Capítulo XIII
Me arrumava para ir à festa às seis da noite. Meus cabelos enrolados estavam molhados e eu havia passado um batom orquídea que combinada com minha pele. Não que eu ligasse pra isso. Vesti uma calça jeans e calcei meus tênis vermelhos.
É, eu sei que havia dito que não iria para a tal festa, só que passei o sábado inteirinho esperando por um único sinal de vida do Léo, mas ele não se deu o trabalho de falar comigo. Então eu decidi que iria para a festa da Iris.
Meu pai passara o dia todo trancado em seu escritório e só saiu para comer e ir ao banheiro, então eu meio que estava me sentindo um tanto solitária.
O celular tocou e atendi na mesma hora.
- Pronta para o super encontro da sua vida? - não tinha contado ao Sammy sobre o Léo, porque ele passou muito tempo me fazendo milhares de perguntas sobre o assalto que acabei perdendo a vontade de lhe falar qualquer outra coisa.
- Não. Na verdade estou pronta para a festa da Iris.
- Ah - sua voz desanimou. - Você vai?
- É. Encontrei ela ontem no mercado e ela me chamou.
- Mas e o encontro com o bonitão?
- Ele não falou mais comigo.
- Ele te deu um bolo?!
- Ele apenas não falou mais comigo.
- Ah - peguei algum dinheiro na bolsa e a chave do carro. - e por que você vai à festa dela?
- Eu não sei. Acho que preciso me divertir, sei lá. Você sabe que eu te adoro, mas tem horas que precisamos deixar nossos problemas de lado e aproveitar a vida.
- Uau, de que livro você tirou isso? Espera um segundo que eu vou anotar.
Ele realmente foi.
Voltou três minutos depois.
- Tá, voltei só pra dizer que você é uma traidora.
- Eu? Traidora? - eu definitivamente estava sendo uma traidora, mas ouvir aquilo era muito pior do que apenas saber.
- É, você mesmo, sua vaca. Espero que essa seja a pior festa do ano.
- Você adoraria que fosse assim, não é?
- Adoraria? Eu poderia dançar pelado no meio da rua de tanta felicidade se isso acontecesse.
Dei risada e ele desligou.
Enfiei o celular no bolso e saí do quarto.
- Pai, estou saindo!
- Pra onde você vai? - ele gritou de volta.
- Casa da Iris!
- Achei que não gostasse dela.
- É, eu não gosto - abri a porta e saí.
Dirigi até a casa da Iris ouvindo as músicas da minha banda favorita enquanto acompanhava o ritmo batucando no volante.
A rua que ela morava estava repleta de carros e eu tive de parar há alguns metros da casa e ir andando.
A noite estava curiosamente fria e mais estrelada que o normal (era possível ver umas cinco ou seis estrelas a mais) e eu me perguntei se realmente queria ir àquela festa. Não queria, era a resposta, mas eu fui. Por quê? Bom, eu não sei dizer o porquê.
Abri o pequeno portão de madeira e caminhei pelo jardim em direção à casa barulhenta.
Levantei a mão para tocar a campainha ao mesmo tempo que a porta abriu e duas garotas saíram de lá.
Entrei.
A casa estava repleta de gente bebendo e conversando na sala sobre coisas sem importância. Fui até a cozinha onde mais pessoas bebiam e se atracavam em cima das bancadas.
Encontrei Iris do lado de fora, no quintal, onde ela conversava com um cara e mantinha os olhos fixos na piscina à sua esquerda. Ela definitivamente não estava interessada nele, que parecia venera-la.
- Oi Iris - disse, me aproximando ela.
- Então, como eu ia dizendo, fico muito feliz em... - ela se virou para mim e abriu um grande sorriso, fazendo com que o rapaz parasse de falar.
- Você veio! - me abraçou. Aquele mesmo cheiro insuportável de perfume. - que horas chegou?
- Agora.
- E por que ainda não está bebendo nada?
- Por que eu cheguei agora!?
- Ah, claro. Vem, eu te sirvo alguma coisa - ela segurou meu braço e me puxou. - Nos falamos depois querido - disse, virando a cabeça rapidamente. - Ele é o meu namorado.
Segurei a risada.
- Sério? Não pareceu.
- Eu sei, né. Ele é tãããão chato! - ela revirou os olhos e sorriu. Entramos na casa. Iris abriu a geladeira e me jogou uma cerveja.
- Ah, não, eu não bebo cerveja, obrigada.
- O que você quer?
- Por agora nada, relaxa. Eu... Acho que vou me sentar - falei e passei por ela. Caminhei até a sala cheia e sentei no sofá vazio.
Olhei à minha volta e novamente me perguntei que diabos estava fazendo. Quero dizer, não ali, exatamente, mas na minha vida em geral.
"Dá pra parar de pensar por pelo menos cinco minutos?" me repreendi.
"Tecnicamente falando, não." a voz mais idiota dentro da minha cabeça argumentou. Eu ri sozinha e baixei a cabeça encarando meus tênis vermelhos muito sujos.
" Vocês precisam de um banho"
Um cara sentou ao meu lado e ele fedia a cerveja.
- E aí.
- Oi - respondi.
- Como você tá?
- É. Bem, valeu. Mas eu não estou interessada.
- Em quê?
- Em conversar... então você pode voltar pra lá e... por favor aproveite a sua festa - Talvez ele nem tivesse percebido, mas eu havia acabado de citar "Here" da Alessia Cara.
- Mas eu não quero conversar - olhei para ele que fedia a cerveja e vômito. Tinha os cabelos muito enrolados e cheios. - só quero te beijar mesmo - ele se inclinou para a frente e colocou a mão na minha nuca. Ao mesmo tempo, meu celular vibrou no bolso e levantei rapidamente. O cara meio bêbado deu com a testa no braço do sofá. Me virei e subi as escadas até o andar de cima. A tela do meu celular piscava com um número que eu não conhecia, mas atendi na mesma hora.
- Quem é? - perguntei.
- Esqueceu de mim? - era o Léo. Ouvir sua voz por alguma razão que eu desconhecia (e não gostava nenhum pouco) me deixou nervosa e feliz ao mesmo tempo.
- Acho que foi você quem esqueceu de mim, não é mesmo?
- Não. Eu não esqueci.
- Não pareceu.
Ele riu. Adorava o som da sua risada... Digo, era muito legal a risada dele, mas eu era totalmente indiferente à isso.
- E o nosso encontro?
- Ainda teremos um encontro?
- Mas é claro! Essa noite. Num motel cinco estrelas que eu já reservei o quarto.
- Isso é sério?
- Não, relaxa. Onde vamos nos encontrar?
- Não faço ideia.
- Na sua casa?
- Não precisa. Me diz onde você quer que eu te encontre e eu vou.
- Beleza.
Ele me passou o endereço do apartamento dele e eu não hesitei nem por um segundo em sair daquela casa.
- Mas você já vai, querida?! - Iris me abordou assim que abri a porta.
- É, eu meio que tenho um encontro marcado agora. Até mais.
- Ok... Lia - ela segurou meu braço. - diz pro Sammy que eu vou estar esperando por ele.
- Hã?
- Quando ele... - ela soluçou. Estava escandalosamente bêbada. - ele voltar a gostar de garotas.
Ri na cara dela.
- Isso não vai acontecer, Iris. Sammy é gay. Apenas supere isso, ok?
Ela abriu a boca e seus olhos se encheram de lágrimas.
- Não seja tão cruel! - exclamou e saiu correndo.
Revirei os olhos.
Entrei no carro e dirigi por uns bons minutos. A cidade à minha volta - aquela que nunca dormia - brilhava como se fosse uma estrela tão grande quanto o Sol.
Atravessei a Ponte do Brooklyn e passei pela incandescente Times Square.
Eram oito horas quando entrei com o carro na rua do Léo e ele já me esperava, escorado no corrimão da escada que dava pro seu prédio. Ele usava uma jaqueta jeans preta e calça preta; seus cabelos pretos estavam bagunçados e ele acompanhou meu carro enquanto eu me aproximava.
Dentro de mim, alguma coisa se chacoalhou e começou a dançar alguma coisa que lembrava uma Macarena.
Baixei o vidro do lado esquerdo da janela e ele apoiou os braços, pondo a cabeça para dentro.
- Olá - eu disse. - Não vai entrar ou me fez vir até aqui só pra me encarar?
- Essa também é uma opção válida.
- Entra logo - ele abriu a porta e a luz do carro ligou. Ele viu meu rosto.
- Que aconteceu com você? - sentou ao meu lado e esticou a mão para me tocar. Inclinei a cabeça pra trás. - relaxa - sua mão quente tocou o lado esquerdo do meu rosto. Agora ele me olhava como se pudesse ver através (ou dentro) da minha alma.
- Eu estava sozinha no Café quando um cara resolveu que todo o dinheiro de lá devia pertencer à ele.
- E ele fez isso?
- Com certeza não fui eu mesma - ele sorriu. Eu também. Sua respiração era quente e eu tinha a leve sensação de que ele se aproximava mais.
- Sinto muito - murmurou. - queria poder estar lá.
- O que você ia fazer? Lutar com um cara armado?
- Talvez sim, talvez não. Mas eu estaria lá com você.
Meu coração acelerou consideravelmente e eu baixei a cabeça. Ele beijou minha testa e se ajeitou no assento.
Tossi e girei a chave.
- Pra onde vamos?
Ele deu de ombros.
- Não faço ideia. Não tenho um tostão.
Dei risada.
- Já ouviu Cheap Thrills da Sia? - perguntei. Ele balançou a cabeça negativamente. Pigarreei e comecei a cantar: - ...Hit the dance floor! I got all I need. No I ain't got cash! No I ain't got cash! But I got you baby... - (... Até chegar na pista de dança. Eu tenho tudo o que preciso. Não, eu não tenho dinheiro! Não, eu não tenho dinheiro! Mas eu tenho você, querido...) Ele levantou as sobrancelhas e sorriu.
- Gostei da última parte.
- Só estou cantando o que ela cantou.
- Cantando pra mim.
Revirei os olhos e dei um tapinha bobo no ombro dele.
- Ótimo, não temos dinheiro, mas temos tudo o que precisamos, certo?
Ele assentiu e tirou um papel do bolso da jaqueta.
- Você pediu que eu fizesse algo simbólico - me entregou o papel. - aqui está.
- Eu não acredito que você levou isso a sério. Eu estava brincando! Não leve as coisas que eu digo tão a sério.
- Vou me lembrar disso. Agora vai, abre.
Fiz o que ele pediu e desdobrei o papel.
E FINALMENTE CHEGAMOS À LETRA L!!!! PARA CONCORRER UMA VIAGEM AO SUL DA CALIFÓRNIA POR SETE DIAS.... EU DISSE SETE DIAS!!!!!... BASTA CADASTRAR O CÓDIGO PRESENTE NO VERSO DESSE BILHETE NO NOSSO SITE (NO CANTO DA FOLHA) E TORCER PARA SER UM DOS QUINZE SELECIONADOS.
Virei a cabeça para ele, que tirou o próprio bilhete de onde acabara de tirar o meu.
- Também comprei um pra mim.
- Uau, isso é muito legal! - disse, bastante animada, apesar de que eu tinha quase certeza que não ganharia aquela viagem nem em um milhão de anos. Eu estava no topo da lista de azaradas do mundo.
- É, eu sempre quis conhecer a Califórnia.
- Eu também. Você já cadastrou?
- Não faria sentido te dar um presente pela metade. Mas agora vamos ao que interessa. Nosso encontro. O encontro do ano - ele ligou o rádio e, por pura coincidência ou não, Cheap Thrills tocava.
- É essa música! - ele deu risada e começou a balançar os braços como uma dançarina indiana. Eu o acompanhei naquela dança maluca até o fim da música e o começo da outra.
Baby I don't need dollar bills to have fun tonight (I love cheap thrills...) Baby I don't need dollar bills to have fun tonight (I love cheap thrills...) But I don't need no money. As long as I can feel the beat. I don't need no money. As long as I keep dancing...
Querido, eu não preciso de grana para me divertir hoje. (Eu adoro uma diversão barata) Querido, eu não preciso de grana para me divertir hoje (Eu adoro uma diversão barata) Mas eu não preciso de dinheiro. Enquanto eu sentir a batida. Eu não preciso de dinheiro enquanto eu continuar dançando.
Essa música não saía da minha cabeça enquanto escrevia esse Capítulo e eu senti que precisava pôr ela aqui. Enfim, espero que estejam gostando bastante e votem, por favor. Beijos de Luz!! =)
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