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93 dias. Sindy

A Tess mal acabou de ir embora quando o Mike aparece em meu quarto; eu ainda sorrio de felicidade encarando o teto e ele faz uma careta ao ver minha cara de abobalhado.

- Eu não vou nem perguntar porque você tá com essa cara. Anda, vem logo.

- Pra onde?

- Tem uma pessoa que você precisa conhecer?

- Essa pessoa é o Johnny Marr? - *o guitarrista do The Smiths*.

- Não, até porque se ele estivesse aqui embaixo, você não estaria vendo a minha cara nesse exato momento.

- Onde você estaria? - pergunto, rindo e levantando da cama.

- Pedindo pra ele autografar minha bunda, agora vem logo. Você vai adorar ela.

- Hum... Ela quem? - Mas ele não responde. Mike me empurra pelo corredor em direção à escada e, ao chegar na sala, vejo uma garota loira sentada no sofá. - quem diabos é ela? - sussurro no ouvido do Mike.

- Sindy! - ele chama, sorridente. A garota loira vira a cabeça e, ao nos ver, levanta do sofá e vem em nossa direção. - Sindy, esse é o meu amigo Charlie de quem eu tanto te falei. Ele costuma ser mais bonitão quando está sem uma faixa de maluco ao redor da cabeça.

- Oi, Charlie- ela diz, sua voz é irritantemente aguda. Sindy usa um batom muito rosa que combina com suas bochechas que parecerem .

- Hum... Oi Sindy.

Os três ficam parados, calados, trocando olhares arregalados. Mike bate as palmas das mãos e diz:

- Uou, isso foi desconfortável, mas eu vou deixar vocês para passarem por esse momento esquisito sozinho e... juntos.

Mike não espera por resposta e sai da sala. Eu e a Sindy continuamos nos encarando e, só então eu reparo, ainda estamos de mãos dadas. Minhas mãos começam a suar. Sindy tosse e tira a mão rapidamente para coçar o nariz.

- O que o Mike disse a você, ein? - pergunto, indicando-lhe o sofá. Sentamos.

- Ele disse que tinha um amigo desesperado para encontrar uma namorada.

- O quê?! - dou risada. - Eu não estou desesperado!... Quer dizer, estou muito bem mesmo.

- Mas você está namorando?

- Não - respondo.

- Ah - ela murmura como se dissesse: "Eu realmente acho que você está desesperado".

- Olha, eu gosto de uma garota, sabe. Mas o Mike quer que eu a esqueça porque tem umas coisas acontecendo na vida dela no momento.

- Ah... Mas você quer esquecê-la?

- Não, mesmo que fazer isso seja melhor que continuar gostando dela.

- E por que esquecer alguém que você gosta é a melhor solução?

- Ela vai morrer.

- Todo vamos morrer - Sindy diz, arrancando uma cutícula com o dente, borrando os dedos de batom.

- Ela vai morrer em alguns meses.

- Ah, isso não é bom - fala, como se eu não soubesse.

- Não me diga!

- É - ela se vira para mim e põe o braço no encosto do sofá. - Mas se é o que você acha melhor, eu posso te ajudar com isso - e, totalmente pirada da cabeça, ela me beija. Me beija como se quisesse sugar a minha alma para fora do meu corpo. E eu não estou dizendo que não é bom, mas não é com a pessoa que eu gostaria que fosse. Apesar disso, não a afasto.

Continuamos nos beijando como se estivéssemos prestes a fazer 'algo mais'.

Ouço vozes se aproximar mas meu cérebro não está funcionando muito bem no momento, por isso continuamos nos beijando.

- Charlie! - tomo um susto com a voz aguda da minha irmã e empurro a Sindy para longe.

- Hum... Oi - pisco algumas vezes para recuperar a lucidez. Kim está parada na entrada da sala com a Mary. - Que diabos você está fazendo aqui?

- Vim te visitar. Mas pelo visto você já está muito bem - diz Mary. Ela gira nos calcanhares e sai da sala. Kim revira os olhos, lança um olhar furioso para a Sindy e sai.

- Quem são elas?

- Minha irmã e a minha ex-namorada.

- Ah. Por que ela viria te visitar? - pergunta, limpando o batom rosa que surpreendentemente foi parar em sua testa.

- Eu sofri um acidente semana passada e... Esquece - ela balança a cabeça e levanta.

- Você vai ao show do The Smiths?

- Se eu disser não, o Mike toca fogo em mim, então provavelmente sim.

- Ah, ótimo, nos vemos oá, então - ela lança um beijo no ar para mim, dá as costas e sai.

Permaneço no sofá pensando no que havia acontecido nos últimos quatro minutos.

E aí, de repente, eu sinto algo que nenhum ser humano gosta de sentir: arrependimento. Sinto como se eu tivesse traído a Tess, mesmo que a gente não tenha nada e ela nem lembre de quem eu sou. Ainda assim me sinto mal pelo que fiz. Principalmente por ter gostado.

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