25 dias. Festa de Pré-morte
Faz cinco dias desde o incidente com a mãe do Charlie... Cinco dias que nós dois mal nos falamos, pois ele está fazendo o que pode e também o que não pode para encontrar um lugar legal e seguro para a mãe ficar. Depois da tentativa de suicidio, a Meredith foi diagnosticada com algum problema na cabeça que eu não lembro o nome, e também não faz diferença nenhuma. Agora o Charlie e os médicos que a estavam tratando, acharam melhor coloca-la em alguma clinica para que ela possa se recuperar melhor.
"Sinto muito se não estou sendo um bom marido nesses últimos dias, mas... você sabe, com tudo o que está acontecendo, eu só quero ajudar a minha mãe a sair dessa. Você me perdoa? Eu te amo muito" foi uma das últimas coisas que ele disse há dois dias, quando nos falamos pela última vez.
Agora eu estou sentada de frente para o meu médico, enquanto ele me preescreve algum novo remédio que está sendo testado e que, segundo ele: "está trazendo bons resultados".
- Mas você me disse que eu não teria muito mais que alguns meses, independente dos remédios.
- É, eu disse, mas eu não sabia da existência desse remédio. Nem eu sei como ele funciona direito, mas...
- Eu não tenho muito a perder, né? - completo para ele, que balança a cabeça.
- Você continuará com seus remédios normais, e só precisará tomar esses aqui antes de dormir.
- Com sorte eu paro de enjoar todos os dias feito uma grávida descontrolada.
- Olha, eu não quero ser muito otimista, mas... quem sabe você viva mais alguns anos...
Me permito dar um sorriso de esperança para ele, que retribui. Nos despedimos e eu saio da sala onde encontro minha mãe do lado de fora lendo a uma revista qualquer.
- E então... como foi?
Ela guarda a revista e se levanta
- Ele me indicou um novo remédio... parece que ele tem trazido bons resultados para quem os tomou e... bom, eu sou a cobaia da vez
- Não fala assim, filha! Imagina só, você ficando boa logo...!
- Mãe, eu nunca vou ficar boa, ok? No máximo, viverei mais alguns anos - digo, vendo o sorriso da minha mãe quase morrer. Quase. Ela me abraça e eu não posso deixar de sentir uma pontada, do tamanho de um buraco negro, de felicidade.
- Recebeu alguma noticia do Charlie? - minha mãe me pergunta, quando entramos no carro.
- Não... - respondo, meio triste por estar a tanto tempo sem falar com ele.
Eu até tenho vontade de passar na casa dele, mas tenho medo de dar uma de namorada grudenta e incompreensiva, por isso prefiro ir para casa com a minha mãe onde, sentadas nos degraus na nossa varanda, vejo Eileen e Sun, ao sair do carro.
- O que vocês estão fazendo aqui? - pergunto surpresa. Faz bastante tempo que não as vejo, pois eu não vou ao colégio desde antes da minha viagem para Londres.
- Nós viemos ver você - responde Sun, vestida de lider de torcida, levantando-se.
- Me ver ou checar se eu já não bati as botas?
- Tess! Não seja indelicada - reclama a minha mãe, e eu dou de ombros.
As meninas riem e eu as encaro, ainda sem saber qual o objetivo disso tudo. Nós nem somos amigas direito. Somos, no máximo, colegas.
- Quer dar uma volta? - chama Eileen. - tipo, tomar um sorvete...
- Nesse frio? Você quer matar ela de pneumonia - cochicha Sun, meio nervosa.
- Hum... acho que eu prefiro ficar em casa.
- Ah, qual é, Tess... Vamos, um cafezinho não faz mal a ninguém - fala Sun, tentando me convencer.
Lanço um olhar cheio pedindo ajuda à minha mãe mas ela finge não ver meu grito silencioso e entra em casa. Eu, me dando por vencida, balanço a cabeça, aceitando o convite delas. Talvez não seja tão ruim assim.
Eu, Eileen e Sun caminhamos em silencio por bastante tempo até chegarmos a uma pequena lanchonete chamada Duas Baleias.
- Três capuccinos, por favor - peço, depois que as meninas me falam seus pedidos.
Nos sentamos a uma mesa mais afastada e esse momento realmente é bastante estranho.
Nós três cruzamos os braços em cima da mesa, balançamos as cabeças em ritmos desritmados e entortamos os lábios.
- Hum... - começo dizendo, procurando as palavras certas. - o que estão achando do... tempo? - certo, talvez essa não seja a melhor forma de começar uma conversa, mas é o que tenho para hoje.
- Estou adorando! - responde Eileen, meio empolgada.
- Onde é que você esteve durante todo esse tempo? – pergunta a Sun, de repente. - quer dizer... eu não quero ser pessimista, nem nada, mas eu realmente achei que você estivesse morta.
- Ah, Sun, qual é, você fala como se se importasse - digo, ultrapassando os limites da sinceridade grosseira. Nossos capuccinos chegam e ela toma um gole, antes de dizer:
- Eu sei que eu não sou a melhor amiga do mundo...
- Você não chega ser nem minha amiga.
- Mas... - ela continua, como se não tivesse me escutado. - Eu quero me desculpar, ok?
Ela me encara e eu me seguro para não dizer nada.
- Está disposta a me perdoar? De verdade?
Hesito por alguns segundos e forço um sorriso para ela.
- Mesmo que você tenha sido uma grande babaca, não acho que seja legal morrer sentindo a culpa por não ter te perdoado.
Ela ri.
Tomamos nossos cappuccinos, a conversa se desenvolvendo aos poucos, e ao terminar, saímos do café.
- Vamos dar uma festa?! - diz Eileen do nada. Eu e a Sun trocamos olhares meio espantados e Sun da de ombros.
- Até que não seria uma má ideia... qual poderia ser o tema?
- Hum... Uma coisa super original e divertida... - fala Eileen, pensativa.
- Que tal "Festa da pré-morte da Tess" - sugiro, rindo com a ideia. É engraçado porque, mesmo que eu tenha falado da minha morte sem nenhum problema, elas me olham de um jeito estranho, quase piedoso. - gente, relaxa, sério. Eu já não me importo tanto com isso.
- Tem certeza? - indaga Sun. Eu balanço a cabeça, afirmando.
Eileen joga os braços pra cima e grita:
- Festa de pré-morte da Tess!! Uhu!
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