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Capítulo 49

ULTIMO CAPÍTULO


Matteo

Assim que Rebeca saiu, uma série de perguntas foram feitas e eu não tinha a menor ideia do que responder, silenciando a todos, dispensando-os até eu ter mais informações a respeito.

Naquele instante, eu só pensava em falar com minha esposa.

— Lucca — chamo-o e ele se aproxima enquanto todos ainda estão comentando em um irritante barulho que eu só não me incomodo porque eu não quero que ninguém me ouça.

Ele está tão chocado quanto eu.

— Caralho, o que sua mulher fez? — pergunta em um sussurro. — Como ela conseguiu matar Fernandes, cara?

— Não tenho a menor ideia, qualquer conhecimento, nada, e conhecendo-a como eu a conheço, ela não vai me passar qualquer informação, mesmo que eu esteja desconfiado que tem dedo de Caterina aí.

Ele nega mostrando-se tão atordoado quanto eu.

— Acha que ela pediria ajuda depois de você a ter mandado cortar relações com Caterina? — Eu não acho, eu tenho certeza.

— E acha mesmo que Rebeca me obedece? Desde ontem ela desobedeceu a tanta ordem minha que eu não sei nem por onde começar a lista — fico com raiva somente em pensar nisso e no que poderia ter acontecido. — Descubra tudo! Quantos eram, quem, como, onde. Apague qualquer vestígio que possa chegar a mandante do crime, inclusive elimine quem deixou marcas. Não posso correr o risco de algum meter a língua entre os dentes e falar da minha esposa.

Ele me encara como se duvidando em me obedecer.

— E se for mesmo gente do grupo de Caterina, não teríamos problemas com ela? — Pouco estou me importando.

— Vou deixar bem claro que o tempo de paz entre a gente está por um fio — Lucca assente. — Mas antes, incinere a mão de Fernandes e mande o anel de presente para o grupo dele aos meus cuidados. Assim eles pensarão melhor antes de me ameaçarem de novo.

— Só uma pergunta, Matteo? — olho para meu irmão que não tira os olhos da caixa. — Por que sua esposa saiu? Ela não poderia ter somente dado a ordem de casa? Por que ela fugiu da forma como fugiu? E o carro dela em Roma, na casa de Matia? Será que ela estava presente? — Eram tantas perguntas sem qualquer resposta.

— Eu não sei de nada, Lucca, mas com relação a estar presente?! Rebeca pode até ser impulsiva e um tanto perversa quando está com raiva, mas acha mesmo que ela mataria alguém? — Rebeca não seria tão louca. — Imagina ela decepando a mão de Fernandes? Consegue imaginar minha esposa chegando a esse nível de frieza? — Ele nega.

— Tem razão. Ela até que me surpreendeu em várias situações, mas realmente ela não tem essa capacidade. — Concordo. — Só que não devemos nos esquecer o que ela fez quando ainda morava com Don Carlo, sendo treinada por ele e pela cobra daquela esposa.

— Exatamente isso. Rebeca pensa, pode até ser maquiavélica num momento de muita raiva, mas pôr a mão na massa não é pra qualquer um — meu irmão concorda. — Agora eu vou falar com ela e ver se ela me diz algo.

— Você já sabe que isso é uma grande perda de tempo — assinto.

— Sei que é uma impossibilidade, principalmente porque teria que incluir Caterina. — Nos despedimos de alguns que ainda restaram no recinto. — Agora, vá, meu irmão! Descubra tudo. Leve quantos homens quiser, gaste o que precisar só faça isso rápido.

Ele confirma.

— Eu vou pessoalmente para Calábria ver o que consigo. — Melhor. — Entro em contato quando souber alguma coisa.

E nos despedimos convicto que eu saberei o que de fato aconteceu quando Lucca voltar, porque, assim como eu, ele sabe ser convincente.

Menos com Rebeca, lógico.

Ainda estava no processo de alívio e raiva quando entrei no quarto. Rebeca estava sentada na cama ereta, quase uma estátua, como se estivesse no modo ataque.

Ela ainda estava com raiva de mim... e eu enlouquecido com ela.

— Você tem ideia do que você fez? — ela sequer olha para mim. — Desde o momento que saiu de casa... A propósito, aquela ceninha ontem de manhã já estava planejada, não? — nada.

Ela não esboçou qualquer expressão.

— Sabe como eu estou? — consegui sua atenção e pense no desdém. — Eu estou com tanta raiva que sequer consigo pensar o que fazer. — Ela arqueia as sobrancelhas em ironia. — Que porra, Rebeca! Acha legal me deixar preocupado como me deixou? Fugir de casa como fugiu? Mandar aquele veado de merda mentir pra mim?

Minha esposa parecia um robô e eu só penso que qualquer um que fizesse isso do grupo, se não estivesse morto, estaria pedindo misericórdia do tanto que seria espancado.

— Acabou? — pergunta se levantando devagar e foi então que eu percebi sua expressão de dor mesmo que de forma sutil. — Estou cansada e quero voltar pra casa. Pode pedir a um dos seus homens para me levar?

A maquiagem era muito forte. A roupa sóbria – saia abaixo do joelho e camisa de mangas compridas - escondiam seu corpo, assim como as meias e os sapatos fechados.

Ela não se vestia assim, muito menos se maquiava daquele jeito.

Ela se escondia.

Me aproximo dela, mas antes pego dentro da mesinha de cabeceira a caixa de lenços umedecidos para passar em seu rosto e tirar aquela máscara.

Ela se desvencilha e eu seguro sua cintura tirando dela um gemido.

— Que porra é essa? — Tento abrir os botões de sua camisa e ela se afasta. — O que está me escondendo, Rebeca? — Ela nega — Eu vou tirar sua roupa de qualquer jeito, e honestamente, não seria a primeira vez que eu te o faria sem perder tempo com botões, laços, fechos ou qualquer merda que me impeçam de te tocar.

Eu não conseguia ler sua expressão. Rebeca estava estranha.

— Eu estou cansada, dá licença? — Ela achava que na raiva que eu estou, eu estava pensando em sexo? — Não quero se... — Ela pensou mesmo e pela primeira vez eu rasguei sua camisa com raiva.

Eu levei tempo para processar a faixa em torno de sua cintura, as manchas arroxeadas em seu ombro, em seus braços quando retirei por completo sua blusa.

— O que você fez, Rebeca? — Eu não queria acreditar no que eu estava imaginando. — O que aconteceu? — Passo o lenço cuidadosamente sobre seu rosto revelando ainda mais machucados.

Meu Deus!

— Eu quero ir pra casa, Matteo — eu queria brigar, eu queria xingá-la de tudo quanto era nome, eu queria prendê-la dentro daquele quarto por tempo indeterminado, mas seu olhar era de quem pedia ajuda, igual àquela vez que ela desfaleceu em meus braços quando estava doente.

Ódio!

— Eu vou te levar à clínica. — Foi só o que eu falei. — Já passou em algum médico? — Apesar de estar enfaixada e aparentemente ter seus machucados cuidados, não parecia ter sido algo feito por algum profissional.

Entro em nosso closet. Mesmo que não moremos aqui, nós temos roupas e tudo mais para uma necessidade.

— Vamos colocar algo mais confortável — ela não gosta mesmo assim me deixa ajudá-la. E cada peça de roupa que eu tiro, eu luto contra esse desespero que toma conta de mim.

Minha esposa estava toda machucada, de quem tinha sido duramente espancada.

Ela olha para mim percebendo todo meu ódio, e sorri passando-me uma doçura que chocava.

— Você vai me contar como isso aconteceu? — Eu não sei o que pensar. Eu não sei o que vem à minha cabeça. A única coisa que eu sei é que o infeliz morreu asfixiado e só.

Eu não sei de nada.

— Como você está tão machucada, Rebeca? — Não havia qualquer resposta. — Foi Fernandes?

Rebeca estava muda.

— Eles te pegaram. — Não havia qualquer resposta. — Ele conseguiu te chantagear e por isso você saiu de casa como saiu? — O arrependimento por não ter sequer pensado nisso me assola. Minha certeza de que ela estava protegida por meus homens me blindou de pensar nisso. — Porra, Rebeca, me conta o que aconteceu?

Visto-a com um vestido leve e comprido, além de substituir seus sapatos altos por um par de sandálias leves.

— Eu podia ter te perdido — bate um desespero. — Eu podia ter te perdido.

Ela abre um sorriso e acaricia meu cabelo.

— Acabou — foi a única coisa que me disse.

Eu queria abraçá-la fortemente, mas um único toque em sua cintura a fez soltar um gemido.

— Vamos! Preciso te levar a um hospital — olho para ela pronto para carregá-la no colo quando ela me impede.

— Eu prefiro ir caminhando — diz e eu lamento não poder ajudá-la nem nisso. — Os analgésicos estão perdendo o efeito e qualquer movimento dói.

Caminhamos de mãos dadas até a garagem. Escolho um carro menos esportivo para ela não precisar se abaixar tanto para entrar e voo pelas ruas até a clínica.

***

Como imaginava, ela não atende tão rapidamente ao meu chamado.

— Olá, Matteo — sua voz era irritante. — Imaginei que me ligaria ainda hoje.

Enquanto Rebeca está passando pelos diversos exames que me proibiram de acompanhá-la eu ligo para Catarina.

Eu precisava canalizar meu ódio antes de explodir.

— Escute bem, Caterina! Eu vou acabar com seu grupo, com você...

— Ei, ei, ei — ela me corta, coisa que eu odeio. — O que eu fiz para que você cancele nosso acordo de paz?

— Você é mesmo muito cínica. Minha esposa está viva por um triz.

— E o que eu tenho a ver com isso? — Seu tom de voz mudou. — Acha mesmo que eu apoiaria a loucura que ela fez?

Ao menos ela não fingiu estar alheia aos acontecimentos.

— Sequer contei o que ela fez e já está confessando sua participação.

— O que quero dizer é que eu não apoiei nem jamais apoiaria a insensatez de sua esposa, mas não posso negar que eu não soube o que ela fez. Aliás, ela me procurou mesmo para saber o que estava acontecendo, e por que o marido dela estava tão irritado e agressivo? — E agora viraram amigas? — Você começou a destratá-la e não disse sequer o motivo.

— Vá se foder! — Ela ri — Se eu não disse o motivo era porque eu a estava protegendo.

— E quem estava protegendo o seu casamento de acabar? — Meu casamento nunca ficou em risco. — Escuta, Matteo!

— Para você é Don Mancini — cansei dessa informalidade.

— Ok, Don — ela se retrata com leve tom de ironia. — Já eu permito que me chame de Caterina afinal, eu e sua esposa somos íntimas — Como eu odeio essa mulher — Rebeca me procurou depois, eu imagino, das várias tentativas frustradas de lhe perguntar o que estava acontecendo, e o fato de estar presa dentro da própria casa. Rebeca, apesar de ter pedido para ser poupada dos infortúnios do seu trabalho, não quer tampouco ficar alheia. — Rebeca se abriu com essa cobra? Depois de termos concordado que evitaríamos contato? — Uma mulher que já é rebaixada a níveis tão baixos — Rebaixada? —, e ainda sendo tratada por você como estava, despertou nela um ódio descomunal.

— Ela nunca foi destratada, o que dirá rebaixada.

— A pobre mulher negra do Brasil não é suficiente? Ou quem sabe as várias especulações tentando entender o que um homem como você viu nela? E as comparações que fazem entre ela e a finada?

Eu ignorava as várias revistas de fofocas, assim como ela. Nós nunca gostamos mesmo de redes sociais, badalações e conversas desnecessárias, então aquilo era algo novo para mim.

Rebeca se incomodava?

— Nós não perdemos tempo com fofocas, Caterina. E por que a ajudou quando eu deixei bem claro que se quisesse continuar com a aliança, você teria que se afastar de nós?

Ela solta um suspiro.

— Eu tampouco gosto de fofoca, Don, mas não posso negar o quanto é desagradável ouvir mexericos sobre um possível romance entre mim e Miguel. — Como se isso não fosse verdade. — E a única ajuda que ela teve de mim foi contar os motivos pelo qual você estava tão irritado, trazer o carro dela até Roma e deixar uma mala de itens femininos que ela encomendou, e só. E honestamente, isso é nada, principalmente depois de ter jurado ajudá-la caso precisasse.

— Se eu não contei sobre Fernandes, não era pra você contar.

— Ah, querido. Fala sério! Qual mãe não quer saber que tem um psicopata caçando o filho? E era só uma pergunta, qual mal havia nisso? Só não esperava que a louca resolvesse tomar satisfação. — Ela está tentando mesmo me convencer que não a ajudou a eliminar Fernandes? — Mas mãe é assim, vira uma leoa pelas crias, e a sua foi treinada pelos melhores.

— Eu não acredito em você.

— Problema é teu. — Filha da puta! — Agora, se não tiver mais qualquer pergunta a fazer, eu vou resolver uns problemas que surgiram depois da loucura de sua esposa, porque você acreditando ou não, respingou em mim. — Não entendo, mas não entro em detalhes porque Rebeca sai da sala de ressonância em uma maca e eu a acompanho.

— Essa conversa não acabou.

— Pra mim acabou, Don Mancini. Minha dívida de gratidão é com ela e não com você. Além disso, ameaçar a quebra de uma aliança que nos favorece por uma informação, um favor tão agradável como dirigir uma Ferrari, e uma mala cheia de bugigangas é querer guerra sem motivos.

— Veremos — e desligo o telefone.

Eu ainda mato essa mulher.

***

Rebeca não quis ficar hospitalizada mesmo depois de constatada fratura em duas costelas, vários hematomas em diversas partes do corpo, inclusive uma lesão grave no fígado que deveria ser monitorada de perto.

Voltamos para casa com o cuidado redobrado ao menor sinal de piora. Durante o trajeto ela não falou qualquer coisa e eu sequer comentei com ela sobre Caterina. Prefiro esperar Lucca chegar com os relatórios.

Atitude só tomarei quando minha esposa ficar completamente boa.

Ela se acomodou na cama, brincou um pouco com nosso filho tendo a mim todo o tempo ao lado para evitar que Filipo a machucasse, fez um lanche leve e dormiu.

***

— Bom dia, morena — ela só despertou no outro dia. Mais de doze horas de sono.

Já eu tentei não sair do lado dela por muito tempo. A raiva não tinha passado, mas eu preferi me manter sereno até saber o que de fato aconteceu.

Mamãe me acompanhou no jantar e me substituiu quando eu precisei assistir meu filho.

— Oi. — Ela se espreguiça, ou melhor tenta, e para. — Me ajuda a ir ao banheiro? — Como se eu não estivesse ali para isso. — Eu preciso de um banho.

Devagar, eu a ajudo a se despir, tirando suas ataduras, verificando se houve alguma alteração em seu abdome que pudesse mostrar piora no quadro.

Nada.

— Você não tem a menor ideia do que eu sinto quando eu te vejo assim, morena — confesso. — O desespero que dá ao vê-la tão machucada e não ter a menor ideia do que aconteceu.

Ensaboo os seus cabelos, passo espuma pelo seu corpo lavando seus machucados. Daria minha vida para voltar até há algumas semanas quando fizemos amor aqui e evitar tudo isso.

— Como eu precisava disso — fala enquanto eu a ajudo a se enxugar, se vestir, pentear seus cabelos. — Não vai trabalhar? — Não confio em deixá-la aos cuidados de ninguém. Louca como é, vai fazer besteira.

— Não. Essa semana eu vou cuidar da minha morena — beijo seus lábios antes de colocá-la na cama e acomodar a bandeja com nosso café da manhã. — Não vai me contar o que aconteceu, não é?

Ela nega e eu solto um suspiro já ciente de sua teimosia.

— Mas você tem ciência que eu vou tomar conhecimento — ela dá de ombros como se não ligasse e eu somente sorrio. — O que eu faço com você, Beca?

Ela come uma torrada com geleia sorrindo.

— Posso fazer uma outra pergunta? — ela dá de ombros deixando bem claro que perguntar eu posso, mas se ela vai responder é outra história — Quando você percebeu que minha mãe fingia?

Ela abriu um sorriso ainda maior.

— Você é uma safada — brinco, e ela assente sutilmente.

— Só não a deixe saber que eu sei. Deixe-a à vontade para me xingar — as vezes eu tenho a sensação que não conheço a minha esposa.

— Isso me incomoda — confesso.

Ela faz uma careta de desdém.

— Eu não me importo.

— Mas se importa com os comentários dos outros ao nosso respeito? — Ela nega. — E o que há de errado com nosso casamento?

— Por que está me perguntando isso?

— Rebeca, para de fugir das minhas perguntas! — reclamo, mesmo sabendo que o momento não era o ideal para aquela conversa.

— Matteo, eu amo você.

— E eu também, Beca. Tem ideia do meu desespero quando eu te vi? A ideia de te perder me faz perder a razão, então me diz o que está errado? Por que fugiu, mentiu, procurou respostas com Caterina? — ela nega. — Caterina já confessou.

Ela faz um bico de raiva.

— Ela não me disse nada, mas o que me disse foi o suficiente para eu te questionar sobre nós — digo, tentando fazê-la ela se abrir comigo.

Porra, eu sou o marido dela e queria ser seu melhor amigo.

Ela suspira.

— Como posso melhorar se nem sei o que eu estou fazendo de errado? — A vida a dois é tão diferente que eu me perco.

Eu erro.

Eu me importo.

— Matt — por fim ela fala. — O que tem me incomodado é o fato de eu não ter mais você — Não ter mais a mim? — e eu sabia disso quando vim pra cá. Você sai cedo e volta tarde. Sua vida é ficar preso ao telefone respondendo a milhões de e-mails. Reconheço que faz parte de suas atribuições e não estou falando só da máfia, mas das empresas, vinícolas e tudo mais, e eu e Filipo ficamos com algumas poucas horas, mesmo assim te dividindo. Eu pedi para me proteger, nos blindar, mas eu me arrependi porque não temos mais nada para conversar. Tirei uns dias lá na casa de Lucca e parece que piorou, porque você chegava tão tarde feliz que não precisava vir até a fazenda que nos pegava dormindo.

Reconheço que tenho falhado com ela, com eles.

— Desculpa.

— E aí teve o Fernandes e eu me vi totalmente sem você.

Puta que pariu!

Alguém bate a porta do quarto e eu autorizo sua entrada lamentando ter que parar no meio daquela conversa.

Ah tanta coisa ainda a se falar. E tanta para consertar.

— Bom dia, minha piromaníaca preferida — Lucca entra com um sorriso no rosto enquanto eu ainda processo o conteúdo da conversa seguido de um "piromaníaca?".

Já Rebeca perdeu a cor.

— Por que não me ligou? — ele encara Rebeca. — Vamos conversar lá fora.

Ele nega.

— Se você não se incomodar, eu preferia conversarmos os três, pode ser? — Ele não tira os olhos dela. — A história que eu soube é tão impressionante que eu preciso contar olhando nos olhos da minha linda cunhada. — Eu poderia ter até ciúmes, mas é meu irmão e eu não tenho segredos com ele. — Assim eu sei quem está mentindo — minha esposa não confessa, mas não nega.

— Não acredite em tudo que te contam — Rebeca rebate. — Tem muita gente que inventa.

— Eu sei e por isso eu preciso contar diante dos dois. Já te disse que sou bom nas entrelinhas assim como eu sinto cheiro da mentira de longe. E juro que a história que eu ouvi não cheirava a mentira — eu não estava entendendo nada daquele diálogo entre os dois.

— Então me conte o que você descobriu? E por que a chamou de piromaníaca? — Eu odeio esse suspense que Lucca faz às vezes para me contar as coisas.

Ele sorri para Rebeca me dando ansiedade.

— Vamos lá! — Rebeca o incentiva. — Quero saber o quanto seu olfato está bom. — Eu não conhecia esse lado cínico de Rebeca e aquilo era surpreendente.

E ele sorri como se a estivesse desafiando.

— Eu achei as duas prostitutas que estavam presentes quando tudo aconteceu — Rebeca começa a respirar mais rápido. — Depois, eu peguei um dos homens de Fernandes e o fiz confessar tudo que estava acontecendo antes de enviá-lo ao inferno. E por fim me encontrei com o possível novo chefe do Calabresa que confirmou a história.

Rebeca respira fundo, acomoda-se melhor na cama e arqueia as sobrancelhas em uma mudança radical de postura. Antes parecia medo por ter sido pega, agora era como se ela estivesse pronta para argumentar tudo, e se Lucca está fazendo isso é porque ele tem certeza.

Meu irmão nunca deixa lacunas abertas. Rebeca pode ser muito boa em esconder as coisas, mas não tem melhor que meu irmão para revelá-las.

— Conte-me, cunhado. Faço questão de saber qual a história que te contaram.

De repente eu me senti num grande cenário onde meu irmão se mostrava um perfeito advogado filho da puta enquanto minha esposa se mostrava tão cínica que me chocava. Ambos interpretavam perfeitamente seus papeis.

— Fernandes te odiava — ele volta a olhar para mim. — Jurou te matar depois que você eliminou o tio dele, mas foi contido pelos chefes das famílias a se ater à sucessão. Após isso, o furacão chegou à nossa família e ao nosso grupo, e que parecia que nos destruiria de vez — sento-me ao lado para ter a visão dos dois. — Mas você saiu livre o que foi frustrante para ele.

"Foi então que você sumiu do mapa indo para o Brasil com uma identidade falsa e morando numa comunidade, tornando-se um fantasma."

Nunca me importei com o ódio dos meus inimigos. Nós temos o talento de fazer inimigos por onde passamos.

— Você voltou para a Itália com o filho que supostamente havia sido sequestrado, e ainda casado com uma qualquer — isso me irrita mais ainda — e ainda assumiu aquilo que tinha direito, e pra piorar, não houve qualquer retaliação entre nosso grupo e o grupo de Roma, mesmo depois dos vários escândalos.

"Fernandes ficou obcecado por você" A história começa a ficar interessante. "A loucura dele chegou a níveis tão baixos que ele praticamente se afastou da frente da máfia para te matar. Se juntou com um grupo de traficantes já que ele não conseguiu apoio dos outros clãs e aí você já conhece essa parte da história".

Invadia minha área, matava meus associados, destruía tudo que soubesse que era do nosso grupo só para me atingir.

Aquilo virara pessoal.

— Aí, vamos para a parte desconhecida por nós até ontem — e olha para Rebeca. — Uma linda moça jovem portuguesa com a idade de dezoito anos cujo nome era Rosa, entra em um bar onde estava sendo comemorado o aniversário de um dos homens de Fernandes depois de ser deixada por um filho da puta que saiu cantando pneus.

A cabeça começa a doer.

— As meninas disseram que a garota "chegou chegando". Jogou o copo do gin que pediu — Gin? — na cara do aniversariante depois de ouvir algo dele que elas não sabem o que foi, e ainda apertou as bolas dele quando ele levantou a mão para agredi-la — olho para Rebeca boquiaberto, surpreso. — Foi então que Fernandes se aproximou dela e a defendeu como se fosse ela que precisasse de um defensor.

Não posso associá-la a essa Rosa mesmo que ele tenha dado pistas que Rosa e Rebeca são a mesma pessoa.

— Essa mulher tem meu respeito — Rebeca comenta de forma irônica e eu somente me calo desacreditado.

Ambos se encaram rindo.

— Você não sabe de nada... ou sabe? — e meu irmão não fica por baixo. — Fernandes a convidou para ir com eles comemorar o aniversário em um lugar mais reservado. A gente sabia que ele passava pouco tempo em um lugar justamente para se proteger, por isso não conseguíamos intervir — sim, ele se escondia como um rato. Quando aparecia em um lugar, era pouco o tempo. — Só que antes, ele pegou o celular dela e jogou dentro do copo do segundo Gin — minha esposa não bebe bebida alcoólica. É uma luta uma taça de vinho o que dirá Gin —, e pense no escândalo que ela fez em um italiano perfeito carregado de sotaque.

— Ela era estrangeira, querido. O que queria? — Seria até divertido esse diálogo se não fosse o risco que ela correu. — Achou o celular? Porque o celular nos levaria a essa portuguesa.

— Pois é, eu até pedi para procurarem, ofereci uma fortuna para o encontrarem, mas não consegui. Paciência! — Ela mexe as mãos lamentando essa notícia. — Ele prometeu um celular novo pra ela e não é que a bicha safada aceitou?!

— Lucca, manere com os adjetivos — ele estava falando da minha esposa.

— Ele está falando da portuguesa, Matteo. E ela foi muito fácil mesmo. Verdadeiramente uma safada — e ri.

Ele cai na gargalhada.

Já eu estou muito sério. Não vejo graça alguma.

— E não é que foi! Bem, as meninas não conseguiram conversar com essa tal de Rosa. Disseram que a garota foi em silêncio por todo o caminho.

— Fernandes não estava com elas? — pergunto.

— Não. Ele geralmente ia em outro carro com mais dois — responde. — Elas chegaram no acampamento depois de todos. Bebida, fogueira, música e um bando de delinquentes juntos, do tipo que Fernandes curtia quando era mais jovem.

Sim, Fernandes só conseguiu se tornar o chefe porque seu tio o colocou. Seu histórico de agressividade o fazia temido e afastado, sendo requisitado quando precisava de alguém enérgico, mas era um bandidinho medíocre que pensava pequeno.

— Elas chegaram e essa tal de Rosa dançou, tomou cerveja, gargalhava chamando a atenção, seduzindo o chefe. Para elas, ela queria dar um golpe como deu. Uma puta que precisava de dinheiro fácil.

Chego a travar a mandíbula de ódio por essa parte. Rebeca olha pra mim com desdém como se não tivesse sido ela. Se qualquer outra pessoa me contasse, eu não acreditaria.

— Foi então que ele a levou para o trailer dele — meu coração bate mais rápido com a ideia de outro homem a tocando. — As meninas disseram que não ouviram nada já que o som estava alto. O máximo que viam era o trailer balançando mais que o normal o que foi motivo de zoação por parte de todos imaginando o que ambos estavam fazendo.

Aperto as têmporas entendendo o porquê de minha esposa estar tão machucada, tanto que olho para ela com tanta raiva pelo risco que ela correu.

— Foi então que eles ouviram uma explosão. Alguém colocou fogo no depósito que esses traficantizinhos de merda tinham um pouco afastado — foi aí que ele encarou Rebeca. — Conheço alguém que tem bem esse modus operandi.

Ela sorri.

E você acha que fui eu? — Questiona-o como se aquilo fosse nada — Acha mesmo? A portuguesa louca que resolveu medir forças com um homem? Sozinha?

—A segunda parte da história veio por um dos homens. — Volta a olhar para mim. — Eles entraram no trailer e viram Fernandes morto, com a mão decepada e nada da garota. Deduziram que ela tinha roubado o celular dele já que ele havia prometido, e que ainda levou a mão dele para desbloqueio — A cabeça explode. — Só que a tolinha resolveu pedir ajuda ao comparsa, mandando sua localização e o pessoal tinha esse controle.

Ele me entrega o número já conhecido.

"Agora, se não tiver mais qualquer pergunta a fazer, eu vou resolver uns problemas que surgiram depois da loucura de sua esposa, porque você acreditando ou não, respingou em mim." Lembro-me de Caterina.

— Esse número, por incrível que pareça, está vinculado ao documento de um adolescente qualquer que mora em Roma.

— Se decida, Lucca. Ela estava sozinha ou tinha um comparsa? — Meu ódio por Rebeca aumenta. Melhor confessar a merda que fez.

— Ela fugiu e se escondeu a alguns quilômetros do local. Como? Ninguém sabe, o que se sabe é que dois homens do grupo de Fernandes a encontraram, mandaram um rádio com a confirmação e morreram com um tiro na cabeça disparado pelas costas. E nada mais.

Miguel os matou.

— Conseguiu apagar os rastros? Digitais?

— O trailer estava cheio de drogas que incriminariam Fernandes e todo o grupo, por isso eles preferiram levá-lo para um lugar mais neutro, e fingir que tudo aconteceu lá. — Ao menos isso. Sair limpando tanta prova seria foda. — Os chefes das famílias por discordarem de Fernandes, preferiu aceitar um acordo de paz que nos beneficiaria a todos.

— Meu Deus, Rebeca! — encaro minha esposa. — Onde você estava com a cabeça? Você queria morrer? Era isso? É louca? Queria uma aventura? — Cada pergunta que eu faço me dá vontade de matá-la tamanha raiva.

— Por que vocês estão associando essa mulher a mim? — chego a travar a mandíbula pelo seu cinismo. — Acham mesmo que eu enfrentaria um cara sozinha?

Lucca nega, soltando um suspiro.

— Eu sabia que você negaria, Rebeca, e como eu já falei que sou um excelente advogado, não viria sem provas — ele tira do bolso um saco com um cabelo. — Parece que na briga, ela perdeu o cabelo em um quê? — o sorriso morreu. — Foi um puxão de cabelo? — Ele tira o cabelo de dentro do saco. — Ela perdeu um monte de fios com o puxão e fazer a análise do DNA é o que há de mais fácil. Precisamos mesmo comparar? — e pega a escova de cabelo dela que eu usei para penteá-la.

— Acha mesmo que somos amadores? — pergunto — Acha mesmo que eu não descobriria?

Foi então que o cinismo sumiu dando lugar a uma Rebeca que eu até conhecia.

— Eu que pergunto: acha mesmo que eu sou uma amadora? Acha mesmo que eu não descobriria? — ela pergunta entredentes. — Quer me poupar, ótimo, mas não me trate como uma cachorra que balança o rabo quando o dono chega mesmo depois de ter sido chutada por ele. — Eu nunca a vi daquele jeito. — Eu fiz o que fiz porque ou eu me arriscava a pôr um ponto final nisso, ou meu casamento acabaria. E honestamente, eu preferi encarar um merda como Fernandes do que suportar suas cavalices, viver presa como uma prisioneira depois de já ter vivido isso e abrir as pernas para tirar o seu estresse. — Lucca sai de fininho.

— Rebeca...

— Pois é. Eu não sou mais aquela menina que você conheceu, Matteo. Eu não tenho mais medo de você, do seu grupo, de ninguém. — Eu matei minha doce morena. — E se ameaçar meu filho, fodeu.

Eu aprendi com a máfia que há brigas que compramos, outras nós postergamos, e outras nós negociamos, e aquilo tudo era muito novo para mim, por isso eu saí do quarto quase derrubando a porta.

Eu estava com raiva dela, de mim, de tudo.

— Matteo, eu não esperava essa situação — Lucca se aproxima assim. — Na verdade, eu me surpreendi tanto com sua esposa que eu precisava confrontá-la em um tom leve antes de dizer que a admiro pela coragem.

Coragem ou loucura?

— Obrigado, meu irmão. Só preciso ficar sozinho um pouco.

E pego um dos meus carros e saio voando para esfriar a cabeça.

***

E esfriei.

Horas sentado dirigindo sem rumo, parando para ver o tamanho das minhas terras, me fez ver que eu amava minha mulher, mas também amava tudo que eu possuía, tudo que havia conquistado.

Só que ela foi a minha maior conquista. Quando achei que a tinha perdido, nada daquilo tinha graça, valor, mesmo sendo ele que tivesse me dado gás para continuar.

Faço uma ligação para alguém a quem eu era grato.

— Miguel — falo assim que ele atende o telefone. — É Matteo Mancini — me identifico.

— Eu sei e já esperava sua ligação.

Era tão difícil aquilo. Pensei sobre tudo, recapitulei cada conversa, cada coisa que eu soube e juntei todas as peças.

— Obrigado por salvar minha esposa — confesso, arrasado depois de tanto meditar — Obrigado por ter trazido minha morena pra casa.

Um breve silêncio.

— Sua esposa é uma mulher incrível — eu sei. Como eu sei. — Tentei tirar da cabeça dela tamanha loucura, mas ela é tão teimosa quanto o marido. — Sorri, concordando. — Ela enfrentou Fernandes sozinha e só Deus sabe como saiu viva e ainda conseguiu caminhar pela densa mata até achar um canto mesmo depois da surra que tomou.

Cerro os olhos pensando em tudo que ela passou.

— Fiquei alucinado quando veio a mensagem da localização. A ingenuidade dela não permitiu pensar que outros a veriam — Ela ainda é inocente. — Ainda bem que ela mandou uma mensagem antes pela explosão que me deixou mais próximo.

Eu imaginei.

— Se algum dia precisar de minha ajuda, não hesite em pedir — digo, consciente da importância dele na vida da minha esposa. — Hoje sou eu quem tem uma dívida de gratidão por ter a trazido para casa.

— Obrigado. Espero não precisar, ou melhor, não desconte em minha mulher. — Deus, por que nossas mulheres são essas pestes? — Ela foi contra, não permitiu que ninguém a ajudasse imaginando que Rebeca desistiria. Eu agi sozinho.

— Eu sei, por isso mesmo. Meu obrigado.

— De nada, Don. Estamos juntos.

Era difícil.

A raiva tinha passado dando lugar ao remorso, arrependimento.

Voltei pra casa esperando encontrá-la acordada mesmo que fosse relativamente cedo, e ela dormia com o abajur aceso dando-me um vislumbre de seu rosto sereno.

O roxo agora estava mais nítido e forte manchando seu rosto tão lindo. Toco em seu cabelo que cai e ela abre os olhos enquanto eu acaricio seu rosto.

— Perdoe-me — digo de coração. — Eu fui um idiota.

— Foi não — responde. — Você só quis me proteger daquilo que eu mesma te pedi.

— Mas não deveria ser do jeito que foi. E eu aprendi — ela sorri. — Prometo não te esconder nada ou ao menos nada tão grave; prometo valorizar cada instante que estivermos juntos, a sua companhia.

— Não prometa o que não pode cumprir — pede.

— Eu ainda sou um homem de palavra, Rebeca, e se eu prometo algo, eu cumpro. Sabe disso — ela meneia a cabeça num mais ou menos e eu não posso deixar de sorrir.

Quando ela mais precisou de mim, eu a perdi.

— Prometo também que se você resolver tomar satisfação a alguém, serei eu a estar esperando para te salvar — a voz sai embargada — e te tirar da fria que você mesmo se colocou — a lágrima desce em meu rosto e do rosto dela — porque nada do que eu tenho e sou vale mais do que a sua vida e a do meu filho.

— Matt...

— Desculpa, morena.

Ela começa a chorar e eu me encosto a ela abraçando-a com cuidado.

— Eu tive tanto medo — confessa. — E nojo quando aquele homem me tocou — foi algo que eu preferi não pensar. — Eu só queria voltar pra casa, para seus braços, e esquecer tudo. — Beijo sua cabeça tentando cortar o assunto. — Eu tive muito medo. Medo de nunca mais te ver, ver meu filho. Eu só conseguia pensar que mesmo irritada com você, era a seu lado que eu quero ficar por toda a vida... e desejo uma vida longa.

Ah sim.

— E vai acontecer, você vai ver — beijo seus lábios. — Só vou te pedir uma coisa — me afasto para que ela me veja — quando estiver totalmente recuperada, vou pedir a Lucca para te treinar — ela estranhou meu pedido. — Sim, moça linda. Não quero sonhar em ver alguém te machucar de novo, então você vai estar preparada.

— Eu não pretendo fazer mais isso, Matteo.

— E se depender de mim, não vai. Mas se alguém passar por cima de mim, eu quero ter a certeza de que de você não passa — ela abre um sorriso pela confiança que eu deposite nela. — E Lucca, além de ser melhor do que seus antigos treinadores, eu não tenho o menor ciúme.

Ela beija meus lábios e eu só desejo que ela esteja boa para fazermos amor. Tenho saudades de seu corpo quente e macio.

— Te amo, morena. Te amo muito.

— Eu também, Matt — e a deixo dormir profundamente enquanto acaricio seus cabelos.


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