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Capítulo 7

De malas prontas e mãos agitadas, estou na varanda de casa a espera de Oliver, Jully e Bruce. Mamãe me faz companhia, mas permanece calada o tempo inteiro. Diferente de mim, nervosa e muito agitada pela tão sonhada viagem.

Desde a infância, na época em que Jully e Oliver viajavam para a capital inglesa, praticamente todo fim de semana, eu desejava conhecer a cidade. Jamais conheci outro lugar, senão Cambridge. Meus pais sempre trabalhavam demais e nunca tinham tempo, ou interesse, de me levar para outro lugar.

Não estou reclamando de Cambridge, pelo contrário, amo minha cidade. Há muitas coisas legais e culturais para fazer aqui. Caso não quisesse cursar engenharia mecânica, optaria por estudar na tão renomada Universidade de Cambridge, uma das melhores do mundo. Mas meus sonhos sempre foram outros.

— Por que estão demorando tanto? — olho para a mansão, um pouco distante da nossa casa, mas não vejo sinal de nenhum dos três.

— Acalme-se, Alice, eles já devem estar chegando. Você sabe como sua amiga é quando o assunto é viagem.

— Na verdade, a Jully nunca se atrasa. Mas não estou preocupada com o atraso, — meus olhos agora vão para o interior de nossa casa, através de uma das janelas. — e sim com a ideia de o meu pai mudar de ideia.

— Isso não irá acontecer. Fique tranquila. — toca meu ombro, olhando-me com carinho. — Espero que se divirta lá, minha filha. Só tenha cuidado e guarde o seu coração.

Assinto, voltando a observar o caminho.

— Lá está o carro de Oliver! — uno os lábios, contendo a euforia.

— Filha! — mamãe me vira, para encará-la. — Me prometa que será cuidadosa!

— Não se preocupe, mãe! — acaricio seu rosto e dou um beijo estalado em sua bochecha. Pego minha pequena mala de mão e desço os três degraus da varanda, correndo.

— Te amo! — grita de lá.

— Eu também te amo! — viro o rosto em sua direção, mas sem parar de correr. Avisto, ainda no interior da casa, meu pai nos observando pela janela. Desvio o olhar rapidamente.

— Bom dia! Parece que temos alguém animada por aqui. — Oliver sai do carro e vem até mim. Ele está vestido, casualmente, com uma calça jeans, blusa preta, assim como o sapatenis, e um ray ban aviator.

— Muito! — entrego a mala para ele, que a coloca no porta malas do seu Porsche Cayenne. — Onde estão os outros?

— Por mais estranho que pareça, minha irmã ainda não terminou de se arrumar. Bruce ficou para ajuda-la com as malas. — bufa a última parte. — Então decidi te buscar logo.

— Entendi.

— Volto já. — Ele passa por mim e segue em direção aos meus pais, que estão na varanda.

Eles conversam rapidamente. Na verdade, apenas dona Abigail e Oliver conversam. Papai apenas encara o rapaz sem desfazer a cara amarrada. Após poucos minutos, ele está de volta. Faço menção em abrir a porta de trás, mas sou impedida.

— Negativo! Você será a minha copiloto. — abre a porta do carona e aponta para o interior. — E todos já estão cientes e concordaram que do banco da frente você terá uma vista privilegiada do percurso.

— Ok! — dou de ombros e entro no carro.

Em meia hora estávamos na estrada, rumo a cidade de Londres.

— Eu sei que a viagem não será demorada, mas trouxe biscoitos, salgadinhos, balas e... — Ju faz suspense antes de tirar o próximo item da bolsa. — Scones!

— Arrasou, Smigol!

— Dá um tempo, Olie! Só por isso você irá ficar sem o seu scone!

— Não tem problema! Eu também trouxe as minhas guloseimas. Mas serão apenas para o motorista e para a copiloto. Alice, você poderia abrir esse compartimento do meio? — toca o espaço que nos separa.

— Claro! — faço o que ele pede. Imediatamente meus olhos brilham e eu solto um gritinho animado. — Jujubas! — Oliver ri eu já pego um pacote e começo a abri-lo. — Você é demais, Olie!

A paisagem, durante a maior parte do caminho, foi preenchida pela mais bela natureza. Muito verde e céu cinzento. O percurso foi barulhento e divertido. Passamos uma hora e vinte minutos nos deliciando com as guloseimas trazidas pelos irmãos Walker e fazendo algumas brincadeiras da época em que éramos crianças. Bruce, no início, ficou perdido, mas logo se achou e começou a brincar conosco.

Estávamos assim quando finalmente me dei conta de que tínhamos chegado. Uno minha testa contra a janela, com a intenção de que nada passasse despercebido por mim. A cada ponto turístico que eu reconhecia, um suspiro saía dos meus lábios.

O barulho de outrora fora substituído pelos sussurros de Jully e Bruce. A mais nova apontava cada lugar e explicava algumas poucas coisas. Oliver e eu permanecemos em silêncio. Estou encantada demais para falar qualquer coisa.

Ao pararmos em um dos sinais do movimentado centro urbano, viro o rosto em direção ao motorista, que me observa com um sorriso no rosto.

— Não preciso nem perguntar se está feliz! Consigo ver em seu rosto.

— É! — sussurro. — Obrigada! Eu sei que a ideia foi sua.

De início, ele nada diz. No entanto, ao voltar a dirigir, após o ruído de meia dúzia de buzinas atrás de nós, ele responde.

— Está sendo o meu presente de aniversário para você!

Mordo a parte interna da bochecha, mas o sorriso sai de qualquer jeito.

— Londres, sua linda, chegamos! — Jully grita ao sair do carro.

— Uau! Este lugar é bem bonito! Em que bairro estamos? — pergunto a ninguém em específico, analisando o conjunto de casas geminadas, branquinhas.

— Egerton Crescent, região de Kensington e Chelsea. Uma das áreas mais nobres da capital. — para minha surpresa, quem responde é Bruce. — O quê? — questiona, quando nossos olhares se voltam para ele, mais precisamente o meu e o de Ju. Olie apenas sorriu. — Posso não ter vindo a Londres, mas gosto muito de história.

— Ok. obrigada! — agradeço.

Oliver passa por nós e sobe a escada que leva ao acesso principal da casa, carregando a minha mala e a dele. Enquanto o amigo leva as restantes. Ao entrarmos, nos deparamos com um primeiro hall de acesso, relativamente pequeno, quando comparado à mansão Walker, em Cambridge. O piso em cerâmica, preto e branco, nos leva até o segundo hall, que se encontra após uma divisória de vidro. Lá tinha apenas um pequeno roupeiro branco.

— Podem deixar os casacos e sobretudos aqui. — nos informa Oliver. — No térreo estão a sala de estar e a cozinha. Os quartos estão lá em cima. — diz subindo a escada, localizada logo depois do segundo hall.

Ao segui-lo, não consigo ver os cômodos mencionados, pois, ao que parece, nenhum dos ambientes são integrados.

— Lá atrás tem uma varanda e um jardim secreto, mas depois faremos o tour completo. — aponta com a cabeça para a janela vertical, no patamar da escada.

Entendo o que ele diz assim que contemplo um pequeno espaço verde, realmente, escondido na parte dos fundos.

— É um dos meus lugares favoritos, principalmente no verão. — Jully comenta com animação ao meu lado.

— Imagino!

O segundo andar era composto, basicamente, por duas, charmosas e aconchegantes, salas de descanso e TV. Cada uma tinha sua lareira e poltronas confortáveis. Eram integradas, mas havia uma porta dupla, em caso de privacidade. Neste andar também há um lavabo pequeno e simples.

— O próximo andar é composto apenas pelo quarto dos meus pais, então não será a nossa parada. — arregalo os olhos. Apesar de estreito, o lugar é bem grande. Então subimos os últimos lances de escada, chegando ao terceiro e último pavimento.

— Em que cama posso me jogar agora? — pergunto ofegante.

— No meu quarto! — Jully me puxa para o cômodo. Diferente do quarto que estou acostumada a ver, este é mais juvenil e menor. Possui uma cama de casal, um grande armário branco, uma penteadeira e várias bonecas. — Ali é o banheiro. E se você não se incomodar, iremos dividir a cama.

— Tenha certeza que não irei me incomodar com nada! — digo me jogando de costas no colchão.

— É melhor mesmo que descanse, pois o dia será bem longo! — cruza os braços, dando um sorrisinho zombeteiro.

— Alice! — ergo a cabeça e vejo Oliver entrando no quarto com minha mala. Rapidamente me sento no colchão.

— Obrigada! Pode deixar aí mesmo, depois eu irei arrumar as minhas coisas.

— Tudo bem! — olha para a irmã. — Jully, estava pensando em pedirmos nosso almoço em casa, Ou você programou o almoço de hoje em algum restaurante específico? — pergunta, repetindo o mesmo sorriso zombeteiro que a irmã dera, há poucos segundos. Eles são tão parecidos.

— Para falar a verdade, tinha planejado de irmos naquele restaurante aqui perto, mas não me incomodo de comermos em casa hoje.

Deixo os dois conversando e sigo para o banheiro. Assim como em todos os outros cômodos, ele tem uma vista espetacular, não para a praça que fica de frente para a fachada principal, mas sim do jardim secreto em contraste com as demais edificações. Quando volto para o quarto, Jully já não está mais lá. Decido organizar minhas coisas em um espaço vago do guarda-roupa, enquanto ela não volta.

Em algum momento da arrumação, a ficha começa a cair.

— Meu Deus, eu estou mesmo em Londres!

— Sim, você está! — olho para a porta e sorrio.

— É que... — uno minhas mãos e sento na ponta da cama. — Não parece real, Oliver! Não sei explicar. Eu sempre vivi no meu mundinho. Apenas meus pais e eu. E vocês também, é claro! — comento rapidamente. — Eu nunca conheci nada fora disso e agora... — dou uma risada nervosa. — Está acontecendo!

Ele se aproxima, sentando ao meu lado.

— E por que eu tenho a impressão de que você está nervosa?

— Porque eu acho que estou? — minha resposta sai mais como uma pergunta.

— Por quê? — Oliver questiona, ficando cada vez mais confuso.

— Estou com medo! Medo de não conseguir.

— Por isso estamos aqui com você. Não terá que enfrentar Londres sozinha, não agora. Já não garanto como será quando estiver na faculdade, mas tenho certeza que fará amizades, Alice!

— Aí que está o problema. Eu não tenho tanta certeza se irei conseguir, Oliver. Até agora não tive respostas da universidade. Isso deveria ter acontecido há pelo menos três semanas.

— Ei! — ele segura minhas mãos. — Você vai conseguir! Eu tenho certeza!

— Obrigada! Mas infelizmente a sua certeza não garante minha entrada na Imperial College. — puxo minhas mãos de volta para o colo.

— Que tal combinarmos algo? — olho em seus olhos. — Enquanto estivermos aqui, você não irá pensar em nada relacionado à universidade. Só irá se divertir. O que me diz?

— Posso tentar!

— Ótimo, porque a minha irmã fez uma espécie de roteiro assustadoramente gigante. Não sei como conseguiremos ir para todos aqueles lugares, mas segundo ela, tem tudo sob controle.

— Eu vi! — levanto-me da cama. — Jully é incrível!

— Puxou ao irmão. — crispo os olhos para ele e nego com a cabeça.

— Só... vamos! — saio do quarto, sendo seguida por ele, rumo ao térreo, onde Bruce e Jully nos esperam.

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