2º LUGAR
O segundo lugar foi para HallenParker, com A magia do Natal. Com uma escrita delicada e uma história com setimentos profundos de um moça a superar o luto numa data tão especial.
Eu e a autora esperamos que gostem, e não deixem de visitar o perfil da autora ;-)
Era uma manhã sob a neve branca que se espelhava pela pequena cidade de PalmSprings, nada era tão comum quanto a nossa rotina para os poucos habitantes daqui. Todos me viram nascer, crescer, casar e até mesmo enterrar meu marido na véspera de Natal. Uma data que perdeu seu brilho e alegria que um dia me emocionavam.
PalmSprings ficava linda sob o efeito natalina, todos eram puro emoção e gratidão, principalmente pelo que esse dia simbolizava. Mas, ao perder Carter, era como se tivessem tirado isso de mim, arrancaram-me as partes boas, as doces lembranças de fazermos biscoitos de natal para o Abrigo Hamilton, e encher nossas caras de farinha e escolher quem ficaria com a sujeira. Aquela velha empolgação, alegria e êxtase se foram junto com ele.
Não havia mais graça em ver um natal como antes. Mamãe costumava dizer que tudo acontece por um motivo, bem, talvez ela possa estar errada, mas não era meu trabalho mostrar-lhes que estava enganada. Ela sempre foi uma pessoa adorável e amiga para todos, até mesmo na sua pequena cafeteria onde a cidade se reunia na véspera de Natal, para um bolo quente com café e músicas natalinas. Fazia um ano que eu não participava do evento tradicional da mamãe.
Desde sua partida, eu passei a vida reclusa em nossa casa vazia e sem graça. Com goteiras grotescas no teto, já pedindo socorro, uma pia entupida e uma árvore com a metade dos enfeites montadas, olhar para ela me arrematava para o pior dia de nossas vidas, pelo menos da minha. Era como se estivesse acontecendo de novo e de novo, e eu não tinha coragem de desmonta-la. Por que você se foi?, pensei. Eu culpava-me constantemente sobre sua partida, se eu não levasse aquele acontecimento tão a sério.
Carter era o delegado de PalmSprings, tão adorado quanto bajulado, digamos. A cidade inteira o amava, ele era uma luz para todos a sua volta e foi sua bondade que fez com que nossos corações se cruzassem e bastou apenas um sorriso para eu me ver totalmente apaixonada por ele. Havíamos feito tantos planos, nossa viagem para o Havaí, o nome do nosso primeiro filho ou filha, nossa compatibilidade intensa, a discussão do filme que assistiríamos sexta a noite. Eram tantas lembranças que doíam dentro do coração, esmurrando-o até não sobrar mais nada.
Eu queria apenas entrar em uma caixa e ficar lá até o fim do Natal, mas não era possível.
— Carter — chamei-o baixinho enquanto derramava lágrimas do luto eterno.
Naquela manhã da véspera de Natal, Carter se arrumou para trabalhar normalmente como fazia todos os santos dias. Eu já estava preparando sua marmita, já que a cidade estava enfrentando grandes consequências de um furacão que nos pegou de surpresa. Muitos perderam tudo e precisavam de alguma ajuda para recomeçar, apesar de não ser exatamente sua função, ele procurava ajudar a todos e sempre chegava tarde da noite do trabalho. Mas, quando eu fui ao mercadinho do senhor Johnson, decidida a tomar um vinho com meu marido, merecíamos uma noite só nossa. Era natal e sentíamos comoventes e a alegria transbordava.
Mas naquele fatídico dia algo assustador e aterrorizante, um adolescente encapuzado que não parecia ser daqui, entrou tranquilamente, as mãos pousadas no bolso do casaco se dirigindo a geladeiras de bebidas alcoólicas, Senhor Johnson o observou atrevidamente e o abordou.
— O jovem deseja algo em específico? — perguntou.
— Quem é esse rapaz, senhor Johnson? — perguntei.
— Suponho que não seja daqui, não reconheço seu rosto. — afirmou, mas sua expressão desconfiada revelava tudo.
O rapaz não se pronunciou, mas continuou vasculhando as geladeiras. Foi quando Johnson, resolveu chamar o Carter para uma ocorrência. Seu carro chegou alguns segundos, entrando em seguida e averiguando o rapaz que perturbou-se com sua presença. Logo sacou um revólver e apontou em sua direção. Foi naquele momento, que meu coração se apertou e a alma se despedaçou. Carter tentou contornar a situação, mas o jovem parecia determinado a tirar a vida de alguém. Tentei pedir que Carter fosse embora, mas o rapaz foi mais rápido e atirou na minha direção. O estampido alto e ruidoso atingiu as laranjas ao meu lado e criou um zumbido no meu ouvido, agachei-me apavorada incapaz de verificar se tinha sido atingida.
Senhor Johnson saiu atrás do balcão agachado, e me estendeu sua mão. Foi quando ouvimos mais quatros disparos e um baque pesado no chão. Senhor Johnson, levantou-se de um pulo e olhou fixamente para porta por onde o jovem estava fugindo com o carro de Carter. Sua expressão de tristeza profunda e pesar, me fizeram entender que Carter havia perdido a batalha. Levantei-me trêmula, e vi alguns produtos estilhaçados e o corpo de Carter ao chão, com seu torso ensanguentado, era perceptível sua dificuldade para respirar.
Doeu muito mais ouvir suas últimas palavras: "Eu sempre vou amar você, ainda vou encontrar você de novo.", Com isso ele fechou os olhos e se foi...para sempre. A cidade ficou em luto por uma semana por Carter, muitos não entendiam quais motivos levava alguém tirar a vida de um ser humano, ainda mais se tratando de Carter que era um homem cheio de bondade e luz.
Batidas na porta ressoaram como um despertador ávido em me tirar da minha tristeza profunda e me trazer para a vida real, cheia de dor e lembranças ruins. Gritei para que entrasse, não fazia mais sentido eu resguardar pela minha segurança, queria estar com Carter seja onde fosse e se esse fosse um momento privilegiado, eu estaria eternamente agradecida.
— Clarice? — uma voz familiar me chamava, meramente preocupada.
— Estou aqui — disse enquanto estava sentada em frente aquela árvore desnecessária no meio da minha sala.
Tessa se aproximou encarando meu estado deplorável e digno de pena.
— Chega dessa história, vamos reagir, Clarice! — exclamou ao se agachar perto de mim.
Bufei em resposta.
— Não há história alguma, só quero que esse dia acabe. — explico.
— Carter não ia gostar de vê-la assim, por favor — pediu com carinho. Minha amiga desde a infância, que se formou em uma das melhores faculdades dos Estados Unidos, para criar um pequeno escritório de advocacia em PalmSprings. —, preciso de uma ajuda...
— Ajuda? — ironizei.
— Preciso escolher uma árvore de natal, sabe como minha família é, e podemos parar na cafeteria de sua mãe, ela gostaria de vê-la.
— Eu tenho outra opção? — perguntei, exasperada.
— Acho que não. — sorriu.
Ela ajudou-me a me levantar e soube na hora que ela havia percebido minha cara inchada de choro. Para a minha sorte ela não fez mais comentários desnecessários sobre meu tormento. Troquei-me rapidamente colocando minhas vestes de neve, um casaco fino e depois um grosso de cor creme, um cachecol vermelho para combinar com o gorro da mesma cor e minhas galochas. Tessa me olhou assoberbada e suspirou profundamente.
— Não é preciso tanta arrumação para ir no centro do exposição. — afirmei.
— Não, se quiser chamar atenção de uma escultura de gelo! — reclamou.
— Não quero atrair atenção, é você que precisa desencalhar. — ressaltei.
— Não vou responder a essa situação por respeito a memória de Carter. — replicou, calmamente.
Dei de ombros e segui para fora de casa. Tessa parecia determinada em manter qualquer tipo de conversa comigo, mas nada que pudesse vir deste natal poderia me agradar. As ruas estavam enfeitadas com vários artefatos de natal, como todos os anos, mesmo com várias inovações. Tessa, foi a loja do Carlton comprar seu cigarro de praste e voltou logo em seguida. O carro do delegado, que um dia foi de Carter, nas mãos de seu novo substituto, aquilo desceu como uma bebida quente e amarga queimando minha garganta. Seria difícil me acostumar a ver alguém que não o Carter.
Tessa percebeu meu estado e puxou pelo pulso por um beco que dava acesso a rua de trás de minha casa. A praça pavimentada e mais brilhante do que nunca, vi o casal Norman tirando fotos com o enorme papai Noel no centro da praça, o prefeito Corwell em sua coletiva local, o dono da padaria que sua neta que havia chegado do Mississipi, e os gêmeos Travill. Era um clima harmonioso. No fim da rua, havia alguns operários trabalhavam na neve e colocando mais luzes. Tessa andou mais alguns metros a frente para entrarmos na loja a céu aberto do senhor Noel, ele trabalhava com árvores de Natal. Sabia que esse dia estava longe de acabar.
O dia transcorreu de uma forma pesada e congelante, a neve se desprendida do céu como chuva e Tessa resolver fumar um cigarro antes de entrar na cafeteria de mamãe. As pessoas fiéis a sua tradição de todos os anos. Ela, sofreu como todos a partida de Carter. Eu não queria entrar, aquele seu olhar de compaixão era um tormento. Quando entramos, os olhares se dirigiram para mim, de forma que me senti constrangida, Tessa me puxou para os fundos onde minha mãe confeitava seus cupcakes natalinos. Seu olhar se envaideceu ao me ver.
— Olha quem resolveu aparecer! — seu tom era doce porém acusatório.
— Não começa, mãe! — pedi, exasperada.
— Começar o quê? — pegou sua assadeira de silicone e colocou-o no forno industrial.
— Com suas acusações, só acho o Natal desnecessário. — ressaltei.
— Quando eu perdi seu pai, eu entrei em negação, não queria entender o lado certo de tudo aquilo, eu me entreguei a minha dor — explicou e deixou suas luvas em cima da bancada e me olhou com seus olhos amendoados. —, mas eu não podia agir como uma adolescente que acabara de perder o namorado...
— Por que? — perguntei-lhe.
— Eu tinha você! — concluiu. — Eu não tinha tempo para sofrer, entende?
— Desculpa por ter sido um estorvo em sua vida! — acusei, furiosa.
— Sua mãe só quer ajuda-la, Clarice, Carter era parte de nós também, mas a dor não pode dominar você! — esclareceu, Tessa.
As lágrimas começaram a marcar minha linha d'agua quando revirei o rosto. Minha mãe, docemente, caminhou em minha direção e me cobriu com seu abraço caloroso. Meu coração ainda sangrava com a perda e pensar sobre ele e esse dia, significava perda e dor. Tessa se juntou ao embalo e um abraço triplo foi formado, que só acabou pelo apito insistente do forno. Mamãe pediu que fôssemos para o salão e Tessa decidiu ficar para ajuda-la. Todos voltaram seu olhar para mim e um silêncio mortal foi feito. Sentei-me no balcão esperando que esse dia acabasse logo.
Na manhã seguinte, eu me sentia estranhamente corajosa. Levantei 0ara começar minhas higienes matinais, e após me vestir adequadamente para o dia de nevasca, decidi que caminharia pela cidade encontrar qualquer coisa que me fizesse acreditar de novo no Natal, o que seria uma tarefa extremamente difícil. Mas, estava determinada a provar para Tessa e mamãe, que eu poderia facilmente transpor esse dia sem mencionar ou demonstrar dor.
Foi uma caminhada tranquila pela estrada central, dra. Novack, a psicóloga do hospital local estava com dificuldades em seu carro que havia atolado na neve. Me aproximei para oferecer ajuda.
— Dra. Novack, precisa de alguma ajuda? — perguntei.
Ela me olhou como se tivesse vendo um fantasma voltar a vida. Consequências de ter vivido presa dentro de casa, afastada da luz do dia há muito tempo.
— Eu gostaria de chamar um guincho — disse com um sorriso afável.
— Eu poderia chamar o senhor Norton, tudo bem? — sugeri.
— Seria ótimo! — exclamou, com a expressão aliviada.
Senhor Norton chegou tranquilamente com sua caminhonete infalível para ajudar a dra. Novack. Ela apertou minha mão em um gesto de agradecimento, e magicamente me senti bem com isso, afinal era o que Carter faria. Continuei minha caminhada distraída, quando algo pesado como um touro acaba me atropelando, me fazendo cair de bunda no chão. A neve gelada sob a palma da minha mão, criou rapidamente uma dormência que precisei sacudir a mão fervorosamente.
— Oh, me desculpe, eu não a vi, se machucou? — perguntou o homem de voz rouca e cálida, preocupado, ele me segurou pelo cotovelo, ajudando-me a levantar.
— Eu estou bem, não foi nada. — repliquei secamente.
— Como não foi nada? Você parece zangada, deixe-me compensa-la. — ofereceu.
Quando levantei o rosto para encarar meu atropelador, seu rosto era marcante com uma covinha no centro do queixo, seus olhos eram limpidamente azuis, e suas vestes de um operário, eu nunca havia visto algo ou alguém tão bonito assim depois de Carter, me senti culpada por pensar algo assim, seus cabelos negros caíam por seus supercílio, deixando-o mais charmoso do que nunca.
— N... não é preciso, obrigada. — disse rápido, o que fez ele franzir as sobrancelhas.
Eu decidi segui o meu trajeto furiosa comigo mesmo, pensar em outro homem que não o Carter, era uma ofensa em sua memória. Não sei por quantas horas fiquei andando, minhas pernas doídas, resultado de um Lockout decidido por mim. Culpei Tessa, culpei minha mãe e a mim mesma por aceitar uma aposta tão infantil e absurda como essa. Meu telefone tocou e procurei atender no terceiro toque, sabendo que era Tessa.
— Como está sendo o seu dia? — ironizou.
— Eu acabei de ser atropelada por um ser humano, estou andando a horas de forma extraordinária, e como está o seu? — rebati, furiosa.
Sua risada foi algo que me irritou pela primeira vez.
— Ele era bonito, pelo menos? — perguntou, entre a risada.
— Tessa, eu vou tomar um chocolate quente antes de dar essa idiotice por encerrado! — disse exaurida.
— Esse não foi o acordo! — disse ela, baforando um cigarro.
— Não foi um acordo, fui coagida a aceitar essa baboseira de Natal. — reclamei.
— Chego em instantes, me espere. — avisou ela.
Entrei na cafeteria de minha mãe que estava parcialmente cheia, e alguns operários estava tomando seu chocolate quente com um croissant, por sorte o rapaz de mais cedo não estava por lá, o que me fez agradecer mentalmente. Sentei-me em uma mesa e minha mãe trouxe um chocolate quente com seus biscoitos confeitados de bonecos natalinos, o que me fez lembrar de uma noite com Carter, os biscoitos que fazíamos para o abrigo. Mamãe deu três tapas de leve em meu ombro e um beijo em minha cabeça.
— Sinto sua falta — murmurei baixinho.
Tessa chegou em um pulo em seu estardalhaço notável diário e sentou-se a minha frente. Dra. Novack entrou e nos cumprimentou rapidamente e agradeceu mais uma vez pela minha ajuda e seguiu para os fundos da cafeteria. Tessa mantinha um sorriso presunçoso enquanto me encarava.
— Ajudou a dra. Novack? — perguntou.
— Ela estava atolada. — expliquei.
— Nobre da sua parte, considerando que ela pegava no seu pé, no ensino médio. — comentou ácida.
— Isso foi há dez anos, vamos com seu joguinho, quero descansar. — disse a ela.
— Amanhã iremos ao abrigo prestar uma ajuda, ainda falta alguns ajustes depois do furacão e as crianças sentem falta dos...biscoitos. — ressaltou.
— Quem fazia era o Carter, eu só confeitava. — expliquei.
— Acho que sua mãe pode dar uma ajudinha. — sorriu e deu uma piscadela.
Levamos um dia e meio para confeitar cinco caixas de biscoitos natalinos na cozinha da cafeteria. Minha mãe ria a cada passo errado, erramos muito durante o processo, mas depois que pegamos o ritmo, me senti mais leve e feliz por um momento. Carter se sentiria orgulhoso, talvez. Mas era estranho fazer isso sem ele. Era como se eu tivesse traindo nossa tradição, mas estava orgulhosa do meu feito. Faltava apenas um dia para o Natal e era preciso agilidade para entregarmos as caixas. Tessa sugeriu que fôssemos em sua casa, nos trocar já que ela morava mais próximo do abrigo.
Horas mais tarde, o abrigo estava lotado de crianças ansiosas pelos biscoitos. Aquilo me fez sentir esperançosa, aliviada e feliz. Tessa havia conseguido um progresso mas não tudo, minha mãe foi distribuir os biscoitos com toda aquela gritaria estridente que nos fizeram rir.
— Espero que você tenha entendido tudo que fizemos aqui. — explicou Tessa ao abrir um enorme painel com a foto de Carter, segurando as caixas com crianças a sua volta e uma linda mensagem em slides trazendo viva a sua memória, ele jamais seria esquecido.
— Ele era tudo que a cidade e eu precisávamos! — disse com a voz embargada.
— E sempre continuará sendo, Clarice, isso não vai mudar! — exclamou Tessa. — Olha essa multidão, eles estão aqui hoje por ele!
A cidade inteira veio prestigiar Carter em seu um ano de falecido, isso havia me trago um calor afável. Eu precisava de ar e caminhei até a porta quando o homem que esbarrou em mim alguns dias antes surgiu, arrumado e cheiroso, um perfume inebriante quase intoxicante.
— Ele é parte de uma história aqui, mas também era a minha. Meu querido irmão! — disse emocionado.
— Você o conhecia? — perguntei, surpresa.
— Sim, a mãe dele me adotou para me tirar das ruas. — explicou com um sorriso cálido.
Tessa tinha razão, para tudo na vida havia um propósito, e esse propósito era amar e perdoar. Eu amava Carter com todo meu coração, o amaria para sempre, mas estava na hora de seguir em frente com a magia do natal que aquecia nossos corações congelados. E assim seria por toda a vida.
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