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💙 LUIZ PEDRO FERNANDO HENRIQUE 💙

Sem dúvidas, acordar cedo não é para mim. Já estou sem empolgação alguma por ter que acordar todos os dias às seis horas da manhã. É horrível! Eu detesto, odeio.

Por quê?

Bom, vou tentar explicar melhor. Minha família é meio que... tipo... agitada demais, sabe? Não gosto muito da empolgação deles.

Tem a minha irmã mais nova, que é praticamente uma tonta. Não sei como ela consegue ser tão iludida pelas pessoas. Não quero julgá-la, principalmente por ela ter apenas 15 anos e enfrentar o ensino médio.

Acho muito chato a maneira que ela fala com as pessoas. Cheio de mimimi e sem sentido — bom, para mim, não tem sentido algum.

Ah! Não acabou por aí, não, tem mais... Ela é uma menina muito irritante. Como já deu para perceber, o meu nome não é muito comum.

Luiz Pedro Fernando Henrique!

Quem tem este nome? Quem?

Foi tudo culpa da minha família. Quando nasci, minha mãe queria colocar o meu nome de Luiz, meu pai preferia Pedro, a intrometida da minha avó insistiu em Fernando, e meu avô queria ter voz também, sugerindo Henrique.

Até hoje não entendo muito bem o porquê de tudo isto.

Ah! E o pior de tudo é que chegaram à conclusão de que o melhor seria colocar o nome sugerido por cada um.

Que legal, né?

Só que não!

Fiquei muito enfurecido (não quando bebê, porque eu era apenas um bebê, claro). E quando coloquei meus pés dentro da escola, pela primeira vez, decidiram me apelidar de Lupe, para ficar mais simplificado. Até que eu curti a ideia. Mas meus pais permaneceram com a mania de me chamar de:

— LUIZ PEDRO FERNANDO HENRIQUE! — gritou minha mãe, pelo corredor.

Logo pensei em bronca.

Poxa, às seis horas da manhã, ser acordado com os berros dela. É para acabar com meu dia.

Decidi levantar, antes que ela entrasse no meu quarto, abri a porta e perguntei, com muito sono:

— O que você quer?

— Eu quero é respeito! — soltou minha mãe, irritada. — Isso é maneira de falar comigo, garoto? Vai se lavar para ir para a escola.

— Eu sei qual é o meu horário, dona Débora — falei, tentando me defender da fera.

— Me chama de mãe, Luiz Pedro Fernando Henrique!

Balancei a cabeça de um lado para o outro, irritado com o momento, fechei a porta e fui me vestir.

Enquanto estava colocando o uniforme do colégio, ouvi minha mãe gritar com minha irmã.

Tentei manter a calma. Respirei fundo. Contei até dez... mas não deu tempo. Meu pai entrou pela porta do quarto soltando um sorriso de orelha a orelha, com uma empolgação irradiante, às seis e meia da manhã.

É preciso deixar bem claro que tudo isto geralmente acontece por volta das seis horas da manhã, porque eu detesto acordar cedo.

— Bom dia, filhão! Pronto para mais um dia daqueles? — questionou meu pai, achando que eu tinha a animação dele.

— Não! — respondi.

— Por quê? Se quiser conversar, eu estou aqui.

— Bem que você e a mãe poderiam me chamar de Lupe. Começando assim, acho que teríamos alguma mudança boa.

Eu não deveria ter falado isto.

— Como é que é? — indagou meu pai, enfurecido. — Nós escolhemos um nome para você, e não foi Lube!

— Seria Lupe.

— E o que foi que eu disse?

Lube!

— E como que é?

— Lupe!

— E qual é a diferença?

— Ah, pai... — bufei.

Fui às pressas para a cozinha.

O bom de tudo é que a mesa estava cheia de comidas gostosas. E fui obrigado a preparar três pães de uma só vez.

Por quê?

Bom, porque eu sou faminto, e como demais.

— Bom dia, maninho querido! — disse Kauany, minha irmã, com um sorriso no rosto, e praticamente uns cem livros embaixo do braço.

Ela me irrita. Em casa, ela fica bancando a nerd, e na escola, ela fica ouvindo música o dia inteiro.

— Bom dia, maninha querida! — ironizei.

Fui obrigado! E ainda esbanjei um sorriso forçado, que dava de perceber.

Ela deu uma olhada ao redor para ver se nossos pais não estavam por perto, percebeu que eles estavam longe, e logo soltou:

— Hoje vai ter festinha na casa da Martinha.

— E o que eu tenho a ver com isso?

— Tudo, oras! — exclamou Kauany, fatiando o pão com rapidez. — Preciso inventar alguma coisa para a mãe e o pai.

— Tipo, o quê? — indaguei.

Bom, eu até que estava curioso, mas sabia que ia sobrar para o meu lado, de alguma maneira. Tentei ficar quieto, só que a curiosidade é muita nesses momentos de pressão.

E sim, eu estava me sentindo muito pressionado.

— Depois da aula, vou estudar na casa de uma amiga, e você vai avisar para eles — esclareceu Kauany.

— Eu?!

— Não, Lupe. O nosso avô, que já morreu! Claro que é você.

— Quanta grosseria da sua parte!

— E quanta lerdeza da sua.

— Olha, você sabe que está sendo meio... tonta, não sabe?

Ela bufou... Fechou os olhos, respirou fundo e soltou o ar com muita rapidez.

Sem dúvidas, ela ia me agredir naquele momento, mas, felizmente, meu pai chegou na cozinha, mais empolgado do que quando chegara mais cedo em meu quarto.

— Olá, crianças... Terminem de tomar o café e vamos para a escola.

— Pai... — falei, quase revelando o plano de Kauany e dando adeus à sua noite com a galera.

— O que foi? — questionou meu pai.

Kauany fitou minha cara de desespero, que foi momentâneo. Fiquei sem saber o que fazer.

E agora?

Eu tinha que falar a verdade, antes que sobrasse para mim. Eu tinha certeza que tudo seria descoberto, mas era preciso evitar certas coisas.

Minha irmã consegue mudar o olhar de boazinha para intimadora, e foi o que aconteceu.

E o resultado:

— Nada, não, pai... — falei, com um sorriso meio desleixado.

Kauany sorriu, satisfeita com o ocorrido, e continuou tomando o café da manhã, com total empolgação.

💙💙💙💙

Chegamos no colégio em cima da hora. Fui correndo para a minha sala, e Kauany para a dela.

Mal entrei na sala de aula e o professor já lançou aquele ódio matinal:

— Atrasado, Luiz Pedro Fernando Henrique.

Fiquei meio sem jeito, e constrangido perante a turma.

Abaixei a cabeça e sussurrei:

— É Lupe... professor.

— Na lista de presença, o seu nome consta como Luiz Pedro Fernando Henrique, portanto, irei chamá-lo de Luiz Pedro Fernando Henrique. Agora, por gentileza, sente-se no seu lugar, Luiz Pedro Fernando Henrique — disse o professor de matemática, esbanjando um sorriso cínico.

E tive que obedecer ele.

Que cara mais chato. Fica falando, falando, e falando, e acha que a gente entende alguma coisa. Um aqui, dois ali, cinquenta lá... Ah, por favor! Aqui não, aqui não!

Detesto acordar cedo, detesto ter aula de matemática cedo, detesto tudo isto...

💙💙💙💙

A manhã inteira foi um tédio total. Tive três aulas de matemática. Eu não aguentava mais ouvir tantos números. Conteúdo chato, professor pior ainda, assim não dá.

Tive que ir para a casa sozinho, assim que o sinal tocou.

GRAÇAS A DEUS!

Hora de ir embora.

A escola é chata demais, os professores também, e o pior de tudo é que o meu amigo queria me passar uma informação e não deu tempo.

Por quê?

Porque os professores ficam falando, falando, e falando, e não deixam a gente colocar o papo em dia. E não vai fazer falta alguma perder uns dez minutos de aula, pelo menos, para a gente conversar. Acabei indo para casa sozinho, e sem saber do papo que o meu amigo queria ter comigo.

💙💙💙💙

Ah! E tudo parecia estar um desastre, até meus pais chegarem do trabalho. Porque ficou pior. Estava prestes a piorar tudo, e eu sabia disso.

Quase dez horas da noite, todos estavam se preparando para dormir. Meus pais não tinham ido no quarto de Kauany ainda, e a reação deles foi a típica de sempre. Um berreiro por todo canto.

Meu pai pegou o telefone e ligou para a fujona da minha irmã. E parece que ela atendera.

— Alô? — disse meu pai. — Onde é que você está? E que gritaria é essa? Me responde... Ah! Você está na baladinha com as amigas... Eu só não vou até aí e bato em você porque eu posso ir preso. Vem agora, já, para casa. E sem discussão... Eu vou desligar o telefone, e quero você aqui em exatos trinta minutos, caso contrário, eu vou até aí, de pijama, te buscar.

E desligou.

— Aqui está o cronômetro, querido — disse minha mãe, entregando o celular ao meu pai.

— Vocês não podem fazer isto! — falei, tentando impedir aquele momento tenso.

— Já estamos fazendo — disse minha mãe, com um sorriso no rosto.

Eles foram para a sala, sentaram no sofá, e não desgrudaram os olhos daquele cronômetro maldito.

Sentei no outro lado do sofá, trêmulo, nervoso... porque eu sabia que se a Kauany não chegasse em menos de trinta minutos, a coisa ia ficar feia, bem feia, horrível.

O tempo foi passando... E foi passando... E os números mudando cada vez mais rápido... E os trinta minutos estavam quase se aproximando. E eu estava aflito, e com fome — bom, eu estava sentindo mais fome do que medo, mas enfim...

E o tempo não passava, e já estava dando aquela agonia... Não segurei a pressão e gritei:

— CHEGA!

Eles ficaram me olhando sério, franziram o cenho (ao mesmo tempo) e ficaram encarando a minha expressão de desespero.

— Vai lá comer alguma coisa, vai — sugeriu meu pai.

— Boa ideia!

E fui, mesmo. A fome estava me consumindo.

Preparei dois pães com queijo e presunto. Quando fui dar aquela dentada, ouvi meus pais na contagem regressiva:

— 10... 9... 8... 7... 6... 5... 4... 3... 2... 1...

— CHEGUEI! — gritou Kauany, entrando pela porta, ofegante e toda apavorada.

— Que bom... — falei, dando aquela dentada no primeiro pão com queijo e presunto.

— Vamos dormir, querido — disse minha mãe, dando um pulo do sofá e indo para o quarto, acompanhada de meu pai. — Boa noite, crianças.

— Boa... noite... — respondemos, eu e Kauany, na mesma sintonia.

— Até amanhã — disse meu pai.

Fiquei surpreso com o momento. A situação estava tensa, e mudou do nada para algo tranquilo.

— Por que você não avisou a eles que eu estava estudando na casa de uma amiga? — indagou Kauany.

— Não deu tempo, porque eles sentiram sua falta, e o pai foi correndo te ligar — justifiquei.

A situação estava complicada, mas poderia ser pior.

Felizmente, Kauany chegou a tempo.

E eu estava cansado, muito exausto. Mas antes de dormir, eu tive que terminar de comer meu pão. Porque a fome era imensa.

Nós tínhamos que descansar, pois tivemos um grande dia.

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