Capítulo 5
— Você está fabulosa, Gabriela.
Abraço minha amiga com um sorriso no rosto, genuinamente feliz por ela. Gabi está linda no seu vestido de noiva e a cerimônia foi magnífica. A festa supera todas as minhas expectativas porque está longe de ser aquela coisa chata que às vezes casamentos são e, verdade seja dita, já estou de olho no open bar há um bom tempo.
— Obrigada por ter vindo, Pri.
Os olhos dela cintilam de pura felicidade quando vê seu agora marido se aproximar e enlaçá-la pela cintura. Eles formam um lindo casal, não há quem possa negar. Depois de tanto tempo juntos também, não tinha como ser diferente.
— Como está sua vida? — pergunta, segurando minha mão. — Faz tanto tempo que a gente não para pra colocar os assuntos em dia.
Nós estudamos juntas na faculdade e mantivemos contato desde então. É uma amiga antiga que tenho em minha vida praticamente desde a minha adolescência, mas, como acontece, acabamos nos distanciando um pouco desde que ela começou a namorar e abandonou completamente a vida baladeira que sempre acompanhou a minha. A amizade nunca morreu, contudo, e hoje faço o esforço e sacrifício de me divertir por duas. Ela sempre me acompanha quando pode, mesmo que para um programa mais calmo. E nem me atrevo a fica chateada pelo rumo diferente que nossas vidas tomaram, tudo que importa é o quão feliz ela está. Então, dispenso a pergunta dela com a mão.
— Hoje é seu dia — digo. — Quando você voltar da sua lua-de-mel, nós conversamos.
Ela sorri e concorda com a cabeça, e, pelo jeito que ela olha para o homem ao seu lado, sei que essa lua-de-mel vai ser bem longa.
— Você trouxe alguém, não trouxe? — ele pergunta, me olhando com curiosidade.
Esses dois são aquele tipo de casal que não tem segredos. O que significa que, eu querendo ou não, ele sabe da minha vida do avesso. Não consigo imaginar esse nível de confiança. Não consigo nem começar a entender o tanto que é necessário se abrir com alguém a ponto dessa pessoa saber tudo da sua vida. Não consigo me imaginar fazendo isso. Já disse que não consigo? Tem muita coisa, muita história, muita bagagem que trancada a sete chaves está e assim vai ficar. Coisas que até conto por alto a alguns amigos mais próximos, mas os detalhes vão para o túmulo comigo. E coisas que nunca nem abro a boca para mencionar.
Coisas como minha relação nada saudável com meu querido pai. Coisas como Vinicius.
— Trouxe — respondo e Gabi ergue uma sobrancelha para mim. — Você não achou que eu fosse vir sozinha para um casamento, achou? — pergunto piscando e ela ri.
— Tenho certeza que você não ficaria sozinha por muito tempo.
Ela aponta com a cabeça para algum ponto atrás de mim e não preciso me virar para ver que é Marcos chegando.
Nós namoramos por um tempo longe demais para o que estou acostumada, talvez o máximo de tempo que eu tenha ficado com alguém. O que significa que não passou de três meses. Eu o amei, ou acho que amei. Não posso ter certeza porque o nível de devoção emocional que ele exigia era demais para mim. Se amor incondicional é aquilo lá que ele esperava de mim, então tenho certeza que não sirvo para isso. Definitivamente abrir mão de mim mesma naquele nível é uma coisa que não estou disposta a fazer. É claro que sei que relacionamentos demandam que haja concessões dos dois lados, e eu simplesmente não estou disposta a fazer nenhuma. Logo, a escolha mais lógica é continuar linda, bela e solta, sem iludir ninguém que olha para mim e acha que tenho mais maturidade emocional do que realmente tenho.
E, é claro, as coisas terminaram muito mal entre a gente.
— Felicidades aos noivos. — Ouço a voz conhecida bem atrás de mim antes do homem entrar no meu campo de visão. Ele não mudou muita coisa desde a última vez que nos vimos, há bem mais de um ano. O jeito que ele me olha também não mudou, e esse é o problema. — Priscila — ele me cumprimenta.
— Marcos.
Gabriela pega o marido pelo braço e se afasta de nós, me deixando sozinha com ele como a boa traidora que é. Ela é, sem dúvidas, a maior apoiadora desse relacionamento que não existe mais.
— Você continua linda — Marcos diz com um sorriso genuíno no rosto. Sorriso que, quem vê, nem acha que terminamos aos gritos de que eu nunca seria feliz sem ele, nem nunca encontraria alguém que me amasse tanto. Talvez esteja certo, talvez eu realmente não encontre. Mas não significa que eu deva ficar com ele por isso.
Talvez eu o amasse, mas me amo mais. E me amo o suficiente para não precisar de outra pessoa para fazer isso por mim.
— Obrigada, Marcos. Você está muito bem também.
Tento ser simpática e educada, até porque o único crime dele foi querer mais do que estou disposta a dar.
— Como anda a sua vida? Há tempos não tenho notícias suas. —Sim, e isso foi completamente intencional. Ele pausa e me olha com atenção. — Talvez a gente possa sair para comer alguma coisa qualquer dia desses. Você ainda gosta daquela pizza de frango?
Nego com a cabeça, não para a pizza, mas para o convite.
— Não acho que seja uma boa ideia — respondo e ele dá um passo na minha direção, erguendo a mão para alcançar meu rosto.
— Vamos, Pri. O que custa a gente conversar um pouco?
Eu sinceramente não sei mais como dizer que não estou interessada. Olho os olhos castanhos cintilando na minha direção, o sorriso no rosto do homem que tão rapidamente decidiu que me queria na vida dele e, pela primeira vez em muito tempo, me sinto um monstro por não ser capaz de me envolver com alguém. Será que estou tão errada assim em só querer viver minha vida e não virar uma extensão da existência de um cara? Nunca menti para ele, desde que nos conhecemos fui clara nas minhas vontades. Não queria me envolver demais. Ainda assim, quando ele me pediu exclusividade, aceitei. E hoje vejo que foi aí que errei, porque foi quando ele começou a acreditar que ficaríamos juntos para sempre.
Para sempre é tempo demais para eu me comprometer com algo além da minha própria felicidade.
Jurei para mim mesma que seria a última vez que faria essa besteira. Marcos disse tantas vezes que entendia, que sabia que o fato de eu estar só com ele não significava que teríamos filhos e envelheceríamos juntos, mas na prática a coisa foi diferente. Pouco a pouco, começou a me cobrar mais emocionalmente. A dizer o quão injusta eu estava sendo em não retribuir tudo que ele fazia por mim, mesmo eu dizendo repetidas vezes que não queria que ele fizesse nada. Viveu na esperança de me dobrar, me fazer mudar de ideia, na expectativa de que eu fosse me apaixonar perdidamente por ele um dia. Mas isso nunca aconteceu.
Eu devia ter ido embora quando percebi que jamais seria capaz de dar o que ele queria, mas escolhi acreditar quando ele disse que tudo bem, que só queria passar algum tempo comigo e isso não precisava ser nada sério.
— Eu já perdi a conta de quantas vezes disse que não, Marcos. — Suspiro. — Sinceramente, essa conversa simplesmente não cabe agora. Eu vim aqui para celebrar a felicidade da minha amiga, não para ter essa discussão outra vez.
Suspiro, porque realmente não quero ser babaca com ele. As coisas não deram certo, mas isso não faz dele um homem ruim. Só me faz não ser a mulher certa para ele, coisa que eu disse repetidamente e ele parece se recusar a entender.
Marcos dá um passo na minha direção e segura meu braço em um toque que não machuca, mas é forte o suficiente para me forçar a prestar atenção nele. E isso começa a me tirar do sério e mandar para o espaço toda a minha boa vontade.
— Você tem trinta anos, Priscila. Já está na hora de parar de brincar de adolescente descontrolada e aquietar esse facho. Passou da hora de parar de ser irresponsável e egoísta desse jeito.
Me solto da sua mão com um puxão irritado e aponto um dedo na direção dele.
— O que eu faço da minha vida não te diz respeito, e não preciso de você para me dizer o que é certo ou errado.
Dou um passo para trás, irritada e pronta para ir embora quando o vejo abrir a boca para falar mais alguma coisa. Gabriela que me desculpe, mas dependendo do que ele disser, vai ter barraco no casamento dela sim.
Sinto um braço ao redor da minha cintura em uma postura protetora inesperada. O toque é leve e gentil, completamente diferente da palhaçada de Marcos de um instante atrás.
— Está tudo bem? — Rafael pergunta, parando ao meu lado, olhando diretamente para mim como se ignorasse completamente o homem à minha frente.
Aceno com a cabeça, dizendo que sim, e ele me olha por um segundo a mais com uma ruga entre as sobrancelhas antes de virar para Marcos com um sorriso fácil no rosto.
— Não sabia que ela estava acompanhada. — Posso ouvir o tom contrariado na voz do meu querido ex-namorado, que olha para mim como se esperasse uma explicação. Como se eu tivesse que dar uma.
— Estou. — Me limito a responder, entrando nos braços de Rafael, que me acolhe sem hesitar.
Marcos percorre os olhos no loiro ao meu lado com seu olhar julgador que infelizmente conheço muito bem, e sei que vem bomba por aí.
— Você não acha que ela é mulher demais para você não, moleque? — pergunta, a irritação despontando na sua voz com o tom ciumento que foi exatamente o que me fez fugir dele o mais rápido que pude.
Até abro a boca para falar alguma coisa, mas paro no meio do caminho quando vejo que Rafa se limita a sorrir e despretensiosamente mover os dedos que estão na minha cintura em um toque despreocupado.
— Acho — diz e dá os ombros, como se não pudesse se importar menos com isso. — Ela é mulher demais para qualquer um. Eu só dei sorte de ela ter ido com a minha cara.
Posso quase ver as fumacinhas saindo pelas orelhas de Marcos enquanto ele olha para o rosto sereno do Rafael e só consigo morder o lábio, segurando um sorriso. Eu não devia estar gostando tanto disso, devia? E então, inesperadamente, um sorrio raivoso cresce no rosto dele. Marcos dá um passo na nossa direção e apoia uma mão no ombro de Rafael.
— Conselho de amigo. Não se deixa enganar por essa cara de anjinho que ela tem não. Ela vai partir seu coração e correr para a cama de outro no dia seguinte como se você não significasse nada.
Antes que qualquer um de nós tenha a chance de dizer alguma coisa, ele vira as costas e sai andando. Solto um palavrão e olho para Rafael, apenas para ver seu olhar fixo no homem que se afasta. Sua expressão é completamente neutra e ele não parece nem minimamente afetado pelo que Marcos disse, até porque não tem motivo para isso.
— Desculpa o drama — digo, saindo do braço dele, que só então volta a olhar na minha direção.
Vejo de relance uma sombra de irritação nos seus olhos, mas quando ele me encara, é como se nada tivesse acontecido e seu sorriso travesso está estampado no seu rosto outra vez.
— O que você quer beber? — pergunta, ignorando completamente o que acabou de acontecer.
Agradeço em silêncio por isso. Qualquer outra pessoa tentaria me arrancar explicações ou faria insinuações, mas ele se comporta como se estivesse tudo bem. E, subitamente, fica tudo bem mesmo.
— Uma caipirinha de kiwi — peço e ele faz uma careta.
— Eca — diz, balançando a cabeça. — Já volto.
Sorrio e vou para a mesa onde estamos sentados junto com algumas outras pessoas da época da faculdade. Nunca entendi muito bem essas arrumações de casamento, mas parece fazer sentido colocar junto pessoas que se conhecem, mesmo que eu tenha perdido contato com quase todos eles ao longo dos anos.
— Você está deslumbrante nesse vestido. — Jussara, uma das mulheres que era da nossa turma, sorri para mim e elogia a roupa enquanto toma um gole da sua bebida.
Agradeço e logo começamos uma conversa trivial, sendo acompanhadas pelas outras pessoas da mesa. Em alguns minutos, somos todos atualizados uns da vida dos outros e começamos a relembrar histórias da época da faculdade.
Sem que eu queira, as palavras de Marcos voltam e não consigo evitar de remoer o que ele disse. Eu tenho trinta anos. Metade das pessoas dessa mesa está casada, e quem não está, queria estar. Eu estou mesmo tão errada assim de não querer isso para mim?
Uma coisa que meu querido ex nunca entendeu é que não é que eu não queira companhia, não é que eu não queira alguém do lado, eu não detesto a ideia de dividir momentos com outras pessoas, é só que eu tenho alergia a ter que fazer disso minha prioridade. De ter que me forçar a me preocupar com sentimentos dos outros vinte e quatro horas por dia. De ter que mudar meus planos e me privar dos meus desejos. Só quero curtir minha vida. A única coisa que quero é poder fazer de mim mesma a minha única prioridade.
Já passou da hora de parar de ser irresponsável e egoísta desse jeito.
Peço licença e levanto da mesa, decidida a pegar eu mesma minha bebida já que Rafael parece ter ido colher a cana pessoalmente para fazer o álcool. Coitado. Enfiei o garoto nessa furada, ele deve estar se escondendo de mim. Tudo bem que os planos de sábado à noite dele não eram os mais animados, mas ainda assim. Percorro os olhos pelo salão por alguns instantes e circulo ao redor olhando por ele, até que decido ir até o bar.
Começo a cruzar a pista de dança quando sinto uma mão me envolver a cintura e me puxar em direção a um corpo rígido. Ergo os olhos para encontrar Rafael com um copo na mão, me olhando com a sobrancelha erguida.
— Fui até a mesa e você não estava lá — diz, me soltando e entregando o copo. — A fila está gigante, e o barman não parece muito impressionado com meus belos olhos, me fez ficar esperando. — Ele revira os olhos dramaticamente, sorrindo em seguida.
Até sorrio de volta, mas não me sinto muito bem no momento. Viro a caipirinha quase em um gole só para tentar tirar essas ideias da minha cabeça. Drama não tem muito espaço na minha vida, fujo dessas coisas o máximo que posso. Não posso deixar uma coisa dessas estragar minha noite. Devolvo o copo na bandeja de um garçom que passa perto e volto para Rafael que está dançando no ritmo da batida remixada que toca, sem tirar os olhos atentos de mim.
Não estou mais no clima. Ando na direção dele e indico para que ele se curve um pouco para que eu possa alcançar seu ouvido. Homem alto dos infernos.
— Tudo bem se a gente for embora? — pergunto.
Ele não se move por um instante, acho que esperando que eu diga mais alguma coisa, até que levanta a cabeça e me olha, como se tentasse me analisar. Rafa dá os ombros e se inclina até o meu ouvido de novo.
— A hora que você quiser. Mas você me prometeu que eu ia beber e dançar com uma mulher gostosa.
Rio, de verdade dessa vez. Eu prometi, é verdade.
— Tem um monte aqui, pode escolher — implico. — Espero sentadinha enquanto você se esfrega na bunda de alguém para compensar ter te tirado do conforto das suas séries chatas.
Rafael me puxa até eu estar colada nele e leva as duas mãos à minha cintura.
— Não, senhora — diz no meu ouvido. — Você está me devendo uma dança. Depois podemos ir embora. Mas vou me esfregar na sua bunda antes.
Ele não espera eu responder antes de começar a se mexer, me conduzindo completamente fora do ritmo da música. Encosta a testa na minha e me sacode desajeitadamente, fazendo cócegas na minha costela até eu soltar uma risada e virar de costas para ele. Suas mãos voltam ao meu quadril e me encaixo contra seu peito, agora dançando no ritmo certo, e ele me acompanha. Não sabia que ele sabia dançar, mas Rafa parece bem confortável se movendo atrás de mim, me levando com ele na batida certa, ainda fazendo questão de essa ser a dança mais sem noção do universo, cantando a letra da música completamente errada no meu ouvido.
Quando a música termina e outra começa, a batida sendo substituída por um ritmo acelerado de forró que sei que foi escolha de Gabriela, ele me gira, arqueando as sobrancelhas, me olhando com um sorriso travesso antes de começar a me rodopiar, arrancando risadas escandalosas quando me faz esbarrar em um casal que estava se beijando, e me apara em seu peito, passando o braço ao redor da minha cintura. Estou suada por toda a movimentação, o cabelo grudando na testa e tenho certeza que posso dar adeus à minha maquiagem.
E ele não parece ligar quando me agarra pela cintura e gruda em mim, conduzindo os passos da dança.
— Agora podemos ir embora se você quiser — ele diz, erguendo a sobrancelha para mim quando a música acaba e eu o arrasto para fora da pista de dança para respirar um pouco.
Estou me divertindo, mas concordo. Ainda quero ir embora. Vou aproveitar que meu humor melhorou um pouco e sair daqui enquanto ainda estou ganhando. Arrasto Rafa para fora da pista de dança e vou atrás de Gabi, me despedindo da minha amiga depois de conseguir arrancá-la da multidão de parentes. Dou um beijo e deixo a promessa de que vamos nos encontrar em breve.
— Você mal se esfregou na minha bunda — implico, fazendo um bico exagerado enquanto andamos em direção à saída do salão e ele balança a cabeça, rindo.
— Eu posso me esfregar na bunda de quem eu quiser, Priscila — diz e eu o chamo de convencido. Rafael dispensa o comentário com a mão. Ele para de andar quando estamos perto da recepção vazia e vira de frente para mim. — Eu não perguntei o que aconteceu com seu ex antes de eu chegar porque não sei se somos amigos o suficiente para isso e não quero ser inconveniente. Você me chamou para vir com você unicamente para fazer ele ficar longe, e fiz isso. — Ele dá os ombros. — Só estava tentando te fazer sorrir um pouco antes de ir embora, por isso te prendi na pista de dança. Você já me contou tantas histórias suas que envolviam uma balada que achei que gostasse de dançar, só isso.
Fico tocada pelo gesto, porque ele realmente se preocupou como um amigo faria. E agradeço por isso, eu provavelmente teria uma noite bem pouco agradável em casa. Sem pensar muito, pulo no seu pescoço e ele me segura pela cintura, dando um passo para trás antes de se equilibrar com o susto.
— A gente é amigo o suficiente para você me perguntar o que quiser saber — digo no seu ouvido. — Não vai estar sendo intrometido. Não mais do que o normal pelo menos — provoco e ele dá um beliscão de leve na minha cintura. — Como você consegue estar cheirando tão bem assim depois daquela dança toda? — pergunto quando enfio a cabeça no seu pescoço.
— É banho que chama, Priscila. O certo é tomar pelo menos um todo dia, não só no sábado — ele diz, esfregando o nariz no meu pescoço em resposta, indo em direção ao meu ombro.
Sinto seu toque sobre mim aumentar quando me tremo toda, fácil assim. O nariz dele sobe de novo até o meu ouvido e eu respiro fundo, escorrendo as mãos até seus braços, e os aperto. Inferno de pescoço sensível.
— Você até que não está tão mal — murmura com um tom baixo.
Essa voz rouca, meu Deus. Essa voz rouca no meu ouvido, não tenho condições. Lembro da cara de desespero dele no meu escritório quando disse para ele me beijar e aceito que ele só quer manter a amizade inocente. Começo a desenrolar os braços dele para não agarrar o coitado aqui mesmo, mas ele não me solta. Pelo contrário, segura bem firme na minha cintura, mas não fala nada.
— Rafa?
— Estou em dúvida — diz, passeando a mão pelas minhas costas. — O combinado era te beijar só na frente do seu ex se precisasse — comenta em um tom de pergunta e confirmo com um "sim" meio duvidoso. — Ele não está aqui. E a gente é amigo. — Confirmo de novo. — E amigos não se pegam.
Vou ter que discordar. Não tenho problema nenhum com amigos se pegando, pelo contrário, até incentivo.
— Mas eu realmente quero te beijar agora.
Me afasto um pouco, só o suficiente para levantar a cabeça e mirar nos olhos incertos dele. O olhar de Rafael cai para a minha boca e uma mão dele sobe pelo meu pescoço até se prender nos meus fios. Passo a língua nos lábios e ele não espera autorização dessa vez. Sua boca logo está na minha e, como da primeira vez, seu toque é firme, mas carinhoso. Ele me devora em um beijo lento e profundo, em um ritmo que me diz que ele não quer fazer absolutamente nada além de simplesmente me beijar. A boca dele cai para o meu rosto e continua até alcançar meu pescoço em beijos suaves e precisos. Sinto um arrepio subir pela minha espinha quando ele chupa e morde a curva do meu pescoço.
— Amigos se pegam — sussurro quando a boca dele paira sobre a minha de novo.
Rafael sorri e concorda com a cabeça em silêncio, e me solta, estendendo a mão para mim. Franzo a testa para ele e estico a minha também, enroscando nossos dedos.
— Vou te levar para casa — diz, e não tenho certeza se ele quer dizer o que eu quero que queira dizer.
Dou dois passos e paro, olhando ao redor até ver uma porta que muito me interessa. Sorrio e o arrasto até lá. Entro, trazendo Rafael comigo e fecho a porta atrás da gente.
— O que a gente está fazendo no armário de casacos, Priscila? — pergunta quando encosto contra a porta. Ergo a sobrancelha para ele e inclino a cabeça, chamando-o com o dedo. Rafael sorri em resposta e dá um passo na minha direção, e me beija de novo.
Sua mão engancha no meu cabelo e as minhas vão até seu rosto. Sinto seu corpo inteiro contra mim, me imprensando na porta, seu joelho encaixado entre minhas pernas, me mantendo no lugar. A boca dele cai para o meu pescoço e sua mão vai até minha bunda.
— Amigos fazem isso também? — pergunta, agora em um tom completamente provocativo, encaixando suas duas palmas na minha bunda antes de deslizar as mãos pelas minhas coxas, me puxando para mais perto.
— Fazem — respondo, sentindo a boca dele no meu pescoço.
A mão dele sobe por dentro do meu vestido até alcançar minha bunda, agora toda de fora, mal tampada por uma calcinha minúscula, e ele passa um dedo pelo fio, murmurando um palavrão contra a minha pele.
— Tem alguma coisa que amigos não fazem? — pergunta, deixando uma mordida delicada na curva do meu seio que está exposta por esse vestido.
Nego com a cabeça. Não. Está liberado fazer tudo. Inclusive já pode parar de falar e começar a fazer.
Rafael volta a boca à minha, sua mão apertando minha bunda por mais um minuto apenas antes de se afastar. Começo a protestar, mas as mãos dele vão para a alça do meu vestido. Ele as abaixa, deixando expostos meus seios, e dá um passo para trás, me olhando. Rafa morde o lábio inferior e respira fundo, sem tirar os olhos do meu corpo.
Ele apoia na parede contrária do cômodo minúsculo, me deixando encostada na porta, meio ofegante, com os peitos de fora, e se limita a passar os dedos pelos próprios lábios sem tirar os olhos de mim.
— Rafa...
Posso praticamente ver os pensamentos passando por seus olhos antes dele se aproximar de novo e baixar a boca ao meu colo, beijando meu pescoço com reverência antes de alcançar meus seios com seus lábios. Suspiro com o toque e levo às mãos ao seu cabelo.
Não sei muito bem por que já que nunca fui muito fã de delicadeza, mas o toque gentil dele só está me excitando ainda mais. É como se ele tivesse alguma coisa muito importante na boca, e não só um par de peitos esperando para serem devorados.
Sua língua me provoca e acaricia, ele deixa mordidas na minha pele e beijos chupados pelo meu colo como se estivesse concentrado em explorar meu corpo somente e nada mais. E percebo que é isso mesmo que está acontecendo quando a boca dele volta ao meu pescoço e suas mãos ajustam a alça do meu vestido de volta no lugar. Ele segura meu rosto entre as mãos e me beija de novo, e de novo, e de novo.
Sinto sua ereção contra mim quando ele me pressiona mais na porta e solto um suspiro desejoso quando ele morde meu lábio antes de me soltar. Rafael recosta a testa contra a minha com a respiração pesada e enlaça minha cintura antes de morder meu queixo.
— Vamos? — pergunta com a voz meio rouca e eu preciso de alguns segundos para entender o que ele está dizendo.
Como assim "vamos"? Assim? Do nada? Devo estar olhando para ele com uma cara muito incrédula, porque ele me pergunta qual o problema. E eu repito em voz alta meus questionamentos, fazendo-o erguer as sobrancelhas para mim e rir.
— Qual foi a última vez que você só deu uns amassos em alguém? — pergunta com um riso na voz.
— Amassos? — pergunto sem acreditar nisso. — Quantos anos eu tenho, quinze? A gente tá morando nos anos noventa de novo?
Rafael solta uma gargalhada e dá um passo para trás, me levando com ele, abre a porta e sai, me arrastando para fora do armário. Ele oferece o braço e eu aceito, querendo dar na cara dele pelo riso frouxo ainda no seu rosto. Não dou na cara, mas dou um tapa no braço e o chamo de idiota.
— Nem tudo precisa terminar em sexo, Priscila. Agora, por exemplo, vou te levar para encher a cara e esquecer qualquer merda que seu ex tenha dito, porque é isso que um bom amigo faz.
— Você é um péssimo amigo — reclamo enquanto andamos até o estacionamento. Jogo a chave do carro para Rafael, que pega com facilidade. Ele nem questiona quando destrava o carro e entra no banco do motorista. Eu bebi, ele não, nada mais justo. — Um bom amigo teria me feito gozar.
Rafael dá partida no carro e olha para mim com completa incredulidade no olhar.
— Não, um bom amigo trataria de animar sua noite. Você não precisa de mim para gozar, tem sua agenda inteira. Se for isso que quiser mesmo, liga pra alguém e manda vir para cá — diz, tirando o carro da vaga.
Mordo o lábio e não respondo nada, e ele olha para mim, já revirando os olhos e rindo em antecipação, e indica com a cabeça para que eu fale a gracinha que estou mordendo a língua para não soltar.
— Você acabou de propor um ménage, Rafael? — pergunto no tom mais sedutor que consigo. — Eu topo.
Ele me olha por sobre o ombro e revira os olhos.
— Você é insana. Completamente doida, é isso. Não vou nem te responder. — Ele balança a cabeça em descrença, mas não disfarça o riso frouxo no rosto.
Aumento o volume do rádio e o loiro começa a tamborilar no volante, e dirigimos em um silêncio confortável por algumas ruas, até que sinto meu celular vibrar dentro da bolsa. Pego o aparelho e vejo uma mensagem piscando na tela.
Estava aqui pensando... Acabei de olhar a previsão do tempo e o dia vai estar perfeito para pegar onda amanhã. Posso passar para te acordar de novo, o que acha?
Meu Deus, que vida difícil.
Não é descontrole, já é sábado onde eu moro hahaha
OI MENINES, TUTUPOM?
Eu quero essa vida difícil da Priscila, só queria dizer isso haha
Como vocês tão? Tô carente, conversem comigo. Comentem muito e ajudem o livro a crescer e acalmem o coração dessa escritora desesperada!
Amo vocês!
Até breve <3
*
Já conheceram o geek mais gostoso do wattpad todinho? Não? Venham conhecer Love Loading, da Wânia Araújo!
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