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4 dias para o fim.

- Oi mãe - digo, fechando a porta do quarto. Ela está deitada, os olhos fechados, e os dedos tamborilam em cima do peito. - vim te levar pra casa.

Ela abre os olhos e sorri.

- É verdade, querido? - balanço a cabeça positivamente e ela sorri. - Que maravilha! Que boa notícia!

- Aqui suas roupas - entrego-lhe uma sacola com as roupas limpas que peguei em casa. - vou esperar lá fora até você se trocar.

- Filho - ela chama quando eu abro a porta. - Como está a Tess?

- Bem, mãe... muito bem - respondo e saio.

[...]

Ela está sentada ao meu lado e não para de falar com a Kim. Permaneço em silêncio, me perguntando se ela realmente está bem, ou se isso não é apenas uma fase; se ela, com algum descuido, tornará a cair nessa doença.

Estaciono o carro e ela me pergunta, sem nenhuma hesitação, se meu pai está em casa.

- Não, está trabalhando - respondo, abrindo a porta e saindo.

- Ele quase não fica mais em casa - fala Kim.

- Cala a boca - mando, lançando-lhe um olhar furioso.

- Está tudo bem, querido - diz minha mãe, forçando um sorriso.

Chegamos em casa e, obviamente, meu pai não está. Minha mãe vai direto para a cozinha, onde põe uma panela no fogo e começa a cortar legumes. Como se tudo tivesse voltado ao normal. De alguma forma, isso me assusta.

Estou no meu quarto, deitado, ouvindo The Smiths. E eu penso como as coisas são engraçadas. Elas mudam tão rápido, da melhor para a pior, e da pior para a melhor. Assim sucessivamente. É insano pensar no quanto a minha vida mudou em 113 dias. É insano pensar que a vida um dia acabará e que, todas as coisas boas que já me aconteceram, deixarão de existir. Eu me sinto amaldiçoado e abençoado por saber disso. Amaldiçoado por ter consciência de que todas as coisas um dia chegarão ao fim; e abençoado por saber que tenho o poder de eterniza-las enquanto ainda possuo vida.
 

- Charlie! - minha mãe me grita do andar de baixo. - o almoço está pronto, querida. Kim, você também. Cadê o George? - ela pergunta como se não fosse nem um pouco estranha.

- Mãe? - entro na cozinha e a vejo mexer numa panela com molho.

- Oi, querido. A Kim já está na mesa. Vai logo, já vou levar o molho. Cadê o George, ein? - ela repete a pergunta. Tenho medo de falar a verdade, pois não sei qual será a reação dela.

Finjo que não ouvi e saio.

- Você ouviu o mesmo que eu? - pergunta a Kim, quando sento ao seu lado.

- É, eu ouvi. Infelizmente.

- O que vamos fazer se ela perguntar novamente?

Dou de ombros.

Minha mãe entra com o molho e nos serve. Durante todo almoço, ela não menciona o George.

Terminamos de comer e ela levanta, sorridente, para buscar a sobremesa.

- Eu fiz mousse de morango... O George iria adorar! Mas ninguém mandou ele ir morar em Londres, com uma esposa que mal sabe cozinhar macarrão.

- Mãe...

- Mas eu faço de novo da próxima vez que ele vier, não tem problema.

- Mãe! O George morreu! Para com isso, está assustando a Kim... E me assustando também!

O sorriso dela morre, e ela solta a colher.

- Morreu? - ela pergunta, crédula.

- É, mãe, ele morreu. Como pode não se lembrar?

Os olhos dela, cheios de lágrima, tremem de um lado para o outro, sem foco.

- Eu... eu não sei - fala baixinho.

Ao meu lado, a Kim soluça.

- Acho melhor você se deitar - digo. Levanto, dou a volta na mesa e seguro sua mão. - vem, eu te levo.

Ela levanta, mas não segura minha mão. Seus olhos brilham por causa das lágrimas acumuladas, mas ela não chora. A acompanho até que está devidamente deitada e volto para baixo, onde encontro a Kim secando o rosto.

- Oi - digo.

- Ela nunca vai ficar melhor, né?

- Claro que vai... Só precisamos de paciência.

- E o que devemos fazer? Levá-la de volta ao hospital ou colocá-la num hospício?

- Eu... sinceramente não sei - admito, colocando uma colher cheia de mousse na boca.

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