Irmãs de Alma | Conto 2
Estava no primeiro ano escolar quando conheci Catarina, aquela que me prometeu várias vezes que seríamos melhores amigas para sempre, nós éramos como irmãs e até nossas mães viraram amigas por nossa causa. Infelizmente, o pai de Cat morreu quando ela tinha onze anos e a mãe passou a trabalhar dobrado para sustentar a filha esquecendo-se um pouco de ser uma mãe afetiva.
Já eu tenho duas mães, uma delas é minha mãe biológica ela nunca chegou a se casar com o meu pai, mas quando eu tinha cinco anos ela conheceu a Lívia, minha outra mãe e para os engraçadinhos que fazem piadas com isso, minha mãe não é confusa, ela é bissexual, ok?
Que lerda que sou, quase esqueci de me apresentar direito (e já falei da minha vida pessoal). Meu nome é Alice, tenho 16 anos, estou no segundo ano do ensino médio e vou lhes contar uma história que aconteceu comigo e com minha melhor amiga nesse ano de 2017.
Como já disse, somos amigas de infância, mas desde que iniciamos o ensino médio, Catarina começou a fazer novas amizades, sair sem mim, começou a ficar distante e diferente a ponto de não a reconhecer, andava com casacos em tempos quentes, não estava mais tão falante e cheguei a pensar se ela estava depressiva. Um dia tomei coragem e falei com ela:
— Minha mãe disse que o almoço logo estará pronto, enquanto isso eu quero conversar sobre algo importante com você.
— O que foi? Perdeu o bv?
— Não é isso. — Respondi constrangida. — Eu notei que você tem mudado muito e não me fala se tem algo acontecendo com você, eu estou ficando preocupada.
— Eu não tenho nada, Alice. As pessoas mudam, é normal.
— Não Cat, você está muito estranha. Não está mais tagarelando, vive parecendo que está escondendo algo, vive usando esses casacos e é verão.
— Se não está satisfeita com o meu jeito então arruma outra amiga, senhorita certinha!
Nesse dia ela saiu brava e eu me senti tão perdida que nem me movi, não acreditei quando ela foi embora para casa e fiquei muito magoada com as atitudes dela que se seguiram como me ignorar na escola e ficar andando com as pessoas erradas.
— Oi Alice, — um garoto da minha turma que nunca conversou comigo sentou na cadeira ao meu lado na hora do intervalo — é verdade que você é bv? — Falou em tom de gozação.
— O que? Quem te disse isso?
— Isso não importa, só vim avisar que posso resolver seu problema!
O garoto se aproximou de mim, mas eu o empurrei com toda minha força me levantando em seguida, eu só não esperava que alguém estive passando atrás dele com um refrigerante na mão bem na hora que eu o empurrei.
— Olha o que você fez, sua burra.
Depois disso todos começaram a espalhar boatos de que eu era lésbica por não querer beijar aquele garoto infeliz e tudo piorou quando descobriram sobre minhas mães, eu fiquei muito magoada com a Cat, ela era a única que sabia de tudo aquilo. O problema não é admitir quem eu sou ou de onde venho, é o que os outros fazem com isso. Eles machucam quem é diferente sem se importar com os seus sentimentos.
Eu acabei fazendo amizade com outras pessoas, mas não esqueci Catarina. Eu ainda estava magoada por ela se afastar de mim e trair minha confiança, mas acima de tudo ela havia sido minha melhor amiga por anos e esse tipo de sentimento não acaba tão facilmente, eu ainda me preocupava com ela.
Era maio de 2017, quando pedi para ir ao banheiro durante a aula de português. Enquanto lavava as mãos para sair, notei o barulho vindo de uma das cabines.
— Está tudo bem aí? — Perguntei enquanto secava as mãos e não obtive respostas, mas certamente havia alguém lá dentro. Me abaixei para olhar o vão abaixo da porta afim de ver se tinha pés e não só tinha pés como alguém caído ao chão.
Desesperada, fui até o corredor e chamei a tia da limpeza que passava por ali e enquanto ela tentava socorrer quem estava no banheiro eu corri para a coordenação. Laís, a coordenadora foi até o banheiro comigo e descobrimos que quem estava desmaiada no banheiro era Catarina, encima do vaso tinha um papel com um pouco de pó branco e o nariz de Catarina sangrava.
Quando a ambulância chegou, Catarina ainda tinha pulsação apesar de fraca e foi levada às pressas para o hospital de base, eu não pude acompanha-la, mas falei com minha mãe e encontramos a mãe de Cat, no hospital, desesperada em meio as macas no corredor e pessoas doentes sentadas no chão.
Minha amiga estava numa das macas com um soro injetado no braço.
— Ela precisa ser transferida. — Minha mãe conversou com Gabriela e decidiram transferir Catarina para um hospital particular.
Foi um dia de muita aflição, os médicos conseguiram salvar a vida de Catarina e só então eu fui para casa. No dia seguinte, eu fui visita-la com a esperança de que já estivesse acordada.
Ela já estava em um quarto, entrei e já fui falando:
— Como você está se sentindo?
Ela ri, deve lembrar que não gosto de fazer perguntas obvias e se a fiz é porque estou sem palavras.
— Eu não te mereço, aliás nunca mereci. Você é tão boa e eu só te magoei.
— Não é verdade, ninguém é perfeito Cat. Todo mundo erra! — Digo me aproximando.
Ela me estende a mão e eu a abraço.
Quando o horário de visitas acabou, eu fui para casa. O final de semana passou tranquilo e na segunda sentei em meu lugar ansiosa para ver catarina sabendo que ela já tinha saído do hospital, me animei quando a vi passar pela porta
— Seja bem-vinda de novo Cat! — Falei com um enorme sorriso e tudo o que recebi foi um oi seco e antes que pudesse tirar satisfação o professor carrasco entrou na sala.
Não consegui falar com a Catarina e então resolvi segui-la na hora de ir embora. Ela caminhava por um caminho diferente, ela parou de andar e com medo de ser reconhecida me escondi atrás de um carro estava abaixada próximo ao retrovisor e consegui ver um homem, Cat seguiu ele até um beco e eu discretamente fui atrás deles. Não entendi o que conversavam e fui tentando me aproximar, foi quando vi que o homem segurava uma arma, a partir daí foi tudo rápido, ele ativou o gatilho e eu sai correndo, quando ele disparou, eu só senti a dor no ombro e a Catarina me segurou antes que caísse no chão, o cara iria atirar novamente, quando ouvi:
— Mãos para o alto!
Eu ainda estava consciente quando um guarda me fez primeiros socorros e chamou uma ambulância enquanto o outro ia atrás do bandido.
Me lembro vagamente de entrar na ambulância e depois acordei em um quarto deitada numa cama. Primeiro uma enfermeira veio verificar como eu estava e depois minhas mães entraram preocupadíssimas, conversamos um pouco e depois elas me deixaram a sós com Catarina.
— Eu tentei te proteger, mas você tinha que ir atrás de mim. Alice você é boa demais para mim, eu te magoei, quase te matei e você ainda não desistiu de mim? Você é louca!
— Talvez eu seja mesmo louca, por nunca desistir. Cat, você é minha melhor amiga eu nunca vou te abandonar mesmo que você queira e não é culpa sua eu ter levado um tiro. Foi eu que quis entrar na frente daquela bala.
— Me perdoa Ali. Eu não quero que você sofra e não quero te arrastar para o fundo do poço como eu estou — diz com lágrimas nos olhos.
— Você não vai me arrastar para o fundo do posso, sou eu que vou te tirar dele, ta? Agora deixa de ser chata e volte a ser minha amiga como sempre!
Eu sorri para ela enquanto a mesma sorria e chorava ao mesmo tempo e foi aí que recomeçamos uma nova fase juntas, Catarina iniciou tratamento contra o vício e eu permaneci ao seu lado.
P S: Eu não sou tão dramática assim. Ass: Catarina
P S 2: Até parece, é pior ainda! Ass: Alice.
[Este capítulo foi revisado pela nossa equipe]
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