Capítulo 46
Rebeca.
Logo depois do almoço nós voltamos para a nossa casa. Claro que almoçamos na vinícola cuja sede tem uma fazenda toda estruturada mesmo que não tenha o mesmo conforto. O avô de Matteo assim como o próprio Matteo foram comprando as fazendas nos arredores para suas vinhas, e cada uma delas tinham suas casas que na maioria não foram destruídas, por isso a fazenda dos funcionários para festas e outros eventos.
Matteo continuou sendo um perfeito anfitrião, mostrando tudo, explicando o processo de colheita das uvas, o cuidado com a maceração ou prensa, a importância do enólogo quando o vinho está no processo de fermentação, coisa que ele adorava estar presente para avaliação, e só então o processo de envelhecimento.
Ele me mostrou tanques separados que há anos armazenam seus vinhos, esperando o perfeito grau de envelhecimento e quando são lançados no mercado, sempre se destacam, ganham prêmios e verdadeiras fortunas.
Pude ver o quanto seus olhos brilhavam de felicidade ao falar daquilo que ele amava. E eu não entendia como ele preferia trabalhar em uma coisa ilegal, quando ele podia ganhar tanto dinheiro fazendo algo honesto.
A fome do poder é insaciável.
Matteo voltou dirigindo com Filipo no colo que se amarrou em "dirigir" um carro de verdade. Claro que eu não me estressei porque estávamos numa pista que cortava a fazenda, e ela era particular, somente quem trabalhava na fazenda poderia transitar por ela.
Ele para o carro no galpão quando o telefone toca.
— Merda! — diz, assim que desliga o aparelho
— Matteo... — repreendo-o por xingar na frente do filho.
Ele pega o filho nos braços e segura minha mão puxando-me comigo sem entender nada, até que eu vejo ao longe, dois carros se aproximando.
— Quem são?
— Alguém que eu mandei que nos esquecesse.
Não reconheço ainda os integrantes do carro. Matteo somente põe a mão no bolso buscando a pequena pistola que ele sempre leva.
O carro parou e eu vejo quando Miguel desce do carro, e abre a porta para Dona Caterina do lado do carona.
— Matt... — encosto a mão nele percebendo seu receio.
E então ela me olha e abre um enorme sorriso cumprimentando-me ao longe como se fôssemos velhas amigas.
Que merda era aquela?
No carro que o seguia, desce Ângelo, filho mais novo de Caterina e outra mulher que não reconheço.
— Quem é ela? — pergunto, enquanto vejo Caterina pegar o filho pela mão e caminhar em nossa direção seguido de Miguel e a mulher.
— Gina, a babá que cuidou de Filipo. — Recordo-me dela através das conversas que eu e Matteo tivemos.
Eles sobem os poucos degraus que nos separam com Matteo mais tranquilo já que a louca, caso tentasse algo contra nós, não traria o filho adolescente dela.
Eu acho.
— Rebeca — Ângelo é o primeiro a me cumprimentar e se aproxima de mim dando-me um abraço apertado.
Estava bem maior que da última vez que o vi, além de bonito, muito bonito. Ângelo, diferente do irmão que tinha puxado as características físicas de Don Carlo, era moreno, cabelos escuros e grossos, olhos castanhos claros.
— Oi, meu amor — fui gentil. — Você está enorme, bem diferente do garoto que eu jogava videogame e ganhava.
Ele solta uma gargalhada e me abraça forte novamente.
Tínhamos criado um vínculo forte. Era o único naquela casa que eu gostava de verdade.
— E você, lindão? — a tal da Gina fala com meu filho que abraça o pescoço do pai. — Agora eu entendo a quem puxou esses cachinhos lindos — e olha para mim.
Eu perdi o chão.
Matteo me garantiu que ninguém sabia que eu era a verdadeira mãe de Filipo e aquela estranha sabia.
— Tudo bem, querida? — Caterina se aproxima e me abraça.
Claro que eu fiquei tensa. Claro que eu estava sem entender tanta animosidade.
— Podemos conversar um pouco lá dentro? Apesar da estrada ser fantástica e a paisagem linda, estou cansada e eu sei que você é uma excelente anfitriã — ela olha para Matteo — E você, Matteo. Não precisa se armar tanto com a minha presença muito menos com a de Miguel. Vocês se deram tão bem há pouco tempo atrás.
— Eu disse que não precisava se dar ao trabalho de vir aqui — Matteo está quase rosnando. Quem sabe a presença de Ângelo, Gina, Filipo o deixou mais cauteloso.
— Eu cuido dele. — Gina se oferece para cuidar de meu filho e eu olho para Matteo quase gritando não.
Matteo olha para a babá de Filipo que se aproxima e o entrega para ela, contudo meu filho parece que se encantou por Gina e acaba dando a mão para ela que sai acompanhado de Ângelo para caminhar no enorme jardim.
Somente quando ficamos somente nós quatro é que ele convida dona Caterina e Miguel para entrar. Claro que pelo celular, ele mandou recado para os seguranças não tirarem os olhos do filho, e da sala era possível vê-los.
— O que vocês querem aqui? — Matteo não mede palavras. — Pensei que nosso acordo incluía não nos falarmos mais e esquecermos que nos conhecemos um dia.
— Não seja grosseiro, Matteo — Caterina se pronuncia e eu só percebo o quanto ambos são iguais em autoritarismo. — Eu vim agradecer a Rebeca o bem que ela me fez.
Sabe quando você está alheia a tudo?
— O bem? — que porra era aquela?
— Ah, por favor. Você se livrou daquele traste por mim. Como acha que eu estou me sentindo? — Matteo me garantiu que a morte de Don Carlo nunca seria atribuída a mim.
— Eu não fiz nada.
Ela ri, olha para Miguel que somente abre um sorriso.
— Ora, ora. — Descobri que eu era a palhaça ali. A idiota que não sabia de nada. Tanto que eu encarei Matteo já com raiva pela sua desonestidade.
— Eu disse a você que Miguel me ajudou a ajustar o nosso grupo, Beca. Que fizemos uma aliança temporária — responde ao meu olhar de decepção.
— Aliança temporária? — Sim, ele havia me dito isso, mas quando tentei me aprofundar no assunto, Matteo recomendou esquecer, que tudo era uma página virada.
Só que não.
— Você sabia que meu filho estava vivo? — Pergunto, encarando-a, querendo saber tudo.
Meu medo se foi.
Naquele momento eu tinha raiva de todos por estar alheia a tudo.
— Rebecca...
— Sabia ou não sabia?
— Você não entende...
— SABIA? — gritei quando Matteo tentou se aproximar e eu apontei pra ele ficar onde estava. Naquele momento nem ele ajudaria.
— Sabia. — Caterina volta a ser a mulher soberba e cheia de pose que eu conhecia. — Eu mesma entreguei o bebê para levá-lo.
E eu achando que ela poderia ser alguém que me ajudaria a cuidar do meu filho. Que por ser mãe, me entenderia.
— Cadela.
— E o que você queria, Rebeca? — a arrogância em pessoa estava ali. — Achava mesmo que Carlo iria aceitar o bastardinho em nossa casa? Eu entreguei para o pai dele consciente que se havia uma chance de o garoto sobreviver, era com ele.
Por mais ódio que eu tivesse dela, eu sabia que ela tinha razão, mesmo assim não baixei a guarda.
— Você sabia que ela dava lixo para meu filho? — Caterina muda o semblante. — Sabia que ela tentou matar meu filho?
Ela olha para as unhas, não por desdém e sim como se estivesse buscando algo dentro da memória.
— Por isso eu mandei Gina cuidar dele. — Eu tinha raiva de Matteo porque nada parecia surpresa para ele. — Quando eu soube que seu filho estava internado por queimaduras, eu sabia que tinha o dedo daquela louca e por isso eu fiz chegar às mãos de Matteo o currículo ilibado de Gina.
Eu não sabia daquilo. Gina era uma infiltrada.
— Caterina, acho melhor vocês irem embora. — Matteo pede.
— Eu quero saber tudo. Eu quero saber o que você não me contou para me poupar — exijo olhando para Matteo. — Eu quero saber o que a transformou nessa mulher sem coração a ponto de me fazer acreditar que meu filho estava morto — encaro Caterina —, que morrera no parto e fora cremado quando ele vivia. Quero saber o porquê de estar aqui, e não me venha com essa de agradecimento porque eu te conheço suficiente para saber que você não é dada a essa cordialidade quando eu sei que você me detesta. Que tinha ciúmes de mim quando seu marido me procurava, ou ao menos me odiava por morar na mesma casa que a esposa dele.
Ela solta um longo suspiro.
— Você é uma mulher muito inteligente para ser tão ingênua, Rebeca — Ela olha para Miguel que me olha com compaixão.
— E você, canalha? — Encaro Miguel. — Fugiu como o covarde que você era.
— Rebeca, ouça-me, por favor. — Caterina pede e pela primeira vez havia delicadeza em suas palavras. — Eu sei dos seus medos, eu sei que teme uma retaliação por nossa parte, mas eu preciso te deixar tranquila com relação a isso. Eu e Matteo já negociamos tudo.
— E o que você poderia me dizer que me deixará tranquila? Acaso eu não matei seu marido, mas eu armei para que ele fosse morto — confesso consciente que todos ali sabiam daquilo.
Matteo se aproxima e toca meu ombro delicadamente o que me irrita profundamente.
— Ela é a líder do Casamonica, o Don como você conhece.
Como?
— Uma mulher?! — Eu estava surpresa.
— Se puder sentar e me ouvir. — Ela se senta na cadeira muito à vontade e aponta para uma em frente a ela como se ela fosse a dona da casa. — Eu posso te contar tudo.
E foi então que tomada de curiosidade, eu me sentei diante dela.
Ainda tinha raiva, mas a curiosidade era maior.
— Eu casei com Carlo contra a minha vontade — começa como se isso fosse uma novidade.
— Eu já sabia disso, Caterina. Não precisa de um QI alto para entender. Só não sabia o que te fazia continuar no casamento falido.
— Poder, querida. Tudo é poder — diz como se fosse algo incrível, fácil e totalmente compreensível.
Olho para Matteo consciente de que ele usava desse mesmo lema.
— Pietro fez o arranjo. Meu pai era um grande investidor, extremamente rico e com várias pessoas sob seu controle, e Carlo era um cliente de meu pai, rico e com grandes aspirações. Além disso, a fonte de seu dinheiro era suja e meu pai limpava assim como seu esposo faz.
— Onde Pietro entra nisso?
— Pietro era o homem do dinheiro sujo. Fonte inesgotável de poder no submundo do crime. E eu poderia ser um elo muito interessante para todos, inclusive para meu pai. — Casamentos arranjados ainda é uma forma de agregar riquezas.
— E você aceitou isso de bem?
— E ir de contra ao pai quando se era filha única e sequer tinha mãe?
— Mas você gostou — estava nítido que sim.
— Não dele. Nós duas sabemos o quanto era nojento transar com aquele porco — Matteo chega a cerrar as mãos de raiva. — Mas o poder também me enfeitiçou e eu comecei a mostrar minhas garras.
Prefiro me abster ao ouvir esse comentário, porque as garras não pareciam serem muito afiadas.
— Carlo me odiava. — E quem não? — Como os clientes do meu pai ainda o respeitavam e depois passaram a respeitar a mim, eu ainda tinha controle, muito controle sobre grandes investidores, empresários. Apesar da máfia ser um tanto machista, vivemos no século XXI e as mulheres por fim tomaram seus lugares — Matteo nega sutilmente. — Ao menos no Casamonica.
No Casa Nostra isso não era uma verdade mesmo sabendo que a mãe do Matteo era bem respeitada.
— Eu e Carlo entramos numa quebra de braço, principalmente porque eu não o queria mais. Nossas brigas eram horríveis e do jeito que as coisas andavam, nós acabaríamos nos matando. Foi então que Pietro morreu e Carlo tomou a frente.
— E você se rebaixou — concluo.
— Não tão rápido, não tão fácil. — Sua voz era cheia de pesar. — Mas precisei tirar meu time de campo por amor ao meu filho — e olha pela janela o filho sentado absorto em seu celular.
— O que seu filho tem a ver com isso? Nunca vi don Carlo machucá-los.
— Não consegue ver? — olho para o adolescente sem entender. — Ele não é de Carlo.
Eu jamais imaginaria ouvir aquilo.
Uma mulher que trai o marido é assassinada sem qualquer piedade.
— Graziele descobriu e como era manipuladora, achou melhor me ter em suas mãos do que me entregar a Carlo.
"Eu tenho certeza de que a senhora é uma perfeita artista, infinitamente melhor que eu Por que a senhora não pinta esse quadro? [...] Porque lamentavelmente me quebraram as duas mãos. Agora eu só admiro o que os outros podem pintar."
Suas palavras saltam a minha memória quando conversamos anos atrás.
— A única pessoa que Graziela não conseguiu manipular foi Matteo. E por isso seu fascínio doentio por ele. Meu esposo era louco por ela, o pai, a mãe, a tio... todos. Graziela, assim como o pai, adorava chantagear, ter a todos em suas mãos, e como ela era mulher, bonita, atraente, era mais fácil conquistar os homens. Menos você, Matteo — olha para meu marido. — Infelizmente a mim ela conseguiu dominar e me colocar debaixo de suas vontades, e eu me calei por amor ao meu filho.
Eu não duvidava. Ninguém confessa uma traição assim.
—Foi então que eu a conheci, Rebeca. — Ela volta a olhar para mim. — A mulher que conquistou o coração do maior objeto de desejo dela.
— Foi dela a ideia de me sequestrar e pegar meu filho? — pergunto e Caterina confirma. — E fui colocada sob seus cuidados como uma incubadora.
Ela solta um suspiro.
— Não foi bem assim como você está pensando. — Há uma certa empatia nela. — Ela descobriu, não me pergunte como, que você estava grávida de Matteo. Lembro-me de ela chegar em nossa casa histérica tamanho ódio, sabendo que se Matteo descobrisse que você estava grávida, ele a deixaria pra ficar com você — olho para Matteo que confirma mesmo eu tendo minhas dúvidas. — . A princípio, era pra você ser entregue a Michelle enquanto ela fingia uma gravidez para não correr o risco de perder o noivo. Você deveria ser muito machucada de todas as formas possível — ela não precisa entrar em detalhes para eu entender. — Aconteceu que no dia do casamento, Matteo jurou nunca ter qualquer coisa com ela e ainda a ameaçou de morte caso ela perdesse o filho ou o filho não fosse dela, tirando a chance de ela engravidar de outro.
— Foi aí que ela me usou de incubadora?
Caterina confirma.
— Carlo, que sempre fazia os gostos dela, aceitou, ainda mais depois de vê-la o quanto você era bonita e jovem — e aponta para mim.
Me usou. Quantas vezes eu desejei morrer de nojo de mim.
— E por que tanto horror a mim, Caterina? Sabendo do que me esperava...
— Não, não. — Miguel toca o ombro dela fazendo um carinho estranho.
Era íntimo demais.
— Não era a primeira vez que Carlo levava uma mulher nova para minha casa. Ele adorava fazer isso só para me insultar e como eu estava sob ameaças constante de Graziella, uma das coisas que ela me pediu era para eu tratar o tio do coração dela bem, não porque o amava, mas porque ela adorava me afrontar, brincar de mandar e todos nós obedecíamos.
"Você teve seu filho, e fui eu que arrumei tudo para ele ser levado. Não tivemos tantos problemas nos exames de DNA porque Filipo era mesmo seu com Matteo. A única coisa que precisaram alterar foi o seu nome nos exames para o nome dela, e como tudo foi feito em casa, inclusive o parto, bastou subornar o enfermeiro para colocar uma identidade falsa no prontuário." Ela solta um suspiro de desalento.
"E foi a partir daí que você me surpreendeu."
— Eu te surpreendi? Com o quê? — Eu que estava surpresa com tanta sujeira.
Ela abre um sorriso sincero.
— Que eu já tinha visto você se mostrar forte ao se exercitar com Miguel e Adriano mesmo grávida, sim. Que sua força de vontade de sobreviver pelo seu filho era enorme, sem dúvida nenhuma. Mas eu imaginava que era aquela coisa de mãe. Nós tiramos forças de onde não tem. E você tinha perdido seu filho e, no entanto, não esmoreceu.
— Eu coloquei como objetivo de vida acabar com todos — confesso.
— Exatamente. E você foi conseguindo ter acesso à vida do meu esposo, não só na cama como no trabalho dele.
— E você morria de ciúmes por isso. — Ela nega de forma convincente.
— Não! Só que eu precisava me aproximar de você, de me aliar a você, mas eu conhecia Carlo e sabia que se eu tivesse afeto por ti, ele a mataria como aconteceu. As pobres garotas eram levadas para minha casa, e era só eu ter um pouco de compaixão por elas que ele mandava eliminá-las. Você precisava continuar sendo desprezada por mim para que ele imaginasse o quanto eu a odiava — não sei se acredito.
Foi então que naquela troca de olhares entre Miguel e Catarina, eles me disseram tudo.
— Então vocês resolveram me usar? Você e o pai do seu filho? — eles se olham e a confirmação estava ali.
Meu Deus. Era muita patifaria numa casa só.
— Foi isso mesmo. — Miguel me responde. — Foi a única forma que encontramos de ajudá-la.
— Pulando na minha cama, mostrando sua insatisfação com o chefe para eu poder confiar em você.
Ele confirma.
— Você queria saber o que eu poderia fazer antes, contudo eu nunca confiei em você, Miguel. Eu guardei todas as informações até de você porque eu sabia que era um traíra, só não esperava que fosse de Caterina.
Seu sorriso sacana aparece.
— E acha que não te ajudamos? — Miguel pergunta — Não se lembra que eu peguei a maleta com os dois milhões de euro, aquela que te ajudou a eliminar Michele?
— E eu te cobri quando substituiu os absorventes pelo dinheiro, lembra-se? — Caterina me lembra uma das horas mais tensas em minha vida. — Você conseguiu acesso ao cofre em meses quando eu levei anos para roubar a senha.
— Sem se esquecer que eu dei acesso ao seu amigo travesti ir te visitar no hotel e entregar todas as provas — Miguel me lembra de mais uma.
— Porque nós sabíamos que você tinha todas as provas guardadas nos arquivos de receitinhas da vovó — Caterina confessa me surpreendendo. — Ou acha que eu era idiota como Carlo em acreditar que uma mulher perigosa como você colecionava receitas para agradar a ele e aos meus fiihos?
Quem soltou um suspiro de surpresa fui eu agora.
— Por que não me impediu? As provas te atingiram, Caterina, ou se esqueceu?
Deus! Ela era uma víbora.
— Eu analisei os arquivos. Claro que eu precisava deixar que algumas coisas me atingissem para ser verossímil, nada tão drástico para não tirar minha liberdade, nem tão tolo para não me fazer de boba. A mim e alguns clientes chaves.
Por isso ela era a chefe.
Ela comprou alguns dos maiores.
— Então, sim. Eu hoje estou aqui para te agradecer e jurar que ninguém do meu grupo pode te atingir. — Eu não quero qualquer contato com essa serpente nem com o grupo dela. — E se acaso algum dia precisar de nós, do nosso grupo, não hesite em chamar a mim ou a Miguel. Nós temos uma dívida de gratidão.
— Ela não precisa de vocês — Matteo se pronuncia. — Ela tem a nós.
— Não duvido, assim como nosso grupo, enquanto eu estiver no controle, respeitaremos nossos acordos.
Ela se levanta com aquela pose de sempre.
— Seu filho sabe? — questiono.
— Não, assim como não pretendemos contar a verdade. O que importa hoje é que ele voltou pra casa e pode conviver conosco sem a ameaça do pai e da Graziela. E ele tem uma verdadeira adoração por Miguel e o estima muito desde que não passava de um garotinho. Miguel será o pai dele por consideração sem precisar de um documento.
Meu Deus!
— E o mais velho?
— Está terminando a universidade nos Estados Unidos e como não quer participação alguma em nosso grupo, sequer vai voltar. Ele optou pela ignorância então tampouco precisa saber disso.
Se era possível, eu não sabia, mas foi sábio.
— Mentiras e mais mentiras.
— Ora! — ela abre um sorriso. — O que são as mentiras em nosso mundo?
O que dizer?
— Ligue-me para qualquer coisa. — Caterina diz ao me abraçar. — Eu adoraria tê-la como amiga, mesmo quando você me fazia ciúmes com ele — e olha para Miguel que pisca o olho.
Nojo.
Ela sai caminhando na frente com Matteo ao seu lado, conversando alguma coisa referente a algum acordo entre eles que eu prefiro ignorar.
— Pode me ligar se precisar de mim. Não precisa nem passar por Caterina — Miguel se aproxima de forma bem-educada, sem qualquer intimidade mesmo depois de termos compartilhado a mesma cama.
Surreal.
— Se eu amasse um homem de verdade, não o emprestaria a ninguém — eu precisava ser venenosa o que tirou dele um sorriso bem sacana.
— Pois foi uma das ordens mais gratificantes que eu já obedeci — sussurra. — Você é uma delícia.
Podia ter ficado sem essa, Rebeca.
— Algum problema aqui? — Matteo se aproxima diante de meu olhar de ódio.
— Só me despedindo. Até breve, Don — ainda escuto isso.
Eles partiram e eu sequer falei qualquer coisa. Ainda estava inerte diante de tanta revelação.
Aquele mundo era uma selva, e eu achava que sabia me defender quando não passava, de quem sabe, um simples gato-do-mato diante de verdadeiras feras.
— Abstenha-nos do seu grupo, de seu mundo, Matteo. — Encaro-o — Quero ser invisível, independente de qualquer especulação, suposição, conjectura. Eu e meu filho.
— Rebeca...
— Você será o Don a qualquer momento — ele tenta negar mas eu o calo com o meu olhar porque ele sabe que eu estou certa. — Sua esposa e seu filho não precisam aparecer. Use de sua autoridade e nos cubra.
Ele solta um suspiro de desalento.
— Ok.
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