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Capítulo VIII

Prendi a respiração ao ouvir o que ele havia acabado de dizer. Primeiro porque eu não esperava por aquilo nem em, tipo, um milhão de anos. Segundo porque ninguém nunca me chamara para um encontro de verdade em toda a minha vida e eu não sabia como reagir àquilo. Terceiro porque eu não esperava que as coisas entre nós se desenrolasse tão rápido; quer dizer, há dois dias eu nem me lembrava da existência dele e de repente BUM ele está sentado na minha cama, segurando minha mão e me chamando para um encontro de verdade.

- Hum... - encarava o carpete azul, sem nenhuma coragem de virar o rosto para ele. Sua mão quente apertava a minha e eu sentia um formigamento na barriga. - por quê? - perguntei, meio desconcertada. Tinha que ter um motivo para ele querer aquilo. Será que aquela parada dos órgãos era mesmo verdade?

Ele riu.

- Eu não sei. Só fiquei com vontade de sair com você. A gente podia ir no cinema e ver um filme do Chaplin e depois tomar um sorvete.

- Isso foi meio clichê - comentei, fazendo de tudo para fugir daquela resposta que eu não queria dar.

- Clichês às vezes são legais.

- Quase nunca.

- Você vai me responder ou não?

- Talvez. Talvez eu aceite ir à esse encontro com você, mas só se você fizer uma coisa muito legal por mim.

- Tipo dar a vida por você, ou alguma coisa do gênero?

- Não é pra tanto. Apenas uma coisa simbólica.

Ele balançou a cabeça e levantou, ainda segurando minha mão.

- Desafio aceito. Vamos jantar.

- É, eu tô com tanta fome que poderia te comer agora mesmo.

- Isso foi estranho.

- Eu sei.

Todos já jantavam quando nos sentamos e Sammy me lançou um olhar meio: eu-sei-o-que-você-estava-fazendo-safada e eu não consegui prender o riso.

Eu e Léo nos sentamos de frente para Sammy e Mark, que se serviam. Léo fez o mesmo e eu observei meu pai, rindo e conversando com um antigo amigo que não conhecia (na verdade não conhecia nenhum dos seus amigos, já que a minha mãe detestava todos eles e ninguém nunca ia lá em casa). Fazia anos que não recebíamos tanta gente e aquilo era uma grande evolução nos níveis do meu pai.

- Vai querer frango? - Léo perguntou e eu assenti.

Minutos depois, estávamos todos comendo e bebendo à vontade.

O jantar chegou ao fim quase uma hora depois e, enquanto algumas pessoas foram embora, outras voltaram para a sala com meu pai.

- Sammy, você já vai? - perguntei à ele enquanto nós quatro jogávamos conversa fora.

- É, vou aproveitar a carona do Mark. Amanhã preciso levantar cedo pra ajudar minha avó com umas coisas... Aquela velha cada dia que passa me arranjar mais coisa pra fazer! Estou pensando seriamente em entrar pro mundo da prostituição e sair de casa...

Leonardo riu e quase se engasgou com o vinho que tomava.

Sammy deu uma risadinha e se virou.

Ficamos apenas nós dois na sala de jantar com os restos da comida à nossa frente começando a dar moscas.

- E então, quando vai ser esse encontro? - perguntei.

- Esse fim de semana está bom?

- Acho que sim. Ainda preciso checar minha agenda super lotada.

- Independente do que você for fazer, nada será melhor que sair comigo.

- Será?

- Eu aposto que sim - ele se ajeitou na cadeira para poder me olhar melhor e puxou meu braço suavemente. Inclinei meu corpo para mais perto dele e agora nossos rostos estavam a poucos centímetros um do outro.

- Seu hálito cheira a vinho.

- E o seu fede a frango assado - ele murmurou em resposta.

- É? - Léo assentiu e me aproximou ainda mais e...

- Lia! -... A voz do meu pai ecoou do corredor para a sala onde estávamos.

- Oi - dei um pulo para trás e levantei da cadeira. - já estou indo! Não estávamos fazendo nada demais! Já estou indo.

Léo riu.

- Olha, você falar assim só faz com que ele ache que estávamos fazendo alguma coisa.

- Shhhh! Vamos... Oi pai - o encontrei no corredor segurando uma garrafa de whisky pela metade.

- Todo mundo já foi embora - sua voz estava meio embolada. Fazia bastante tempo que eu não o via grogue. - e eu estou indo dormir. Beijo - ele inclinou o corpo para a frente, depois para trás, fechou os olhos e caminhou pelo corredor feito um zumbi em direção ao próprio quarto.

- Acho que ele bebeu demais - comentou Léo.

- Você acha? Ele não bebe assim desde que a minha mãe foi embora - permanecemos no corredor iluminado. Ele encostou na parede e cruzou os braços. Eu fiz o mesmo na parede oposta.

- Você sabe pra onde ela foi?

- Não. E nem tenho vontade de saber.

- Que saco deve ter sido pro seu pai. Perder um amor assim, de repente.

- É - nossa, nunca imaginaria que ele poderia dizer uma coisa daquelas. - Foi um saco mesmo. Que horas são, hein?

- Você está me expulsando?

- Estou. Que bom que você se deu conta antes que eu precisasse ser direta.

- Acho que já vou indo então - ele desencostou da parede.

- Ei, eu estava brincando - toquei seu braço quente.

- Mas eu realmente preciso ir - Leonardo abriu os braços e eu preciso confessar uma coisa: prendi a respiração e senti meu corpo todo tremer. - um abraço de despedida?

- Sem segundas intenções?

- Só se você quiser.

O abracei e senti seus braços se fecharem ao redor do meu corpo. Ele me apertou com força do jeito que meu pai fazia. Ele cheirava a eucalipto e roupa limpa. Eu também o apertei e virei o rosto para ouvir seu coração.

- É engraçado - ele falou depois de algum tempo.

- O que é engraçado?

- Você. Quer dizer, nós dois agora mesmo, entende?

- O que você quer dizer com isso?

- Eu não sei, mas... Eu gosto disso. Faz muito tempo que não sinto isso, mas gosto muito.

- E o que "isso" significa? - perguntei ao mesmo tempo que ele segurou meus ombros e me empurrou levemente para trás.

- Você faz muitas perguntas.

- Talvez...

O celular dele tocou. Ao olhar a tela, seu sorriso murchou.

- Preciso ir.

- Não vai atender?

- Depois... - Léo beijou minha testa e atravessou o corredor em direção à sala de estar. Ouvi a porta abrir e fechar e permaneci ali por alguns minutos tentando entender o que havia acontecido.
Seres humanos (ou aliens, sei lá né) espero que estejam gostando e divertindo. Lembrem-se de votar, poooor favor. Beijos de Luz =)

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