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Tempos de escravidão

Um dia colhendo algodão
Na terra seca sobre o sol fervendo;
Queima a pele
Escorre o suor sagrado
Da gente que é oprimida
E inda assim se mantém de pé.

Noutro dia corpos nus
Espalhados pelos corredores;
Sendo analisados e negociados
Tão grosseiramente...

A pele negra, o ser negro;
Por que virar mercadoria barata?
O escravo que nasceu e foi feito
para servir...

O dia amanhece e não clareia
A aurora é sangrenta;

Corre pelas águas do rio
O corpo já sem vida duma jovem,
Feliz agora por estar longe do mundo.

Num porão escuro estala
O som da chibata
Rasgando a pele do novo escravo
(Bem vindo à realidade, meu caro)

A noite chega vagarosamente;
O céu está em luto,
Os rios sangram,
E a amargura vaga
Pelos cantos da senzala;

Há rancor e dor em
cada alma dilacerada;

O dia seguinte traz em si
Algo repentino, cruel ceticismo;
Um papel que determina a liberdade;
Seria isso verdade?

Regressar para casa;
Para os braços da família
Há muito deixada para trás;
Seria esse o retorno da paz?
Mas a dor do passado inda há
de perpetuar;

Acaso são só as correntes que aprisionam?

A chibata apenas o que fere?

É uma lei que fará de ti humano?

Mas que é ser humano na desumanidade?


Poema da avaliadora/organizadora Eduardaah_

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