Houve um tempo, acho que foi no segundo ano do ensino médio, que Alice prometeu com todas as letras que falaria tudo que sentia pelo Rafael no baile de formatura. Obviamente, devido as circunstâncias dos últimos dias antes do baile, Alice desistiu por completo da ideia. Depois de Rafael, ter surtado e dito todas aquelas palavras para Alice, ele e Laura, tiveram uma grande briga, mas a Miss Primavera, não podia ir ao baile sem um par, então, decidiu perdoar o amado.

Sim, a Laura, sabia de todos os sentimentos do Rafael pela Alice, mas mesmo assim, ela tinha uma reputação a zelar e não podia correr o risco de virar piada entre os alunos mais novos. Ela praticamente implorou para que ele ainda fosse com ela.

— Verde é a sua cor — Babi disse a Alice, enquanto elas experimentavam vestidos para o baile de formatura.

— E é engraçado como rosa combina com você, mesmo que não tenha nada a ver com seu estilo.

— Estamos praticamente prontas para um tapete vermelho — Babi fez pose no espelho com a amiga — É um desperdício usar esses vestidos naquele baile.

— Ah Babi, é última noite com todo mundo reunido, acho que merece um vestido de arrasar.

Babi revirou os olhos e por fim, concordou com Alice, a abraçando.

Alice sentiu um aperto no peito durante o abraço, sensação de que tudo estava prestes a acabar, que depois daquela noite, nada voltaria a ser como era antes. Infelizmente, toda aquela sensação, estava certa.

— Era pra você estar se declarando pra o Rafael — Cadu comentou antes deles irem para a pista de dança.

— Imagina que merda ia ser a noite se ele dissesse que nunca quis nada comigo.

— Você é tão idiota Alice — Babi revirou os olhos — Tenho certeza que vai se arrepender disso um dia.

Ela ia se arrepender de tudo que não fez naquela noite e todas as outras vezes que deixou de aproveitar o momento.

Os amigos dançaram na pista de dança, tiraram fotos engraçadas na cabine, beberam drinks coloridos sem álcool, mesmo que todos daquela sala, já tivessem provado álcool pelo menos uma vez na vida.

Quando a noite estava quase acabando, Alice, Babi e Cadu foram para fora do salão e se sentaram embaixo de uma árvore, prontos para ver o nascer do sol. Os penteados já estavam destruídos, a maquiagem borrada e as roupas amassadas, todo o glamour do começo da noite, tinha ido embora.

— Não é como se a gente não fosse se ver novamente — Alice comentou colocando a cabeça no ombro de Cadu. — As redes sociais estão aí pra ajudar.

Eles estavam se despedindo, mas nenhum deles sabiam disso.

— Acho que vou sentir falta de vocês me enchendo o saco às 7 da manhã — era quase possível ver os olhos de Cadu, prestes a lagrimejar.

Tudo que eles tinha vivido, repassava como um filme na cabeça, enquanto o sol nascia e uma música triste tocava no salão. Quando se deram conta, todos os alunos do terceiro A do colégio Gardênia, estavam sentados lado a lado para também criar uma memória daquele momento. Rafael, sentou bem ao lado de Alice e lhe deu um beijo na testa, eles sorriram um para o outro. Antes do amor, eles tinham uma amizade importante para recordar.

Os alunos que torceram tanto para aquele momento chegar, estavam chorando, querendo que aquilo, demorasse mais um pouco para acabar. Mas não temos um botão de pausa, muito menos de retroceder para usar quando quisermos.

Como já adiantei em um dos capítulos, somos feitos de pessoas que partiram. Cada um que entra em nossa vida, nos ensina alguma coisa e quando vai embora, deixa conosco um pedacinho.

Babi ensinou tanta coisa para Alice, assim como acho que aprendeu também. Foram tantos momentos juntas, tantas gargalhadas, segredos, brigas, danças dessincronizadas, mas que elas achavam estar arrasando. Cadu alegrou todos os dias cinzas de Alice e lhe ensinou que não há nada melhor do que rir da própria desgraça, porque se tudo der errado, pelo menos estamos com um sorriso no rosto.

Alice entrou para a faculdade de literatura, e nos primeiros meses, continuou mantendo contato com os amigos, mas as responsabilidades da vida adulta de cada um, foi fazendo com que a comunicação fosse cada vez menos frequente, até não existir mais.

Ela fez novos amigos também, encontrou um novo amor, criou novas metas, mas nunca deixou de ser uma pessoa sonhadora e viver no mundo das fantasias, porque sem a imaginação, o mundo só seria um lugar triste.

Anos mais tarde, encontrou com Rafael no mercado da cidade, ele segurava um pacote de fraldas em suas mãos e sorriu quando a viu. Laura e ele continuaram juntos, noivaram, casaram e tiveram uma filha, Alice viu tudo isso pelas redes sociais, mas por incrível que pareça, ela estava feliz por eles, porque eles pareciam felizes.

A vida soprou cada um para um lado e mesmo com as tentativas infinitas de manter contato, nada foi suficiente. Eles conheceram pessoas novas, amores novos, aventuras novas e criaram memórias novas.

É triste, eu sei, mas a vida tem dessas coisas. Pessoas partem para outras chegarem, mas as memórias do que vivemos continuam intactas, acho que esse é um dos motivo para sermos tão apegados às elas.

Um adeus ou um até logo? Acho melhor um: nos vemos por aí!