhar significativo, só então pareceu registrar as palavras ditas.
-[Nome] foi sem querer.
Encarei o teto por alguns minutos antes de dar um sorriso forçado - Tudo bem.
-O Oikawa é um idiota [Nome] não vale nem uma sinapse de pensamento sua - Annya veio até a poltrona se sentando no braço almofadado e me abraçando pelos ombro.
-Meio difícil não pensar quando ele beijou uma líder de torcida na frente da universidade inteira - um riso sarcástico deixou minha boca - Ou melhor, ela beijou ele.
-Não acredito que ele falou isso, fala sério. O ginásio estava cheio todo mundo viu que ele nem tentou empurrar ela pra longe - Michi abriu a boca - Eu já falei [Nome] se quiser que eu jogue uma maldição nele e naquela vagabunda é só falar.
-Michi pela décima vez você não é uma bruxa - Annya disse - Pare com isso, o universo vai devolver pra aquele idiota exatamente o que ele merece. E se chama carma não feitiço.
A ruiva fez uma careta e resmungou algumas coisas em voz baixa. Mas antes que pudesse reclamar de mais alguma coisa, a campainha tocou de novo.
-Deve ser a Haru - a então bruxa voltou a colocar o capuz na cabeça - Annya vamos fazer de novo, com certeza ela vai se assustar.
A loira se levantou com pouca vontade mas resolveu atender o pedido da colega de dormitório, fazendo o mesmo que fez comigo. E no momento que a recém chegada se virou soltou um grito estridente de medo genuíno a ponto de soltar a bolsa e se esconder atrás de Annya.
-Olhe e aprenda como se grita - Michi apontou pra mim que apenas observei a cena se desenrolar. - Mas vou te dar um desconto dessa vez.
-Obrigada ó misericordiosa bruxa - respondi e me levantei indo até o balcão de bebidas coloridas - Por favor me diga que alguma dessas tem álcool. As provas acabaram, todas nós passamos. Acho merecido um brinde.
-Essas são só água com corante - Annya disse passando por mim depois de fechar a porta - Mas essas aqui com certeza vão servir para começar.
De dentro da geladeira ela tirou alguns copos de shots coloridos, Michi andou para o lado dela distribuindo na nossa frente. Haru me deu um abraço de lado depois de se livrar das pernas bambas ganhas pelo susto.
Fizemos o colegial na mesma escola e foi instantânea a amizade que desenvolvemos depois de uma dinâmica em grupo, Annya geralmente era o cérebro. Era incrivelmente inteligente e boa com números e a salvadora de qualquer explicação matemática que precisávamos. Michi cursava artes cênicas, desde o clube de teatro todas sabíamos que essa seria sua escolha de carreira.
Haru era a mais nova, mais gentil e inocente, sempre estava lá quando se precisava era bem observadora e tinha um talento para pintura que a colocou direto na área de artes plásticas. Já eu...Estava mais do que feliz com a minha graduação em Publicidade e Propaganda, não sei se tinha alguma posição mais marcada no grupo mas sempre acabava por resolver os problemas tecnológicos.
-Annya fica com o verde, o roxo obviamente é meu, Haru fica com o azul e [Nome] com o vermelho.
-E tem diferença? - encarei o copo com o líquido cor de sangue.
-Nenhuma, mas eu acho que você está combinando com vermelho hoje - balancei a cabeça enquanto ela levantava o pequeno copo no ar.
-Um brinde a nossa amizade e ao fim das provas. Que o universo faça o Tooru bater com o pé no dedinho da cama.
A gargalhada que soou no apartamento foi sincera, os vidros bateram uns contra os outros e a bebida foi virada de uma única vez trazendo a tona caretas e uma queimação na garganta.
-Isso é horrível - Haru colocou a língua para fora - Você pegou isso direto da bomba de gasolina?
Michi começou então toda uma explicação do como ela tinha visto na internet que todo mundo estava elogiando a bebida, mas que era realmente forte. O dormitório tinha dois quartos separados, Haru ia dormir no colchão extra e eu ficaria com o sofá - que não era ruim pois era extremamente confortável.
Naquela noite algumas garrafas foram consumidas, tinha caixas de pizzas empilhadas no balcão e finalmente o gelo seco tinha parado de borbulhar. Depois de inúmeros filmes antigos, doces e potes de sorvete, o grupo que já estava meio embriagado acabou reunido num círculo com velas e Michi de volta à túnica de veludo. Embora o batom escuro já tivesse ido embora a muito tempo.
-E se der certo? - Haru abraçou uma almofada na frente do corpo - E aparecer alguma coisa, não tenho uma cruz ou água benta.
-É um texto da internet - falei desembrulhando um doce qualquer e jogando na boca - Não tem maneira disso ser sério.
Por algum motivo, todos os itens cenográficos da peça de halloween estavam na casa, incluindo o caldeirão, velas pretas e vermelhas. Usando um lápis branco de olho, a pseudo-bruxa desenhou um círculo no chão acendeu as velas e as fixou dentro do caldeirão.
-Aqui neste local coberto pelo véu de noite invoco e dou autorização para que os espíritos sexuais assumam a aparência de um rapaz, musculoso, atlético, com braços de dar inveja e olhos exuberantes entrem nos sonhos da minha amiga [Nome] [Sobrenome] e proporcionem a ela prazer intenso.
-Ei porque eu? - mirei a garota que me calou com um sibilo.
-E que faça ela esquecer o ex inútil. - Tirando um pano de trás das costas ela tacou no pote. E era um bem conhecido.
-Minha calcinha Michi, você está queimando a minha calcinha!
O fogo de repente aumentou e julgando que elas estavam altas demais para fazer alguma coisa útil, me apressei em levantar e pegar um guardanapo junto de qualquer líquido não alcoólico para apagar o fogo antes dele virar algo pior.
O tubo com corante teria de servir, as três palhaças estavam rindo descontroladamente enquanto por um momento eu era a pessoa responsável.
A água colorida voou por todos os lados, incluindo o chão, o cheiro de fumaça se misturando com o de incenso doce criando uma mistura horrenda.
-Chega pra vocês, pra cama.
-Cama não sei mas um banho com certeza - Annya que estava com o rosto corado se levantou - Vamos Michi você está alta demais, [Nome] você coloca a Haru na cama?
Depois de ter algum trabalho em ajudar a mais nova se trocar, finalmente a deixei na cama destinada. Annya estava brigando com a outra no banheiro então caiu sobre mim a tarefa de arrumar a sala.
Surpreendentemente o caldeirão era de ferro e pesado, o que foi problemático quando o coloquei na pia, um lado escorregou batendo no fundo e estraçalhando um copo de vidro que estava para lavar.
-Droga.
Que a aspirante a atriz se resolvesse com as velas do cenário depois, joguei as duas no lixo junto com a minha peça íntima que como esperado estava destruída. Não consegui deixar de dar risada sozinha, ela era completamente louca. Boa coisa que a peça estava chegando e logo ela sairia do personagem pra voltar a ser apenas uma pessoa.
Peguei uma tampa de pizza para colocar os cacos de vidro, claro que como bom clichê cortei meu dedo no processo. Não era nada muito fundo, mas precisei manter a mão embaixo da água por algum tempo, abri um dos armários da cozinha buscando por um band-aid.
Alguns bons minutos depois, quando tudo já estava limpo, o lixo apropriadamente descartado e os itens de vidro escondidos. Annya e Michi apareceram na sala. Quase sóbrias, com a desculpa de comerem alguma coisa doce.
-Tem certeza que estão bem? Tem utensílios mortais por aqui.
-Estamos - a ruiva disse - Desculpe por tocar fogo na sua calcinha, mas foi engraçado.
Balancei a cabeça e passei pelas duas andando até a minha bolsa, um dos zíperes estava aberto, claro que Michi havia a aberto em busca da peça íntima algum tempo antes.
O banheiro ficava no fundo depois de um pequeno corredor, não era nada muito rebuscado mas era o suficiente para duas jovens que usavam o apartamento praticamente apenas para dormir.
Claro que o motivo principal de estarmos ali era apenas aproveitar a companhia, afinal fazia semanas que mal conseguimos nos ver. No outro lado havia uma premissa oculta de me fazer esquecer o ex babaca, a tentativa foi boa mas precisaria mais do que algumas falas e boas intenções para arrancar de mim a lembrança da traição.
No campus existiam duas universidades, gêmeas é o que eles chamam, são diferentes porém têm uma boa relação principalmente no que diz aos cursos que fornecem já que eles se completam.
Oikawa Tooru era um novato quando o encontrei perguntando no pátio como é que ele chegava na secretaria do outro prédio. Minhas aulas tinham começado uma semana antes, então já estava acostumada com o terreno. Levei ele até o local de maneira despretenciosa, mas não demorou para ele começar a me encontrar nas saídas e trocar palavras durante os caminhos.
Ele me beijou logo no primeiro encontro e a partir daí era de conhecimento geral que éramos namorados. Geral porque ele tinha certa fama, tanto pela beleza e ser um aluno modelo, mas também por conseguir o lugar de titular logo no primeiro ano.
Meu curso faz parte da universidade gêmea então na maioria do tempo estávamos separados, mas essa diferença nunca foi um problema principalmente pelos dois prédios estarem próximos. E também nunca tive motivos para duvidar de alguma coisa.
Exato um mês depois de completar um ano juntos, acabou. No fim do fatídico jogo com a escola rival, uma das animadoras pulou da arquibancada e o beijou na frente dos dois colégios durante a comemoração. Ele poderia ter afastado a garota mas ele se inclinou a tomou pelas pernas e levantou, como se fosse a coisa mais normal do mundo.
Foi quando eu descobri que não era a única já a um bom tempo.
A desculpa mais idiota veio depois disso, foi ela e não ele. Ele tentou me convencer de algo, acho que ter eu proferindo que estava tudo acabado foi uma mancha e tanto pro ego gigante dele.
Tudo que foi falado, tudo que foi feito e tudo que compartilhamos acabou naquele momento. E claro que no dia seguinte ele estava desfilando com um novo acessório no braço enquanto eu era o alvo de pena e fofoca olhares tortos que já se estendiam por meses.
Deixei a água bater nas minhas costas respirando fundo, girei o pescoço lentamente enquanto apertava a lateral. Senti algo subir pelas minhas pernas e rapidamente olhei para baixo esperando encontrar algum bicho, mas não tinha nada. Só ficou a sensação de algo viperino se arrastando pelos meus pés.
Olhei para trás embora soubesse que não tinha nada, devia ser as falas infundadas de Michi junto com a porcentagem de álcool no sangue me pregando peças.
Fechei a água, me vesti e voltei para a sala. O toque escorregadio ainda como um fantasma, nenhuma das minhas amigas estavam por ali. Pela porta aberta dos quartos vi que já estavam em suas devidas camas prontas para dormir.
Antes de se deitarem Michi e Annya gentilmente arrumaram o sofá, me cobri com uma sensação gostosa de ter tido bons momentos e embalada pelo cansaço me entreguei nos braços do sono.
O cenário era familiar, a cama grande de lençóis brancos, a sacada com vista para o mar esmeralda e areia de cascalhos brancos. No céu escuro de poucas estrelas e havia uma lua tímida brilhando por trás de algumas poucas nuvens, a brisa era quente e tinha cheiro de sal, passava dançando pela porta balcão balançando as cortinas de tecido leve.
Ao longe o som das ondas do mar quebrando na praia me deixava com uma sensação tranquila como se estivesse flutuando. Era uma lembrança viva, algo que nunca havia tido antes, desde a madeira rangendo sobre meus pés até os cabelos roçando nas costas.
Eram lembranças da primeira viagem que fiz com Tooru, estávamos num período de calor ele queria conhecer o resort então nos planejamos o descanso por alguns meses. Também me lembrava daquela noite, porque foi a primeira que ele me tomou.
Fiquei observando do balcão à vista enquanto ele resolvia algo em relação a chave do quarto na recepção. Depois de algum tempo o rapaz voltaria, reclamando do atendimento e eu tentaria o acalmar falando que não precisava de tudo aquilo.
As mãos subiriam devagar pela minha lateral enquanto o espaço entre nossos corpos diminuía, beijos preguiçosos sendo depositados na pele acompanhada de carícias sedutoras.
Ele estava ali, sentia seu tronco batendo contra as minhas costas, o calor da pele irradiando através das roupas e os dedos que encontraram o caminho por debaixo da barra da camisa para tocar minha cintura. Suspirei pela dor da memória tomando coragem para ir contra o sonho e virar.
Enganada estava quando achei que veria o meu ex. O rapaz que mantinha as mãos na minha cintura era mais alto, tinha os cabelos cor de tinta nanquim e os olhos afiados num tom de amarelo felino, os lábios eram rosados e se levantavam num sorriso debochado deixando levemente a mostra uma fileira de dentes brancos. Ele era lindo, uma beleza deslumbrante que nunca tinha visto antes.
-O que foi meu amor? - a voz dele calma e profunda me alcançou os ouvidos enquanto franzia de leve a testa - Cansada demais pra nossa lua de mel?
Na mão esquerda, no dedo anelar um filete de ouro que nunca esteve lá antes. A mão dele se ergueu na direção do meu rosto e ajustando alguns fios atrás da minha orelha estendeu o carinho para a nuca puxando a minha cabeça de leve para trás deixando o caminho para o meu pescoço livre.
-Eu não sou casada.
A risada rouca roçou contra a minha pele - Não, mas não ligo de brincar de marido de alguém tão deliciosa como você. - se pressionando mais contra mim senti seu membro rijo na minha perna. - Já faz tanto tempo, eu estou faminto.
Essa última fala veio acompanhada de um grunhido quase animalesco, levantando o rosto apenas para me encarar nos olhos.
-[Nome] [Sobrenome] a partir de agora sua vida é minha.
Acordei com a sensação que não havia dormido, apenas que fechei os olhos para ver um filme passando em minha mente. E que filme, não lembrava muito mas as pequenas partes que me vieram à mente foi o suficiente para que trouxesse um rubor ao meu rosto. Encarei o teto do dormitório enquanto tentava acalmar meu coração, batia rapidamente apesar de ter despertado naquele momento.
Sentei e olhei em volta, nenhuma das outras pareciam ter acordado
No balcão de madeira da cozinha os restos do "ritual" ainda estavam espalhados. A maior parte de mim acreditava que foi um desejo gravado no meu subconsciente que se manifestou durante o sono, mas tinha uma minúscula parcela que se perguntava, "e se?" realmente as palavras de uma Michi bêbada tivesse invocado uma criatura de prazeres para dentro dos meus sonhos.
Não valia a dor de cabeça de sequer cogitar uma coisa daquela, levantei do sofá para pegar um copo de água sentindo uma moleza sem tamanho me tomar o corpo. Devia ser um efeito colateral do álcool da noite anterior, o homem que apareceu nos meus sonhos realmente parecia meu tipo ideal, seu olhar marcante sendo uma das coisas mais lindas que eu já vi.
-Bom dia.
Assustei-me com Michi que se aproximou sorrateira como um gato, os cabelos dela estavam bagunçados e uma mão se mantinha levantada coçando um dos olhos, depois de um bocejo longo disse ainda com a voz rouca de sono - Essa era a reação que eu queria ontem.
-Muito engraçado - terminei o copo de água e coloquei na pia - Vou precisar voltar pro meu apartamento, tenho que terminar um projeto de branding.
-Jura? Achei que ia com a gente no shopping, Annya comprou ingressos para um filme.
-Acho que consigo encontrar com vocês depois, mas vou precisar da parte da manhã.
A ruiva concordou e não demorou para que eu tivesse me trocado e tomado o caminho de volta para a minha própria casa.
Bem, casa era um elogio. Era uma pequena moradia em cima de um comércio local num bairro mais distante do centro, o aluguel era barato estava dentro do meu orçamento. E às vezes ainda ganhava uns trocados por ajudar a senhora, dona da loja de artesanatos, nos finais de semana.
Por sorte o metrô não estava tão cheio, não a ponto de eu conseguir um lugar para sentar, mas pelo menos de pé tinha algum espaço. A pessoa mais próxima estando a alguns passos de distância, não tinha que esperar muitas paradas então realmente não fazia diferença.
Peguei o celular para ver se tinha alguma coisa, e nada além de algumas mensagens de grupo e notificações sem sentido. Havia algumas publicações no mural do curso em respeito aos trabalhos a serem entregues mas nada muito relevante, de novo senti a sensação de algo encostando na minha perna dessa vez na parte de trás da coxa como um toque bem leve.
Virei mas não tinha ninguém perto o suficiente para tentar fazer alguma coisa, e sequer estavam virados na minha direção mas sim de costas. Apertei o cano balaústre na mão girando o pescoço em seguida, o toque fantasmagórico me fez subir um arrepio pela espinha, encarei o meu reflexo no vidro podia ser pela velocidade que o transporte se movimentava mas nas paredes escuras do túnel quase pude ver uma figura enroscada na minha cintura.
Pisquei algumas vezes não acreditando no que meus olhos viam. Os fechei com força e quando os abri novamente não tinha mais nada, de repente me tornei mais perceptiva no que estava ao meu redor. Um pressentimento de estar sendo observada grudada na minha nuca.
Desci na estação que deveria e andei o mais rápido que podia na direção da minha moradia. Meu erro foi olhar para trás e ver um vulto escuro se movimentando.
Peguei o celular discando um número conhecido enquanto buscava dentro da mochila um molho de chaves, o aparelho caiu no tapete que eu mantinha na frente da porta e assim que me abaixei para o pegar vi na base da escada uma figura masculina bem distinta.
Pânico me tomou o coração, e de maneira um pouco destrambelhada abri a porta e a bati nas minhas costas fechando todas as trancas que podia e girando a chave o máximo que dava. Do viva voz uma voz soou.
-[Nome], porque está me ligando tão cedo?
-Kai pelo amor tem alguém me seguindo! - me agachei contra a porta e sussurrei. - Eu vou morrer, deveria ter continuado morando nas casas dos meus pais.
-Que? Me explica isso direito onde você está?
Espiei pela janela apenas para ver o vulto ainda de pé - Estou em casa acabei de chegar da Michi, ele está parado na minha porta!
-Tem certeza que ela não está bêbada? - uma voz no fundo disse.
-Para estar em pânico desse jeito acho que não.
-Kai! - gritei em silêncio.
-Estou saindo de casa, não abra a porta até eu chegar não des-
A ligação caiu e por consequência meu celular também desligou. Simplesmente ótimo.
Nobuyuki Kai é meu melhor amigo, além de ser um parente. Frequentava a mesma universidade que eu, junto de um outro amigo chamado Morisuke Yaku - quem provavelmente estava gritando no fundo, eles dividiam um dormitório a apenas duas quadras de distância - um líbero confiante e sem filtro para palavras.
Considerando que hoje era um sábado, eles já deviam estar acordados por conta do treino.
Ouvi alguma coisa arranhando na porta, seria a minha morte com certeza.
Engatinhei até a parte de trás do balcão da cozinha procurando a coisa mais mortal possível nas gavetas, o que se resumiu numa faca de carne. A segurei com a mão ouvindo os arranhões na madeira da porta ficarem mais intensos, o som pareceu entrar na minha mente e aos poucos se tornar um zumbido alto. Minha visão ficou embaçada, o ar tão denso que não conseguia respirar. Soltei a faca no chão para tapar meus ouvidos.
O coração batia cada vez mais forte e combinado com os arranhões se fazia ensurdecedor.
-[NOME]!
Num segundo tudo se foi, e o que restou foi a voz do meu primo do lado de fora. Me apoiei no balcão para levantar, tive que usar dos móveis próximos a porta para conseguir chegar até a porta sem cair no meio do caminho.
-Tá legal ela tá pirando de verdade - Yaku disse ao me ver.
Kai entrou e me fez sentar no sofá enquanto o líbero fechava a porta atrás dele - Você está pálida, [Nome] olhe para mim. - meu rosto foi segurado entre duas mãos quentes - Quer ir pra um hospital?
Neguei com os meus sentidos voltando ao lugar. - Não, só... Fiquei assustada.
-E pronta pra cometer um assassinato aparentemente - o líbero pegou a faca do chão da cozinha e colocou sobre o balcão - Mas não tinha ninguém quando chegamos.
- Quando a ligação caiu achei que tinha acontecido alguma coisa. -Minhas mãos foram apertadas com força, Kai me lançando um olhar preocupado - Que bom que está bem, mas realmente não tinha ninguém.
-Podemos perguntar pra dona da loja se ela viu alguma coisa - o quase ruivo se pronunciou bagunçando meus cabelos - Ou inventou isso só porque estava com saudades?
-De você jamais, do meu primo sempre - bati a mão dele para longe, apoiando o rosto na minha palma. Teria eu alucinado? Assim como no metrô? Kai passou a mão nas minhas costas antes de dar algumas batidinhas de leve.
-Não tomou café da manhã tomou? Vou fazer alguma coisa pra você, ainda temos um tempo até o treino.
O líbero tomou a liberdade de ligar a minha televisão e colocar num programa qualquer enquanto se jogava ao meu lado no sofá. Peguei a bolsa do chão, me senti muito mais segura com os dois ali por perto e rumei para o quarto. Sem mais eventos em pouco menos de quinze minutos já estava com roupas limpas e uma alma mais calma.
Meu primo colocou um prato com ovos mexidos e algumas torradas na minha frente antes de abrir a geladeira e me jogar uma caixinha de suco.
-Obrigada - respirei fundo e me sentei na banqueta alta que ficava na cozinha - Desculpe pelo transtorno.
-Não foi nada, até foi um aquecimento - Yaku disse - Mas de verdade você estava bêbada?
-Não estava e não estou - retruquei - Só, essa sensação estranha de ter algo me seguindo como um fantasma um mau agouro. E eu vi alguém no pé da escada quando entrei, tenho certeza. E era um homem.
-Yaku pare de pegar no pé dela. Talvez seja bom falar com seus pais sobre reforçar as trancas ou algo do tipo, posso ficar aqui alguns dias se for se sentir mais segura.
Balancei a cabeça negando - Pra dormir no sofá velho e ir para o treino quebrado? Acho melhor não, gostaria de te ver inteiro para acabar com Tooru na próxima temporada.
-Posso garantir que esse pedido nem precisa ser feito, é quase uma obrigação.
Assim que deu a hora os dois se foram com a promessa de voltarem no almoço para ver como eu estava. De qualquer forma ainda tinha o trabalho para fazer. Conversei com as meninas e disse que não estava tão bem para sair de casa, o comentário resultou numa chamada de quase trinta minutos comigo contando os acontecimentos no pouco tempo que passamos separadas.
Annya e Michi se propuseram a ficar comigo na parte da tarde, deixando de lado o filme. Quando disse que não precisava, elas fizeram questão de frisar que eu era mais importante que qualquer estreia.
Haru estava tão quebrada que provavelmente passaria o dia inteiro dormindo.
Surpreendentemente o dia correu bem, os meninos passaram aqui no almoço trazendo comida e as meninas chegaram pouco tempo depois deles partirem e ficaram até a quase anoitecer. Kai comentou que a dona da loja não tinha visto nada e de novo recomendou que eu falasse com os meus pais sobre o acidente.
Só fui descansar quando estava próximo das onze horas da noite e finalmente coloquei a cabeça no travesseiro. Não era considerado tarde ainda mais por ser sábado era relativamente cedo, sem perceber me vi ficando sonolenta e cada vez mais mole.
De novo o cenário do mar verde esmeralda e a praia de areia branca. A mesma lua no céu e o mesmo quarto de hotel mas nenhum Oikawa denovo aquele homem de cabelos escuros e olhos dourados tomava cada pedaço do meu corpo explorando com toques leves e frios a minha pele quente. Bati com as costas na cama com ele sentado na minha cintura, o corpo praticamente esculpido pelo próprio Michelangelo.
Ele abaixou o rosto na minha direção depositando um beijo na minha clavícula - Essa noite você é minha de novo. Obrigado por abrir a porta.
Então acordei do pequeno sonho, abri os olhos rapidamente depois daquele gatilho mental sobre uma experiência traumática. Mais ao contrário do que eu esperaria, o homem de figura deslumbrante que me visitou por dois dias seguidos estava de fato fisicamente sentado na minha cintura.
-Oh, você acordou. Isso não é comum.
O grito veio na minha garganta mais foi sufocado num beijo até que violento, tentei empurrar seus ombros mas minha força sumiu completamente, o cara segurou o meu queixo antes de levantar a cabeça e passando a língua pelos lábios - Você é a coisa mais deliciosa que já provei, acordada mais ainda.
Tentei levantar o braço mas nem isso eu consegui, ele não fez nada, apenas ficou parado sentado na minha cintura enquanto parecia apreciar minha expressão de confusão.
As roupas eram as mesmas do sonho, ou no caso a falta delas. Apenas um shorts de praia de cor preta - Vocês humanos fazem as coisas e simplesmente não acreditam quando obtêm resultados.
Ainda me mantendo embaixo dele, cruzou os braços na frente do corpo - Você me chamou, pediu por prazer intenso e algo sobre esquecer um ex. Devo admitir que não é comum rituais hoje em dia, ainda mais com laço de sangue.
-Embora o processo tenha sido um pouco desleixado.
Isso não podia estar acontecendo.
-Não fui eu - atravessei pela moleza e o choque para conseguir responder - Minha amiga chamou, e o sangue foi um acidente.
Os olhos dele miraram os meus e um sorriso sarcástico brotou em seus lábios - Que pena pra você então, posso garantir que eu estou bem feliz. A propósito vamos aproveitar e discutir os termos deste contrato.
-Eu não quero fazer um contrato com você - disse, ainda acreditando que poderia estar num sonho extremamente delusional e realista.
Ele balançou a cabeça - Não faria isso se fosse você, temos duas alternativas. A primeira, você rompe o contrato e eu mando a sua alma direto para o inferno ou...Você mantém trato de serviço, eu cumpro a minha parte e você a sua e vivemos felizes para sempre.
O objetivo dele estava bem explícito - Mas qual é a minha parte?
-Me alimentar é claro. Um incubus se alimenta da energia vital de um humano - ele se mexeu soltando mais o corpo sobre o meu tomando uma expressão de pensamento - Nós deveríamos estar tendo essa conversa no primeiro dia mas estava fraco demais para conseguir me materializar.
-A propósito, o nome que seu subconsciente escolheu para mim foi Kuroo Tetsurou - a criatura passou a mão pelos próprios braços - Esta forma até que é agradável.
Levei as mãos ao rosto respirando fundo e espiando por entre os dedos, ele ainda estava ali. Era verdade.
-Será que você pode sair de cima de mim? - pedi.
-Hum? Geralmente não é isso que me pedem - Kuroo, como ele mesmo disse que se chamava, saiu de cima de mim se sentando ao lado.
-Então Michi te invocou para mim e agora estamos ligados até a minha morte por conta de um corte. Se eu rejeitar esse pacto eu vou direto pro inferno - encarei o teto - Se eu aceitar?
-Você passa a vida me alimentando e no fim te deixo ir. - ele pareceu pensar - De alguma forma estranha sua amiga conseguiu achar uma quebra nas regras, geralmente quem invoca já ganha direto a sua passagem para o andar de baixo, mas ela não teve contato comigo. Entretanto também não posso condenar alguém que não me chamou.
-Porque eu iria para o inferno então por não aceitar se você não pode me condenar?
-Porque, querida, eu preciso pagar a passagem.
Teria continuado se a minha campainha não tivesse tocado, me levantei sentindo a cabeça ainda um pouco leve. Toda aquela baboseira de energia vital parecia verdade no momento - Só não saia daqui.
-Vou estar te esperando.
Fui até a sala, quem estaria na minha porta a essa hora? Um pensamento de preocupação bobo quando tinha um demônio deitado na minha cama, olhei pelo olho de peixe. Como se o dia não pudesse se tornar mais estranho, a última figura que eu esperaria ver estava ali.
Abri uma fresta da porta apenas para ter certeza do que via, uma raiva sem tamanho me tomou. - O que você está fazendo aqui?
-[Nome]-chan - a voz sedosa saiu da sua boca acompanhada de um sorriso - Meu celular acabou a bateria queria saber se poderia me ajudar. Só até eu chamar um táxi.
Apertei a maçaneta - Tem que ser muito cara de pau para parecer na minha porta depois de tudo que fez comigo Tooru. Até pra pedir ajuda.
-Eu sei que você ainda deve estar brava comigo, mas em prol de tudo que nós passamos juntos...
-[Nome] o que está acontecendo?
Um braço circulou minha cintura e uma respiração quente bateu no meu pescoço. Kuroo saiu do quarto e me seguiu até a entrada ele ainda estava apenas com os shorts então o peitoral nu bateu diretamente contra as minhas costas.
-Posso ajudar? - perguntou olhando diretamente meu ex nos olhos. O castanho parecia olhar com uma mistura de raiva e surpresa. Soava extremamente errado estar com um ser sobrenatural enroscado comigo? Sim, mas a cara do Oikawa estava boa demais para eu o afastar.
-Ele precisa de um táxi - falei.
Kuroo esticou o braço para a mesinha perto da porta onde estava meu celular, discando um número qualquer e de fato pedindo um táxi para o rapaz. Ele disse o endereço da minha casa e finalizou a ligação tendo a audácia de beijar o topo da minha cabeça antes de lançar um sorriso venenoso na direção do outro.
-Resolvido deve aparecer aqui em algum tempo, agora se permite. Temos assuntos a resolver.
Precisei me apoiar na porta, a simples proximidade dele me deixava fraca.
-Me desculpe, mas quem é você? - Oikawa colocou a mão no batente da porta - Nunca te vi antes.
-O namorado - ele disse as palavras de uma maneira tão natural que até eu acreditei - E você?
-O ex - Tooru inflou o peito como se tivesse algum orgulho naquilo.
-Certo - Kuroo estalou o dedo - O imbecil, me lembro da história. Você não deve ter nenhuma vergonha na cara para estar parado aqui.
-Foi o que eu disse - comentei - Agora se me permite, boa noite.
Fechei a porta me escorando nela em seguida, minhas pernas fraquejando. Minha cabeça ficou leve e Kuroo me pegou nos braços levando de volta para o quarto.
-Desculpe, acho que exagerei. Ficar nesse plano dá trabalho - ele me deitou na cama - Essa noite descanse, conversamos de manhã.
Escuridão, pura e densa.
Sem sonhos, sem pensamentos, apenas o nada. Um interruptor mental que desligou e apenas voltou no dia seguinte quando tinha energia o suficiente para isso.
Tinham vozes na casa, Kai ao longe junto de Yaku e uma terceira que reconheci sendo de Kuroo, respirei fundo e virei na cama fechando os olhos. Queria não ter que encarar a realidade atual, como que a minha vida poderia ter virado de tal maneira em tão pouco tempo?
Passos soaram pra dentro do quarto e quando senti o colchão mexer abri apenas um olho para encarar o incubus que estava deitado de frente, agora com roupas normais como qualquer garoto da minha idade.
-Como que Kai e Yaku não te expulsaram daqui?
-Porque eu sou seu namorado - ele sorriu - Pelo menos é o que eles acham, um truque de memória falsa.
Franzi o cenho, se não tinha como escapar daquilo.
-Você não vai mentir pra mim, ou machucar qualquer pessoa - falei encarando seus olhos afiados e felinos - Nem me matar ou tocar sem meu consentimento.
-Mas alguma coisa princesa? - disse de maneira debochada - Tudo bem, sem mortes, sem toques, blah, blah.
-Conhece o ditado, um beijo sela o contrato.
Revirei os olhos inclinando de leve, a boca dele encostando na minha e formigando logo em seguida. Quando me afastei, suas íris brilhavam como se tivessem luz própria.
-Acordou a bela adormecida? - Yaku soou perto da porta e levantei a cabeça olhando por cima do ombro.
-Não enche quase ruivo, estou cansada.
-Viemos aqui preocupados com você e é assim que nos trata. Se Kuroo não estivesse aqui estaríamos do lado de fora até agora.
-Sorte de vocês então.
-Kai fez jantar, trate de levantar e se livrar de toda essa moleza... Até parece que - ele deixou a voz morrer - [Nome] você está grávida?
-Que? - me levantei - Lógico que não, da onde tirou isso?
-Acha que eu nasci ontem, por qual outro motivo ele estaria aqui desde cedo?
-Não sei se você sabe, mas demora um pouco mais de um dia para alguém começar a sentir sintomas de gravidez.
-De duas a três semanas depois da fertilização - Kuroo se enfiou no meio da conversa - Não acho que seja possível, mas pode agendar um teste de Beta HCG se quiser.
-O que é isso? - o líbero perguntou.
-Quando uma mulher está esperando um bebê a presença do Gonadotrofina Coriônica Humana é maior e pode ser detectado na urina ou no sangue. Na urina a concentração é menor por isso pode haver uma falha na identificação, o de sangue é mais preciso.
-Você é tão estranho, não quero mais saber - Yaku balançou a mão com uma expressão de nojo - Vamos logo estou com fome.
Esperei meu amigo sair - Qual é o seu problema, como sabe esse tipo de coisa?
-Não sou um ignorante ao seu tipo, faz bem saber algumas coisas.
É só o que me faltava além de estar amarrada com um demônio ele era um nerd.
Ver Kai foi um bálsamo, a feição tranquila me trouxe um pouco de normalidade, à medida do possível é claro. De uma maneira estranha os meninos pareciam tão acostumados com Kuroo que é como se eles fossem amigos a anos.
Chegando no fim da noite que a minha mente começou a processar alguns dados, mas guardei para questionar para depois que os meninos fossem embora.
-Você vai morar aqui?
-Claro, aonde você espera que eu fique? Sabe aquele primeiro sonho delicioso que eu disse que éramos casados? O beijo que você me deu fez isso ser verdade, pra nossa realidade pelo menos.
Ele se aproximou lentamente mas mantendo a minha regra estabelecida de distância - Não se deixe enganar [Nome] eu sou o que eu sou. Você é minha prisioneira e não ao contrário.
-Se tem uma coisa comum em políticos e demônios é ser bom com palavras. Seu acordo tem 3825 falhas, eu posso entrar nos seus sonhos. Posso fazer você me tocar por vontade própria, eu sou o predador e você a presa não ache que em algum momento isso vai mudar.
Centímetros, apenas uma pequena distância nos separava, uma tola eu era por achar que estava tudo bem. Por aceitar toda aquela situação estava "ok", eu estava presa pelo resto da minha vida fadada a ser uma bolsa de alimentação para um ser sobrenatural.
Era uma prisão.
Naquela noite mal dormi, pelo contrário o demônio, Kuroo parecia estar bem confortável na minha cama. Em dois dias que ele se alimentou da minha força vital foi o suficiente para trazer cinquenta por cento da força dele de volta, de acordo com as palavras dele mesmo. Mas a partir de agora demoraria mais para essa porcentagem subir.
Ele deixou bem claro que esse bom comportamento só estava acontecendo porque Michi fez um favor a ele quando o puxou do buraco que estava, então a minha importância na equação não era nada além de ser um ticket premiado.
Kuroo usaria qualquer que fosse o meio necessário para continuar assim.
Cochilei durante a madrugada, mas na manhã seguinte o alarme para ir para a universidade soou me tirando das poucas horas de sono. O incubus parecia dormir, embora me perguntasse como ele poderia ter um organismo funcional humano não sei se queria realmente saber a resposta.
Me movendo como uma sombra pela casa me ajeitei com o objetivo de sair dali o mais rápido possível, espiei para o meu quarto para ver que as costas dele ainda estavam de viradas para a porta. Aproveitei esse momento, peguei minha bolsa, meus materiais de faculdade, algumas mudas de roupas e rumei até a porta, Haru morava sozinha talvez eu pudesse...
-Me deixando sem um beijo de bom dia?
Minhas costas bateram contra a madeira tão forte que ela rangeu, e ele não estava a nem meio metro de distância, estava do outro lado do cômodo. Tentei erguer meus braços mas eles não se mexeram.
-Vamos estipular algumas coisas [Nome].
Seus passos eram lentos e confiantes.
-Você vai continuar indo para a universidade normalmente, vivendo a sua vida. Mas... Não vai falar sobre isso com ninguém, não vai tentar fugir e vai voltar direto pros meus braços no fim das aulas. Entendeu?
Fiquei quieta e o aperto invisível ficou mais forte, dedos inexistentes apertando a minha garganta. Agora poucos centímetros de distância nos afastava e os olhos deles mostravam uma clara diversão em me ver completamente sem saída, mas tinha um fundo de possessão e raiva por não estar o obedecendo.
-Entendeu,[Nome]?
-Entendi - bati a minha cabeça contra a madeira sustentando seu olhar.
-Ótimo, agora meu beijo de bom dia. - Ele ficou parado na minha frente, ele não podia me tocar. Teria que ser o contrário, as amarras então se foram me deixando solta - Não sou alguém muito paciente.
Sem ter outra escolha, me inclinei na direção dele selando nossos lábios, nenhum de nós fechou os olhos. Os meus encarando os dele sem emoção, suas irís cintilavam por um momento enquanto minha mente parecia vacilar.
Ele estava se alimentando no fim das contas, Kuroo pareceu respirar fundo. Antes de se afastar com um sorriso cínico emoldurando os lábios finos e vermelhos, a mão dele passou direto por mim alcançando algo que se mexeu com um estalo alto.
-Boa aula.
O incubus girou a tranca da porta abrindo. Aquela maldita expressão zombeteira tomando seu rosto por completo, abaixei para pegar a alça da minha bolsa e parti sem dizer uma segunda palavra.
Os cantos dos meus olhos arderam pelas lágrimas teimosas que tentaram escapar. Eu não pedi por nada disso, ninguém pede, e mesmo assim teria que viver o resto da existência com o pescoço no apoio da guilhotina.
Um estalar de dedo e só me restaria a morte.
Não demorou muito para chegar até a faculdade, o que me poupou de afundar em pensamentos no meio do caminho. "Pelo menos por algum tempo as aulas chatas e as conversas supérfluas seriam o suficiente para me distrair". Foi o que eu pensei, doce ilusão.
A sensação de sempre ter uma sombra me seguindo e me observando era completamente horrenda. Podia ser pela fraqueza momentânea mas algumas vezes senti algo se enroscar nas minhas pernas como uma cobra e a medida que o tempo passava me sentia cada vez mais debilitada. O cansaço estava tão aparente que Annya quase me arrastou para a enfermaria do campus em certa hora.
-Você está pálida - segurou no meu braço - Céus você parece um corpo ambulante.
-Existe um termo técnico para isso e ele é zumbi - Haru comentou do outro lado da mesa.
-Eu só preciso descansar um pouco - respondi - Onde está Michi? Eu esperava à encontrar hoje.
-Teatro - a colega de dormitório respondeu - Repassando textos ou algo parecido.
Tentei não deixar o meu desapontamento aparecer, mas claramente elas sabiam que tinha algo de errado.
-A biblioteca tem um sofá escondido na ala sul, dá pra você dormir nele - Haru comentou colocando um pedaço de pão na boca. E perante nossos olhares questionadores sobre a informação continuou. - Não que eu saiba algo sobre isso, foi um rumor que alguém comentou.
-Claro que foi - me levantei, beijei o topo da sua cabeça - Obrigada.
A loira me olhou com preocupação então tratei de a tranquilizar antes de sair - Annya eu estou bem encontro vocês no almoço.
Embora tivesse dito que estava tudo bem, sentia como se fosse desmaiar a qualquer momento. Entrei na biblioteca me dirigindo para cada vez mais o fundo, mas a cada passo era como estar afundando cada vez mais num mar de incertezas a consciência dissipando numa névoa turva. A visão embaçada, o ar que parecia não circular, a sombra no canto do olho que se aproximava.
-Respire fundo querida.
Aquela voz, dedos se embrenharam nos meus cabelos me forçando a me inclinar para frente.
-Tem uma coisinha bem asquerosa te seguindo, alguém que simplesmente não sabe o que significa "não mexa no que não é seu".
-Porque você está me tocando? - perguntei de olhos fechados com a testa apoiada no peito de Kuroo.
-Porque você quer - ele respondeu - Surpreendente que pergunta não seja porque eu estou aqui.
-Era minha segunda opção.
Minha cabeça começou a girar e minhas pernas vacilaram se ele não estivesse perto o suficiente para me pegar teria caído no chão. Kuroo sussurrou algumas palavras estranhas no meu ouvido, uma frase em alguma língua antiga que não era para eu entender. Mas imediatamente um calor me subiu das pernas até o topo da cabeça.
E segurando o meu rosto entre as mãos sua boca encostou na minha, um sopro preencheu a minha boca, a fraqueza nas minhas pernas foi embora e a minha mente se tornou minha novamente.
-Um pequeno empréstimo - disse se afastando - Agora quer me contar porque Daisho está te seguindo? Achei que era o único na sua vida.
-Quem? Não sei do que está falando.
Kuroo colocou um dedo embaixo do meu queixo levantando para olhar meus olhos, franzindo o cenho em seguida - Você realmente não sabe.
No fundo do corredor escuro, nas prateleiras que não recebiam luz um sibilo soou, era uma risada áspera e venenosa. Dois pares de olhos verdes em fendas flutuaram nas sombras antes de uma figura se revelar.
-E o grande perdedor sempre culpa a garota, você devia procurar ajuda Kuroo.
-E você devia parar de se meter onde não é chamado.
O rapaz que saiu dali se apoiou com o ombro na prateleira - Então isso meio que é um problema, porque eu fui chamado. - Seus olhos alcançaram minha figura com desejo - Duas humanas mas apenas um chamado, isso pode bagunçar as regras um pouco.
-Ela é minha - o garoto que se colocou na minha frente quase rosnou - Ache outra fonte pra você.
-Apenas temporariamente - e dito isso a figura sumiu no ar se dispersando, e junto com ele a sensação que estava me assombrando desde antes também se foi.
Respirei fundo e me encostei na prateleira, Kuroo estava completamente possesso podia ver no rosto dele a raiva da situação que apareceu. O demônio virou o rosto para mim, olhando cuidadosamente como se analisasse meu interior, cruzando os braços depois de passar as mãos pelos cabelos num gesto de nervosismo ele continuou.
-Isso vai ser um saco. Mas por outro lado, não preciso mais ficar na sua casa, não que seja ruim só extremamente entediante.
-Só alunos podem andar pelo campus - minha voz saiu falha antes de pigarrear e tentar retomar meu tom comum - Não pode ficar aqui.
-Deixe-me dizer uma coisa princesa, no momento em que eu me afastar de você Daisho vai vir rastejando como a cobra que ele é e vai te tomar de uma maneira não tão gentil como eu estou fazendo.
Ele deu alguns passos para perto - Ele vai rasgar essa mentezinha sua, devorar e violar cada pedaço de você até que você implore para morrer. - Ele deu uma pausa para se inclinar na minha direção - Quer mesmo que eu vá embora?
Não.
-Foi o que eu pensei - a resposta não foi dita em voz alta mas mesmo assim ele sabia - Agora algumas modificações, seu termo sobre toques vai precisar ser removido, não tenho como te proteger se toda hora precisar ficar pedindo permissão.
Levantei uma sobrancelha, não tinha meio daquilo ser uma boa ideia - Pode me tocar mas se eu pedir para parar, você vai parar.
-Te garanto que não vai pedir - de novo, um beijo sela o contrato. Uma mão foi para a minha nuca me puxando, sua boca era macia e o beijo lento. Os dedos finos dele entravam nos meus cabelos puxando de leve.
A campainha da biblioteca tocou sinalizando a retomada das aulas, mas mesmo assim sua boca permanecia na minha a língua buscando a minha com fervor até que com uma mão no tórax dele eu o afastei.
-Eu preciso voltar pra aula - não tive coragem de olhar seu rosto, vergonha misturada com algo que eu não conseguia identificar.
-Então vamos.
No chão caído ao lado da minha bolsa estava uma segunda mochila, claro que ele magicamente agora era um aluno registrado na faculdade. Em marketing aparentemente pela identificação de aluno preso na alça.
Kuroo colocou a própria mochila no ombro e pegou a minha pela alça, tomando a minha mão e puxando para a saída.
Não demorou para que a escolha de curso dele se justificasse, tínhamos aulas juntas em diversos períodos, o que fazia com que o tempo separados fosse pouco. Kuroo estava tão entrelaçado com a minha rotina, com meus amigos e família que realmente era como se ele estivesse ali por meses e não dias.
Por fora ele fazia por completo o arquétipo do namorado perfeito, gentil, carinhoso, atencioso. Mas o disfarce estava nos beijos que me roubavam a vida e o controle que ele mantinha sobre mim a todo momento.
Tinha plena consciência disso, do controle que mantinha sobre mim, mas não me sentia mal. Existia um sentimento distorcido que me fazia sentir protegida, o desejo deturpado de ser necessária para alguém.
Mesmo que fosse um incubus.
Ter sido trocada pelo Oikawa na frente das duas universidades foi tão ruim, me deixou tão miserável, que ter o mínimo de afeto vindo de uma criatura que só estava interessada em se alimentar de mim se provava ser o suficiente.
Michi tinha se tornado impossível de encontrar, ouvia dela apenas por Annya, Haru e os meninos estavam sempre por perto. Tão perto que de alguma forma Kuroo até se propôs a ir aos treinos de vôlei, e claro que não levou mais de algumas horas para que estivesse no time principal. Além de passar os dias na universidade, minhas tardes eram dedicadas a ficar no ginásio o vendo treinar.
-Mal posso esperar para jogar amanhã - Yaku comentou depois de sairmos do ginásio. - Vou fazer o Oikawa comer bolas de vôlei depois de ganhar dele.
É verdade, me esqueci que o último jogo antes da temporada se dar por finalizada era entre as duas universidades. Eles pintavam como um amistoso, mas a rivalidade era extrema, chegava a ser idiota como as pessoas costumavam me olhar estranho quando ficava na arquibancada adversária para torcer por alguém que não merecia.
-Vou querer ver isso.
Senti uma sensação estranha e parei de andar virando para trás. O grupo de treino de Oikawa devia estar deixando o treino também, pois eles estavam andando na nossa direção. O levantador estava na frente mas o que me chamou a atenção foi quem estava ao lado dele.
Kuroo apertou a minha mão, não sendo o suficiente meu ex estar ali Daisho também estava.
-Se preparando para perder amanhã? É gentileza de vocês, não precisam se esforçar tanto.
-Como se fosse uma possibilidade - Yaku rebateu dando de ombros.
-É um desafio que eu vejo? - Daisho deu um passo à frente - Que tal deixar as coisas mais interessantes então, uma simples aposta.
-Se nós ganharmos, cada um de vocês é obrigado a fazer um pedido nosso e do restante do time. Um para um.
-E se ganharmos? - Kai perguntou mantendo uma sobrancelha levantada - Me parece um pouco descrente na nossa capacidade.
-Vocês escolhem alguma coisa, não é como se fosse uma possibilidade.
Eu ia abrir a boca pra falar alguma coisa mas Yaku interrompeu bradando um "fechado" com vigor. O time trocou olhares maliciosos entre eles antes de saírem de perto, aquilo não era nada bom, os mais inescrupulosos pensamentos me tomaram a mente até que chegasse em casa.
-Sei o que está pensando, e não vai acontecer. - Kuroo se jogou na poltrona assim que passamos pela porta.
-Como você tem tanta certeza?
-Minha pequena [Nome] com medo de ser levada pela cobra má? Não tem nada no mundo que quebre esse contrato - a voz dele se perdeu no ar, tinha alguma coisa oculta naquela afirmação.
Ouvimos batidas nas portas e como eu estava perto olhei para ver quem era, abri a porta vendo alguém familiar.
-Michi! Finalmente eu...
A ruiva me puxou para trás dela e apontou na direção de Kuroo - Você não se aproxime!
Ele mal se mexeu da posição gargalhando em seguida - Isso é uma surpresa, não ache que pode fazer alguma coisa comigo agora.
-Eu te trouxe, posso te mandar de volta - mais uma vez a ruiva ameaçou.
-Não, você não pode. - Kuroo se levantou a aura a sua volta se distorcendo num agouro.
-Michi está tudo bem - falei colocando a mão em seu ombro - Quero dizer, não bem. Mas... Podia ser pior.
Minha amiga tremia, ela se virou pulando no meu pescoço - Me desculpe [Nome] não sabia que ia dar certo... E agora eu te condenei ao inferno, eu nunca faria isso com uma das minhas melhores amigas.
-Eu sei que não.
A garota chorou por algum tempo até que se acalmasse o suficiente para ouvir e dar explicações. Michi se acalmou de vez quando soube que nem eu nem ela estávamos fadadas ao inferno. Também comentou sobre o porquê de ter dado certo, um certo dom da família da mãe que se perdeu há algumas centenas de anos e aparentemente se manifestou nela novamente.
-Por isso, sumi por algum tempo. Estava pesquisando, visitando algumas pessoas da família, me desculpe por não te responder.
Balancei a cabeça falando que estava tudo bem.
-Bom você me tirou de um lugar bem desagradavel, então vou relevar as ameaças que fez antes. - Kuroo comentou. - Ou melhor... Se hipoteticamente você fosse me mandar de volta qual seria o processo?
-Daisho - olhei para ele recebendo um aceno de cabeça - Mas você disse que não tem como.
-Eu sou um demônio [Nome].
-Você não pode mentir.
-Para você - e continuou - Eu menti para ela.
Fazia sentido por mais que eu odiasse concordar, Michi disse o processo e aparentemente era o suficiente para mandar o outro incubus de volta para onde ele saiu. Daisho não tinha um pacto firmado então poderia partir de vez, de acordo com Kuroo, se fosse ele seria apenas um afastamento temporário.
-Mas apenas depois do jogo - ele disse - Quero acabar com ele perante as regras dos humanos também.
-Se eu fizer isso... - Michi se levantou - Você não vai machucar a minha amiga, certo?
O olhar dele passou entre nós duas até que levantasse a não para fazer um "x" na altura do peito. As duas riscas brilhavam como ouro líquido mas foram apagando em seguida até sumirem - Tem a minha palavra.
A ruiva deu um último aceno antes de sair com a promessa de que executaria o ritual depois do jogo entre as universidades. Fechei a porta atrás de mim.
-Acredita de verdade que vai dar certo?
-Se sua amiga fizer as coisas direitinho, sim.
-E é só isso que podemos fazer - me sentei numa cadeira que tinha no canto da sala - Esperar que dê certo?
-Bem - Kuroo jogou os braços atrás da cabeça - Tem uma outra coisa que podemos fazer para reforçar nosso trato. Mas claro você precisa estar disposta a fazer isso.
-O que seria?
Se levantando da poltrona que estava do outro lado da sala Kuroo se virou pra mim andando com passos lentos. Era como estar na mira de um predador disposta a atacar, um estalar de dedos e cordas me prenderam na cadeira.
-Sabe aqueles sonhos deliciosos que compartilhamos.
Sua voz estava entrelaçada com sensualidade, baixa e arrastada. Mais um estalar de dedos uma mordaça moldou a minha boca, tentei me mexer apenas para ter a madeira rangendo. As cordas eram duplas e grossas, tinham nós robustos que apertavam mesmo por cima das minhas vestes.
-São bons para reforçar nosso trato mas não se comparam com o ato de verdade.
Chegando até mim passou uma perna de cada lado e sentando no meu colo e em seguida, surpreendentemente mais leve do que eu imaginava, passando as mãos de leve pela lateral do rosto colocando alguns fios de cabelos soltos de volta em seus lugares - Olhe só para você, minha bela prisioneira.
Uma sensação quente começou a brotar no meu interior, as cordas passavam e se friccionam em pontos específicos a pronto de que o mínimo de movimento servia de gatilho para um grunhido me rasgar a garganta.
Levando a mão para as minhas costas ele puxou um nó que se pressionou sobre o meio das minhas pernas.
-Sabe [Nome] posso ter passado séculos servindo as mais variadas pessoas, homens e mulheres. - Kuroo puxou a corda mais uma vez e eu tentei juntar meus joelhos - Mas nenhum deles me olhou como você me olha, será que você se apaixonou por mim?
-Você me ama? - Dois dedos apertaram minha bochecha enquanto suas íris douradas me miravam intensamente. Seu rosto inclinou, a boca mal encostando contra a minha - Mesmo se eu sussurrar que você nunca vai escapar? Você está se acostumando a estar amarrada?
-Você nunca vai me deixar se eu continuar te segurando assim não é [Nome]? No ritual a minha condição era pra fazer você esquecer o seu ex, mas sabe que eu sou um pouco ciumento.
-Eu vou te comer tão devagar que vai esquecer de todo homem que já fez seu coração bater um dia.
Palavras ronronadas no meu ouvido eram como sopros na brasa, alimentando até que se tornasse insuportável. Apertei as mãos em punho tentando jogar meu quadril para frente, enquanto um gemido de necessidade soava.
Kuroo riu e o terceiro estalar de dedos soou, meu rosto estava contra algo macio as cordas agora em contato direto com a minha pele. Braços estavam presos firmemente nas minhas costas assim como as minhas pernas que tinham nós que prendiam as coxas aos tornozelos.
Mirei a porta do meu quarto apenas para ver Kuroo passando por ela, os braços longos dele seguraram a barra da camisa que fora jogada num canto qualquer em seguida.
-Já está tão molhada pra mim, as cordas te excitam hum?
A mão dele viajou pela minha coluna até que seus dedos alcançaram minhas dobras e começaram a acariciar a área sensível devagar apertavam o clitóris brincavam com ele. Deslizavam até a entrada do meu centro mas não passavam disso.
Então suas mãos se fecharam sobre as minhas pernas me virando, sentia o suor que tinha se formado de ficar com o rosto contra o colchão e a mudança de posição fez com que algumas partes doessem, mas não ligava. Como se fosse possível, Kuroo afastou as minhas pernas e o que vi foram os cabelos escuros se enfiarem entre elas.
Passou a língua bem pelo meu centro, resmungando algo inaudível para depois mordiscar de leve com os dentes o ponto ápice. Arqueei minhas costas não sendo capaz de conter um gemido, as mãos se ergueram até os meus seios os apertando com força e beliscando os mamilos rijos.
Sua palma segurou meu abdômen quando desligou para dentro de mim a língua se enroscando com o meu centro indo cada vez mais fundo. Minha mente pareceu esvaziar tremores me tomando os membros, Kuroo riu contra a minha pele, levantando o rosto em seguida para me dar uma visão majestosa daqueles olhos cintilantes,
Ele passou a língua pelos lábios antes de passar os dedos pelas cordas e me puxar para perto - Eu amo seu gosto [Nome], todos eles.
O incubus roçou na minha entrada, devagar como havia prometido, e então parou. Me observou desde os cabelos bagunçados até a entrada rosada que ele mesmo tinha explorado um feixe de sentimento passando por seus lindos olhos antes de entrar em mim por completo.
Não chegava nem perto da sensação e dos sonhos vividos que teve com ele no começo. A cada estocada era uma pulsação do peito que ele tomava para si, não importava quem veio antes por a partir daquele momento só teria ele.
Sua vida era dele.
Ele gemeu quando quase saiu de dentro de mim apenas para que pudesse fazer um movimento forte e único. O clímax que veio depois disso me fez ver estrelas, as veias que estavam dentro daquele corpo humano se iluminaram por um segundo como se uma energia estivesse percorrendo cada caminho até chegar a altura dos olhos.
No peito o "x" marcado com a promessa estava marcado como uma cicatriz. Cada fôlego puxado e cada gemido compartilhado dissipou no silêncio que recaiu em seguida, me sentia tão cansada que não soube dizer no dia seguinte em que momento depois as cordas se foram e deram lugar as minhas roupas.
A claridade do dia que acabou por me despertar, Kuroo não estava em nenhum lugar por por perto. Meus braços e pernas ainda pareciam marcados pelas cordas então após tomar um banho me limitei a colocar calças e blusas de mangas compridas. O dia não estava nem quente e nem frio, então me ajudou nesse aspecto.
Saindo para cozinha também não vi nenhum vestígio dele, então um pensamento me assolou. Michi, e se ela tivesse mandado ele embora?
Corri pelos cômodos buscando o meu celular, quando encontrei o aparelho ele estava desligado. Voltei para o quarto para o colocar para carregar quando a porta da frente bateu.
Larguei ele apenas para voltar para a sala suspirando aliviada quando Kuroo andou para a cozinha colocando algumas sacolas no balcão. - O que foi?
-Não te vi quando acordei, achei que Michi...
Rubor subiu as minhas bochechas enquanto ele ria - Não desta vez - ele indicou as sacolas com o logo de um café que tinha a mais ou menos uma quadra de distância.
-Tem comida para dois aqui - comentei olhando os conteúdos.
-Eu sei. - respondeu se apoiando no balcão - Só porque eu não preciso comer, não quer dizer que eu não posso.
-Você sempre reclama na universidade - tirei algumas coisas do pacote - E discute com o Yaku.
-A culpa não é minha que ele não sabe a importância do peixe na alimentação humana.
Era um sábado, as ruas estavam surpreendentemente tranquilas. Não demoramos a chegar no ginásio do jogo, Haru e Annya me encontraram na entrada para que eu pudéssemos pegar um lugar bom na arquibancada. Kai e Yaku acenaram de longe antes de Kuroo se afastar. Michi tinha mandado mensagens falando que estava pronta, então agora só dependia do jogo.
O padrão era de três sets, e claro que sendo um jogo entre universidades rivais eles foram extremamente acirrados, os sets foram longos é claro e os rallys intensos. Passaram dos trinta pontos no primeiro e no segundo.
E depois de se manterem empatados os dois times brigavam pelo terceiro set, diversas vezes vi os olhares me mirando na arquibancada. Tanto de Oikawa quanto de Daisho, mas agora eles já não me incomodavam mais.
Yaku fez uma recepção e o levantador do time se adiantou para que Kai pudesse cortar pela esquerda. O time estava no match point acima de tudo, brigando pelo último ponto que traria a vitória, meu primo cortou e o outro time recebeu.
Oikawa trocou de lugar com um dos jogadores para atacar, mas quem entrou na frente dele para o bloqueio foi justamente Kuroo. Não soube se foram as habilidades normais dele ou se teve alguma ajuda dos poderes sobrenaturais, mas a bola parou ali mesmo, o apito soou e o jogo foi finalizado.
As pessoas da minha universidade invadiram a quadra comemorando com os jogadores, com o celular na mão mandei uma mensagem para Michi, de onde quer que ela estivesse poderia dar início ao ritual. Na quadra de maneira raivosa Daisho avançou na direção de Kuroo mas a poucos metros dele alcançar sua figura se desfez no ar, ninguém pareceu ver é como se estivesse invisível aos outros.
Desci as arquibancadas, da quadra junto com o restante dos garotos. Kuroo era só um cara normal, não um demônio. Ele me viu parada na lateral e com passos largos andou em minha direção, a mesma cena que vi de cima meses atrás.
Com a diferença que eu era aquela com as pernas em volta da cintura do garoto. Gritos vindo os alunos da minha escola lotaram o ginásio, mas dessa vez não senti senti fraqueza ou parte da minha energia vital se esvaindo.
Havia algum sentimento ali, um desconhecido mas mesmo assim intrigante.
-Porque você fez isso? - não houve uma única vez em que ele me beijou sem tomar algo em troca.
-Dessa vez eu só quis beijar você - suas mãos apertaram a parte de trás das minhas coxas. E fechando os olhos por um momento soltando um longo suspiro perguntou apenas para que eu ouvisse - Certeza que o projeto de bruxa só mandou Daisho embora e não fez nada comigo?
Pela primeira vez em algum tempo eu ri, de verdade. Tomei um momento para olhar além de seu ombro na minha linha de visão Oikawa estava nos encarando, da mesma maneira que eu estive meses atrás. Machucado e confuso.
Suas mãos estavam fechadas em punho e sua figura imóvel como um frame pausado. Nossos olhos se encontraram e me inclinei abraçando o pescoço de Kuroo mas sustentando o olhar dele.
-Achei que você me manteve prisioneira todo esse tempo, mas sou eu que estou segurando a chave.
N/A: 4/5 okay!
Vejo vocês na próxima!
Xx
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