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Paleta de cores (ESPECIAL)

Chega um momento que a vida ganha outra cor. Penso eu que a vida possui diferentes paletas. Na infância, tudo é uma aquarela, as cores suaves se misturando e originando uma nova cor, uma nova descoberta. Quando esta paleta é usada, a tela se enche de vigor, alegria e significados inocentes que despertam o prazer no olhar de quem vê.

Na adolescência e na juventude... ah! Quão intenso, quão chamativo, quão enjoativo aos olhos... As cores se tornam mais sólidas, mais vibrantes, cheias do exagero de uma insensatez e vontade de provar o proibido e descobrir os mistérios ocultos. A tela - ainda alva - enche-se de tons quentes, fortes, rebeldes e irritantes que, por vezes, chegam a estressar o pintor. A tela é rasgada. O excesso de emoções. O misto enjoativo e sobrecarregado de tonalidades deveras misturadas, irreconhecíveis e de incompreendidas.

Já na fase adulta, os tons frios - maduros, sensatos e já muito experientes -, dominam a paleta e se alastram pela tela. Os aprendizados da adolescência e da juventude, fazem o artista compreender que a sutileza e da intensidade reduzida se faz necessária, já que a tela precisa mostrar algo concreto. A essa altura tudo fica muito mais concreto, o artista aprende a lidar com os questionamentos sobre o que pôr na tela, pois precisa ser objetivo em quase tudo. Ao longo desta fase, a paleta torna-se mais sutil, o artista amadurece a ponto de perceber que a antiga paleta dava-lhe um nó nos terminais dos neurônios, embora ele saiba, agora, perfeitamente desviar-se das pinceladas desnorteadas que imperam a tela da adolescência e da juventude. Experiência.

Na velhice, os tons pastéis predominam, as cores frias da fase anterior vão se tornando mais suaves inconscientemente, a experiência que já adquiriu faz da leveza ao pintar, um movimento peristáltico e involuntário de mãos irrugadas e trêmulas, as mãos da personificação do aprendizado. A partir daí, como uma dádiva da vida, as cores vão sumindo, sumindo e sumindo, as cores na paleta vão acabando e os refis, já vazios, fazem o pintor levantar-se do seu lugar em direção a saída. Agora as obras estão prontas, perfeitas, inexoráveis e incorruptíveis. A obra prima de um pintor que não voltará mais ao ateliê. Precisa descansar.

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