38 O fogo da traição
Eu e o Davian somos acordados com batidas frenéticas na porta. Automaticamente, me visto tão rápido quanto um piscar de olhos, enquanto Davian vem atrás, fazendo o mesmo.
Ao abrir a porta, dou de cara com Ziran, que respira irregularmente, provavelmente por ter corrido até aqui.
— Aconteceu alguma coisa? — questiono, sentindo a presença de Davian cada vez mais próxima atrás de mim.
— Es... Estamos prestes a ser atacados — Ziran diz, afobado.
Miles aparece no fim do corredor, nos apressando para segui-lo. Sem demorar mais nenhum segundo, sinto meus poderes prontos para serem usados, enquanto correm entre as minhas veias.
Não demoramos muito até chegar onde os outros estão, empoleirados nas janelas do salão principal, observando provavelmente quem se aproxima.
Sora e Makayla me dão espaço para que eu também possa ver o que está acontecendo, e vejo uma boa quantidade de homens fardados, com as fardas azul e cinza de Meraki, marchando até onde estamos.
Automaticamente, vem à minha mente o questionamento: como eles souberam que estamos aqui? Esse lugar já foi patrulhado e desimado antes mesmo de chegarmos. Alguém deve ter nos denunciado.
Temos um traidor entre nós.
— O que vamos fazer? São muitos — escuto alguém questionar. Pelo tom de voz, penso ser Dimitri, mas jamais saberei.
Após o questionamento quase tolo, mas com um desagradável fundo de verdade, algo que se assemelha a uma bomba de fogão é jogada contra a escola, o que começa a incendiá-la.
Gritamos para que todos comecem a correr e fujam o mais rápido possível para a floresta mais próxima. Mas estamos no segundo andar da escola. Provavelmente, eles já nos cercaram. Teremos que lutar e seguir o plano sem morrer no final.
*****
Estávamos cercados pelo caos. O fogo dançava ao nosso redor como uma sinfonia infernal, iluminando os rostos apreensivos de meus amigos. Eu, Azul, capitã dos Sunmoon, liderava-os através dos corredores escuros da escola, lutando contra o desespero que ameaçava me consumir.
— Não podemos ficar aqui parados! Precisamos encontrar uma saída! — gritei, minha voz se perdendo no crepitar das chamas que já subiam até o segundo andar.
Davian segurava minha mão com firmeza. Seus olhos determinados refletiam a bravura que o tornava um líder nato, o futuro rei.
— Temos que nos manter unidos. Encontraremos uma maneira de escapar desta armadilha — ele disse, suas palavras injetando coragem em nossos corações.
Miles permanecia ao lado de Ziran, oferecendo-lhe apoio silencioso, mesmo diante do perigo iminente.
Enquanto isso, Makayla, Kayle e Sora compartilhavam olhares de determinação, prontos para lutar ou fugir, o que fosse necessário para sobreviver. Menos Enola, que parecia estranhamente calma, olhando da minha mão entrelaçada à de Davian, para ele, que parecia alheio a tal coisa.
E então, como um raio de luz na escuridão, surge Dimitri, nosso valente soldado, liderando uma última investida contra os invasores. Mas sua coragem não foi suficiente para deter o avanço do exército rebelde comandado pelo temível General Kierna.
— Rendam-se, príncipe Davian. Não há como escapar. Seus dias de liderança chegaram ao fim — a voz do general ecoou pelos corredores, uma promessa sombria de derrota.
Eles não só nos encurralaram dentro da escola, como também contra as paredes altas do salão, que provavelmente abrigou muitos bailes e reuniões. Não tínhamos para onde ir, mas, em um quase momento de fuga, conseguimos sair do lugar que estava nos matando aos poucos com a grande quantidade de fumaça que começava a entrar nele.
Infelizmente, o momento da captura foi caótico e desesperador. Enquanto tentávamos nos esgueirar pelos corredores em chamas, fomos surpreendidos por uma emboscada preparada pelos soldados rebeldes. Eles surgiram de todos os lados, bloqueando nossas rotas de fuga e nos forçando a recuar para uma sala de aula abandonada.
Com as portas seladas pelo fogo e as janelas bloqueadas, estávamos encurralados. Os soldados rebeldes, liderados pelo General Kierna, avançaram implacavelmente em nossa direção, suas armas erguidas e prontas para o combate.
Dimitri, nosso valente soldado, tomou sua posição frontal, como de costume e com muita resistência, mas foi superado em número e força. Uma batalha frenética se seguiu, com faíscas voando e gritos ecoando pelos corredores. Mesmo com nossa bravura, acabamos sendo dominados pelos soldados rebeldes.
O General Kierna, com um sorriso malévolo no rosto, ordenou que fossemos algemados e levados para o castelo de Meraki. Nosso destino estava selado, e não havia como escapar de seu controle implacável.
Fomos arrastados pelos corredores em chamas, nossos corações pesados com a incerteza do que nos aguardava. O fogo rugia ao nosso redor, uma lembrança constante da devastação que havia sido desencadeada. Mas, apesar da captura, a chama da esperança continuava a arder dentro de nós, alimentando nossa determinação de lutar até o fim.
∆∆∆∆
Somos mantidos de joelhos por um bom tempo, enquanto os rebeldes comandados pelo General Kierna nos observam, enquanto o homem não dá o ar da graça.
Enquanto meus joelhos queimam contra o piso extremamente liso da sala do trono do castelo, meus olhos correm por meus amigos, que parecem tão incomodados quanto eu pela posição em que estamos. Meus olhos encontram os de Davian, que transborda uma certa tristeza. De certa forma, sei que é por relembrar a morte dos próprios pais neste mesmo lugar onde estamos.
Ao menos podemos atacar, pois eles são muitos, e nós estamos agora em dez. Fico pensando se tivéssemos planejado melhor, levantado apenas a pequena hipótese de a Sunmoon, onde estávamos, ser invadida novamente. Talvez, só talvez, tudo agora seria diferente.
Apenas quando já estou quase implorando para que me deixem ao menos sentar, o General Kierna adentra o salão, nos olhando de cima com um certo nojo. Mal sabe ele que é si próprio que é digno de nojo.
— Ver todos vocês prontos para morrer me dá uma certa satisfação — o de Lyall começa a balbuciar. Me questiono onde meu amigo está.
Lyall está do lado do pai dele? É por isso que não apareceu ainda? Está envergonhado da posição que escolheu? Mas, pensando bem, não é do feitio do meu amigo se alinhar a forças inimigas. Eu vi seu rosto quando Rune o tirou da cela. Ele poderia até odiar Davian por ter conseguido ficar comigo, mas não era traidor. O que me leva a achar que algo aconteceu com ele.
O General Kierna passa horas falando baboseiras sobre como os rebeldes governariam melhor Meraki do que qualquer monarquia jamais sonhou em fazer. Ziran até chega a cair, sendo protegido por Miles, que joga seu corpo contra ele ao perceber que um dos rebeldes o bateria apenas por não aguentar ficar mais de joelhos. Meu amigo recebe diversos chutes enquanto protege o mais novo entre nós. Chego a morder a língua para não gritar que eles parem, mas um olhar de advertência de Davian me faz assistir tudo calada, enquanto lágrimas escorrem pelo meu rosto.
— Chega! Concentrem-se em acabar com esses dois seres aqui — o General Kierna fala, olhando de mim para Davian, que automaticamente enrijece. — Lembro como se fosse ontem a noite em que matei seus pais... — o pai de Lyall diz, olhando para mim, não para o príncipe.
— Do que está falando? Eles morreram em uma explosão de uma usina...
— Foi isso que te disseram? Eu sabia que você seria uma conjuradora. Seus pais eram os melhores do reino — engulo em seco com o que ele diz. — Uma pena eles terem morrido antes de darem um nome, não? Hoje sei que você nunca deveria ter recebido um, se não tivesse pensado no meu filho quando aquela adaga esfaqueou seu pequeno peito — ele fala com careta de arrependimento.
— Você é um monstro! — berro em puro ódio.
— Alina e Drystan Metze, capitã e subcapitão da guarda real de Meraki. Eles me descobriram, e eu não poderia deixá-los vivos, não é? O fator surpresa me ajudou, ou seria o meu fim, já que ambos eram muito poderosos. Você se parece tanto com ela que me causa arrepios.
— Seu desgraçado! — berro, sentindo meus poderes saírem por minhas veias, acertando tudo e todos a minha volta. Pesadelos e mais pesadelos de meus amigos e inimigos passam por meus olhos, ao ponto de achar que vou enlouquecer.
Em determinado momento, sinto meu nome ser chamado, mas não consigo mais me manter acordada, me sentindo completamente cansada.
∆∆∆∆
Acordo, reconhecendo em meio a um suspiro onde estou. O quarto de Davian está meio iluminado pelas frestas das cortinas que cobrem as janelas. Corro meus olhos pelo lugar, mas não o vejo em lugar nenhum.
— Azul? — escuto alguém me chamar enquanto sai do banheiro.
Me viro em sua direção, vendo o rosto aliviado de Lyall. Ele se aproxima de mim cautelosamente, como se certificasse que estou realmente acordada e não é um sonho.
— Vou avisar ao Davian. Foram três dias... — ele saiu correndo do quarto antes que eu lhe pergunte algo.
— Davian — seu nome sai como um sussurro dos meus lábios.
Ambos voltam para onde estou. O meu namorado, chorando, me abraça antes que digamos qualquer palavra.
— Me desculpe, não estar aqui quando acordou. Eu estava resolvendo alguma burocracia do reino — Davian choraminga enquanto beija meu rosto.
Depois de tanto frenesi, ele me explicou que eu desmaiei a todos que estavam no salão. Lyall chegou pouco tempo depois, quando eu estava me esgotando, e nos salvou. Seu pai será julgado em breve por traição, após ser encarcerado nas masmorras pelo próprio filho.
Lyall fugiu poucos dias antes do ataque aonde estávamos. Também foi descoberta a traição de Enola. Foi ela quem entregou para os rebeldes onde estávamos nos escondendo. Acho que eu nunca estive errada quanto à personalidade dela, o que comprova que nem sempre foi ciúmes.
Agora estou aqui, deitada ao lado do meu quase marido, enquanto ele acaricia o meu rosto e me fitando como se estivesse apreciando a mais bela das coisas, o que me deixa um pouco envergonhada.
— Eu te amo, Az. Céus, eu nunca tive tanto medo de perder alguém. Por favor, nunca mais faça aquilo — eu aceno que sim, não conseguindo jurar, pois eu faria tudo de novo para pelo menos tentar nos livrar de uma emboscada como aquela.
— Eu também te amo, Davian — sussurro contra seus lábios, recebendo um sorriso dele.
Talvez seja isso que quero para minha vida: o amor de Davian e sua companhia. E por isso que vou lutar todos os dias.
Fim
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