Capítulo 12
Capítulo doze
Sentada em um trono na parte mais alta do salão do castelo, vi a alegria tomar conta de todos que bebiam e dançavam comemorando o enlace.
Já havíamos comido, o que eu pensava ser algo como porco assado, e bebido um vinho delicioso, que mais parecia um suco de uva bem forte de tão gostoso que era.
Ao meu lado Iran ocupava o outro trono, destinado ao rei, e observava tudo com sua cara de poucos amigos. Um pouco antes de chegarmos ali, após o casamento, foi feito um rápido ritual e discreto como Iran pediu, em que ele foi nomeado rei de Flós.
Como o novo rei era um guerreiro, em sua homenagem aconteceu uma apresentação de espadas em que um dos homens saiu ferido e todos riram como se aquilo fosse divertido. Já eu achei uma barbárie.
Também aconteceu uma dança com cinco mulheres lindas, praticamente nuas e que dançavam sensualmente para o Iran. Pelo que entendi era uma espécie de dança afrodisíaca que pedia para a natureza, fertilidade o casal.
Pelo que Mica me contou em uma das nossas caminhadas, em Flós eles não tinham uma religião ou algo assim, acreditavam na ajuda dos antepassados, no poder da natureza, das plantas, flores, frutos e animais. Além de acreditarem na força das cores que cada um carrega.
Mariev disse enquanto me maquiava que a minha cor, com certeza, era o dourado e que eu brilhava.
Durante a dança, notei que uma das dançarinas não parecia muito feliz e olhava diretamente para o Iran que desviava o olhar e mantinha-se tão sério e bravo quanto o nome que o dei permitia.
A mulher tinha cabelos compridos e castanhos, que iam até a cintura, olhos verdes intensos pintados com um delineado em preto e sua pele era branca como de todos ali. Era linda.
Por não conhecer nada das tradições, eu encarava tudo com atenção e curiosidade, já interação da dançarina com o Iran encarei com mais que isso e sim, incomodo.
Sentia-me incomodada não só por não saber de tudo que envolvia o reino, mas também por não saber o motivo daquelas trocas de olhares que pareciam um tanto mal resolvidas entre eles.
— Você podia ao menos disfarçar — falei quando não aguentei mais guardar meu incomodo só para mim.
— O quê? — perguntou como se a minha voz o tirasse do transe que seu pensamento o prendia.
— Seu olhar para a dançarina de verde.
— Não tem olhar nenhum.
Revirei os olhos sem paciência e ele perguntou:
— Vai ser uma esposa ciumenta?
— Não, mas se você se achou no direito de pensar inverdades sobre mim quando eu estava com o Valery, posso pensar sobre você também.
— Fique à vontade.
Bufei, desdenhando do seu comentário e ficamos em silêncio até a dança acabar, mas eu ainda sentia em meu peito o desconforto estranho.
Lembrei-me de Ravina e cogitei que a dançarina de verde poderia ser ela. Pensei em perguntar se era mesmo, mas não queria dar a ele mais munição para me chamar de esposa ciumenta. Não era ciúme, eu só queria saber de tudo às claras.
Após as apresentações acabarem e só restarem pessoas felizes ainda comemorando a nossa frente, cansei-me do silêncio e falei para Iran
— Você, está mais sério que o normal. Bravo!
— Não estou. — Voltou a olhar para frente e revirei os olhos.
— Está.
— Estou agindo normalmente. Como você queria que eu estivesse?
Dei de ombros.
— Como um noivo.
— Não sei como um noivo tem que agir, nunca fui um. Muito menos nessas condições.
— Grosso! — Acusei exagerando e ele riu sem vontade. — Não sei porque está agindo dessa maneira. Eu quem deveria estar chateada, a considerar que fui acusada injustamente ontem por você, mas é você que parece tão animado quanto se estivesse indo para a forca... ah, e trocando olhares com a dançarina.
— O casamento é arranjado, Vida.
— Eu sei. E devia ter lembrado disso ontem quando insinuou que eu tinha algo com Valery, já que o casamento era arranjado e se eu tivesse não teria problema nenhum. — Notei que fechou o cenho. — Hoje, ao menos poderia fingir uma animação para que eu não fosse tão humilhada publicamente, diante de todo o reino.
Ele respirou fundo como se criasse força para algo e sem dizer nada se levantou, parou na minha frente e me estendeu a mão.
— Vamos dançar?
— Ham?
— Dançar. Você não queria animação? Não sei o que é mais animado do que dançar.
— Você me parece tão irônico quanto debochado. — Olhei em volta me sentindo tímida.
— Nem um dos dois, só seguindo os costumes e fazendo o que me pediu. Vamos, Vida! Ou vai me deixar com a mão estendida diante de todo o reino.
Olhei em volta novamente, vi algumas pessoas me observando com mais atenção e expectativa.
— Eu não sei dançar — falei baixo.
— Não tem segredo... Vai me humilhar publicamente, diante de todo o reino?
Bufei por ele usar as mesmas palavras que eu e enfim aceitei sua mão sem saber onde estava me metendo.
Iran nos guiou até o centro da pista, onde todos os presentes abriram espaço para que nos acomodássemos, enquanto uma música alegre era tocada por instrumentos que eu não conhecia, mas pareciam gaitas, flautas ou algo assim.
— O que eu faço agora?
Iran segurava o riso.
— Lembra quando pegava a minha pata no outro mundo e dançava comigo pela casa? — Assenti e mesmo tensa sorri ao lembrar. — É parecido. — Puxou-me pela cintura e juntou seu corpo ao meu. — Com a diferença que terá uma multidão nos olhando e a tradição da cobertura de flores que cerca a dança do casal.
Neste momento a música alegre deu lugar a uma melodia calma e que eu classificaria como romântica.
— Cobertura de flores?
Sem responder de imediato, Iran me manteve junto ao seu corpo, iniciou a dança nos movendo um passo para o lado e outro para o outro e assim começamos a dançar.
Deixei-me ser completamente conduzida por ele, já que não fazia a menor ideia de como era a dança ali e nem no outro mundo. Nunca havia dançado em lugar algum, só mesmo com o Bravo na sala de casa.
As pessoas a nossa volta aplaudiam no ritmo e se balançavam de um lado para o outro.
— Logo eles irão jogar sobre nós um pano escuro e pintado com flores — falou com sua voz grossa bem perto do meu ouvido e arrepiei. — Faz parte da tradição. Quando os noivos tomam o centro do salão para a dança, é como se estivessem se despedindo da festa, para a noite de núpcias. O pano é como um símbolo de privacidade para o tempo que antecede a partida.
Senti meu rosto pegar fogo e a vergonha sobre o que me contou tomou conta de mim. Pensei sobre aquele momento mais íntimo, mas não tão a fundo, era tanta preocupação com o povo, que esqueci de tudo. No entanto, após Iran mencioná-lo, várias perguntas martelaram na minha cabeça.
Será que terei que ter relações sexuais com Iran para a maldição ter efeito?
Como seria a minha primeira vez?
O que eu teria que fazer?
— Respira, Vida, não precisa ficar tão tensa.
As pessoas nos rodeavam e eu notava o sorriso em seus rostos. Todos pareciam levar o casamento muito a sério e nem sequer pensavam que aquele não passava de um arranjo para salvar Flós.
Tudo bem que a maioria ali podia ser que não soubesse, pela pressa com que tudo foi arranjado, mas as notícias corriam.
— Só estou pensando em tudo... que eu não sei... como funciona aqui.
— Não pensa muito.
As tochas e lamparinas do salão foram apagadas e um grande pano escuro, com contornos de flores desenhado nele, passou por nossas cabeças e seguiu até a outra extremidade do salão, deixando apenas nós dois embaixo dele.
Era enorme, com muitos remendos e suas várias pontas foram seguradas pelos habitantes de Flós que seguiam animados com a cena que não viviam há muito tempo. Vários ali nunca nem haviam visto.
Embaixo do pano eu sentia a ansiedade disparar meu coração e não sabia o que devia ou não fazer para me acalmar, fechei os olhos e respirei fundo com a testa encostada ao ombro de Iran.
— Parece tão nervosa.
— Acho que sou controladora demais e não saber como tudo vai se desenrolar realmente me deixa nervosa.
— Vou narrando para você.
Assenti e sussurrando bem perto do meu ouvido começou:
— Agora eles vão entoar o canto que todos aprendemos com os nossos antepassados e fala de saúde, prosperidade, fertilidade e abundância. Exatamente tudo o que não tivemos por uma vida e agora temos a esperança de ter eternamente.
Como Iran disse, as vozes formaram um coro calmo e ritmado, cada palavra dita no idioma que eu não conhecia, mas que era claramente um desejo caloroso de coisas boas.
Como mágica, as flores no tecido se acenderam, vibrantes como luzes neons e eu me assustei.
— Dizem, que quando o tecido acende é que o casamento foi abençoado pelos antepassados.
Não sabia o que dizer e continuei olhando para o alto, admirando o pano que brilhava magicamente.
Tirei meus olhos do tecido para encará-lo e Iran me olhava fixamente e muito de perto, tão perto que imaginei que fosse me beijar. Engoli em seco, olhei para os seus lábios e pensei em me afastar, mas fiquei paralisada. Encarei sua boca novamente, exalava uma respiração morna que tocava a minha.
Meu peito subia e descia com a respiração desritmada sendo sufocada pelo vestido apertado, minha boca estava seca e meu olhar completamente capturado pelo dele.
Notei Iran também tocado, seus olhos encaravam os meus, iam de um para o outro e depois fixavam nos meus lábios novamente. Sua respiração tão acelerada quanto a minha indicava que sentia-se afetado pelo momento tanto quanto eu.
Olhou para o lado como se procurasse uma saída e eu segui seu olhar para ver quase nada que não fosse silhuetas de pessoas no meio da pouca luz que exalava dos desenhos brilhantes.
Voltei a encará-lo e seus olhos estavam de novo em mim, até que como se não soubesse mais como fugir do momento que ele próprio criou, Iran pegou-me pela nuca, enfiou seus dedos por debaixo da minha trança fofa e me puxou para um beijo.
Inicialmente fiquei paralisada, sem saber como agir, mas desejava ardentemente que ele continuasse o que começou, então, diferente do beijo do casamento que foi casto e sem muita emoção, naquele Iran enfiou a língua em minha boca e parecendo me querer para si, despertou em mim o mesmo sentimento, fazendo-me ansiar por mais dele.
Meu corpo e meus sentidos misturavam-se em um mundo de desejos, queria algo que nem eu sabia ao certo o que era e desejava que Iran me mostrasse mais do que podia fazer, mais daquela sensação e do seu calor.
Beijou-me como eu havia ansiado que fizesse antes, no altar, e foi muito melhor do que eu pensei que fosse.
Parecendo querer terminar nosso beijo, chupou lentamente meu lábio inferior e depois roçou levemente o superior, seus braços me puxaram para perto, tão perto, que nem ao menos um filete de ar passaria entre nós.
— Vida... — sussurrou com os lábios colados ao meu.
Parecia tentar controlar sua respiração e seus atos. Eu não sabia o que dizer. Entretanto, quando enfim separou-se de mim, olhou em volta como se tentasse pensar no que fazer, até que se recompôs e disse:
— Agora é o momento que temos que ir para que acendam as luzes.
Procurou novamente para que lado seguir, deu a volta em mim, pegou-me pela mão e juntos andamos meio abaixados sob o pano, até que conseguimos chegar a um dos corredores e logo nos afastamos das pessoas que no caminho nos encararam com sorrisos insinuantes, que mesmo com pouca luz consegui ver.
Tímida eu mal os olhei, pois sabia o que pensavam que eu faria depois de sair dali.
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