Capítulo Único
Sempre que James cometia um erro, Severus contava até dez. Nunca o bastante, ele contava até vinte. E quando vinte não era numeroso o bastante, contava até cem.
James era o tipo de pessoa que aprendia na marra. Seu passo era leve, sua risada inconfundível e seu beijo poderoso. Não havia garota que não caísse aos seus pés, mesmo que a sua aparência não fosse perfeita, suas gracinhas recompensavam o infortúnio de seu cabelo bagunçado.
Severus odiava as gracinhas, mas o achava magnífico. Quem não gostaria de ser James Potter, herdeiro do trono da magia da Grã-bretanha, incrível em cima de uma vassoura, inteligente e com uma família perfeita? Severus era apenas inteligente, porém nada sábio e muito tolo. James o atraíra feito um ímã e, como um maldito tomador de almas, o fez se apaixonar.
Nunca imaginou que fosse defender James Potter em sua roda de amigos, nem que iria se pegar rabiscando J e S em seus cadernos, ou ficar irritado com quem dizia que ele seria um péssimo rei. Mas esses três tópicos eram meros detalhes perto do que Severus escutava as garotas dizerem, sobre como beijar o príncipe as deixavam felizes.
Ele sabia que James não era fiel, e isso o atormentava. Era simples, James não o amava, mas isso não o impedia de entrar escondido na Sonserina ou de atormentá-lo com presentes e palavras vazias.
Todo o dia prometia a si mesmo que o abandonaria, mas aí James aparecia e o beijava. Ele chegava como num passe de mágica, com um sorriso cafajeste e mãos bobas. Descia os lábios por seu corpo, até estar beliscando seus mamilos e tocando em seu pênis por baixo da calça. E Severus deixava, o deixava porque amava a sensação de ter o herdeiro do trono em sua cama e de levá-lo ao clímax. Porque acreditava que nenhuma garota poderia deixar James Potter mais feliz abaixo das cobertas.
Isso o atormentava, o fazia se sentir sujo e ferido. James não se importava com os olhares das pessoas quando aparecia ao seu lado de dia e tocava em sua mão, beijava sua testa e se confessava em seu ouvido. Mas aí ele bebia, dava uma festa e beijava uma garota qualquer, tudo isso na frente de todos.
Severus o odiava, contava até dez. Severus o amava, contava até vinte. Severus estava enlouquecendo, contava até cem. Toda a sua vida era baseada em contar. Contar palavras para não ter que repeti-las. Contar momentos para vivê-los novamente. Contar histórias que a sua mãe contava, para jamais esquecê-la. Contar todas as razões para James o amar.
Contar, contar, contar, contar.
Severus via os olhares de pena, não podia os ignorar. Severus sentia na pele. Severus escutava as piadas dos amigos de James. Severus sentia as lágrimas descerem.
Severus as odiava.
--James!--Sentiu as palavras vazias, o sorriso inconfundível o fitando com um carinho gelado. O aceno para a garota mais próxima, o futuro de um reino destinado ao fracasso.--Precisamos terminar.
A expressão fosca, a falsa tristeza. A brincadeira sem fim.
--Severus...--Lágrimas falsas, lábios trémulos.--Eu te amo.
A lágrima deslizante, o castanho chamativo. A expressão apaixonada das garotas ao redor. A Cerveja Amanteigada fria. James está chorando ou rindo?
Lágrimas, lágrimas, lágrimas. Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove, dez. Não o bastante, Severus. Conte até vinte. Um, dois, três, quatro... Quantas vezes havia tentado terminar? Quantas vezes se perdera no burburinho das garotas? Quantas vezes desejou ter certeza dos sentimentos de James? Cinco, seis, sete, oito, nove, dez, onze, doze, treze, quatorze, quinze, dezesseis, dezessete, dezoito, dezenove, vinte.
Não o bastante, Severus. Não o bastante.
--Severus...--As palavras de James soam como navalhas.--Eu não sei o que eu seria sem você. Eu preciso de você.
Não, não, não.
Um, dois, três, quatro, cinco...
Um beijo, um leve selinho, não o tipo de beijo que as garotas recebiam. Um sorriso, um tiro. Severus poderia morrer.
--Desculpa...--Ele quer gritar. Ele não sabe o que está dizendo. Ele é fraco, um fracasso. Ele está destinado ao inferno.--Acho que as provas estão me enlouquecendo.
Não... Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove, dez.
--Eu imaginei que fosse isso, amor.--James pega a sua mão. Carinhoso demais. Falso demais. Severus escuta uma risada, James finge não ouvi-la-- Precisa focar mais na sua saúde, não quero o meu namorado tendo surtos.
Falso, ele não o ama. Falso. James Potter não ama ninguém. Navalha. Voldemort está avançando. Cuidado. O reino está destinado ao fracasso. Tempestade, sorrisos, garotas, sexo. Severus está chorando.
Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove, dez.
Não o bastante, Severus. Conte até cem.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro