O visível constrangimento da garota me pareceu divertido. Isso me dava a possibilidade de aproveitar a situação. Quando estão mais vulneráveis, as pessoas costumam ser mais influenciáveis. E eu pretendia conhecer bem melhor aquela garota.

- Jade...? – repeti quando a mesma parou no meio da frase. Jade não parecia estar afim de falar pois permaneceu alguns segundos calada. Fiquei pensando se eu acabei intimidando a garota mesmo não tendo trocado mais de três frases com ela.

Então ela pede para chama-la apenas de Jade. O sorriso retorna ao meu rosto.

- O prazer é meu, Jade, mas você tem algum nome do meio? – perguntei me aproximando. – E não seja modesta. Sua voz é muito boa. Além do mais, só a dança já valeu por qualquer coisa.

  - Elizabeth. – repeti em um tom confirmativo. Elizabeth. Um belo nome. Como as clássicas personagens de Jane Austen, autora das quais acabei lendo muitas publicações. Escondido. Ninguém precisava saber que eu apreciava uma autora de romances trouxas. – É realmente um nome muito bonito. – uma pausa. – Não tem uma Elizabeth...? Naquele livro trouxa "Orgulho e Preconceito"? – perguntei fingindo estar confuso. Lizzie Bennet era um dos meus ícones femininos preferidos. – Não lembro. Alguém deve ter me falado isso, mas a garota parece ser bem legal. – completei dando de ombros.  

Recordei o seu corpo mexendo e agitando-se ao som do ritmo da canção. Foi a melhor visão que tive naquela manhã. Quando me aproximei, pude notar outros detalhes do seu rosto. Ela era uma linda e jovem garota. Talvez bem mais jovem que eu, mas decidi não pensar nisso.

Jade parou quieta e começou a enrolar a mecha do cabelo. Uma atitude típica que simbolizava nervosismo. Conhecia garotas tímidas e elas eram atraentemente mais interessantes.

- Sonserina. – respondi rapidamente ainda observando o seu rosto delicado. Ela perguntara qual a minha Casa e o ano escolar. – Entrei agora, no primeiro ano. – completei em um tom falsamente incomodado e desviando o olhar para a janela.

Todos me falavam bem de Hogwarts no sentido educacional, mostrando a imagem de um lugar sério e respeitoso. Também posso dizer que sempre tive bons resultados com professores e aulas particulares, visto que aproveitava cada dose de conhecimento novo. Entretanto, esses não eram meus maiores interesses por aqui. Procurava algo bem mais animador no colégio.

– Tem sido maneiro. – continuei voltando a observá-la. – Ainda mais agora... – uma pausa. – Mas não queremos falar sobre mim. Certo? Conte-me mais sobre você. Casa? Ano?

O corredor estava vazio e eu esperava que continuasse assim. Chegava cada vez mais perto de Jade. Se tudo desse certo, como minha mente rapidamente planejava, nós logo estaríamos próximos o suficiente para eu tentar algo. Não tinha o que perder.

- Ah, e o mais importante. – concluí com um sorriso. – O que faz aqui... sozinha?

Eu não podia negar que Jade tinha uma atratividade fora dos padrões normais. Pelo menos, nos padrões de Hogwarts. Todas as outras garotas pareciam estar sempre ocupadas com papos fúteis ou com conversas completamente sem ânimo. Ou eram fáceis demais ou eram revoltadas demais. Doses diferentes em um mesmo copo.

Entretanto, a garota que estava ao meu lado, começava a me intrigar. Sua aparência remetia a timidez, romantismo e prudência, mas ao mesmo tempo, o olhar e as palavras indicavam qualidades que iam além dessas características. Costumo observar bem a personalidade de uma pessoa e conhecendo suas preferências e desgostos, consigo descobrir fraquezas e defesas. No entanto, Jade ainda se revelava um quebra-cabeça. Minha mente analisava suas reações. Ela foi simpática, mas ainda um tanto insegura. Não ficou constrangida o suficiente para esconder sua receptividade, mas demonstrou estar em dúvida com a minha presença. Além disso, tinha uma beleza intensa, algo que poderia chamar mais atenção, mas a mesma não parecia ligar pra tudo isso. Talvez até quisesse esconder. Nada se encaixava com os padrões que eu conhecia.

Eu estava tentando puxar um papo, mas minhas intenções eram bem diferentes. Quando começo a me interessar por alguém, não paro até conseguir. Ou até ter me divertido o suficiente. Jade era meu próximo alvo.

Ela continuou a responder minhas perguntas, revelando que é lufana. Não pude deixar de soltar uma risadinha debochada ao escutar essa informação.

- Lufana. – afirmei concluindo. – Interessante. Eu acho que preciso prestar mais atenção na Lufa-Lufa. – comentei distraidamente. Lufa-Lufa era definitivamente a Casa mais sonolenta do colégio. Porém, nada contra. Pelo contrário, eles são ótimas pessoas. Certo?

Ia me aproximando aos poucos. Lentamente. Não queria assustar Jade. Queria apenas que a mesma se acostumasse comigo. Um pouco mais.

- Uhum. – confirmei sorrindo quando ela admitiu o porquê estar sozinha. Ela começou a falar apressadamente, meio que se enrolando na escolha de palavras. Entretanto, sua última frase me agradou bastante.

- Também estou adorando te conhecer. Não é sempre que encontramos alguém dançando assim. Tão... livremente! – nesse momento estávamos encostados na parede. Ela se afastara sem perceber e agora eu colocava a mão nos tijolos de pedra. – Sua animação estava me contagiando. – mais uma pausa. – E se quer conversar comigo, nós podemos fazer isso agora. Nos conhecer ainda mais... – coloquei a mão no seu queixo fazendo uma leve carícia. – Está afim? Eu sei que está. – então aproximei meus lábios na busca de um beijo.

Não importava qual seria a reação de Jade. Eu não desistira tão fácil. Elas sempre acabam cedendo.

Sim, meu personagem é um idiota, mas agora saberão o motivo. Bem-vindos ao que chamo de vida!