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5 dias para o fim.

Hoje é o funeral da Sun.

Estou sentada no banco de trás do carro dos meus pais, os olhos fixos na rua, vendo os carros passarem rapidamente e as pessoas comversarem como se nada de terrível acontecesse no mundo. Como se tudo fosse maravilhoso, quando na verdade não é.

Eu sei que devemos sempre olhar o lado bom de todas as coisas

; principalmente eu, que tenho câncer e não sei quando irei morrer (ninguém sabe, na verdade); mas é muito difícil acreditar nas pessoas, quando me deparo com algo assim. É muito difícil pensar, que em algum lugar no mundo, pessoas estão passando por problemas, enfrentando suas próprias dores, até mesmo morrendo, sem poder contar com ninguém. Ou a ninguém. É muito difícil pensar que, se houvesse amor, nenhum sofrimento existiria. Ninguém se machucaria, ninguém choraria - pelo menos na de tristeza.

Mas é como eu já disse: sou meio brega para essas coisas.

Sou daquelas que acredita que o amor pode salvar qualquer coisa e, enquanto eu tiver o Charlie, permanecerei com essa ideia.

Por falar em Charlie, ele toca a minha perna e eu viro meu rosto para fita-lo.

- No que está pensando?

- Eu não sei ao certo. Estou pensando em muitas coisas.

- Sobre?

- Pessoas. Sofrimento. Amor.

- Chegou à alguma conclusão? - balanço a cabeça. - qual?

- Não quero contar. Vai parecer que eu tenho cinco anos e ainda acredito em papai Noel.

- O que??? Você não acredita em papai Noel - ele sorri e toca meu rosto. - conta, vai.

- Se o universo, de alguma forma, me garantisse que tudo ficaria bem com as pessoas, eu daria a minha vida sem pestanejar para que isso se tornasse real.

- Você é a pessoa mais incrível desse mundo.

- Eu não estou falando isso para receber elogios.

- Eu sei. E é exatamente isso que te torna incrível.

Sorrio timidamente para ele e torno a virar para a janela.

[...]

O funeral é, para ser mínima, triste. Deprimente, na verdade.

Os pais da Sun choram muito a casa palavra dita pelo orador, e eu não sei o que fazer, a não ser permanecer abraçada ao Charlie e desejar que tudo isso acabe logo. Por favor, acabe logo.

Um por um, todos os presentes abraçam e cumprimentam a família da Sun.

Num canto mais afastado, vejo a Eileen chorando e vou até ela. Nos abraçamos e a ouço dizer:

- Eu vou sentir saudades dela.

- É, Eu sei - é o que consigo dizer. Fecho os olhos, a cabeça apoiada no ombro da Eileen, e vejo um sorriso brincalhão na minha frente. Um sorriso que se abre para dizer alguma coisa que eu já não me lembro mais. Um sorriso que, agora, deixou de existir.

[...]

Eu e o Charlie estamos deitados no chão do meu quarto, encarando o teto.

- Como sua mãe tá? - pergunto, na tentativa de quebrar o silêncio.

- Melhorando.

- Ah.

- E você, como tá?

- Melhorando.

- Ah.

Ele sorri e vejo a cicatriz em seu lábio superior de esticar.

- Tess?

- Oi.

- Posso te fazer uma pergunta que não tem nada haver com o momento?

- Por favor.

- Quando você percebeu que eu era e sou o cara certo pra você.

- Nem um pouco pretensioso - digo, sorrindo. - hum... Deixa eu pensar... Já sei: quando eu estava chorando em seu ombro feito uma desesperada, e você disse que sabia que eu não queria ficar sozinha e que não me deixaria sozinha.

- Uau, você tem uma memória realmente muito boa.

- É, eu tenho. Mas e você? Quando soube que eu era e sou a mala que você vai ter que arrastar pelo resto da minha vida?

- Quando eu te disse "oi" e vi seus olhos bicolores; quando você me ignorou e saiu andando; quando você perguntou se eu estava te seguindo; quando nos beijamos pela primeira vez; quando você aceitou se casar comigo... todas as vezes que você sorriu para mim... E eu poderia passar o dia todo falando sobre isso.

- E eu poderia passar o dia todo te ouvindo falar...


Ele sorri.

- Ainda teremos muito tempo e eu poderei te dizer cada coisa que contribuiu para que eu me apaixonasse por você.

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