Capítulo 1- universidade de tokyo
Harumi
Adentrando os portões da Universidade de Tokyo, aspirando aquele ar fresco e puro de bom grado, eu admirava o dia ensolarado. Nada conseguiria estragar o fato de que havia finalmente conquistado meu sonho e o mais impressionante: convencido os pais de que eu era responsável o suficiente para morar sozinha na capital.
- Harumi Matsuno, você tem certeza de que quer ficar?- dizia Sayuri às lágrimas, seu passarinho estava criando asas e deixando o conforto do ninho.
Rapidamente, me desviei dos pensamentos que invadiam minha mente ali, dominados pelas possibilidades que estavam à minha frente e tornei a realidade para olhar a expressão de minha mãe. Como era dramática!
Como de costume, Ren, meu atencioso pai, escondia seus anseios com um convincente sorriso no rosto e tinha os braços posicionados nos ombros de minha mãe como se pretendesse acalmá-la e apoiá-la ao mesmo tempo. Afinal, confiava plenamente na decisão que tomou ao autorizar a admissão de sua única filha na faculdade, ainda que doesse vê-la subitamente tão independente.
Sorri pacientemente e segurei as lágrimas pela centésima vez naquele dia, senti que seria a melhor forma de assegurar a eles que nada de ruim aconteceria a mim.
Após mais alguns minutos repetindo as despedidas, meu pai conduziu minha mãe ao carro alugado estacionado na esquina da rua. Então, quando o veículo enfim deu partida, uma esbelta garota que exibia seus sedosos cabelos castanhos-claro com confiança se aproximou sorridente, parecia receptiva. E enquanto andava, notei que era popular pela quantidade de cumprimentos que distribuiu pelo caminho.
Confesso que por mais que odiasse admitir, a sensação de que hoje nada poderia me abalar estava sendo apagada. Teria de enfrentar o desafio de ser a novata numa cidade que não conhecia além das fotos exploradas minuciosamente pela internet.
Estar sozinha de novo era um problema que não gostaria de confrontar, não agora quando estava tão decidida a me dedicar aos estudos.
Vestida apropriadamente para o ambiente escolar com uma calça cintura alta e um moletom que carregava as siglas da universidade, a quase loira parou na minha frente.
- Você é Matsuno, Harumi, certo? Prazer, meu nome é Yamanaka, Sarah!
Na cultura japonesa, o recomendado é chamar alguém por seu sobrenome quando não são íntimas
- Bom, sim...mas como você sabe?- perguntei meio sem graça.
- Ah! Sou a encarregada de te guiar e vou ser sua colega de quarto também.- ela sorriu novamente.
- Nesse caso, prazer em conhecê-la Yamanaka, pra onde vamos primeiro?
- Agora que já te dei meu nome, como pede o protocolo- fez careta- Pode me chamar de Sarah.- afirmou e eu sorri em resposta.
- Que tal começarmos deixando essas malas no quarto?- observou a carga em minhas mãos- Você trouxe pouca bagagem, eu quase embalei meu quarto inteiro quando eu vim.
- Ótima ideia, trouxe pouca coisa mas, elas estão começando a pesar.- reclamei e ela me ofereceu auxílio, pegando uma das minhas malas.
A insegurança que antes atormentava com a ideia de lidar com a solidão que uma cidade grande como Tokyo causaria logo foi derrubada, Sarah sem dúvidas se tornaria uma companhia divertida.
- Para a sua sorte, o nosso quarto é no térreo.- Sarah informou e eu suspirei em alívio.
Estávamos deixando a entrada e nos direcionando para os dormitórios quando de repente, minha atenção foi roubada. Ouvi um alto latido vindo na direção oposta e logo me virei para checar.
A cena que presenciava era um tanto quanto engraçada, um enorme cachorro branco derrubava, quem parecia ser seu dono, em meio a entrada. Quando eu decidi que o correto seria ajudá-lo e suprimir a gargalhada que viria, o garoto trajado inteiramente de roupas pretas tirou seu cão de cima de si, esbanjando um espontâneo sorriso...ele era lindo.
E não era só atraentemente forte o bastante para carregar aquele imenso cachorro com facilidade, como possuía um cativante par de olhos. Para completar, eles combinavam perfeitamente com seus rebeldes cabelos castanhos-escuros. Meu corpo não pôde deixar de reagir àquilo, corei inevitavelmente e tentei baixar o olhar.
Estava hipnotizada, mas fui arrancada de meus pensamentos ao perceber que o alto moreno me encarava curioso enquanto passava a mão pela nuca, parecia nervoso.
- Não, ele está incomodado, Harumi. Você definitivamente não deveria encarar desconhecidos, por mais atraentes que eles sejam.- resmunguei para mim mesma, tão baixo que a frase quase se igualava a um sussurro.
Como eu desejava que não fosse tão curiosa. Se não tivesse olhado para trás e seguido seu caminho, não estaria numa situação constrangedora como aquela. E não tinha nem uma hora que eu havia chegado.
Sarah, que se encontrava a alguns passos de mim, percebeu a troca de olhares e suspeitei que tivesse ouvido fragmentos do que foram a minha última fala, interrompeu seus passos e voltou ao meu lado. Mentalmente, agradeci por não estar sozinha, já que não era a única prestando atenção no misterioso jovem de jaqueta de couro.
Verificando discretamente ao meu redor, era visível que um pequeno público havia se formado, estavam todos atentos para não deixar de acompanhar quais seriam os próximos passos do garoto.
E olha que eu estava certa de que tinha passado dessa fase. Ainda seguia perseguida por olhares indiscretos. Aparentemente, mudar de cidade não evitava isso, o ser humano nunca deixaria de se entreter com a vida alheia.
A figura masculina que antes se encontrava distante o suficiente, não tardou a aparecer diante de nós. Porém, já não estava mais sorrindo, ele havia assumido uma pose intimidadora e o cachorro o acompanhava tanto em passos quanto na atitude.
Desmontei a feição de quem estava assustada e o encarei na mesma intensidade, não havia motivos para ele me destratar quando minha intenção era meramente oferecer ajuda. Estava farta de baixar a cabeça para os outros e assim, eu sustentei seu hostil olhar na mesma proporção.
Kiba
Meu segundo ano cursando veterinária estava prestes a se iniciar, e como de costume, minha irmã Hana fez questão de me levar. Me separar do Akamaru por mais um longo trimestre era doído, mas era um sacrifício que eu precisava estar disposto a fazer.
Afinal, me tornando um médico veterinário eu garantiria que ninguém se sentisse como eu me senti naquele dia quando quase o perdi para um estúpido acidente de carro. Desde então, eu me empenho para aproveitar cada segundo que tenho ao lado dele, sorte minha que a viagem durava cerca de 3 horas.
No caminho, Hana me deu o sermão de sempre:
- Primeiro estudo depois o lazer...Kiba, eu nem vou reclamar das visitas noturnas porque já tive a sua idade, mas foco viu, pirralho? Ah e não se esqueça de ficar longe de drogas!
O papo seguiu nesse rumo por um bom tempo, não que eu tenha prestado atenção. Simplesmente concordei nas vezes em que ela terminava as frases com tom de pergunta enquanto acariciava o Akamaru deitado em meu colo, não estava nem um pouco a fim de contestar.
Ela soava como minha mãe, mas no fundo, sei que ela nunca teve a opção de não ser a responsável quando se trata de mim. Não me entenda mal, não quero parecer ingrato.
Sei que a minha mãe trabalha incansavelmente no escritório de advocacia desde que vim a esse mundo para nos manter. O verdadeiro vilão da história era meu pai, que partiu depois que eu nasci e preferimos não falar sobre.
A dura verdade era que não estava mais disposto a criar laços com ninguém devido ao abandono. Não quando todos os meus amigos exibiam seus pais nos eventos escolares. Portanto, Akamaru, Hana, Hinata e Tsumi (minha mãe) eram os únicos que possuíam espaço na minha vida. Claro, eu já fui tolo o bastante para acreditar que com ela seria diferente...que eu não precisaria me preocupar em me abrir nessa vez.
Não a odeio, eu compreendo que ela jamais poderia me amar, mas quebrar a cara uma vez foi o suficiente para aprender a lição. Mantemos a amizade forte, meus sentimentos esfriaram com o tempo. Quem realmente não merecia meu perdão foi a que eu me envolvi por último e nessa, eu dispenso comentários.
A alguns metros de distância dos portões da conhecida universidade, Hana tratou de segurar o Akamaru para impedi-lo de ir atrás de mim. A maioria dos meus pertences já estavam no dormitório, tinha comigo apenas uma mala de roupas limpas e descarregar a bagagem foi moleza.
- Kiba, vou manter essa distância pois você sabe que esse cachorro é imprevisível.- Hana avisou.
Balancei a cabeça em sinal de aprovação e me virei para o Akamaru, pus uma de minhas mãos em sua peluda cabeça:
- Hana vai cuidar de você viu, garoto?- ele choramingou enquanto eu o acariciava- Ah, não faz essa cara...prometo que logo dou uma escapada para te fazer uma visita.
Notei o olhar de censura de minha irmã ao sugerir que eu mataria algumas aulas e logo sorri como se estivesse brincando.
- Certo, se cuida e saiba que eu amo você!- ela cuidadosamente afastou Akamaru de mim.
- Também amo vocês.
Fechei a porta do carro e comecei a me afastar em direção a faculdade. Recebi alguns olhares femininos e pisquei em resposta, estava desacreditado na ideia do amor porém ainda estava vivo, tinha o direito de me entreter. Estava quase no portão quando fui surpreendido por um latido familiar, me virei e descobri que o meu cachorro havia escapado. Akamaru me derrubou num pulo entusiasmado.
Akamaru lambeu meu rosto enquanto estávamos no chão, mas eu não me senti envergonhado. Eu estava acostumado a lidar com o seu tamanho, só não pude deixar de me divertir com a situação, se eu sozinho já atraía atenção imagina acompanhado de um volumoso cachorro branco.
Lendo seus próximos movimentos, agarrei meu cãozinho com certa facilidade e o acalmei para depois me levantar. Ao fazer isso, limpei os vestígios de grama na minha roupa e senti um olhar profundo me penetrar. Aproveitando para tirar a grama que restava em meu cabelo, eu examinei a face que me encarava.
Possuía longos cabelos exageradamente pretos, de um ônix condensado que não eram nem muito escorridos mas não chegavam a ser ondulados e batiam perto de sua fina cintura. Eu não soube dizer se estava incomodado ou lisonjeado por ser observado intimamente por aqueles negros olhos puxados. De corpo, ela era esguia apesar de ter as curvas marcadas e coxas delimitadas. Tinha em posse poucas malas e usava uma saia colada de estampa quadriculada preta e branca, com uma blusa longa branca levemente decotada.
Eu iria me apresentar, estava intrigado. Só que, a poucos passos de distância, percebi que ela estava acompanhada de Sarah Yamanaka. Eu não era capaz de esconder meu desgosto quando ela aparecia.
Não podia esquecer que graças a interferência dela, meu primeiro ano de universidade fora arruinado. Sem contar que ela preferia gatos a cachorros, patético. Para a sorte dela, Akamaru não ficaria comigo por muito mais tempo, Hana estava quase a alcançá-lo a essa altura.
Dito e feito, assim que estávamos próximos e consegui apreciar a visão da novata perto o suficiente, Hana apareceu. Não demorou, apenas se desculpou e saiu brigando com o Akamaru.
A pele dela era de um marfim delicado, o nariz era afilado e se terminava com uma suave curva na ponta, dando visão para os lábios que eram levemente carnudos. No entanto, o interesse que vi parecia ter sido varrido dos olhos puxados e substituídos por um desejo fuzilante de me arrebentar.
"O que diabos eu fiz?!"
Harumi
Depois daquela cena toda ele ainda teve a audácia de me olhar de cima a baixo sem dizer nada. Típico cafajeste.
"Ele era bipolar ou apenas muito sem noção?"
- Achou algo que te agrada?- eu alfinetei quase automaticamente.
- Pior que sim.- ele abriu um sorriso e em seguida, me direcionou uma piscadela.
"Que abusado...mas eu pedi por essa."
O moreno deu mais um passo em minha direção, por pouco não encostamos um no outro. Nossa diferença de altura era considerável, mas nada absurdo, eu especulei que ele era cerca de 6 centímetros mais alto do que eu.
Olho no olho, ele não parecia não intimidador e pude perceber duas marcas vermelhas posicionadas nas extremidades de seu rosto, chegava até a ser fofo. Estudando seus traços, ele era o famoso late mas não morde. Minha atitude logo saiu da defensiva, eu voltei a relaxar meus ombros quando a voz ao meu lado o provocou.
- Kiba Inuzuka, você já está com saudades?
Experimentei o nome mentalmente, analisando a figura que ganhara uma identificação agora. Sua postura mudou por completo e ele vestiu um semblante fechado, um predador pronto para um ataque caso fosse perturbado. Ele se afastou de mim e voltou o foco para Sarah. Agora tudo se encaixava, o furioso olhar que possuía mais cedo não era para mim e sim para a loira que me acompanhava.
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Nota da Autora:
Espero que estejam gostando! 💓
É a minha primeira história aqui, então aceito críticas construtivas. Por favor, me siga para acompanhar e favoritem a história se estiverem interessados. Ajuda muito na divulgação!
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