2. Ela odeia ela
Isabel Moreno:
Meu Deus. Eu não aguento mais. Sinto como se a minha cabeça estivesse prestes a explodir. Essas malditas crianças não tem casa, não? O pior é ELA, Catarina, que está sentada na MINHA calçada, ouvindo a mesma música sem parar. Nunca odiei tanto sertanejo, como odeio, agora. Sei que ela faz isso de propósito, só para me provocar. Ela quer que eu perca o controle como na última vez que expulsei seus primos e ela, os molhando com a mangueira. Não posso negar como foi prazeroso acabar com a festinha desses idiotas.
Meu celular toca, bem, a tempo de me impedir de insultar esses demônios, da janela. Me sento no sofá e pego o celular que estava na mesinha de centro. Pelo identificador, já sei que é Sofia. Atendo.
— Alô?
— Você está ocupada? — Sofia pergunta.
— No que está pensando? — Pergunto, massageando minha têmpora.
— Que tal uma festinha? — Sofia sugere. — A Anne gostaria de algo só para garotas. O que acha?
— Pode ser amanhã? A Catarina está me dando nos nervos, outra vez. — Digo, me esforçando para não elevar a minha voz, pois, não quero demonstrar o quanto estou com raiva.
— Por que você não chama a polícia? — Sofia sugere.
— Porque não adianta... — Suspiro. — Ela sempre encontrará uma nova forma de me irritar. Por isso, estou procurando uma nova residência. Talvez, eu volte para o apartamento dos meus pais, mas aquilo lá, também é um saco e eu tenho meus gatos de estimação...
— Entendo. — Sofia diz, compreensiva.
Alguém toca minha campainha. Me levanto e vou até a porta e a abro. Me arrependo de não ter espiando pelo olho mágico antes.
— Você poderia me arrumar um pouco de gelo, por gentileza? — Catarina me pede, segurando um jarro de vidro com uma pintura de unicórnio, tão a cara dela.
— Oh, eu sinto muito, mas a minha geladeira estragou. — Minto. Nem ferrando vou dar qualquer coisa a ela. Catarina arquea uma sobrancelha, incrédula. Pigarreio. — Sinto muito. Talvez a dona Terezinha tenha. — Me apresso em fechar a porta e ouço o salto dela estalando nos degraus enquanto ela se afasta. Ufa!
— A sua geladeira estragou? — A voz de Sofia me assusta, pois, esqueço de que ela ainda está na linha.
— Não. Só não quero dar gelo a princesinha da cachaça. Ela que se vire! — Digo com raiva.
— Não se deve negar água nem ao seu pior inimigo. — Sofia me repreende.
Reviro os olhos e rio.
— Que bom que só neguei gelo, e que ela estava com uma jarra cheia d'água...
Sofia:
Até parece que vou ficar em casa em plena sexta feira... Só porque a Isabel se sente indisposta? Problema dela! Minha namorada e eu vamos a um pub, então. Não é grande coisa, mas muitos calouros vão até lá, fica próximo a universidade e as bebidas são baratas.
Me visto para provocar: Um vestido preto, decotado e sem alças, dois palmos acima dos joelhos. Sandálias de salto, brancas. Eu solto meu cabelo louro platinado. Nos meus lábios, passo um batom vermelho cereja. Um pouco do perfume que sei que Annete adora e estou pronta.
Annete não quer ir ao pub, inicialmente, mas eu insisto e quando ameaço ir sozinha, ela cede.
Ela não se arrumou tão bem quanto eu esperava... Jeans, uma regata branca, simples, e os cabelos presos em um rabo de cavalo. Ainda assim, está linda, minha Annete, meu amor.
Assim que chegamos, vamos direto para a pista e dançamos. Ela começa a se animar, felizmente. Dançamos umas três músicas seguidas e então, vamos para uma mesa. O lugar está cheio e as únicas três garçonetes estão ocupadas.
— Amorzinho? Busca algo doce para bebermos? Por favor? — Peço de um jeito dengoso, o qual sei, ela não resiste.
— Claro. — Annete se inclina e beija meus lábios, antes de se levantar e ir buscar algo para bebermos.
Joice Azevedo:
Trabalhar preparando drinque, nunca foi meu emprego dos sonhos, mas não sou rica, e se pretendo continuar estudando, tenho que manter minhas notas e este emprego de meio período. Me considero muito sortuda por ter ganhado esta bolsa.
— Nada te derruba, hein? — Digo servindo a vigésima dose de vodca à Beatriz.
— Eu aguento o tranco. — Beatriz dá de ombros. — E aí, gata? Que horas você sai daqui mesmo? — Beatriz se inclina um pouco em minha direção.
— Por que? — Pergunto, aproximando meu rosto do dela.
Beatriz sorri, maliciosa, mas de repente, perde a convicção e recua, balançando seu copo e observando o líquido girar. Ela dá de ombros e sussurra com a voz rouca:
— Foi mal. Acho que tô carente.
— Daqui a pouco, eu saio. — Respondo tocando a mão dela. Beatriz me olha e eu sinto meu corpo todo se acender. Ela sorri, mordendo o lábio.
Ouço um pigarreo e me viro, irritada, dando de cara com Annete.
— Deixe eu adivinhar? Uma água com gás? — Não sou vidente, é que ela sempre pede a mesma coisa.
— Não, na verdade, gostaria de duas doses de licor de morango. — Annete diz, se sentindo rebelde.
— Aham. — Digo, suprimindo um riso e vou preparar o que ela me pede.
Beatriz:
Eu tento disfarçar rapidamente quando noto a presença de Annete, e pego meu celular, checando minhas mensagens. Não tem nada de novo. Mais antissocial que eu, você não encontra.
— Oi, Bea?
Desgraçada. Assim, ela acaba comigo! Me forço a olhar para ela e a vejo me encarando com um sorriso, meigo.
—Oi. — Sorrio sem graça, e finjo que sou uma pessoa ocupada.
— Você veio sozinha? — Annete pergunta.
— E você? — A encaro, séria.
—Não, com a Sofia. — Annete responde.
— Hmmm.... — Digo virando o rosto. Devia ter imaginado.
Joice volta com os drinques e os entrega à Annete. Então, a encara, séria. Annete pega os copos e se afasta, sem graça. Joice se volta a mim e seu rosto se ilumina com um sorriso.
— Onde estávamos? — Joice diz.
Annete:
Tento me convencer que não me chateei por ter sido tão grosseiramente ignorada por Beatriz, mas sinto meu estômago revirar quando vejo o rosto de Joice em minha mente. Que vontade de socar a cara dela!
— Você demorou, Fofinha. — Sofia diz, sorrindo e estende a mão, ansiosa por sua bebida.
— Você sabe que os funcionários desse pub são incompetentes! — Digo com raiva e entrego o copo dela.
— Não são, não. É que falta mais funcionários, só isso. — Sofia sorri de forma doce.
Eu mordo o lábio, ainda com raiva. Sofia é um anjo porque não vê maldade em ninguém, mas eu sei que Joice é um demônio!
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