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💜 KAUANY 💜

No dia seguinte, antes de começar a aula, fiquei conversando com Martinha no pátio da escola. Contei sobre tudo que aconteceu no encontro com Lucas, e sua reação de surpresa foi nítida.

— Nossa! — exclamou minha amiga. — Não acredito que isso é real! Você não está zoando comigo, né?

Neguei com a cabeça, movimentando de um lado para o outro.

— Queria que fosse uma brincadeira, mas não é — falei.

— Poxa, o cara levou um fora, hein! — concluiu Martinha.

— Não foi um fora. Pedi apenas para ele esperar.

— Uma semana!

— Sim, mas é que... eu... quero focar no musical, sabe?

Lucas pode ter entendido a minha situação, mas a minha amiga deixou claro que não curtiu muito a ideia, e ainda interpretou o ocorrido como um "fora".

— Independente do rumo que essa história vá tomar, espero que seja favorável para os dois — disse Martinha.

Ficamos em silêncio por um instante. Voltei o olhar para os outros alunos, avistei muitas pessoas conversando, rindo, e comecei a pensar na possibilidade de dar tudo errado.

Pedi ao garoto que esperasse até a próxima semana. E se ele  não quiser mais falar comigo? Eu precisava saber o que se passava em sua cabeça.

— Pode fazer um favor? — perguntei.

— O quê? — questionou Martinha, curiosa.

— Tenta descobrir o que o Lucas achou de ontem.

Minha amiga franziu o cenho e pareceu estar confusa.

— Vou tentar, só não prometo nada — disse ela.

Sorri e a abracei com tudo. Qualquer informação será útil, e usarei isso a meu favor.

💜💜💜💜

As aulas foram entediantes. Confesso que nem prestei atenção no que os professores passaram de conteúdo.

Durante o intervalo, andei pelos corredores, de um lado para o outro, com os fones no ouvido, e escutando uma música que conheci recentemente. A canção é incrível, e fala exatamente sobre o que estou passando no momento. O mais legal de tudo é o ritmo do som, que é bem dançante.

De repente, avistei Martinha no outro lado do pátio. Ela estava conversando com um pessoal.

Me aproximei e falei:

— Oi, amiga!

— Precisamos conversar — disse Martinha.

Odeio quando usam esta frase para contar algo.

— É sobre o Lucas? — perguntei.

Caminhamos até um local menos movimentado, para ficarmos mais à vontade.

— Fiquei sabendo de uma coisa bem... chata — soltou minha amiga.

— O que houve? — questionei, já nervosa.

— O cara tá... chateado — revelou Martinha. — Fiquei sabendo que ele estava a fim de você de verdade, e não gostou nada do que aconteceu.

Estou chocada! Achei que o garoto tinha topado a ideia, mas me compliquei, pelo visto.

— O que eu faço? — perguntei, confusa.

— Acho que é melhor ficar na sua — sugeriu minha amiga.

— Mas...

— Semana que vem vocês conversam.

Coloquei a mão na testa, fechei os olhos e balancei a cabeça de um lado para o outro. Cometi um erro.

Avistei Lucas andando por perto, e fui ao encontro dele.

— Hey! — chamei.

— Kauany, espera — disse Martinha, tentando impedir.

Respirei fundo, fitei a expressão dele com apreciação e tentei encontrar alguma maneira de concertar o que houve.

— Queria... pedir... perdão... — falei, falhando com as palavras e meio ofegante.

Ele inclinou a cabeça para baixo, deu uma risada, e deixou um clima tenso no ar com sua atitude.

— Semana que vem nós conversamos — soltou Lucas, e seguiu caminho para o outro lado. Do nada, o cara parou, voltou o olhar para a minha expressão confusa e sorriu. — É melhor a gente nem conversar.

Fiquei paralisada e sem entender muito bem sua reação. Entendi o motivo, mas achei que ele não teria esse tipo de atitude.

Eu já estava perdida, e agora, estou completamente detonada.

— Tentei impedir — disse Martinha, se aproximando.

— Não deu muito certo — falei.

— O que você fez foi muito imaturo. Desculpa a sinceridade.

— Eu sei.

— O musical é importante, e nós temos certeza disso, mas o que os dois sentem um pelo outro precisa ser levado a sério.

Refleti sobre o ocorrido e me senti mal pela consequência. Talvez, isso mude, tome outro rumo, e espero que acabe de uma maneira agradável.

Tentei não começar algum tipo de relacionamento para focar na peça e alcançar um ótimo resultado. Infelizmente, tivemos um desentendimento, o que acabou piorando a situação.

Não vou conseguir me preparar para a apresentação.

Preciso encontrar alguma saída para conseguir lidar com esse momento de decepção.

— Queria conversar com ele — falei.

— Confesso que não tem o que fazer, por enquanto — disse Martinha. — Mas prometo pensar em algo.

Nos abraçamos, e tentei esquecer o ocorrido (algo difícil).

O conforto de minha amiga e seu apoio estão sendo importantes. Sem ela, acho que estaria totalmente perdida, e mais confusa ainda do que já estou. A minha cabeça está um caos. Não tenho disposição para ir ao ensaio depois da aula, e sem dúvidas, isso vai me prejudicar.

💜💜💜💜

Deitada sobre a cama de meu quarto, coloquei os fones, soltei a música que mais amo e fiquei olhando para a parede, pensando no que aconteceu (e também no que pode acontecer).

É difícil lidar com situações assim. Infelizmente, faltei um dia de ensaio para o musical, e isso vai refletir na apresentação, tenho certeza. Sei que não deveria me entregar ao desânimo, à decepção, só que é complicado tirar aquela cena da cabeça. Lucas se mostrou grosseiro, e não vejo motivos para deixar de gostar dele. Sou inútil por ter sido ignorada e continuar a fim do garoto.

Entre um pensamento e outro, tentei voltar à realidade. Olhei para o celular, vi as horas, fiquei meio agitada e continuei com a angústia. Nada me fez esquecer o que houve. Acho que mereci.

Minha mãe se aproximou. Tirei os fones e sentei.

— Por que você faltou o ensaio? — perguntou ela, com o cenho franzido, os braços cruzados e aquele ar de autoridade.

— Não estava passando bem — menti.

Preciso ter foco, ser mais dedicada e mostrar interesse pelo teatro. Falo demais que estou amando, mas na prática, muitas vezes, mostro o contrário.

Minha mãe sentou-se sobre a cama, à minha frente, sorriu e revelou:

— Sei o que houve.

Fiquei surpresa e não consegui disfarçar a expressão de receio.

— Quem te falou? — questionei, confusa.

— Ninguém — respondeu minha mãe. — Aliás, não tenho detalhes sobre o que realmente aconteceu, mas é visível que você está gostando de alguém.

— Mais ou menos.

— Quer conversar? — perguntou ela, compreensiva e demonstrando preocupação. Seus olhos fitaram minha feição surpresa, e pude sentir confiança, mas ainda permaneci insegura quanto ao que poderia contar. — Se preferir, pode se abrir comigo em outro dia.

— É melhor...

— Independente do que estiver passando pela sua cabecinha, não deixe que nada afete a busca pela realização de seu sonho.

Posso ter problemas, e toda dificuldade é imensa perante a minha idade (e não estou exagerando).

Relacionamentos devem ser horríveis, e tenho muita coisa para aprender ainda. Felizmente, tenho pessoas maravilhosas a meu lado, como minha mãe e Martinha. As duas conseguiram fazer do meu dia menos doloroso.

Desabafar é pouco. Quero gritar, correr, colocar toda angústia para fora e sair por aí sem rumo...

Sem dúvidas, estou enfrentando o sofrimento pelo primeiro amor. Meio que fui egoísta por negar desde o começo o que estava sentindo, e agora surgiram as consequências.

É preciso ser forte, ter em mente que é apenas uma fase, e logo tudo vai passar.

Dias melhores virão.

Do nada, alguém bateu à porta.

— Posso entrar? — questionou Martinha.

— Vou terminar de preparar o jantar — sussurrou minha mãe, saindo em seguida.

Minha amiga se aproximou, sentou-se ao meu lado e ficou me encarando.

— O que foi? — questionei.

— Você faltou o ensaio por causa do Lucas — disse ela.

— Eu sei...

Inclinei a cabeça para baixo, sem jeito.

— Deve saber também que isso pode te prejudicar na apresentação — soltou Martinha.

— Mas eu estou focada, sei todas as falas, e vou me dar bem.

— Espero, porque tem que treinar a canção final.

Peguei o celular, coloquei os fones e soltei minha música preferida.

— Tenho que relaxar — falei.

— O que você está ouvindo? — questionou Martinha.

— Quer escutar?

Ela assentiu com a cabeça, e entreguei os fones. Liguei o som, deixei rolando e observei a reação de minha amiga, que pareceu pensativa.

— Já prestou atenção nessa letra? — perguntou Martinha, surpresa.

— Claro — falei.

Deletei todas as músicas de meu celular, exceto a que minha amiga estava ouvindo. Desde que ouvi, grudou na cabeça e a batida não sai, sem contar que a letra tem tudo a ver com o que estou passando atualmente.

No momento, queria ter apenas algum papo com Lucas (o que não vai acontecer), e a canção me deixa menos apreensiva, por isso, fico escutando praticamente o tempo todo.

— Tive uma ideia — disse Martinha.

— O quê? — perguntei, confusa e meio assustada.

— Você quer conversar com o Lucas, só que o cara não quer. E se, por acaso, ele souber o que você realmente sente por ele?

— Explica isso melhor, por favor — pedi.

— Ficou interessada?

Assenti com a cabeça. Qualquer ideia é sempre bem-vinda.

💜💜💜💜

Confesso que a conversa com minha amiga deu uma animada. Passei o restante da semana empolgada e ensaiando muito para o musical. E finalmente, chegou o grande dia.

Após tanta dedicação, senti que estava preparada e disposta a fazer da noite a melhor de todas.

Na plateia, estavam meus pais e o Lupe, todos torcendo por mim. O local lotou, e tivemos que deixar o nervosismo de lado para não interferir na apresentação.

Antes de começar, fizemos um aquecimento, alguns exercícios, e mostramos empolgação.

Quando me dei conta, já estava no palco, atuando e dando vida à minha personagem. Senti uma alegria imensa a cada cena, e uma emoção gigante por realizar o musical.

As cortinas se fecharam, e tive que me preparar para o final. Fui trocar de roupa às pressas e tentei encontrar minha amiga.

— Você viu a Martinha? — perguntei à Laís.

— Não — respondeu ela.

— Como consegue estar calma?

— Eu sou calma.

Laís sorriu e continuou trocando de roupa. Ela não apresentou sinais de nervosismo durante toda a apresentação, e isso me deixou confusa.

— Kauany — chamou Martinha.

— O que foi? — questionei, terminando de colocar os sapatos.

— É que... o Lucas não chegou ainda — revelou ela.

— O quê?!

Decidimos mudar a apresentação final. Somente o pessoal do som ficou sabendo da mudança, e isso seria usado a meu favor. Martinha curtiu a música que ouvira durante a semana, quando estava em minha casa, e sugeriu que eu cantasse para o Lucas. A letra da canção fala sobre tomar atitude e relacionamento, o que ajudaria a mostrar o que sinto por ele, e claro que o garoto ia se tocar que eu estaria me referindo ao que houve. A ideia que minha amiga teve foi esta, e topei, só que infelizmente, talvez, ele não veja a minha apresentação.

— O cara garantiu que viria — revelou minha amiga.

— Mas não veio... E agora?

— Vou dar um jeito.

— Vamos lá, pessoal — chamou o professor.

Subi no palco (sozinha), respirei fundo, e me senti preparada. De repente, as cortinas se abriram, olhei para a plateia, procurei por Lucas e nada... Dei alguns passos à frente e falei:

— Quando se tem o amor, se tem o sentimento mais puro e obscuro de todos. É perigoso, bom, inusitado, surpreendente... Causa uma explosão de sensações que não sabemos lidar. Estou falando do amor entre duas pessoas apaixonadas. Quando se tem o amor-próprio, a procura por alguém não acontece, porque a pessoa se sente amada. A paixão vem por acaso, e se tiver sorte, acontece todos os dias com a mesma pessoa.

Procurei por Lucas na plateia, e infelizmente não o vi.

A batida da canção começou a tocar, me preparei no centro do palco e soltei a voz. O restante do elenco entrou, e fizemos uma apresentação incrível, pois pudemos perceber a reação do público de forma positiva. A galera topou trocar de música, e deu tempo de ensaiar durante a semana.

No final, todos nos aplaudiram de pé.

Sem dúvidas, tivemos um ótimo desempenho no musical.

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