Nem tudo que reluz é ouro
Capitulo sem revisão!
A forma que Ravena consegue ser direta é invejável, nem por um momento pensei na possibilidade dela sugerir serviços sexuais.
— Não é possível que você está duvidando da minha moralidade logo após tentar me chantagear — não acredito que passei anos criando uma reputação para ficar sendo questionado por qualquer pessoa desse fim de mundo — Precisa tomar cuidado com quem brinca, Ravena. Nunca se sabe com quem está lidando!
— Theo, meu amor! Você pode até ser assustador para as vítimas do meu pai, mas esses seus olhos de cão perdido não me intimidam! — se afasta e vai em direção a entrada do celeiro, mas antes de entrar é óbvio que diria mais alguma coisa — o mundo entrará em colapso se você conseguir me intimidar.
Respiro fundo buscando todo o meu autocontrole, os meus pais podem ter me treinado para lidar com qualquer situação, mas nenhuma delas envolvia lidar com uma garota mimada.
Sento no banco que anteriormente Ravena estava sentada, ela é como um raio de sol que adentra o ambiente sem a menor cerimônia, nunca pede licença, nunca abaixa a cabeça. Às vezes me pego pensando em como seria agir como ela, deixar esse controle de lado e ter algum sentimento, então volto para a realidade e tomo consciência que o meu passado me mataria antes mesmo de conseguir sentir algo que não seja esse grande vazio que me consome dia após dia.
Na minha família as coisas são obscuras, somos todos criados a partir de um padrão que muitos consideram doentio, aprendemos a sempre obedecer e nunca se deixar levar, o preço que é pago para ser assim é caro demais, um mercenário não pode ter sentimentos ou então não é considerado perfeito, uma pessoa com sentimentos erra, torna-se refém de suas emoções, tem compaixão com o próximo. Não é o nosso propósito, nós nunca questionamos, sempre seguindo ordens. A maneira monstruosa que fui criado é algo que não me deixa dormir desde quando conheci Ravena e o seu modo de lidar com seu pai psicótico, nunca se deixa abalar sentindo tudo com imensa naturalidade, tenho inveja de quem ela é, de quem pode ser e dos sentimentos que é liberada para ter.
É por isso que não interferi quando a vi roubando o carro para ir até o bar, não posso ser a pessoa que vai tirar o seu brilho, sua felicidade, porque sei como é não sentir nada, viver eternamente gritando em um buraco escuro.
— Theo? — me chama — podemos ir, Mimi cansou de brincar e daqui a pouco meu pai deve estar chegando com o resultado da eleição.
Ótimo! Tudo o que essa cidade precisava era ter um lunático como prefeito. Voltamos para a fazenda com Michelle contando sobre os coelhos que brincou, não demora muito para chegarmos já que voltar sempre parece mais fácil. As meninas sobem para ver o irmão e fico na varanda do segundo andar esperando Vagner que chega alguns minutos depois.
— Esperava mais competição nessa eleição, mas é óbvio que não se tem um homem corajoso o suficiente para disputar comigo — desce do carro falando com seu secretário, um merda assim como ele — Avise a todos que essa noite daremos uma festa em comemoração a minha vitória, peça para a governanta informar Ravena que ela está intimada a participar — diz olhando para onde estou e sei que a tarefa de avisar a todos será minha.
A noite chega e estamos na sala da casa de Vagner que mais se assemelha a uma mansão, nenhum convidado chegou ainda e ele está esperando Ravena descer, nem parece que conhece o quanto a própria filha gosta de se atrasar. Só consigo pensar em quanta bebida será necessário para me deixar bêbado já que é minha folga e não tenho que cuidar da segurança de lunático nenhum.
Resolvo então dar uma volta pela propriedade. Gosto de como é fácil visualizar as estrelas, todas tão brilhantes e inalcançáveis, não é difícil gostar de morar aqui, tudo sempre é calmo, depois de anos finalmente consigo respirar sem ter nenhum fardo pesado demais em meus ombros.
Volto para a festa horas depois, todos os moradores influentes e ricos da cidade estão aqui, é difícil chegar até a mesa cheia de bebida e me pergunto se a quantidade presente será suficiente para pelo menos diluir alguns pensamentos que não me deixam em paz e finalmente conseguirei dormir.
— O que está fazendo aqui sozinho? — reviro os olhos, é claro que Ravena não me deixaria ter uma noite de paz — Não conseguiu escolher nenhuma mulher casada para cobiçar? — viro para encará-la, fico surpreso com o que vejo. Está divina, em um vestido vermelho sangue com uma fenda na perna que mostra demais para um século tão preconceituoso, me pergunto onde arrumou algo assim e como Vagner permitiu que usasse isso, então lembro que não segue regras ou ordens impostas por ninguém ao menos que seja para o bem de seus irmãos — Theo! Seria apropriado parar de olhar para as minhas pernas e encarar os meus olhos.
— Só estou me perguntando como Vagner permitiu o uso de algo tão depravado — digo para irritá-la e esconder que vê-la vestida assim, só aumentou minha admiração pela mulher independente que é e de não se importar com o que irão dizer
— Tentar me irritar não vai funcionar — olha ao redor e se aproxima, nessa distância consigo sentir o cheiro de seu perfume — Não quando está vestido dessa maneira, não sabia que meu pai fornecia ternos para seus cães de caça, recebeu de brinde um osso?
— Você é tão irritante! Às vezes tenho vontade de te amordaçar — respiro fundo, nada nesse mundo seria capaz de me fazer retomar o controle que essa garota me faz perder.
— Não seja por isso! Não passe vontade, as portas do meu quarto sempre estarão abertas para você, devo acrescentar que não só elas. — ri e pega uma taça — me amordaçar só vai tornar tudo mais interessante
Após dizer isso, simplesmente me deixa parado chocado com tamanha audácia, será que ao descobrir o monstro que sou, ainda mexeria comigo dessa forma?
Minutos se passam e continuo bebendo, porque as festas deste século precisam ser tão entediantes? A bebida nem é boa.
— Quero propor um brinde! — Vagner sobe nos primeiros degraus da escada e bate na taça, nada poderia ser mais clichê — Que essa noite entre para a história e todos se lembrem que neste dia, o melhor prefeito de Remansinho foi eleito! — pelo menos não é um vilão que faz grandes discursos.
Em seguida se aproxima de Ravena e consigo enxergar claramente a revirada de olhos que ela dá quando é sussurrado algo em seu ouvido. Ele pega sua mão e juntos caminham até Angelina, sua amante.
Após os cumprimentos, um homem se aproxima, Vicente filho de Angelina e o melhor pretendente que as moças têm neste século, Ravena estende sua mão que é beijada carinhosamente pelo projeto de tirano, solto uma risada baixa ao lembrar que ela já me contou milhões de vezes como prefere beber vômito a ter que beijá-lo. Ele é obcecado e vive tentando convencê-la a casar.
A conversa rola por longos minutos e se estende para uma dança, Vagner deve estar muito feliz por que ninguém nunca se aproximou tanto de sua filha além da governanta da casa e eu, talvez isso me cause certo ciúmes ao constatar que nunca conseguirei ser o cara que a roda pelo salão.
— O quanto você bebeu? — o bastante para não ter visto a dança acabar e nem ela se aproximar.
— Acredito que não tenha sido o bastante — a encaro, mesmo depois de uma dança bastante longa, continua perfeitamente bonita — Não deveria estar servindo de moeda de troca para o seu pai? — pego outra taça de bebida
— Por mais que a ideia de ser negociada seja atrativa, prefiro ficar aqui vendo o seu estado decadente — pega a taça da minha mão — chega de bebida por hoje e de festa — olha ao redor e ao ver que ninguém está olhando me leva para fora da casa
— Você finalmente vai concluir o plano maligno de me matar e jogar o corpo no lago? — Dou risada, é a primeira vez que me sinto fora de controle
— Não é hoje o seu dia de sorte, coração! — ri e continua me arrastando — estou te levando para o seu quarto.
— Não era só subir as escadas? — parece óbvio já que o meu quarto é no início do corredor
— Sim, mas o meu pai iria ver e prefiro que você fique vivo por mais essa noite.
Chegamos até a escada que fica na janela do meu quarto, em poucos segundos estou deitado na minha cama olhando para o teto, Ravena me cobre e em seguida sai. Não sei porque resolveu ser tão boa comigo, não faz o menor sentido já que parece só ter interesse no meu corpo, será que devo ir lá perguntar?
O som da música no andar de baixo não me deixa dormir, imagino que horas se passam até tudo ficar silencioso e é aí que decido ir ao quarto de Ravena. Abro a porta e encontro-a deitada na cama lendo um livro, ao me ver não me parece muito surpresa
— O que está fazendo aqui? — entro no quarto e fecho a porta, em poucos passos estou próximo de sua cama onde sento aos seus pés
— Por que cuidou de mim hoje? — não faz o menor sentido
— Você acredita que sou tão ruim assim, ao ponto de te deixar deprimido bebendo lá sozinho? — suspira, não penso que seja ruim, só não acredito que sou merecedor de qualquer ajuda.
— Só quero entender o porquê. Ninguém nunca me ajudou antes — seja lá o motivo de ter falado isso, me parece algo que ela precisava saber.
— Talvez você não tenha conhecido as pessoas certas — deixa o livro no chão e me puxa pela mão até estar deitado ao seu lado — ajudar alguém não me custa nada, principalmente se for para ajudar você.
— Mas por quê? O que tenho de tão especial? — me sinto angustiado, isso não é certo
— Você tem uma tristeza no olhar que está aí desde o dia que chegou na fazenda — olha fixamente para os meus olhos — conheço esse olhar, é de alguém perdido. Não posso simplesmente deixar que continue se sentindo assim.
— Sabia que o grande desejo da maior parte das pessoas é ter dinheiro, propriedades e muito poder? — os meus olhos estão quase se fechando de sono quando digo isso — o meu grande desejo é conseguir algum dia ser alguém diferente de quem sou neste momento. Porque toda vez que você me olha, sinto que posso ser alguém diferente, alguém especial — seguro sua mão — não sei o motivo dessa sensação, talvez nunca descubra de onde ela vem e só sendo outra pessoa para me tornar digno de sentir alguma coisa. Digno de qualquer coisa que posso receber de você.
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