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84 dias. Antes do show

O grande dia finalmente chegou. Faltam apenas algumas horas para o show e eu estou muito ansioso para conhecer Mourrisse.

A Susan ainda está aqui em casa e vive chorando pelos cantos, o que não me ajuda nem um pouco a esquecer a morte do meu irmão.

Meus pais ainda estão tristes, mas não mencionam mais o George, como se a existência tivesse sido apagada de suas memórias.

A Kim chorou nos primeiros dias, mas ela logo deixou isso para lá. Afinal, ela nunca conviveu muito com o George.

Eu, por outro lado, estou fazendo de tudo para esquece-lo. Quero dizer, eu nao quero esquecer do irmão que eu tive e tudo o mais, mas preciso aprender a ignorar a dor que eu sinto todas as vezes que penso nele.

A melhor forma para fazer isso é pensando na Tess.

Ela, de alguma forma, consegue me manter longe de tudo e de todos.

Ontem, por exemplo, passamos a tarde toda escutando as melhores músicas dos Smiths e contemplando nossas identidades falsas.

- Essa é uma bela homenagem - disse Tess, apontando para o nome do meu irmão na minha identidade.

- Eu sei... E Por que Oliver? - mudo de assunto.
- Acho um nome bonito.
- Eu prefiro Tess - ela não diz nada. Estamos sentados no carpete do quarto dela e Tess deita de barriga para cima e encara o teto.
- Eu gosto de Charlie.
- Hã? - de repente sinto uma tremedeira nas mãos e nas pernas.
- Do nome, Charlie.
- Ah... Ah, sim... É um nome muito bonito... É - e a tremedeira passa.
...
Agora eu estou na garagem. Faz alguns dias que eu tirei a bandagem em volta da cabeça e os pontos já cicatrizaram quase que por completo, mas uma parte do lado esquerdo do meu cabelo foi raspada, o que me dá um leve ar Punk.
- Charlie! - minha mãe me grita.
- Oi! - grito de volta.
- Hora do almoço!
Como acabei de fumar um cigarro, estou morrendo, por isso não demoro muito e logo estou sentado na mesa com quase toda a minha família ao meu redor. Eu disse quase porque falta o George... Droga, eu não consigo superar isso.
- Gostei do seu cabelo, Charlie - fala Kim. Semicerro os olhos para ela e pergunto:
- O que você quer?
- Charlie, não fala assim com a sua irmã - reclama meu pai.
- Quero que você me leve a uma festa mais tarde.
- Não dá - digo.
- Por que não?
- Eu vou sair...
- Posso saber para onde, mocinho? - pergunta a minha, se servindo de purê. Eu nunca contava aos meus pais onde ia, até porque eles detestavam as minhas companhias e o que elas faziam.
- Vou sair com a Tess - digo a meia verdade.
- Então ela te perdoou por você ter dado uma amassou com a Sindy? - Kim me provoca.
- Certo, certo, não vou cair no seu joguinho. Que horas é essa maldita festa?
- Charlie! - meu pai bate na mesa, nervoso. Olho para ele com o cenho franzido.
- Sinto muito por ter dito maldita - digo.
- Olha aqui, moleque, se você acha que vai continuar dizendo essas coisas debaixo do meu teto, você está muito enganado.
- Tá. Que horas será a maravilhosa e bendita festa? - viro para a Kim, que comprime a risada.
- Seis horas.
- Certo. Eu posso te levar, mas antes vamos buscar a Tess.
- Tanto faz.
...
Depois de vestir a minha costumeira jaqueta, minha calça, as notas coturnos e uma blusa especialmente comprada dos Smiths, chamo a Kim e logo estamos a caminho da casa da Tess.
Paro o carro no sinal vermelho e uma forte chuva começa a cair.
- Ah, droga! - resmunga Kim do Banco de trás.
- Que foi?
- A festa vai ser num clube c piscina aquecida. Agora não poderemos mais ficar na piscina.
- Uma pena - digo, sem dar muita importância.
Torno a dirigir e poucos minutos depois paro o carro na frente da casa da Tess, que já me espera na varanda, segurando um guarda-chuva amarelo.
Ela desce os degraus e passa pelo Corcel branco do seu pai. Eu a observo. Ela usa um óculos ray-ban, seus cabelos curtos parecem estar molhados e, pela primeira vez desde que nos conhecemos, ela usa um batom roxo muito escuro; ela veste uma calça preta com seus mesmos tênis azuis e uma blusa apertada que deixa sua barriguinha para fora. Ela está tão linda que eu nem consigo juntar palavras para falar alguma coisa. Ela entra no carro e senta ao meu lado.
- Oi - diz, tirando alguma coisa do bolso. - aqui, o dinheiro dos ingressos.
- Não precisa...
- Eu não vou deixar que você pague pra mim. Não mesmo.
- Hum... -  com relutância, pego o dinheiro e o enfio no bolso. - Você está muito bonita, senhorita.
- Obrigada. Você também, Sr. Cabelo raspado - ela tira os óculos, os dobra e coloca-os na blusa.
- Nossa, vocês estão tão apaixonados que me dá nojo - fala Kim.
Eu e a Tess nos encaramos e ela da risada.
- Não estamos apaixonado, Kimberley.
- Então fala por você - Ela diz. De repente tenho vontade de matar a minha irmã, mas não sei se meus pais aguentariam perder mais um filho em tão pouco tempo. Por isso, respiro fundo. Sinto o olhar da Tess sobre mim e prefiro ignora-la. Ligo o carro ao mesmo tempo que a Tess liga o toca fitas.
...

Deixo a Kim na festa e passo na casa do Mike. De lá, dirijo direto ao ligar onde vai ser o show.

- Olha, ruivinha, eu não sou muito de elogios, mas você tá uma gata - Mike fala, do banco de trás.

Tess se ajeita, sorridente, no assento ao meu lado para olha-lo.

- Me sinto lisonjeada, Mike, obrigada.

- Tamo aqui pra isso

- ele fala e eu o observo pelo espelho retrovisor.
"Hum" murmuro para mim mesmo.
- Algum problema? - pergunta a Tess.
- Quê?! Não, não... Problema nenhum... Olha, é ali.
Aponto para a boate onde será o show.
- Preciso encontrar um lugar pra estacionar - digo, olhando a quantidade de carros à nossa volta.
- Para aqui e eu e a Tess vamos para a fila.
- Certo.
Eles logo saem do carro e eu vou à procura de uma vaga livre. A encontro alguns minutos depois, embaixo de uma árvore muito alta.
Volto ao aglomerado de gente que fala muito alto na entrada da boate e procuro pelo Mike e pela Tess. Os encontro alguns segundos depois e prendo a respiração. Tess e Mike conversam com a Sandy que, ao me ver, acena animadamente para mim.

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