Veludo
Ela tinha um vestido negro, de veludo. Era justo no peito e na cintura, com um fino cinto a realçá-lo. Os ombros estavam cobertos com um fino pano, escuro também, que lhe dava um ar sério. Um conjunto tão simples, mas tão delicado. Uma única cor, sem quaisquer detalhes, à primeira vista. As texturas bordadas pelo rebordo, belíssimas também, eram de um fio da mesma cor, que apenas refletia ligeiramente a luz. O pescoço era adornado por um simples colar de prata, e as orelhas tinham sobre si duas simples esferas do que parecia ser ouro branco.
Era uma estranha mulher, aquela. Pela maneira como sorria, como andava, como se levava dia após dia, ninguém seria capaz de adivinhar as atrocidades pelas quais era responsável. Porque esta mulher, com os olhos profundos e misteriosos como uma infinita floresta, era responsável por grande parte do mercado negro do tráfico humano.
Agora faz conversa com um homem de fato. A sua gargalhada é cristalina, bela, e tão delicada como convém. Ela tem um copo meio cheio de champagne na mão, do qual ninguém a podia ter visto beber.
É claro como a água que o pobre homem caiu nos seus encantos. Como poderia ele evitá-lo? Ela tinha um charme inigualável. Podia não ser a mulher mais linda do mundo; os ombros um pouco largos de mais, o estômago um pouco saliente de mais; mas as suas palavras eram tão doces como o mel e tão perigosas quanto a belladonna. Cada uma delas tinha uma intenção por trás, fosse ela qual fosse. Corriam como água da sua boca, como se não tivesse mais de pensar nelas, mas falasse por instinto.
Passado um pouco, ausentou-se da conversa. Aquele com que falava só não se babava porque sabia que não podia, naquele sítio cheio de gente importante. Mas ficou alguns segundos, vários mesmo, a olhar para ela antes de acordar do transe e se voltar para outro alguém.
Uma pobre rapariga aproximou-se dela. O pânico nos seus olhos era evidente. Medo e respeito por aquela figura de negro que provavelmente a fez passar por tanto.
Ela, no entanto, não deu a mínima importância ou atenção à empregada. Esta teve de chamar ao de cima toda a coragem que tinha para se dirigir a ela.
Os verdes olhos imediatamente saltaram para a menina, que se encolheu um pouco mais.
Desculpou-se da conversa, mais um brinde de champagne e mais uma clara gargalhada antes da sua interlocutora se afastar. Apenas depois se virou para a serva.
Falou com ela na sua língua nativa. Espanhol, talvez português? E por mais que um não percebesse as suas palavras, as intenções por detrás eram tão claras como a sua voz. Falava com certeza. A sua expressão não mudava, sempre gentil e simpática, mas as palavras doces de mel não duraram tanto. Era como se derretessem, mostrando quem ela era sob os enganos e manipulações, como se tirassem todas as dúvidas àqueles que duvidavam que fosse ela a responsável por tal império.
Ela entregava veneno de bandeja. A voz era tão clara e bela como sempre, distraindo uns poucos da mensagem que transmitia. Não era fria, mas não tinha o calor de amizade e luxúria que era tão característico nela. Não era rija, mas flexível e suave, trazendo mesmo assim consigo o terror. Não era como se estivesse a fazer uma ameaça, mas como se fizesse uma proposta irrecusável, ou como se desse duas opções das quais apenas uma era a correta.
Era como se houvesse escolha.
A rapariga assentiu com a cabeça, apressando-se a sair da vista das visitas.
O sorriso voltou à face da mulher de negro, que mais uma vez rondava a sala, colhendo sorrisos, encantando tantos com histórias, umas mais verídicas que outras, convertendo muitos para si. Fazendo negócio.
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