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24 dias. Elogio fúnebre.

Finalmente. Finalmente, pela primeira vez em dias, eu estou indo ver a Tess. Na verdade, estou indo ver a Tess e mais algumas dezenas de pessoas, já que ela decidiu dar uma festa com a Sun e Eileen - Eu realmente não lembro quem elas sejam.

Paro o carro na entrada da casa já repleta de carros e saio. A rua da Tess está especialmente enfeitada para o Natal e isso quase me deixa cego, apesar de ainda ser fim de tarde.

Há uma música tocando do lado de dentro, por isso eu preciso tocar várias e várias vezes a campainha até que alguém venha abrir para mim.

- Oi! - diz uma garota que eu não conheço. - posso ajudar?

- Hum... Eu quero falar com a Tess, por favor.

- Ah, certo - ela diz, me dando passagem para entrar.

Passo quase cinco minutos procurando a Tess no andar de baixo e desviando das pessoas que conversam animadamente e bebem.

Decido ir para o andar de cima, onde todas as portas estão trancadas, menos a do quarto da Tess.

Eu entro e, para a minha surpresa, ele está vazio. Onde é que você tá, ein...

Sem saber o que fazer, sento na cama confortável dela e varro o quarto organizado com os olhos; em cima do criado mudo, há quase uma dezena de caixas de remédios; na escrivaninha, vejo um envelope azul. Está selado com cera derretida e eu me inclino para a frente para pega-lo.

"Para Charlie" é o que diz.

Viro o envelope e atrás está escrito: "o meu próprio elogio fúnebre".

Eu sei que ela provavelmente não quer que eu Leia agora, mas... Quando  dou por mim, estou abrindo o envelope e tirando o papel branco dentro.

"Olá, meu amor. Se você está lendo isso, é porque muito provavelmente eu morri. Uau, como é esquisito dizer isso estando viva, mesmo que eu saiba que a minha hora logo logo chegará. Bom, antes de começar o elogio propriamente dito, eu gostaria de dizer uma coisa: você me fez muito, muito feliz.

Bom, então vamos começar. Durante boa parte da minha vida, eu achei que estava destinada a ser infeliz e totalmente sofredora; achei que a minha vida não passara de um grande erro cometido por Deus, e que meus dias na terra não passavam de um pagamento de dívida. Eu estava tão fodidamente errada. Sabe como eu sei disso? Porque o motivo da minha felicidade, dos meus mais verdadeiros sorrisos e dos meus mais doces beijos está, neste exato momento, segurando esse papel e vendo o quão horrorosa a minha letra é. Espero que esteja conseguindo entender.

Durante toda a minha vida cancerígena, sempre que eu contava à alguém que tinha câncer terminal, essa pessoa dizia: "poxa, que triste, quanto tempo de vida você tem?". E eu respondia: "alguns meses, eu acho"; mas agora, enquanto escrevo essa carta, percebo o quão estúpida essa pergunta é. Quer dizer, quem é que sabe o momento que irá morrer? Eu costumava ter câncer, mas também existia a possibilidade de você ou qualquer pessoa saudável morrer primeiro que eu, entende? O que eu quero dizer, é: não deixe que a soma dos números atrapalhe o resultado da sua vida. Não se prenda a dias, a horas, a minutos. Se prenda a momentos, a amores - Eu sei que um dia você encontrará um outro amor tão bom quanto eu fui - e a sorrisos. Eu não costumo ser muito boa com as palavras, mas você me ensinou que é sempre muito melhor dizer, do que ficar calado e se arrepender, pois nunca saberemos quando será tarde demais.

Heaven knows I'm miserable now...

Eu te amo, Charlie."

Uma lágrima rola pelo meu rosto e pinga no papel; eu rapidamente o dobro, torno a colocá-lo no envelope e seco o rosto. Eu não sei o que pensar. Eu não quero pensar. Apenas... Apenas quero sair daqui o mais rápido possível.

- Charlie? Me disseram que você subiu e... - Tess aparece no quarto, segurando duas caixas de pizza, e seus olhos vão diretamente para o envelope que eu tenho em minhas mãos. - Não era pra você ler isso agora. Você leu isso agora?

Balanço a cabeça positivamente e levanto.

- Não foi minha intenção... Eu estava te procurando e... Por que você já escreveu isso?

- Eu... Eu não quero falar sobre isso agora. Podemos... podemos simplesmente esquecer que você leu isso?

- Não. Eu não posso simplesmente esquecer isso, sinto muito. É muito difícil pra mim, e agora é ainda mais difícil, sabendo que você já está se preparando para morrer.

- Charlie, faz anos que eu me preparo para morrer...

Ouvi-la dizer isso dói. É incrível o fato de que Eu ainda não me acostumei, muito menos aceitei, a ideia de que ela morrerá..

- Eu não estou preparado para isso - assumo, tornando a sentar na cama.

- Sinto muito, mas essa não é uma opção - ela deixa as caixas no chão e se aproxima. Senta-se ao meu lado e entrelaça nossos dedos. - eu não queria te falar pra você não ficar super empolgado e esperançoso, mas você tá com uma cara horrível e eu não quero que isso estrague a minha maravilhosa festa repleta de pessoas que eu não conheço. Meu médico me passou novos remédios e... segundo ele, esses remédios tem dado bons resultados, o que talvez possa significar que eu tenha mais tempo de vida.

- Mais tempo... Quanto?

Vejo ela dar de ombros pelo canto dos olhos.

- Sei lá... Dias, meses, anos...

- Anos? - pergunto, cheio de esperança. Olho para ela e vejo que está sorrindo. Seu maravilhoso e esplêndido sorriso.

- É, meu amor, anos. Isso realmente é possível.

Meu coração agora bate muito forte e eu a abraço apertado, cheio de emoção.

Só de pensar na simples possibilidade é viver anos ao lado dela, eu percebo que todo o sofrimento que vive será quase nada comparado à felicidade que viverei.

- Agora vamos descer, antes que destruam a minha casa - ela diz, me dando um beijo rápido nos lábios.

Ai meu coração... Espero que estejam gostando e muuuitos beijos


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