Epílogo
Poucos meses depois do que aconteceu com os rebeldes, eu estou me arrumando, com a ajuda das minhas então melhores amigas, para o meu casamento com Davian.
Não foi fácil colocar tudo no reino de Meraki em ordem após as traições do Rune e do General, mas nada que juntos não conseguiríamos.
Neste momento, Sora e Makayla brigam pela forma que devo prender meu cabelo. Me encontro tão nervosa para o momento do "sim" que ao menos consigo acompanhar o que elas estão falando.
Para minha sorte, ou azar, ambas entram em consenso sobre como será meu penteado, o que se torna outra discussão sobre quem vai fazê-lo. Depois de mais alguns minutos, Makayla vence dessa vez e começa a fazer.
Após prendê-lo em um coque, ela põe entre fios roxos pequenas flores naturais da cor azul, as quais combinam com as flores do meu buquê.
— Você está linda, minha futura rainha! — Sora fala, batendo palminhas, completamente animada.
Me fito no espelho, quase não me reconhecendo. O vestido branco, com pequenos diamantes que vão do busto às mangas, ombro a ombro, com a cintura bem marcada em um corselete e saia de tule, me deixa ainda mais irreconhecível, já que não estou acostumada a me ver assim tão delicada, estando quase sempre com o uniforme da guarda.
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O sol estava prestes a se pôr no horizonte, tingindo o céu com tons dourados e rosados. O ar estava fresco, mas não o suficiente para me fazer tremer. Ainda assim, a leveza do vestido branco, com suas camadas suaves e detalhes de renda, me envolvia como uma promessa de que tudo estava onde deveria estar. Eu não conseguia parar de sorrir, o coração batendo rápido no peito, não apenas por causa do que estava para acontecer, mas porque, finalmente, tudo parecia certo. Eu ia me casar com Davian, o homem que transformou meu mundo em algo tão vasto e cheio de vida que, às vezes, eu mal conseguia acreditar.
A música suave começou a tocar, ecoando pelos corredores do palácio, e eu senti as mãos de Makayla e Sora apertando as minhas. Elas estavam deslumbrantes em seus vestidos azuis, como duas sereias emergidas do mar, cada uma mais radiante que a outra. Seus sorrisos eram largos, cheios de alegria por mim, e senti uma onda de gratidão. Ambas tinham sido minhas rochas em momentos de dúvida, minhas companheiras em dias de tempestade. E agora, aqui estavam, madrinhas no meu casamento, tão lindas e felizes quanto eu.
— Você está pronta? — Makayla perguntou baixinho, ajustando uma mecha do meu cabelo que insistia em escapar. Seu sorriso era sincero, mas nos olhos, eu via um lampejo de emoção profunda.
— Mais do que nunca — respondi, a voz saindo mais firme do que eu esperava.
Sora riu suavemente ao meu lado, os olhos castanhos brilhando com diversão.
— Quem diria que veríamos esse dia chegar? — Ela provocou, me dando um leve empurrão com o ombro. — Azul, casada com o rei. Isso sim é um conto de fadas.
Sorri de volta, mas no fundo, uma pequena parte de mim ainda não acreditava totalmente. A vida havia sido tão cheia de reviravoltas que parecia surreal estar ali, prestes a dar o próximo grande passo.
Quando as portas enormes se abriram, revelando o grande salão decorado com flores brancas e douradas, meu coração quase parou. Lá estava ele, Davian, de pé no altar. Seus olhos estavam fixos em mim, o azul profundo deles brilhando com uma intensidade que me fez esquecer tudo ao redor. Ele estava lindo, usando uma túnica formal de tons escuros, os cabelos ligeiramente bagunçados como se o vento tivesse passado por ali só para lembrá-lo de sua natureza selvagem e indomável.
A cerimônia parecia um sonho, cada passo que eu dava em direção a Davian ecoava como uma batida do meu próprio coração. Ao chegar ao altar, sua mão encontrou a minha, quente e firme, e senti todo o nervosismo desaparecer.
Ao meu redor, os rostos dos amigos que amávamos estavam lá, como testemunhas silenciosas desse momento que era só nosso. Lucas e Matias estavam de pé ao lado de Davian, os dois sorrindo de um jeito que só quem já encontrou sua própria felicidade compreendia. Lucas, sempre tão sério, parecia especialmente emotivo, enquanto Matias apertava sua mão de um jeito que era impossível não perceber. Os dois tinham superado tanto juntos, e agora estavam ali, lado a lado, padrinhos do nosso amor.
E então, lá no fundo, vi Lyall. Meu coração deu um pequeno salto ao vê-lo. Havia algo melancólico em seu sorriso, mas também um brilho de aceitação. Ele sempre foi uma parte importante da minha vida, e, apesar de tudo, era reconfortante tê-lo ali. O fato de ele ter vindo significava mais do que palavras poderiam dizer. Nossos olhares se cruzaram por um breve momento, e ele assentiu levemente, como se dissesse que estava tudo bem, que ele estava bem. E, de certa forma, isso me trouxe uma paz que eu nem sabia que precisava.
Davian começou a falar os votos, a voz profunda e suave, como se cada palavra fosse esculpida com cuidado.
— Azul, desde o momento em que você entrou na minha vida, meu mundo se transformou. O que antes era sólido, seguro e previsível, agora é vibrante e cheio de cor, graças a você. Eu te prometo, hoje e sempre, ser seu porto seguro, mas também ser o vento que te leva aonde seu coração quiser. Eu te amo, mais do que as palavras podem expressar.
Eu senti os olhos lacrimejarem, e quando chegou minha vez, minha voz saiu suave, mas cheia de verdade.
— Davian, você é o meu lar. Não importa onde estejamos, ou o que aconteça, desde que você esteja ao meu lado, eu sei que estou segura. Você me ensinou a amar de novo, a acreditar que, mesmo depois das tempestades, o sol sempre volta a brilhar. Eu te prometo amar com toda a minha força, com toda a minha alma, até o fim dos nossos dias.
A troca de anéis foi rápida, mas parecia um momento eterno. Quando Davian colocou o anel no meu dedo, o metal frio contra minha pele quente, foi como se o universo inteiro tivesse se alinhado.
— Eu vos declaro marido e mulher — a voz do celebrante ecoou pelo salão, e em seguida, Davian me puxou para um beijo.
O salão explodiu em aplausos, os sorrisos dos nossos amigos preenchendo o espaço ao nosso redor. Makayla e Sora estavam rindo, lágrimas escorrendo por seus rostos, enquanto Lucas e Matias trocavam olhares cúmplices. Lyall, por um momento, desapareceu da minha visão, mas eu sabia que ele estava bem. Tudo estava bem.
Quando nos viramos para caminhar pelo corredor, de mãos dadas, prontos para enfrentar o mundo como rei e rainha, eu sabia que, não importava o que viesse a seguir, nós dois estaríamos prontos.
E assim, sob o céu dourado do entardecer, Davian e eu começamos nossa nova jornada, cercados pelos nossos amigos, pelo nosso amor, e pelo futuro brilhante que nos esperava.
***
O céu já começava a se tingir de laranja e dourado quando Davian e eu deixamos o castelo. O casamento ainda estava vivo lá dentro, as risadas e a música ecoavam pelos corredores, mas nós precisávamos de um momento de paz. Uma despedida silenciosa, algo só nosso.
Andamos de mãos dadas em direção ao lugar onde os túmulos dos meus pais repousavam. Era um pequeno cemitério, escondido entre árvores altas, e sempre que eu vinha aqui, sentia a tranquilidade do mundo ao meu redor. As lápides eram simples, cobertas por musgo e flores silvestres que cresciam livres, sem ninguém para podá-las.
Enquanto nos aproximávamos, o aperto no meu peito aumentava. Fazia muito tempo desde a última vez que estive ali. A última vez, eu ainda era apenas Azul, sem título, sem coroa, sem as responsabilidades que agora me cercavam. Agora, eu era rainha. Mas, ao me ajoelhar diante dos túmulos, tudo isso parecia tão pequeno.
Davian se ajoelhou ao meu lado em silêncio, o calor da sua presença me dando forças. Ele sempre soube quando me deixar sozinha e quando estar perto. Hoje, ele sabia que eu precisava dele ali.
— Mãe... Pai... — minha voz saiu baixa, quase um sussurro, enquanto eu passava os dedos pelas letras gravadas nas lápides. — Eu... eu casei hoje. Com Davian. Vocês gostariam dele.
Eu ri de leve, um som nervoso, sabendo o quanto aquela frase era verdade. Meus pais teriam aprovado Davian imediatamente, com seu coração forte e bondade escondida sob a postura de rei. Eles saberiam que ele me amava, que cuidaria de mim. E, mesmo sem eles aqui para testemunharem, sentia que, de algum modo, eles estavam comigo.
— Sei que nem sempre foi fácil... — continuei, a voz embargando. — Mas queria que soubessem que estou feliz. Finalmente, estou em paz.
Davian colocou a mão sobre a minha, apertando suavemente, me ancorando naquele momento. A brisa suave balançava as folhas, quase como uma resposta silenciosa vinda do vento. Eu fechei os olhos, sentindo o peso das memórias, das perdas, e ao mesmo tempo, o alívio de ter encontrado meu caminho.
— Tem algo mais que quero contar para vocês, e para Davian também. — respirei fundo, lutando contra as lágrimas que queriam brotar. — Eu estou grávida.
As palavras saíram tão suaves que pareciam quase irreais, mas ao dizer em voz alta, o peso daquela revelação tomou conta de mim. Eu estava carregando uma vida dentro de mim. A vida que eu e Davian criamos juntos.
Eu virei para olhar Davian, esperando a reação dele. Seus olhos, sempre profundos e imponentes, estavam agora repletos de surpresa e alegria. Ele puxou minha mão para os lábios, beijando-a com cuidado, e sorriu, um sorriso que parecia iluminar tudo ao nosso redor.
— Azul... — ele sussurrou, a voz embargada de emoção. — Vamos ser pais.
Assenti, sorrindo com lágrimas nos olhos. Não conseguia responder, só consegui abraçá-lo, sentindo seu coração bater contra o meu.
Ajoelhados ali, diante dos túmulos dos meus pais, com o mundo silencioso ao nosso redor, percebi que esse era o começo de algo novo. Eu tinha uma nova família agora, um novo futuro para criar. E sabia que, onde quer que estivessem, meus pais estavam sorrindo para nós, com orgulho e amor.
O vento soprou gentilmente, e eu sabia que tudo ficaria bem. Eu não estava mais sozinha. Não com Davian ao meu lado, e não com a vida que agora crescia dentro de mim.
O fim daquele capítulo da minha vida não era triste. Era apenas o começo de algo ainda mais bonito. E, pela primeira vez em muito tempo, eu estava ansiosa pelo que viria a seguir.
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