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💚 RICARDO 💚

A social continuou bombando, como descreveu meu filho.

Já era tarde, e eu estava exausto.

Poderia detalhar mais sobre a noite, que parecia não acabar, porém, senti sono, me rendi ao momento e fui dormir.

Débora garantiu que ia cuidar de tudo, prometendo tomar conta dos adolescentes e do horário, para que ninguém fosse embora tão tarde (apesar de já estar tarde).

💚💚💚💚

— Bom dia! — disse Débora, abrindo as cortinas e deixando a claridade do sol entrar no quarto.

— Que horas são? — questionei, ainda sonolento.

— É hora do dorminhoco levantar — respondeu ela, na maior animação, vindo em minha direção, e sentando-se ao meu lado na cama.

Permaneci deitado, com os olhos fechados, e apenas tentando absorver a ideia de que já era hora de acordar.

— O que aconteceu? — perguntei, com a voz rouca.

— Que voz, querido! — exclamou Débora. — Ontem à noite, ocorreu tudo bem, fique tranquilo.

No momento, eu queria tomar uma caneca cheia de café.

Cheguei na cozinha, me deparei com a mesa repleta de comida e meus filhos em volta da mesa.

— Bom dia, pai — disse Kauany.

— Bom dia, pai — disse Luiz Pedro Fernando Henrique.

Apenas acenei e me sentei à mesa.

Percebi que a casa estava arrumada, e parece que nem teve uma social na noite anterior.

— Quem arrumou tudo? — questionei.

— Nós demos um jeito — justificou minha filha.

Tentei recuperar as energias no café da manhã. Comi o suficiente, e acredito estar pronto para ter aquele diálogo com Luiz Pedro Fernando Henrique.

— Vamos dar uma volta? — convidei meu filho.

— Claro — concordou ele. — Só deixa eu trocar de roupa.

Luiz Pedro Fernando Henrique se retirou.

— O que você está querendo? — questionou Kauany.

— Bom... A princípio, tomar o meu café — respondi.

Sorri, levantei a caneca e levei até a boca.

Minha filha deu meio sorriso e continuou comendo.

💚💚💚💚

Já no carro, a caminho da lanchonete, deixei que Luiz Pedro Fernando Henrique escolhesse a música para tocar. Preciso confessar que ele tem um péssimo gosto.

— Essa música é demais — disse meu filho.

— Poxa, que coisa, hein! — exclamei. — Não consigo entender absolutamente nada que esse cara está querendo dizer.

— Apenas sinta a essência do som — sugeriu ele.

Tentei, mas foi difícil.

Somos de gerações completamente diferentes, e nada faz sentido para mim.

Desde quando isso é música?

Me sinto estranho.

Decidi levá-lo em uma lanchonete para tomarmos alguma coisa, com o intuito de dar continuidade à conversa que não deu muito certo no dia anterior.

Chegando lá, a garçonete veio nos atender.

— O que os dois vão pedir? — perguntou ela.

— Duas vitaminas — falei.

— Eu queria um hambúrguer — pediu meu filho.

— Você tomou café da manhã quase agora! — exclamei.

— Já faz muito tempo, e eu estou com fome.

— Faz menos de uma hora!

— Para mim, faz muito tempo.

A garçonete começou a rir. Olhei para a sua cara, e fiquei sem jeito.

— Traz um hambúrguer também — pedi.

A moça terminou de anotar o pedido, e não parava de mastigar chiclete. Tivemos que ser pacientes.

Ela deu um sorriso, se dirigiu ao balcão e pudemos ficar mais à vontade para conversar.

— A festinha de ontem estava muito massa — revelou Luiz Pedro Fernando Henrique.

— Que bom que gostou — falei. No momento, vi uma oportunidade de começar o assunto que tanto queria. — A menina estava ontem na social, né?

— Sim...

— E você chegou nela?

— Não... Ela está muito estranha desde o acampamento.

— Como assim?

— É que nós ficamos, como eu disse, e... depois, parece que não rolou nada. Só trocamos olhares pelos corredores da escola.

Aí está a questão, porque alguém tem que tomar a iniciativa de comentar sobre o que aconteceu na noite do acampamento.

— Nesse caso, alguém tem que agir — sugeri.

— Como assim? — questionou ele, sem jeito.

— Chama a Martinha para conversar. Ou você está esperando que ela tome a iniciativa?

— Bom... É que... Eu não sei se ela curtiu — justificou Luiz Pedro Fernando Henrique, falhando com as palavras.

— Nós somos de épocas completamente diferentes, e não entendo muito bem o que se passa na cabeça dos adolescentes de hoje, mas a única coisa que tenho certeza é que você precisa agir.

— Então, eu devo chegar nela?

— Sim. Geralmente, as meninas gostam de rapaz que tem atitude, com iniciativa, e que chegue nelas.

Parece que meu filho captou a mensagem, mas acho que não fui muito claro quanto à ideia principal de "agir".

É preciso ter consciência sobre qualquer tipo de atitude, sem atrair consequências desagradáveis.

— Entendi — garantiu meu filho.

— Não, você não entendeu — discordei. — Chega nela com jeito, e com respeito, porque nenhuma menina gosta de caras chatos e ruins de papo.

— A gente já se falou, então, eu não vou desrespeitar a Martinha.

— Pelo que pude entender, a última vez que os dois conversaram foi no acampamento, e desde lá, não se falaram mais, portanto, seja paciente ao tentar se aproximar.

Felizmente, conseguimos chegar em algum consenso.

O importante é que Luiz Pedro Fernando Henrique entendeu o que eu quis dizer, e espero que ele tome alguma atitude a respeito, porque ficar se corroendo por algo sem ao menos tentar é horrível.

Pudemos dialogar mais sobre Martinha, tive a oportunidade de conhecê-la melhor através de meu filho, e com base nas suas informações, tive noção do que pode acontecer.

Ambos são adolescentes focados nos estudos e em busca de realizar os próprios sonhos, sendo que nada pode impedi-los, ao que parece. A personalidade é forte, e o que eles querem, sem dúvidas, vão até o fim para conseguir, mesmo passando por obstáculos difíceis.

Acredito que os dois vão se dar bem.

Na verdade, quem não gostou nada do rumo que a conversa teve foi minha mulher.

— Como assim, você falou que o homem tem que ter iniciativa? — perguntou Débora, furiosa, indo de um lado para o outro em nosso quarto.

— Calma, querida, você não entendeu... — falei.

— Eu não estou calma!

Bom, tentei falar, né?

Cheguei em casa, empolgado, e contei sobre a minha conversa com Luiz Pedro Fernando Henrique. Débora não gostou muito do que acabei falando para o menino.

Ela acha que a mulher também pode ter iniciativa. Se "ela" está gostando de um cara, nada a impede de agir.

— Deixei claro que geralmente as meninas gostam de rapaz com atitude. Tudo bem se alguma menina quiser ter a iniciativa — esclareci.

— Acho que a Kauany está gostando de um garoto da escola, e se quiser tomar atitude a respeito, ela pode — soltou Débora.

— Não vejo problema nisso.

Tentei amenizar a situação, porque o nosso papo estava tomando outro rumo, indo a uma discussão sem sentido.

Nossos filhos são adolescentes e sabem o que querem para si. Não precisamos ficar empurrando os dois para o mundo. Acredito que qualquer decisão ou atitude deles será por algum motivo, guiadas a determinado lugar. Eles não são capazes de agir sem ter noção do que pode acontecer. Talvez, em certos momentos, os dois possam apenas agir por impulso, mas precisamos ter confiança.

— Olha, eu sei que fui meio grosseira com as palavras, mas com razão, tá? — justificou Débora. — Só espero que dê tudo certo, e que realmente vocês tenham se entendido.

— Vai dar tudo certo, não se preocupe. Ele disse que vai falar com a Martinha essa semana, e vai convidar ela para ir ao cinema.

— Nossa! Será que a garota vai gostar da ideia de sair com o nosso filho?

— Os dois estão gostando um do outro.

— Quem garante?

— Eu garanto.

Na verdade, eu ainda me sentia meio inseguro quanto ao papo que tive com Luiz Pedro Fernando Henrique.

Será que ele captou a mensagem?

Independente do que possa acontecer, o importante é que eu consegui ter um diálogo com meu filho sobre seu sentimento por Martinha.

💚💚💚💚

Às vezes, percebo que o tempo passa depressa, sem que eu possa aproveitar cada detalhe ao máximo.

Não tenho motivos para culpar meus filhos por eu não sair com Débora, fazer algum programa a dois, e aproveitar momentos bons e novas aventuras juntos.

Aparentemente, estamos dispostos a viver pelas duas pessoas que colocamos no mundo. Seres que completam nosso dia a dia, que trazem alegria e que são basicamente tudo para a gente.

Tive reflexões incríveis ao fim da tarde.

Colocamos cadeiras no quintal, ficamos sentados admirando o sol se pôr e apenas apreciamos a paisagem.

Luiz Pedro Fernando Henrique estava com o celular em mãos, conversando com alguém, Kauany pegou um livro para ler, enquanto Débora e eu simplesmente observávamos tudo.

— Amo essa parte — soltou minha filha.

— O que você está lendo? — perguntei.

— Um romance — respondeu ela, com um suspiro alegre. — Acho fantástico autores que trabalham com o amor de forma fantasiosa.

— Como assim?

Fiquei meio confuso com seu comunicado, mas acredito que meninas tenham um pensamento mais profundo sobre sentimentos e relacionamentos, portanto, o momento seria, sem dúvidas, proveitoso.

— Geralmente, as histórias contam sobre duas pessoas que se conhecem, acabam se apaixonando, criando um vínculo, e de alguma maneira, entre tantos obstáculos, ficam juntas e felizes para sempre no final — esclareceu Kauany. — Na vida real, é meio que impossível acontecer isso, principalmente nos dias de hoje.

— E o que você quer dizer? — questionei, mais confuso ainda.

— Bom, a princípio, quero dizer que o amor narrado em livros não é nada parecido com a nossa realidade. Esse sentimento vai muito mais além do que esses autores imaginam, e a forma como eles pensam, de como deveria realmente ser, é incrível. Me sinto dentro de cada história que leio.

— Seria um universo paralelo?

— Acho que faço mais parte desse universo do que do nosso.

Kauany sorriu, voltou o olhar para a página do livro, e percebi que suas informações foram de extrema utilidade e importância.

Se Martinha for romântica, acredito que meu filho se dê bem com a sua atitude de convidá-la para ir ao cinema.

Só espero que os dois se entendam.

Quando conheci Débora, tive uma sensação estranha, e como sou péssimo para lidar com determinadas situações, me recusei a acreditar que estava apaixonado. Ela agiu, veio até mim, começamos a conversar e foi a partir desse instante que passamos a ter contato.

Eu era tímido demais, e chegar em alguma menina era um grande problema. Confesso que sentia receio do que poderia acontecer, afinal ninguém sabe qual pode ser a reação delas.

Felizmente, Débora tomou uma iniciativa que, hoje, me ajudou demais nessa questão de ser tímido.

Amo minha mulher, mesmo com sua forma de pensar e seu jeito de ser. Amo incondicionalmente.

— Oi — disse Laís.

A menina chegou inesperadamente em frente à nossa casa.

— O que você está fazendo aqui? — questionou Kauany, confusa.

— Quero agradecer por ter me convidado para aquela social — respondeu Laís.

— Você mora longe, porque não mandou mensagem ou esperou até o dia do ensaio no teatro da escola?

— Não sei — disse a menina, nos deixando confusos. — Tchau.

Ela acenou, e se retirou.

— O que foi aquilo? — questionou Débora.

— Não faço a mínima ideia — respondeu Luiz Pedro Fernando Henrique. — Ela parece ser... estranha.

Prefiro fingir que nada aconteceu, porque foi esquisito essa aparição tão inusitada.

Bom, depois do ocorrido com a amiga da Kauany, pude voltar à reflexão sobre meu filho.

Na verdade, não havia mais nada a ser pensado, a não ser lembrar da importância que foi nossa conversa e pela minha superação em ter lidado com tranquilidade sobre o sentimento de Luiz Pedro Fernando Henrique. E o melhor de tudo é que ele pôde se abrir comigo, porque o próximo passo será sua iniciativa — finalmente.

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