Meu Sonho
Bem, eu encontrei uma mulher
Mais forte que qualquer uma que eu conheça
Ela compartilha meus sonhos
Eu espero que um dia eu compartilhe seu lar
Eu encontrei um amor
Para carregar mais do que apenas meus segredos
Para carregar amor, para carregar nossos filhos
- Perfect -Ed Sheeran
Desde quando eu era pequena tinha meus sonhos, como qualquer outra criança.
Me tornar uma cirurgiã neurológica era um deles. Saber que o cérebro humano tem várias facetas é incrível e com apenas um movimento errado, posso destruir a vida de alguém.
Ter uma família perfeita também era um dos meus sonhos. Um marido carinhoso, que me ame e me ajude, uma filha para chamar de Sófia, e talvez - bem futuramente - um menino que pareça com o pai.
Meus pais me puseram em uma escola quando eu ainda era muito nova, consegui terminar meus estudos cedo e isso me ajudou muito.
Sempre pude contar com a ajuda dos meus queridos pais que aproveitaram a aposentadoria e se mudaram para França há cinco anos. Eles queriam que eu fosse junto, mas preferi ficar no Brasil, aqui era o lugar em que uma certa pessoa se encontrava.
Com meus trintas anos, sou uma cirurgiã neurológica, casada há seis anos com um homem maravilhoso e agora acabo de receber a melhor notícia, o exame Beta-HCG deu positivo. Sem me conter vou para o consultório ao lado e peço para uma de minhas colegas de trabalho para me consultar, queria muito ouvir os sons que meu bebê estava fazendo.
Todos os meus sonhos estavam se realizando e eu estava cada vez mais feliz com todo o resultado dos meus esforços.
Meu celular vibra em meu jaleco e retiro-o vendo que era meu chefe com uma notícia de um paciente que estava sendo transferido para uma cirurgia de emergência. Olho a hora e percebo que falta apenas uma hora para meu turno acabar, significa que hoje vou ter que ficar depois do meu horário, pois não sei quantas horas essa cirurgia irá durar.
Disco o número do meu marido e sorrio ao ouvir sua voz.
── Olá, meu rubi. ── Rubi, é como ele sempre me chama, diz sempre que sou sua pedra preciosa.
Isso é tão fofo!
── Oi meu amor, liguei para avisar que não vou jantar em casa, surgiu uma cirurgia de última hora.
── Tudo bem, meu amor. ── Sempre tão compreensivo. ── Vou aproveitar e passar na casa do Ted para desempatar o jogo de vídeo game. ── Rio.
Ted é seu melhor amigo e quando se juntam parecem duas crianças que não sabem perder, esse homem é tão competitivo.
── Okay amor, te amo. ── Digo me contendo para não falar logo sobre o bebê. Não quero falar sobre isso por telefone, preciso ver sua reação quando falar que nosso maior sonho está vindo por aí...
── Eu também te amo. Recebeu meu presente?
── Presente? Ainda não, calma aí, vou ver na recepção do hospital.
Corro até a recepção e vejo Clara me chamando com um levantar de mão, me aproximo dela que logo desliga a sua ligação.
── Boa tarde, doutora Kelly. Chegou uma encomenda para você. Eu já ia levar no seu consultório, só estava terminado de fazer algumas ligações. ── Ela fala se afastando e entrando na pequena sala atrás da recepção. Quando ela volta, traz consigo um lindo e grande buquê. Sorrio mais ao ver as camadas de glitter que foi colocado nele.
Agradeço ela e pego o buquê me controlando para não chorar, não consigo segurar muito minhas emoções, isso às vezes dificulta meu trabalho.
Pego o cartão em cima das flores e tento equilibrar o celular, o buquê e o cartão em minha mão. Abrindo começo a ler o que ele escreveu.
"Uma simples demonstração do que sinto por você, não há palavras para descrever. Te amo, minha joia rara.
De seu amado e querido esposo, Caio Souza."
Quando percebo, já estou com lágrimas nos olhos. Eu o amo tanto, meu marido é tudo o que eu sempre sonhei.
── Alô? ── Pergunto depois de mais alguns segundos em silêncio.
── Estou aqui ── ele me responde ainda do outro lado da linha. Acabo fungando quando tento falar. ── Ohhh não, meu amor, não chora, não queria que você chorasse, quero ver você feliz.
── Eu estou feliz, obrigada por proporcionar isso...
Conversamos por mais alguns minutos até que recebo a notícia que o paciente que foi transferido acabou de chegar para a cirurgia, então me despeço de Caio, meu marido, e vou para o centro cirúrgico.
As horas foram se passando e a cirurgia não acabava, só depois de quatro horas - no total - conseguimos remover todo o tumor existente no cérebro do paciente. Agora eu teria que esperar o sedativo passar o efeito para poder fazer a avaliação final do paciente.
Mais duas horas se passaram quando uma enfermeira veio me chamar dizendo que o paciente estava consciente. Pela suas feições pude perceber que algo estava errado.
Corri até seu leito e me deparei com o paciente deitado e com lágrimas nos olhos. Uma pequena decepção me toma quando eu percebo o que aconteceu. Houve sequelas. Com a visão afetada ele revela o que mais sente. Termino de fazer o resto da avaliação e confirmo que apenas sua visão foi afetada.
Seus pais me agradecem pelo meu trabalho. Mesmo perdendo a visão ele poderá viver mais tempo agora.
O paciente em si não falou nada mais.
Mais uma hora se passou e eu consegui ir embora. Era uma da manhã quando cheguei em casa, meu marido já estava dormindo.
Tirando minhas roupas, vou tomar um banho para retirar um pouco o cansaço.
Meus pensamentos vão para o paciente que perdeu a visão, passo e repasso todo o procedimento novamente em minha cabeça. Sei que não fiz nada de errado, mas mesmo assim ainda sinto a decepção em mim. Será que se eu tivesse feito algo diferente ele ainda estaria enxergando agora? Será que não dei meu melhor?
Lágrimas fortes vem com tudo me fazendo sentir-me péssima no momento. Sinto os braços de Caio, me abraçar fortemente.
── Shhh... ── Me consola, mesmo não sabendo o que houve. ── Estou aqui... ── Mais alguns minutos em silêncio, apenas choro em seu peito nu. ── Perdeu algum paciente?
── Não... ── Tento controlar o choro. ── Ele perdeu a visão.
── Calma, meu rubi. ── Ele me aperta mais em seus braços. ── Todos sabem os riscos que uma cirurgia traz e mesmo assim a família optou por realizá-la.
── A família me agradeceu, mas eu queria ter feito mais...
── Eu sei amor, mas sei também que você deu o seu melhor.
Ele me banhou aos poucos e me levou para cama, cuidou de mim até eu adormecer.
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