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1º LUGAR: Somente uma Noite Qualquer

Somente uma Noite Qualquer

Por Nayana Ferreira (NayAngel_Winter)



"Era véspera de Natal e por toda a casa criatura alguma mexia..."

— Você se atrasa até mesmo no Natal! Será que não tem nenhum tipo de afeto pelas suas filhas!

A voz da nossa mãe ecoou pela casa através das paredes, que sempre me pareceram extremamente finas, o que era um estorvo, principalmente em noites como aquela. Embora estivéssemos no segundo andar, as vozes dos adultos no andar abaixo eram claras como os pingos de chuva do lado de fora.

— Dezembro aqui no Brasil poderia ter neve como na Europa, né? — Perguntei em tom de brincadeira para a companhia ao meu lado.

Melissa era minha irmãzinha, mais nova uns sete. Éramos muito parecidas fisicamente: ambas tínhamos cabelos cacheados bastante volumosos, pele que não era nem branca nem morena, não saberia dizer bem. As pessoas do Maranhão pareciam ter algum problema com cor de pele. Talvez fosse o Sol inconstante. Muito quente, muita gente bronzeada. Muito frio, muita palidez.

— Tenho sinusite, não gosto de frio — fungou, como que para reforçar o que disse.

— Eu esqueci, o.k.?! Tive uma reunião de última no trabalho!

Daquela vez, foi a voz do nosso pai.

— Você sempre usa a mesma desculpa...!

— Vamos continuar lendo? — Perguntei para Melissa.

— Nós sempre lemos a mesma história todos os anos, Maria — fez um bico. — Quero algo novo esse ano, para variar.

A última frase foi quase um murmúrio triste. Embora tivesse somente oito anos, minha irmãzinha era muito entendida da vida. Parecia que havia

pulado metade da infância. Em parte era culpa dos nossos pais, que nunca fizeram qualquer coisa que fosse para alimentar as fantasias infantis, como fada do dente ou coelhinho da Páscoa.

Eu costumava deixar moedas embaixo do travesseiro dela e economizar algum dinheiro todo ano para comprar um ovo de chocolate, mesmo que barato. Mas uma fantasia que nunca pôde contar a irmã era a da magia natalina.

Aconteceu quando Melissa tinha cinco anos e eu, doze. Melissa perguntou ao nosso pai se ele acreditava em Papai Noel e ele, sem qualquer hesitação, falou:

Claro que não. Não se pode acreditar no que não existe.

Na hora, Melissa, tão madura para a idade, nada disse. Porém, mais tarde na mesma noite, quando todos dormiam e nenhum barulho se ouvia,ela apareceu em meu quarto com seu rostinho todo vermelho e choroso.

A partir desse dia, criamos nossa própria tradição natalina: ficar trancadas no quarto após o jantar, lendo histórias de natal, de um livro muito velho, que pertencia a nossa avó.

— Não quer mesmo ouvir essa? É a sua preferida — eu disse.

Ela apenas balançou a cabeça.

— Eu já sei tudo que vai acontecer nela. Já não tem tanta graça.

Suspirei profundamente e fechei o livro, me levantando da cama e indo até a minha escrivaninha. Por entre os cadernos, puxei lá do fundo um caderno vermelho fino.

— O que é isso, Maria?

— Esse é meu caderno de histórias! — Falei, sorrindo animadamente e voltando a me sentar ao seu lado na cama.

— Você também escreve histórias, Maria? — Perguntou inquietamente Melissa.

— Bom, eu tento — dei de ombros. — Quer ouvir uma?

— Que tal admitir só uma vez que você é tão irresponsável e egoísta que nem sequer pensa nos sentimentos dos outros?!

— É de Natal? — Perguntou Melissa, apoiando sua cabeça no meu ombro, ignorando os gritos assim como eu.

— É, sim.

— Então, sim!

Sorri levemente, sendo retribuída pela mesma. Então abri o caderno, folheando até encontrar a página requerida. Então comecei a ler em voz alta, com entonação:

Já era Natal. Não véspera, mas já Natal. E por toda a casa ouviam-se passos apressados e o tilintar de panelas e o farfalhar de papel presente.

— Já é Natal! Já é Natal! — Gritavam repetidas vezes dois seres baixinhos de bochechas rosadas.

Na sala, onde estava a imensa árvore decorada com luzes coloridas e bolas de porcelanas brilhantes e uma bela de uma estrela no alto, entraram correndo duas crianças. Sem qualquer cerimônia, agarraram os presentes embaixo da árvore.

— Um momento, crianças! Para quê tanta pressa? Seus pais nem acordaram ainda — falou sorrindo o enfeite da árvore, no galho mais baixo.

— Como assim o enfeite falou, Maria? Que coisa mais boba — Melissa falou, franzindo o nariz de maneira adorável.

— Aish! Quer ouvir a história ou não? — Retorqui, fazendo-a bufar e sossegar. — Muito bem, voltando...

— Eles ainda vão demorar muito para acordar — resmungou uma das crianças, que tinha os cabelos tingidos de vermelho. — Não queremos esperar.

— Mas os presentes só podem ser abertos com todo a família reunida — insistiu o outro enfeite, em um galho mais alto.

— Mas que bobagem! Que diferença faz? — A outra criança, essa de cabelos azuis...

— Azuis? — Ironizou Melissa.

— Algo contra? — Fiz um biquinho mal humorado.

Ela não respondeu, apenas levantou e abaixou um dos ombros, esperando que eu continuasse.

...de cabelos azuis, fez malcriação.

— Crianças ansiosas perdem o Natal ― afirmou a estrela lá do alto, charmosa.

— Não é verdade. Não tem como perder o Natal — o de cabelos vermelhos cruzou os braços em teimosia.

— Você que pensa... — ditou misteriosamente a estrela lá do alto, com voz grave que arrastava as palavras. — Há muito tempo atrás, duas crianças, como vocês, não nos ouviram sobre ter que esperar e simplesmente desapareceram!

As crianças ouviam com atenção e curiosidade.

— O que aconteceu com elas? — Perguntou o de cabelos vermelhos, olhos e boca abertos.

— Ninguém sabe bem — estremecem o primeiro enfeite que havia se pronunciado. — Foram jogados em um vazio sem fim, onde não existe Natal nem alegria natalina...

— Que triste. Mesmo para você, Marca — disse Melissa, me encarando.

— Quer que eu pare de ler? — Perguntei.

Ela negou com um balançar de cabeça.

— Continua.

— O.k...

— Que bobagem! — Insistiu o azul. — Vocês todos mentem. Eu quero presente agora!

Assim dizendo, logo puxou de debaixo da árvore um embrulho colorido, já puxando ferozmente o lindo laço, acaso repetida pelo outro, apesar deste último parecer levemente hesitante.

— Crianças tolas. Tolas — disse repetidas vezes a estrela lá do alto. — Tolas, tolas, tolas...

Tão de repente quanto uma ventania, foi o que aconteceu a seguir...

As portas e janelas da sala fecharam-se com um baque surdo. O lugar antes iluminado tornou-se breu, este quebrada somente pelos pisca-piscas espalhados por ali. Em algum canto, o tic-tac do velho relógio soava como um tilintar distante...

— Maria, tá ficando assustador — choramingou Melissa, agarrando-se a mim mais fortemente.

Sorri para confortá-la.

— É só pedir para eu parar, que eu paro...

— Não, continua. Eu sou corajosa — afirmou com uma cara de determinação muito fofa.

— Vamos lá, então...

Do nada, até aquele som parou.

— Eu avisei, pequenos — cantarolou a estrela, seu brilho agora parecendo tudo, menos reconfortante. — Com o Natal não se brinca.

Os dois irmãos agarraram-se um ao outro, assustados.

— O que está acontecendo? — Perguntou o vermelho, com voz chorosa.

— CRIANÇAS ANSIOSAS PERDEM O NATAL — exclamaram todos os enfeites da árvore, enquanto a estrela lá do alto parecia gargalhar maldosa.

As duas crianças estavam a ponta de chorar.

Os enfeites continuavam repetindo sem parar:

— CRIANÇAS ANSIOSAS PERDEM O NATAL! CRIANÇAS ANSIOSAS PERDEM O NATAL!

Até que, por fim, as luzes foram desvanecendo. Diminuindo gradativamente até sumirem, uma a uma. Então, há não era possível enxergar um palmo na frente do rosto.

— Como assim um palmo na frente do rosto, Maria? — Interrompeu-me outra vez Melissa.

— É tipo, está tão escuro que você coloca a palma da mão na frente da cara e não consegue ver — ergui a mão para demonstrar.

— Aaahhh, tá...

— Não consigo ver nada — choramingou o vermelho.

— Nem eu — concordou o azul, menos aterrorizado que o outro. — Isso não é bom. Nada bom...

— É tudo culpa sua! — Acusou o outro. — Por que tinha que ser tão teimoso?!

— Você também não tinha nada que fazer o mesmo — devolveu o azulado.

Melissa riu.

— Qual a graça? — Quis saber.

—É que sempre que você fala azul eu lembro da ararinha azul do desenho. O nome dele é Blue e eu aprendi com blue é azul inglês — narrou.

— É mesmo?! Que legal! — Fingi interesse, pois já havia assistido naquele desenho com ela pelo menos umas vinte vezes. — Então que tal chamarmos os dois irmãos de Blue e Red?

Red é vermelho em inglês, né? — Deduziu ela orgulhosamente.

Sorri.

— Isso mesmo! Enfim, voltando...

— Não importa agora. O que eu quero saber é: onde nós estamos? — Questionou Red.

— Acho muito é aquele lugar de que a estrela falou — disse Blue. — O lugar sem Natal e alegria.

— Ah, não! — Red começou em chorar. — Eu não quero ficar aqui pra sempre! Eu quero a mãe e o pai! Buááá!

— Deve ter alguma saída, não é? — Perguntou Blue, esperançoso, mas já querendo chorar também.

— Não! Você não ouviu o valor eles disseram? Não tem como sair!

Abriu-se um berreiro que só vendo.

— Que bando de chorões — caçoou Melissa e eu apenas ri.

Pareceram que horas haviam se passado até que alguma coisa, além do lamentações dos dois irmãos, foi ouvido algo como o som de um sininho.

— O que será que é? — Perguntou Red, temeroso.

— Não sei — confessou Blue.

Do escuro sem fim surgiu uma luz. Era apenas um pontinho pequenino, que mal podia-se ver. O som de sininho parecia tão distante quanto.

Mas a medida que observavam, a luz foi crescendo, crescendo e crescendo, e com ela foi crescendo o som do sino, até que se tornasse alto e grave, como o de uma igreja. Em questão de segundos a luz se tornou tão forte que as duas crianças tiveram que fechar os olhos. O som lhes era assustador...

— Eles morreram?! — Melissa arregalou os olhos quando fiz uma pausa demasiadamente longa. — Fala, fala, Maria!

— Paciência — eu disse, sorrindo de lado. — Lembre-se: crianças ansiosas perdem o Natal.

Ela fez uma cara de brava, mas não retrucou mais nada. Apenas esperou a continuação.

— Onde eu estava mesmo?

E outra vez, tão inesperadamente quanto tudo que ocorreu até ali, o ambiente sossegou.

A luz já não era tão absurdamente forte. O sino já não era tão absurdamente alto. Parecia mais o ressonar de um relógio...

... O velho relógio da sala de estar!

— Voltamos! — Gritaram Blue e Red juntos.

Entretanto... algo parecia diferente.

— Onde está a árvore de Natal? — Perguntou Red, olhando em volta.

Blue fez o mesmo.

— E as decorações? — Questionou também.

— Crianças, venham tomar café. Vão se atrasar para a escola logo no primeiro dia! — A mãe gritou de algum lugar além das portas duplas da sala.

Ambos se entreolharam, confusos.

— Mas é Natal! — Replicou Blue, alto para a mãe escutar.

— Do que estão falando? É fevereiro! Está mais para Carnaval — respondeu a mãe.

Blue e Red arregalaram os olhos com espanto.

E de algum lugar, nem longe nem perto, ouviu-se alguém dizer:

— Crianças ansiosas perdem o Natal...

— E esse foi o fim — declarei, fechando o caderno.

Melissa me encarava com a cara mais desacreditada possível.

— Como assim foi o fim? Eu esperava que os enfeites de Natal iam atacar eles. Que alienígenas tinham raptado eles! Que eles iam ficar presos no escuro pra sempre! Que Papai Noel ia aparecer e dar uns petelecos nos dois! Ah, não quero! Faz de novo!

Cruzou os braços para mostrar toda a sua inconformidade. Eu só sabia rir do que ela dizia.

— Às vezes, esperamos muito por algo — eu disse. — Mas nem sempre o que esperamos acontece. E ficamos decepcionados, Melissa. E infelizmente não podemos voltar atrás e tentar de outra forma. Só podemos olhar pra trás e fazer diferente na próxima vez. No caso de Blue e Red, esperar até o próximo Natal e não cometer o mesmo erro. Assim é a vida real.

Isso pareceu tranquilizar um pouco Melissa, que voltou a se deitar ao meu lado.

— Entendo — foi tudo o que ela disse.

Sorri e deixei um beijinho em seus cabelos.

— É claro que entende.

Ficamos assim por uns dois minutos, acho eu, até que, por fim, Melissa murmurou:

— Lê de novo?

— Claro. Por que não...

Só no dia seguinte fui perceber que, enquanto relia a história, em nenhum momento prestamos atenção na discussão que ainda ocorria no andar de baixo.

Aquele talvez tenha sido o melhor dos Natais. E, no entanto, era somente uma noite qualquer.

Fim. 

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