Capítulo 43
Após sairmos de sua casa nova, Oliver me deixou na igreja, onde estaria acontecendo uma festividade. O culto já tinha começado, então decidi ficar nos fundos. Só fui me encontrar com Thony no final. Ele e Liza, a cardiologista pediatra de Bonnie, estavam conversando.
— Oi! — saúdo ambos.
— Oi, Alice! — Liza abre um sorriso. Meu amigo apenas deposita um beijo no alto da minha cabeça. — Como está a pequena Bonnie? — ela questiona, olhando ao nosso redor.
— Muito bem, obrigada por perguntar! No momento, está com o pai.
— Do jeito que gosta. — concordo com Anthony, que oferece um sorriso curto. — Vamos, Ali?
Despedimo-nos de sua colega de trabalho e saímos do edifício. Percebo de imediato que o meu amigo está muito calado e com o semblante um pouco abatido. Então me recordo da conversa que ele certamente teve, mais cedo, com Harper.
Seguro seu braço e abro um sorriso largo. Ele me olha sem entender.
— O que acha de irmos ao Point? — ele nega com a cabeça, mas sou persuasiva. — Tem algo que eu estou desejando comer há um bom tempo, mas ando tão ocupada... Por favor, irmãozinho! — eu sabia que Thony amava quando eu o chamava dessa forma, mesmo sem nunca ter dito.
— Alice...
— Por favorzinho! — faço cara de pidona.
— Ok! Você venceu!
Chegamos lá em quinze minutos. Ao sair do carro, encaixo meu braço no dele e seguimos para o café. O lugar era o mesmo, desde quando vim aqui pela primeira vez. Poucos itens de decoração eram diferentes. De resto, tudo permanecia da mesma fora. Inclusive os funcionários, que nos cumprimentam com alegria.
Puxo o meu amigo para a mesa de sempre. Sentamos um de frente para o outro, como de costume. Não estava mentindo quando disse que desejava comer algo daqui. Fazemos nossos pedidos e logo o silêncio nos envolve. Sou a primeira a quebra-lo.
— Como foi a conversa com a Harper?
— Foi... — ele une as mãos sobre a mesa e fita algo atrás de mim. — Decisiva! — diz por fim.
— Decisiva? — uno as sobrancelhas, com receio do que estava por vir. — O que quer dizer com isso?
Um sorriso triste preenche seu rosto. Quando seus olhos encontram os meus, eles estão marejados.
— Achamos melhor nos afastar de vez.
Sem pensar duas vezes, levanto da cadeira e vou abraça-lo.
— Acabou, Ali!
Nada digo, apenas o aperto ainda mais em meus braços. E logo me arrependo por tê-lo trazido ao nosso point.
***
Acordo com o toque alto do meu celular. Um resmungo preguiçoso sai dos meus lábios antes de eu esticar o braço, ligar o abajur e pegar o aparelho. Surpreendo-me ao ver o nome de Oliver na tela. Ao ver a hora, a surpresa dá lugar à preocupação.
— O que aconteceu com a Bonnie? — empurro o edredom para o lado e ponho os pés para fora da cama.
— Acalme-se, Alice! Ela está bem agora...
— Agora? — não o deixo concluir. — O que aconteceu com minha filha, Oliver?
— Olha, eu só liguei para avisar que estamos chegando em seu apartamento em dois minutos. Eu te explico pessoalmente.
— Ok! Estou esperando. — coloco um roupão e saio do quarto às pressas.
Estava andando de um lado ao outro quando a campainha toca. Abro a porta rapidamente, e Bonnie corre para os meus braços. Mal consigo ver seu rosto.
— O que foi, meu amorzinho? — abaixo-me, ficando de sua altura. Ela enterra o rosto na curva do meu pescoço e começa a chorar.
Olho para Oliver, buscando explicações. Ele fecha a porta e dá de ombros. Ainda é possível ver as marcas de travesseiro em seu rosto. Se não fosse pelo momento, aquilo me teria feito sorrir.
— Sinceramente, eu não faço ideia do que aconteceu, Alice. Ela não quis me contar. Acordei com o seu choro compulsivo. Então ela começou a dizer que queria te ver. Que queria voltar para casa. E aqui estamos.
Coloco-me de pé, com Bonnie no colo. Seu peso já estava sendo um problema para minha coluna. Caminhamos até o sofá, onde sentamos juntos. Com cuidado, afasto o rosto da minha filha, forçando-a a me encarara.
Ela olha no fundo dos meus olhos. Seus orbes, que estão vermelhos, devido ao choro, transmitem um medo que jamais vi ali. Bon acaricia meu rosto e me analisa com atenção. Os lábios voltam a tremer.
— Ei, princesa, está tudo bem! — Oliver se aproxima, tocando o rosto da filha. — Sua mãe está aqui
— Eu não quero ver a mamãe sofrer. — dito isso, ela volta a enterrar o rosto em meu pescoço.
Troco um olhar preocupado com Oliver.
— Bon! — chamo-a, mas ela permanece parada. — Bon, meu amor, olhe para mim! Veja como eu estou bem. Estou feliz, lindinha!
— Mas você não estava feliz no meu sonho. Estava muito triste.
— Que tal nos contar com o que sonhou, filha? Talvez isso possa ajudar. — a voz de Oliver é suave e calma.
Bonnie funga e se afasta, enxugando os olhos, que estão focados em algum lugar entre Oliver e eu.
— Foi estranho. No meu sonho, estávamos nós três: o papai, a mamãe e eu. A gente estava feliz. — seus olhos vão do pai para mim. Apesar do sorriso nos lábios, dá para ver o medo no olhar. — Como a família da Sabina. — conta sobre uma de suas amiguinhas da creche. Sinto o ardor em minhas bochechas. Nem cogito em olhar na direção de Oliver. — Mas depois, eu não sei o que acontece, não consegui ver. A mamãe vê alguma coisa e começa a chorar. — diz com a voz embargada. — Ela chorava muito e estava muito triste. Depois ela começa a se afastar de mim. — olha para o pai. — De nós papai. E parecia perdida.
Ela para de falar por um instante.
— Você não pode ficar assim, mamãezinha! Me promete que não vai ficar longe de mim! — as lágrimas rolavam livremente.
Puxo Bonnie para um abraço apertado e enterro meu rosto em seu cabelo, suspirando sua essência infantil.
— Eu prometo, meu amorzinho! — sinto seus braços se apertarem em volta de mim. — Eu prometo!
Só percebo que estou chorando, quando abro os olhos e a minha vista está embaçada. Ao meu lado, Oliver nos observa com um vinco na testa. Conhecendo-o bem, ele está tentando desvendar os mistérios por trás do sonho da filha. O que eu farei muito em breve.
Ficamos em silêncio por um bom tempo, cada um com seus pensamentos. Até que Bonnie solta um bocejo. Dou um sorriso e beijo sua testa.
— Vamos dormir? — minha voz sai suave e um pouco infantil.
— O papai vai ficar até eu dormir? — olha para o pai, com um bico nos lábios.
— É claro, Bon! — Oliver sorri e se inclina, retirando a filha dos meus braços.
Subimos a escada em silêncio. Bonnie já estava de olhos fechados, quase dormindo novamente. Oliver ameaça entrar no quarto da filha, mas eu seguro seu braço, apontando para o meu quarto.
— Ela vai dormir comigo. Aí você poderá dormir no quarto dele. — ele franze o cenho. — Está tarde, Oliver. É mais seguro que você passe o restante da noite aqui.
Ele concorda e me segue para o quarto.
Assim que Bonnie é colocada no colchão, ela abre os olhos sonolentos, e me encara.
— Você poderia cantar para mim, mamãe? — arregalo os olhos.
— Cantar?
— O papai disse que sua voz é linda. — volta a fechar os olhos, e os meus vão direto para o homem a minha frente, de pé ao lado da cama.
Oliver, assim como eu, está surpreso pelo pedido da filha, mas ao mesmo tempo parece um pouco constrangido.
— Parece que o seu pai tem dito muitas coisas ao meu respeito ultimamente.
Ele dá de ombros, alargando o sorriso.
Bonnie vira na cama, ficando de barriga para cima. Ela aponta para o espaço ao seu lado esquerdo.
— Sente aqui, papai.
Oliver busca a aprovação em meu rosto. Dou de ombros e assinto.
Após estarmos acomodados, escolho um louvor que escutei ontem na igreja. Bonnie segura nossas mãos e com um sorriso nos lábios, cai no sono. Acaricio seu cabelo até o fim da canção, onde deposito um beijo demorado.
Ao erguer o rosto, pego Oliver me observando. Ele abre um sorriso sincero, sem desviar o olhar. Retribuo o sorriso, antes de apontar para a porta e levantar da cama. De relance, vejo ele se despedindo da filha, para em seguida me acompanhar.
— Podemos conversar um minuto? — pergunto.
— Estava esperando por isso. — sem esperar, ele caminha rumo ao andar inferior.
Nos acomodamos, mais uma vez, no sofá. Um de frente para o outro. Ele é o primeiro a quebrar o silêncio.
—Eu fiquei desesperado quando a vi daquele jeito. Pensei que algo poderia acontecer novamente caso ela não se acalmasse.
—Sei bem como é isso! — engulo em seco. — O que você acha que significa esse sonho?
Ele solta um suspiro e olha para o teto.
— Eu não sei, mas...
— Mas... — incentivo ele a continuar.
— Talvez a Bonnie esteja recebendo retaliação?
— Minha filha está sofrendo represália por eu ter voltado para Jesus? — pergunto inconsolável. Ele assente, voltando a me encarar.
— Acho que é uma das opções mais lógicas.
— E qual seria a outra opção? — ergo uma sobrancelha.
— Talvez Deus esteja nos alertando para algo que acontecerá em breve. — começo a cutucar os dedos. — Sua reação no sonho da Bon parece mostrar que, de nós três, você será a mais afetada.
Solto um gemido e fecho os olhos, erguendo o rosto.
— Eu não sei se suportaria receber mais alguma notícia ruim, Oliver! — minha voz sai chorosa. Meu coração já começava a sofrer antes do tempo. — Eu não tenho mais estrutura para isso! Deus sabe!
— Ei! — ele me puxa para os seus braços. — Se Ele permitir que mais uma notícia ruim chegue, eu sei que Ele mesmo te sustentará. — tento rebater, mas Oliver continua. — E quero que saiba que se algo de ruim realmente acontecer, eu não deixarei que se afaste de nós. Eu não irei te perder novamente, Alice!
Sem erguer o rosto, permito-me chorar em seu colo. Seu abraço me traz a sensação de lar, e o seu cheiro conhecido acalma a multidão de sentimentos conflitantes em meu interior. E por isso que, apesar dos medos pelo por vir, foi tão fácil pegar no sono.
>>>><<<<
Primeiramente, FELIZ ANO NOVO, meu povo! Que 2023 seja um ano incrível e cheio da presença do nosso Deus! Que a vontade dEle se cumpra em nossas vidas, acima de tudo!
Segundamente (nem sei se essa palavra existe rs), quero pedir perdão pela demora para colocar este capítulo. Fim de ano é um pouco mais corrido. Espero que entendam. E espero que tenham gostado também 😍♥️
Att.
NAP 😘
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