Capítulo II
Nova York estava quente como um forno recém desligado. Eu sinceramente preferia o inverno, quando todas as pessoas andavam agasalhadas e com pressa. Diferente do verão, onde todo mundo vivia numa constante calma e subia e descia praticamente sem roupas para quase todos os lados.
Exatamente como a senhorinha que se arrastava à minha frente. Ela usava uma calça verde que ia até os joelhos e uma camiseta rosa-shock com listras amarelas.
- A senhora pode me dar licença? - pedi; e ela, como resposta, virou calmamente o rosto e murmurou com sua voz de bruxa mal amada:
- Passa por cima.
Arqueei as sobrancelhas, assustada com a resposta e baixei a cabeça.
Entrei no metrô com o aglomerado de pessoas à minha volta e elas praticamente se estapearam para conseguir um lugar. Eu, como era de se esperar, não consegui um lugar e me segurei numa das barras de metal próxima à janela.
- Quer que eu segure? - disse uma voz vinda de um dos assentos atrás de mim.
Me virei para a pessoa que havia dito aquilo e me surpreendi com o que vi.
- Léo! - ele era um antigo colega meu do Colégio. Não era o garoto que eu costumava sonhar. Esse Léo era alto e magro e tinha os cabelos pretos e lisos; diferente de antes, agora ele possuía uma barba rala cobrindo uma parte de rosto. Mas continuava bonito. Não nos víamos há uns sete anos e eu não conseguia acreditar que ele havia se lembrado de mim.
- Liandra!
- Ninguém me chama mais assim, ok? - disse, olhando para os lados, verificando se não havia algum conhecido que pudesse me reconhecer.
- E como as pessoas te chamam agora, Liandra?
- Lia.
- Ah, faz sentido - ele balançou a cabeça, parecendo pensativo. - como tem andado?
- Com as pernas?!
- Olha só, pelo visto suas piadas não mudaram nem um pouco.
- Depende do meu humor. Quando estou chateada, minhas piadas ficam meio negras.
- Negras?
- Isso foi racista? - perguntei, meio preocupada.
- Não, mas só porque você é negra, mas acho que seria se eu tivesse dito.
- Ótimo, então eu não corro risco de ser presa.
- Fica tranquila... - ele sorriu. - E onde você mora agora?
- Brooklyn Heights - respondi.
- Olha só! De repente ela enrriqueceu!
- Eu não enrriqueci! - repliquei. - moro com o meu pai e a casa era da minha mãe.
- Ela morreu? - ele perguntou, fazendo exatamente o contrário de como as pessoas costumavam fazer quando tinha suspeitas da possível morte de um parente de outra pessoa.
- Não. Ela não morreu. Só nos abandonou. Agora eu vivo só com meu pai que passa o dia todo dentro de casa procurando inspiração na frente de um computador.
- Isso foi profundo - ele disse, tocando o peito.
- Profundo como um lago raso - ele sorriu e eu baixei a cabeça, sem graça.
Não gostava de falar sobre aquilo. Não que eu sentisse saudades da minha mãe ou qualquer coisa do tipo, mas quando eu pensava no porque dela ter nos abandonado e eu não conseguir achar nenhum motivo plausível para aquilo... Bom, eu não me conformava.
Talvez ele tenha percebido que eu havia ficado desconfortável, porque bateu as mãos e disse:
- Eu estou morando num apartamento xelelento em Midtown.
- Midtown? - pela lógica, ele estava vindo do Queens.
- É, eu passei a noite na casa de um amigo. E agora estou indo superatrasado para o trabalho.
- Somos dois. Você ainda mora com seus pais?
Ele balançou a cabeça negativamente.
- Agora que eu trabalho num restaurante maneiro, meio que decidi dar adeus à casa do meus pais.
- Mais privacidade?
- Muuuito mais privacidade!
- Pra levar a namorada, né? - perguntei, por algum motivo mais interessada em saber se ele realmente tinha uma namorada.
- Não. Eu toco baixo e meus pais odeiam baixo.
- Ah - balancei a cabeça. O observei por mais tempo que o necessário para não ser considerada uma louca e ele fez uma careta.
- O quê foi? Por acaso tem uma meleca no meu nariz?
Dei risada.
- Ah, não! Só me lembrei de quando você tinha o cabelo grande e pintou ele de vermelho.
- Ah. Velhos tempos. Eu era um babaca, mas ainda assim são velhos tempos.
- Você não era um babaca. Você só era meio metido e... Um pouco popular demais. Mas era engraçado.
- Ainda sou engraçado.
O trem foi diminuindo de velocidade e as portas se abriram. Dezenas de pessoas se levantaram e caminharam para a saída e outras dezenas entraram. Eu aproveitei o lugar vazio ao lado de Léo e me sentei.
- E pra onde a senhorita está indo?
- Midtown.
- Minha casa? Hum... Interessante - ele pôs a mão no queixo.
- Não. Eu trabalho, sabia?
- Ah, onde você trabalha?
- Num Café.
- Você foi bem específica.
- Não me lembro o nome, pra falar a verdade - dei risada e olhei para fora. O trem tornava a diminuir a velocidade. - Minha estação. Nos vemos depois.
- Pode apostar.
Levantei e me espremi por entre as pessoas para fora do metrô.
'Quando abri os olhos, percebi que ele estava sentado à minha frente e dava risada.
- Você cochilou? - ele perguntou.
- Não. Só fechei os olhos por alguns segundos - Eu definitivamente havia cochilado.
- Então vamos?
- Pra onde?
- Londres. Para onde mais iríamos?
- Mas Londres é muito longe!
Ele deu risada.
- Vamos na minha Firebolt*.'
Lembrei desse sonho enquanto atravessava a rua em direção ao 'Caféxpresso', o Café onde eu trabalhava há duas semanas e tinha a função super difícil de limpar as mesas e servir os clientes. Era quase como se eu fosse uma versão negra da Rachel*. Sorri com o pensamento idiota e entrei.
* Referência a F. R. I. E. D. S. Rachel era uma personagem que trabalhava como garçonete num Café em Nova York.
Espero que estejam gostando e votem para me ajudar, por favor. =)
Pra quem não sabe, Firebolt é a vassoura voadora mais rápida do mundo bruxo ;)
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