💜 KAUANY 💜
Às vezes, me sinto perdida. Minha mente diz para seguir um determinado caminho, mas sempre acabo indo para outros lados. Felizmente, não é nada preocupante.
Desde que entrei no musical, percebi uma mudança na minha forma de ver o mundo. Passei a ter sensações mais detalhadas sobre a vida.
É fantástico expandir a mente e enxergar mais além do que se imaginava. Confesso que sou muito sonhadora, apesar de não aparentar muito, e meus amigos acreditam no meu potencial.
A paixão pelo teatro é recente. Me descobri atriz, e cantora, por incrível que pareça. Tenho bastante coisa para aprender ainda, e terei que estudar demais para buscar o meu melhor, sempre.
Fico feliz por ter o apoio de meus pais, e acredito que o nosso vínculo dê forças para eu persistir na realização de meus objetivos.
Quero ir bem no musical, e agradar a todos. Vai que alguém goste da minha atuação. Não posso perder nenhuma oportunidade.
Minha amiga está namorando com meu irmão. Durante a semana, eles saíram para conversar, decidiram iniciar um relacionamento e estão focados nisso. Fiquei feliz por eles, claro! Só que essa aproximação entre os dois está sendo muito... diferente. Ambos são tímidos, e meu irmão mudou desde que começou a namorar.
Lupe e Martinha foram feitos um para o outro, e isso me deixa meio confusa, porque não sei quem combinaria comigo.
Não curto falar disso, mas tem um menino que... mexe comigo. Mas deixo ele pensar que jamais vai rolar algo entre nós dois.
O nome dele é Lucas, e seu nome é como música para meus ouvidos, só que isso não se passa pela mente dele, e nem faço questão que o menino saiba.
No momento, estou focada no musical e em meu desempenho.
Em pleno final de semana, também temos que ensaiar.
O grande dia está chegando. Falta mais ou menos uma semana para a apresentação.
Indo para a escola, com um sol maravilhoso, tive que ir me preparando.
No caminho, encontrei Laís, e fui em sua direção.
— Oi — falei, com um sorriso no rosto.
— Oi — disse ela. — Estou indo para a escola, em pleno sábado, acredita?
— Acredito! — exclamei, sem entender muito bem sua colocação. — Também estou indo para o ensaio do musical.
— Eu amo musical — declarou Laís. — Principalmente aqueles que têm música e muita dança.
Como assim? O que essa garota tem de errado?
— Mas todos os musicais têm música e dança — falei, meio irritada, confesso.
— Uma vez, assisti a um musical que não tinha música, somente dança — disse ela.
— Qual?
— Parece que era filme mudo.
Não acredito que sou amiga dela!
Bom, estamos nessa juntas, na mesma peça, com o mesmo objetivo (eu acho), tendo aquela sensação maravilhosa de atuar e colocando nosso talento para fora.
O mais incrível de tudo é que Laís lembra das falas com facilidade, e não consigo entender sua... confusão.
Continuamos seguindo caminho até a escola.
Chegamos e nos direcionamos ao auditório, onde parte do elenco já estava reunido.
— Todos precisam estar preparados, com o personagem na alma, as falas na ponta da língua e o entusiasmo no coração — disse o professor. — Antes de começar, vamos fazer um exercício de atuação, enquanto isso o restante do pessoal vai chegando.
— Amo os exercícios — soltou Laís.
— Pois é, parece que você ama o teatro — falei.
Sorri.
— Gente, perdi alguma coisa? — perguntou Martinha, chegando às pressas e ofegante.
— Só perdeu a parte em que a Laís deixou claro o quanto entende de musical — ironizei.
Começamos a rir.
— Mas ela atua muito bem, amiga — disse Martinha.
— Sim — concordei. — A teoria dela é meio triste, vamos dizer assim.
Mais risos.
— Vou passar hoje na sua casa — revelou ela.
— Meio previsível — soltei. — Você e o Lupe agora estão juntos.
O mais incrível de tudo é saber que meu irmão está em boas mãos. Não digo o mesmo da minha amiga... Brincadeirinha! Meu irmão é muito bacana, e não seria legal da minha parte expor ele dessa maneira.
Vendo os dois apaixonados, sentindo o amor e se conhecendo mais a cada dia, repenso sobre o que seria paixão.
Penso diferente, e muitas ideias podem refletir em minhas atitudes num relacionamento. Por exemplo, eu não gosto de gente ciumenta, mas e se eu sentir ciúmes? Seria muito injusto da minha parte.
Se... fosse... um relacionamento... com... o... Lucas... até que seria... interessante. Só para deixar claro, é apenas uma suposição. Poderia namorar com qualquer outro garoto, tipo o Tomate, amigo do Lupe. Ele parece ser bacana... mas eu teria que estar apaixonada, né? Só que eu não estou interessada no cara.
É melhor esquecer essas suposições, deixar para lá e focar no ensaio.
— Kauany — chamou o professor.
— Sim — falei, indo em sua direção no palco.
— Por favor, cante a música que será apresentada no começo — pediu ele, dando espaço para eu me preparar.
Respirei fundo, fechei os olhos, os abri rapidamente, dei uma aquecida na voz e comecei.
Lembrei a letra, com entonação, percebi todos os movimentos da canção, a cada instante, e consegui sentir a sintonia com apreciação, transmitindo a veracidade da personagem para o momento.
Enquanto cantava, pude ver o pessoal ao redor apreciando minha apresentação. Entrei na personagem com tudo e dei vida a ela com total dedicação.
Ainda no clima, voltei o olhar para a entrada do auditório e vi Lucas. Ele estava com as mãos nos bolsos da calça, meio sem jeito e com uma expressão alegre.
Tentei continuar cantando, mas falhei...
Sem chão e sem ar, fingi que a música chegou ao fim e corri para fora.
— O que aconteceu, amiga? — questionou Martinha, preocupada.
— Eu... Eu... Senti... Meio que... esqueci a letra — menti.
— Não lembrou o restante da música e veio correndo aqui para a rua? — duvidou minha amiga.
— É! — concordei.
— Vamos voltar para lá, agora — pediu Martinha.
Assenti com a cabeça e a acompanhei.
Tive que correr para fora do auditório, porque seria estranho demais expor minha reação perante Lucas. Já banquei a difícil várias vezes, só que uma hora cansa, e não ia durar muito tempo toda essa negação. A quem eu quero enganar? Agora, tenho que enfrentar meus sentimentos e ver onde posso chegar.
Sinceramente, preferia ter toda aquela personalidade forte de antes e conseguir lidar com esses momentos difíceis. Talvez, o garoto tenha percebido que errei a letra da música por sua causa.
De volta ao palco...
— Você está bem? — perguntou o professor.
— Sim, estou — respondi.
Olhei para a plateia e não vi Lucas.
Martinha veio em minha direção, com os braços cruzados, o cenho franzido, um ar de desconfiança, e disse:
— Algo me diz que você não esqueceu a letra da música.
Abaixei a cabeça, fiquei sem jeito e permaneci em silêncio.
Confesso que não tinha para onde fugir, e abrir a boca poderia me complicar mais.
— Kauany — chamou o professor. — Preciso que ensaie mais as suas falas e as canções, para não ter erro.
Ele fez o sinal de joia, pegou uma pasta e se dirigiu para a plateia.
Olhei para Martinha, fitei sua expressão de desconfiada por um instante e sorri, tentando amenizar a situação.
💜💜💜💜
Mais tarde, totalmente perdida, fiquei andando de um lado para o outro em meu quarto.
Peguei o celular, coloquei uma música agitada para tocar, e nada de animação. Continuei tensa, preocupada.
Outra vez, passos, passos e passos, da cama até a porta e da porta até a cama... E assim se passou quase meia hora, indo e vindo, num ciclo vicioso.
Decidi ir ao banheiro escovar os dentes. Passei alguns minutos sozinha, me olhando no espelho e tentando refletir sobre o que poderia estar acontecendo.
Ao sair, encontrei Martinha no corredor.
— Oi, Martinha — falei.
— Oi, Kauany — disse ela.
— O Lupe está no quarto.
— Eu sei... Quero conversar com você.
— Sobre?
Martinha fez sinal para irmos ao quarto, provavelmente queria saber o que aconteceu mais cedo.
Fechei a porta, sentei na cama, ao seu lado, e ela disse:
— Sei o que está se passando entre você e o Lucas.
— Não, não sabe — discordei. — Isso aí é apenas uma suposição, o que não interfere na nossa realidade.
— Para! Não minta, porque eu sei muito bem o que vi.
Nossa! Ela meio que descobriu. Não consigo disfarçar meus sentimentos, pelo visto. Isso é algo terrível.
Acredito que mudar de assunto ajude no momento.
— Melhor chamar o Lupe — sugeri.
Sou péssima em tentar mudar de assunto.
— Sou sua amiga, né? — disse Martinha. — Então, confia em mim.
Pois é, somos amigas, mesmo, e ficar escondendo isso dela seria complicado. Uma segunda voz que não fosse da minha mente teria grande utilidade para esse meu dilema.
— É que... Estou gostando do Lucas — revelei.
— Eu sei, mas não é disso que estou falando.
— Como assim?
— Ele curte você, e você curte ele, isso já é um bom começo. Só que tem alguma coisa aí que te impede de se aproximar do cara.
Confesso que fiquei com um pouco de receio. Se minha amiga soube disso tudo, ou ela é vidente ou não sei disfarçar minha reação quando vejo Lucas.
Estou querendo esconder o que sinto pelo cara, de verdade... Por quê?
— Somos diferentes — falei. — E não daria em nada.
— Quando comecei a gostar do seu irmão, esperei que ele tomasse alguma atitude, para não ser precipitada. Você tem que falar com ele, porque o Lucas é um pouco estranho quando se trata de tomar atitude — disse Martinha.
— Não fala assim!
Ela começou a rir, e soltou:
— Seja esperta.
Nosso papo estava meio enigmático.
Até pegar seu ritmo...
Seu raciocínio fazia sentido, só que meio confuso de início.
Para ele, posso parecer durona, com personalidade forte, mas na verdade, sou o contrário disso. É que no começo, o Lucas estava muito próximo (até demais), sem contar que o garoto é amigo do Lupe. Aí, não dá!
— Entendi bem sua colocação, amiga — falei.
— Chama o cara para conversar, antes de mais nada — sugeriu Martinha.
Assenti com a cabeça.
— É complicado para mim — revelei.
— Por quê? — questionou ela, curiosa.
— Isso atrapalha no musical.
— Ah! Você não consegue se concentrar.
— É que a minha personagem tem o amor-próprio e não está apaixonada por alguém, enquanto na vida real, estou a fim do Lucas, e me perco nesse sentimento.
— Tenta se achar nesse sentimento.
É fácil falar, mas colocar em prática é algo terrível. Posso considerar isso como de fato a pior das sensações.
Que dilema!
A princípio, não me senti tão perdida e desconfortável ao conversar com Martinha sobre Lucas. Fiquei mais leve após o papo, e sem aquela tensão de antes.
— Obrigada por ter me chamado para conversar — agradeci.
Ela deu de ombros, esbanjou um sorriso e veio me abraçar.
— Somos amigas e temos que nos ajudar, né? — disse Martinha.
— Concordo.
Soltei o corpo dela e fitei sua expressão.
Um abraço deixa qualquer pessoa feliz, e num momento como esse, sem dúvidas, foi essencial.
Consegui me encontrar nesse dilema, só é preciso estar mais preparada para falar com Lucas.
O musical está ocupando minha mente, e acabou gerando essa confusão. Preciso me sair bem, e por enquanto, tenho que focar na minha personagem e no ensaio.
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