CAPÍTULO 4
Houve um tempo em que Alice estava cansada de não ter uma melhor amiga. Ela queria ter alguém para passar a tarde em casa, comendo brigadeiro, fofocando sobre os garotos e cantando músicas da sua cantora favorita.
Quando Babi começou a se aproximar, graças a um trabalho de matemática que as duas tiveram que fazer juntas, Alice percebeu que ela era completamente diferente do que pensava. Elas tinham gostos parecidos, tirando a parte de ficar chorando pelo Justin Bieber, Alice era fã da – alguém sabe se vão voltar? – One Direction.
Aos poucos, Babi foi se afastando por completo de Laura e por fim, começou a ir todos os dias para a escola junto com Alice. Elas conversavam sobre tantas coisas que você ficaria até tonto para tentar entender aqueles assuntos. Coisa de melhores amigas, entende?
Mas em um belo dia, Betina, uma garota que estudou junto com elas no jardim de infância, voltou para o colégio. Babi, sempre atenciosa, a tratou logo de chamar para sentar com elas na hora do intervalo, mas se Alice soubesse o que aconteceria depois daquela dia, talvez nunca tivesse aceitado aquilo.
Em um piscar de olhos, Betina parecia ser a melhor amiga de Babi, elas pintaram o cabelo de azul, conheceram uma banda de rock nova, foram em barzinhos e esqueceram Alice em um canto qualquer. Alice se sentiu tão frustrada e deixada de lado, mas a gota d'agua para ela, foi quando ganhou um concurso de poesias, e as duas, se quer foram das os parabéns a amiga, só continuaram falando sobre qual lugar iriam no final de semana.
— Alice, você vai? — Betina perguntou quando elas estavam saindo pelo portão da escola.
— Quando vocês perceberem o que estão fazendo comigo, vocês me chamam.
Alice saiu correndo na frente, colocou seu fone de ouvido e voltou para casa chorando.
Nos dias que se seguiram, Alice teve que se acostumar a ir e voltar para o colégio sozinha, sem ninguém para inventar histórias e ouvir as mais novas fofocas. Ela passava em frente à casa da amiga e quase via as duas lá dentro, fazendo danças engraçadas, tirando fotos para depois encherem de efeitos, assistindo filmes e comendo o famoso bolo de nozes da mãe de Babi.
Foram tempos complicados para Alice, ela chorava de saudade praticamente todos os dias. Ela conversava com Cadu, mas nunca foi a mesma coisa, ele nunca aceitaria passar horas falando do cabelo do Harry Styles ou inventar uma coreografia para o álbum novo da Taylor Swift.
Você deve estar se perguntando se Babi não foi atrás de Alice. Na verdade, não foi não, ela não queria dar um braço a torcer, não queria assumir que no fundo, estava errada e precisava se desculpar com a amiga.
— Até quando vocês duas vão continuar assim? — Cadu perguntou enquanto os dois analisavam Babi e Betina sentadas no banco do pátio, rindo de alguma coisa.
— Eu disse para elas me procurarem quando percebessem o que estavam fazendo comigo. Aparentemente elas acham que não fizeram nada.
Cadu foi muito importante nessa época, se não fosse por ele, provavelmente Alice teria se enfiado em um poço tão fundo que impossibilitaria qualquer um de salvá-la.
Alice e Babi viraram desconhecidas que se conheciam muito bem. Conheciam todos os medos uma da outra, as inseguranças, segredos e sonhos. Babi era a melhor amiga que ela sempre quis, que sempre sonhou e de repente, alguém chegou e a roubou.
Como ela fez com a Laura?
Um dia, Babi começou a se aproximar de Alice de novo. Começou meio que sem querer, como quem que não conseguia mais se controlar de vontade de trocar algumas palavras. Betina a fuzilou com o olhar, mas Babi nem se importou, foi tão bom falar com a amiga que ela se esqueceu de tudo ao seu redor.
— Você acredita que eu ainda não assisti o episódio novo da nossa série? — Babi questionou a amiga, enquanto elas dividiam um sanduíche como se nunca tivessem parado de conversar — Quer ir lá em casa pra gente assistir?
— Senti sua falta — foi o que Alice respondeu.
— Eu senti ainda mais — Babi a abraçou, deixando o sanduíche cair no chão — Desculpa ter sido uma otária com você. Sua amizade é a coisa mais importante que eu tenho na vida, não posso te perder nunca.
Mas elas se perderam, eu devo confessar. São coisas que acontecem na triste vida adulta.
Quando encontramos uma pessoa especial como a Babi queremos mantê-la em nossa vida, mas tenho que te contar que isso pode não acontecer. As pessoas mudam, coisas acontecem, as linhas se desencontram, a vida nos afasta de uma maneira tão brusca que nem percebemos.
Temos que aprender a normalizar que tudo bem as pessoas irem embora quando o prazo acabou, as novas memórias nunca apagarão as que aconteceram um dia.
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