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Capítulo 45


Rebeca

Olho pela janela daquele avião particular ainda receosa, temerosa.

Filipo dorme profundamente na cadeira extremamente confortável que mais parece uma cama; Matteo, sentado ao meu lado, não para de manusear o celular, enquanto Lucca, de frente a mim, intercala entre lê um livro e olhar para mim como se tentando adivinhar o que eu penso sem emitir um som.

Minha cabeça está a mil.

— Algum problema, Rebeca? — Lucca me pergunta e eu nego recebendo toda a atenção de Matteo que me encara e segura fortemente minha mão.

— Está tudo bem — minto e ambos voltam suas atenções para o que estavam fazendo.

Volto a olhar pela janela e como tudo está escuro, eu fecho os olhos para que esses dois não percebam minha mentira.

Do que tem medo, Rebeca Monteiro Mancini? Acaso já não sabia que seria assim?

Minha consciência me pergunta e eu me questiono constantemente tentando acalmar minha alma que está dividida entre a mulher da porra que eu me tornei e a insegura porque essa ainda vive dentro de mim. Eu tenho medo de tudo e ao mesmo tempo de nada.

Não que eu tenha pena de mim, já que as consequências de tudo que acontece ao meu redor são resultados das minhas escolhas, acontece que agora eu tenho um filho.

Eu sou mãe.

Mãe!

E minhas escolhas não deveriam atingir meu filho.

Mãe é segurança, é apoio, é carinho, bem diferente do exemplo que eu tive em casa.

Esse tempo no Brasil me fez descobrir que meu tio não foi o motivo para eu largar tudo e ir embora. Meu tio foi somente o gatilho para eu tomar a decisão de viver longe dela.

Seca. Fria, narcisista. Nem no leito de morte de minha avó ela mudou.

Eu só observava.

Observava quando roubava dinheiro da mísera aposentadoria da minha avó; observava os carinhos no meu filho somente quando queria me pedir algo; observava a forma como seduzia os vários gringos que chegavam ao bairro para o ensaio da escola de samba; observava como trocava olhares com meu tio para escolher a próxima vítima para golpe; e principalmente, notei quando aquele monstro achou que poderia aplicar um golpe em Matteo pedindo uma fortuna para o velório e enterro depois de ele pagar todo tratamento quando minha avó ainda era viva.

Eu neguei alegando que ele já havia gastado mais do possuía e que havia contraído uma grande dívida.

Eu dei uma chance a ela de se redimir quando vovó estava doente. Eu dei uma chance de ela tomar consciência que as lembranças das pessoas que amamos é mais importante que todo dinheiro do mundo.

Mamãe não chorou no velório, enterro. Mamãe sequer mudou sua rotina de vida para ajudar vovó.

Eu dei uma chance de ela me notar... Eu queria a segurança de um lar.

Claro que eu também quis provar Matteo. Não que eu tivesse dúvida do seu amor por mim, mas sabe aquele verso que o amor suporta tudo? Eu o observava olhar pela janela entediado, seus suspiros de irritação diante das notícias da sua cidade, o caminhar pela casa quando recebia um e-mail relatando algum problema. Quantos vezes eu fiquei do lado de fora da porta ouvindo suas discussões por videoconferência e era só eu aparecer que seu rosto relaxava, mudava até de assunto.

Então eu decidi que era hora de voltar. Meu filho pode ter vindo em uma hora não planejada, mas tinha uma mãe e um pai que o amava acima de tudo e isso bastava.

Ele teria a certeza de que nós daríamos nossas vidas por ele se precisasse.

Agora era encarar a máfia, afinal, uma vez dentro dela, não havia jeito de sair, não tão jovem, não tão capaz, não tão eficiente.

Perdi as contas das reuniões com o novo Don, o homem que somente está esquentando a cadeira para Mateo tomar, estratégia para disfarçar da polícia, da justiça.

E como eu sei? Ouvindo as conversas, juntando as peças e lembrando do meu ex-chefe.

Então eu também tenho de saber que sou a esposa um Don cuja função está em apoiá-lo em tudo, e não é que eu ache que não seja capaz, mas essa vida de bandidagem mais o fantasma da Graziella que me persegue, me angustiam.

Dona Caterina sabe que eu matei Don Carlo e mesmo que Matteo me garanta que não teremos problemas com a máfia Casamonica, eu não confio.

Não confio nesse povo.

— Amor, eu vou precisar sair do aeroporto direto para uma reunião — Matteo me avisa confirmando aquilo que no fundo eu já sei. — Eu pretendo almoçar com vocês. Se incomoda de ficar em nossa casa em Palermo?

Eu disse a ele que não queria morar em Palermo na casa que ele e a esposa moraram. Eu não gostaria de morar numa casa onde pai e tio morreram assassinados e onde meu filho foi tão machucado. Não que eu seja supersticiosa, contudo, não é lá uma coisa agradável.

— E quando vamos para a fazenda? — Ele cansou de me dizer que seu sonho é morar na fazenda próxima à sede da Vinícola, onde ele me levou na primeira vez que transamos.

Onde eu fora machucada e levada para Don Carlo.

Deus! Eram muitas lembranças ruins.

Contudo, eu concordei porque seria mais saudável para meu filho, mais longe de tudo e com toda uma segurança.

Claro que Matteo ofereceu outro lugar da minha escolha, que eu teria o aval dele para comprar a casa que eu quisesse, mas eu optei por não.

Eu tinha que enfrentar meus medos e principalmente, eu queria não aparecer, ser o mais invisível possível para minha proteção e a do meu filho.

— Amanhã, depois do almoço.

Confirmo sabendo que eu precisaria me adaptar a essa rotina. A casa dos pais de Matteo ainda é a casa dele e do irmão que não pretende se mudar. E pelo que ele me disse, a casa é espetacular com todo o conforto que eu e meu filho precisamos.

Chegamos cedo ao aeroporto. Nosso trâmite foi tranquilo já que eu, como sou casada com Matteo, um legítimo italiano mesmo que de passado questionável, ganhei meu visto permanente.

Ele e Lucca foram direto para o escritório enquanto seu motorista me levava para a mansão deles.

Os empregados já estavam me esperando quando nós, eu e Filipo, chegamos. Fomos superbem tratados mesmo que com toda uma formalidade.

Liguei para Cat que me atendeu aos gritos de felicidade, mas como estava nos Estados Unidos fazendo um curso de canto e atuação, não poderia me ver.

E aí o negócio meio que desandou.

Fui falsa quando fingi um italiano mal falado, cheio de erros e palavras desconexas para permitir liberdade entre os empregados próximos a mim; e eu fui comparada em todos os sentidos.

A merda do crime é essa. O oculto.

Ninguém sabe que meu filho é meu de verdade. Ninguém imagina que eu e Matteo nos conhecemos antes mesmo de ele ficar noivo de Graziela. E eu não quero ser como eles.

Matteo é do tipo que não dá satisfação da vida dele para ninguém, mas suposições e fofoca são inevitáveis, e pelo que eu pude ouvir, eu tinha sido a mulher que achou Filipo e o criou como dela, e quando ele foi buscá-lo, casou comigo por gratidão, só pode.

Chega a ser ridículo pensarem isso, mas é mais fácil do que dizer que nos amamos.

Isso sem falar no quanto eu fui comparada a linda Graziella. Eu não tinha classe, eu não tinha porte, e apesar de eu ser bonita, eu estava bem longe do pedigree de ex, o que era um elogio se soubessem o que aquela megera fez ao meu filho.

Eu era preta demais para os padrões dele.

Eu era pobre demais.

O que um homem como Matteo tinha visto em mim para ter sido tão benevolente quando ele não é nada conhecido por isso?

Me calei porque eu sabia que isso iria acontecer.

E para piorar, ele chegou à Itália comigo e sequer me trouxe em casa assim como o cunhado.

Caminho pela casa linda mas sem vida, sem brilho. Meu filho me acompanhava todo o tempo, como se estivesse sentindo a mesma coisa.

O melhor lugar que nós ficamos foi no jardim, onde pudemos brincar mesmo que de forma tão seca.

Aquele lugar era um mausoléu que nos contaminava.

Matteo mandou avisar que teve um problema e que não poderia almoçar conosco.

Mais especulações.

Eu me sentia estranhamente pisando em ovos. Até que no meio da tarde, no calor insuportável que fazia mesmo com uma piscina convidativa, eu entrei naquela cozinha e pedi a chave de um carro.

— Sinto muito, senhora. Não temos autorização de entregar qualquer chave. Se a senhora quiser, o motorista a leva para onde queira — a governanta da casa me responde secamente mesmo que de forma polida.

Só faltava me dizer que eu poderia roubar algo dele.

— O carro é do meu esposo — lembro-a já que Matteo tinha muito mais de um carro e não eram somente carros antigos.

— Por isso mesmo, senhora.

Aprontei uma mochila com algumas roupas minhas e de Filipo, e com uma autoridade que eu não pensei em usar, exigi nem que fosse a porra do carro que os empregados usavam e com receio eles me entregaram porque meu italiano saiu perfeito, inclusive com os linguajares de baixo calão bem conhecidos pelos sicilianos.

Eu não tinha mesmo a classe da outra... Foda-se!

E com Filipo, nós partimos.

Cheguei à fazenda, depois de errar o caminho, que Matteo disse ser usada pelos empregados e que eu curti um fim de semana maravilhoso com ele anos atrás.

E somente lá, sem aquele monte de gente me julgando, eu pude ser eu.

Brinquei com meu filho, fiz lanche, pulamos no rio, corremos, colhemos flores. Ali eu tinha uma das melhores lembranças com o pai, e eu pude rir.

Claro que eu impus distância dos seguranças, ordenando que eu não queria ver a cara deles e eles me obedeceram.

Ao menos esses, por conhecerem o verdadeiro caráter do patrão, não comentam qualquer coisa, não retrucam, não questionam.

Eu e Filipo ainda estávamos na beira do rio, encharcados de repelente, brincando quando Matteo apareceu.

E não pude deixar de dar razão a alguns dos comentários antes ouvido. Matteo tinha toda uma classe, vestido de forma impecável, nem parecia que tinha passado o dia todo trabalhando enquanto eu estava suja de areia, cabelos desgrenhados, sem qualquer maquiagem.

— Papa — Filipo se levanta e corre para o pai que o segura nos braços ignorando o filho sujo e molhado.

Ele não estava com raiva nem triste. E seu sorriso doce me desarmou.

— Desculpa, amor — ele se aproxima de mim e se senta no chão com o filho, puxando-me em seus braços. — Falhei com vocês — e me beija.

Ele me surpreendeu completamente.

— O dia foi horrível, cheio de coisas... — divaga sem entrar muito em detalhes.

— Eu imaginava, Matteo.

— E por que saiu de casa? Por que não pediu ao motorista para te trazer até aqui? Por que usou o carro dos empregados?

Eram muitos por quês.

— Aquele lugar não é pra mim. Muita sofisticação para meu gosto, não que eu não goste, mas não me identifiquei com nada. Sequer consegui entrar no quarto do meu filho sabendo o que... — e me calo ao ver meu príncipe ali. — E você sabe que eu gosto de dirigir, tenho prazer com isso.

Ele confirma.

— E por que não pegou um dos meus carros?

Nego.

— Porque eles são seus e todos sabem que você não gosta que ninguém os dirija. — Eu vi Matteo travar a mandíbula.

— Você é minha esposa, e eles tinham ordens de obedecê-la no que quisesse.

— E eles fizeram — não iria lamentar no primeiro dia aqui — mas eu e eles sabemos como você tem paixão pelos seus automóveis e o ciúme que dispende a eles.

— Mas... — toco em seus lábios.

— Eles não erraram — e mesmo que seus olhos ainda estejam cheios de raiva, ele se acalma.

E foi com encanto, mostrando o porquê de eu ter me apaixonado tanto por esse homem, que Matteo nos puxa para dentro do rio, mesmo de terno da mais alta costura italiana e sapatos de couro legítimo, e brinca conosco como se fosse uma criança.

***

— Chegamos cedinho à nossa nova casa — Matteo diz assim que estaciona o carro em frente ao casarão da fazenda.

A fazenda que um dia ele disse que como empregado, não poderia entrar na casa.

Deus, eu preciso parar de lembrar dos péssimos momentos e viver novas experiências.

Seu sorriso é lindo ao abrir a porta para mim e depois ajudar a tirar Filipo da cadeirinha no banco de trás.

E pensar que dormimos na fazenda de diversão dos empregados depois de passarmos horas à beira do rio e ver nosso filho bater o queixo de frio mesmo que não parasse de brincar na água; e quando já era tarde, pai e filho tomam banho juntos enquanto eu preparo algo para comer e me realizo em vê-los sentarem à mesa e desfrutarem daquilo que eu fiz antes de meu filho capotar de sono; e no som da água do rio correndo, nós fizemos amor na área de lazer porque ali não tinha ninguém para nos importunar.

Será que era muito desejar aquilo?

— Não vai trabalhar hoje? — pergunto às gargalhadas assim que ele me põe no chão da casa nova, depois de me carregar nos braços até a entrada da casa porque ele ainda estava no modo fofo.

— Não. Hoje eu quero desfrutar da companhia da minha esposa e do meu filho. Passei meses fora e ninguém morreu, mesmo que tivessem feito uma lambança.

A governanta da casa se aproxima mostrando-se muito agradável e mesmo com todo o respeito que a presença de Matteo impõe, havia mais leveza e menos julgamento.

Matteo me contou que quando trazia a ex aqui, ela vinha com tanta raiva que saía xingando a todos, agredindo a todos, muitas vezes com demissões sem sentido só porque odiava a vida no campo.

E não que algum dia eu sonhei com isso, até porque minha realidade era bem dura, mas eu estou adorando o ar, o clima, os pássaros, a natureza.

— Aqui é seu tanto quanto a outra casa, mas como ficamos de morar aqui, faça as mudanças que desejar. A sede da vinícola fica a alguns quilômetros daqui, nada muito distante que leve horas para se chegar, nem tão perto para se chegar caminhando. Eu e Lucca, quando ele vem para cá, fazemos o trajeto na corrida.

— Eu e Filipo...

— São 25 quilômetros, Rebeca. — Não... definitivamente não dá. — Claro que o caminho daqui até lá é perfeitamente asfaltado e todo assegurado pelos nossos vigias porque é uma estrada que corta a fazenda, mas caminhando com Filipo ainda não é possível.

Ele faz um tour pela casa, mostrando cada cômodo. Claro que o lugar que eu mais gostei foi a cozinha toda equipada com o que há de mais moderno e ao mesmo tempo com um fogão e forno a lenha bem rústico combinando num estilo que deixou tudo bem harmonioso.

O escritório onde eu fui levada como uma criminosa estava totalmente diferente. Ali havia virado uma sala aconchegante, iluminada.

— Eu não conseguia entrar aqui, não depois de vê-la machucada ante minha covardia em assumir meus sentimentos por você — Matteo diz, abraçando-me por trás. — Mandei mudar toda a decoração.

Eu não falei qualquer coisa.

Fui apresentada à babá de Filipo que me ajudaria a cuidar dele, e que eu não a dispensei porque realmente o lugar é muito grande e eu preciso atender ao meu esposo que resolveu hoje ser um anfitrião digno para a rainha da Inglaterra, quem sabe tentando consertar seus erros do passado e do passado não tão antigos assim.

E por mais que ele não quisesse, eu entrei no quarto em que fizemos amor pela primeira vez, olhando pela janela, levemente nostálgica.

— Eu sei que errei muito, mas meus erros me levaram a você — ele diz enquanto me observa perdida em pensamentos.

— Tudo bem — eu precisava enfrentar o passado.

— Te amo, Beca. Te amo muito. Se eu pudesse, eu faria tudo diferente.

Me aproximo dele e coloco meus braços sobre seus ombros de frente a ele.

— Já passou. E eu estou feliz, de verdade. — Aquilo não era mentira. Mas não posso negar que só o tempo me faria esquecer tanta coisa ruim.

Não havia dúvidas sobre meu sentimento em relação a ele, nem qualquer mágoa. Mas o passado é um inimigo muito perverso.

Ele me levou até a garagem com a coleção de carros antigos. Me passou a senha de acesso e eu não pude negar que o primeiro carro a me aproximar foi o Alfa Romeu que meu avô era apaixonado.

E sim, eu falei com ele como se fosse um velho conhecido o que tirou uma gargalhada de Matteo.

— Acho que sou o único que te entendo — confirmo, acariciando o carro tão belo. — Tenho que te mostrar algo.

Ele vai até o cofre onde ficam as chaves de todos os carros.

— Espero não me arrepender desse minuto de insanidade — ele respira fundo. — Meu Deus! Que eu não me arrependa — caio na gargalhada. — A senha é a data de aniversário de Filipo de trás pra frente.

Eu mesma digito e a portinha se abre.

Ele põe a mão no coração exagerando.

— Prometo não destruir seus carros — ele abre um sorriso — como juro que andarei em todos — o sorriso sumiu e eu gargalhei.

— Era disso que eu tinha medo.

— Matteo!

Ele me puxa pela cintura, abraçando-me a ele.

— Ah, meu amor. Já te disse que você fica linda com essa carinha de surpresa? Claro que eu adoro meus carros, sou um colecionador muito ciumento, mas hoje, meu maior bem é você e Filipo. Isso aqui é comprado. — Viu como ele ficou fofo! — Prova do quanto seu amor é mais importante que tudo na minha vida.

Dou um beijo nele rapidamente.

— Sabe que eu adoro quando você fica no modo fofo? — Ele ri.

— Sei, mas isso só entre a gente, tá? Meu irmão me inferniza chamando-me de fofinho e eu só lamento não poder matá-lo — ri.

Matteo e Lucca são dois irmãos ligados, unidos, a ponto de eu desejar dar um irmão logo para Filipo.

Só desejo.

— Agora eu quero te dar um presente — ele pega uma chave que não era bem uma chave e me leva pela mão até uma Ferrari linda.

— Uma SF90?! — minha surpresa fora visível — Puta que pariu! O carro teve menos de mil tiragens em todo o mundo e você comprou uma?


Olho para o carro conversível belíssimo à minha frente. — Deve ter custado os dois olhos da cara.

— Custou alguns milhões — ele diz de braços cruzados. — Mas a minha esposa merece o que há de melhor — Acho que meus olhos aumentaram de tamanho. — É seu, morena.

Eu não tinha palavras.

— Comprei na versão conversível porque Lucca me contou o quanto você adorou quando saiu com ele. — Senti dor em suas palavras. — Enquanto eu te tratava como uma qualquer, Lucca te deixou ser simplesmente você.

Éramos nós dois que tínhamos lembranças ruins. Nós dois precisávamos de novas lembranças lindas para sobrepor tudo que nos machucaram.

— Foi uma surpresa ele me entregar a chave do carro. — Ele dá de ombros. — E claro, depois de conhecer seu irmão no modo louco no volante, minha felicidade dá saltos. — Ele abre um sorriso — Você o conhece nesse modo, não? — Ele assente quebrando um pouco aquela dor dos momentos tristes.

— Por isso que eu não gosto que ele dirija para mim — confirmo. — Agora venha aqui que eu tenho outra surpresa.

Ele pega a minha mão e antes de eu segui-lo, eu o paro obrigando-o a olhar para mim.

— Obrigada por tudo, pelo presente, pela confiança em me passar a senha do cofre das chaves, mas sabe que não precisava, né? Eu ficaria feliz com um carro mais simples, e com relação ao seus colecionáveis, não tenho por que sair com ele. São peças de museu de carro. A gente olha e admira somente — e era verdade.

— Vamos ver — e me carrega para um canto mais afastado.

— MEU DEUS! — Gritei, soltei sua mão e saí correndo e pulando como uma louca — Meu guerreiro? Você o achou? — Ele ri ruidosamente. — Como? Quando? — e grito mais uma vez.

O fusca que eu rodei toda a Suíça com meu filhote.

Abro o carro e vejo que ele estava quase que do jeito que eu o tomei, tanto que eu sentei no banco do motorista, fechei os olhos e chorei.

Chorei muito.

Misto de dor, de saudade, de tristeza, de medo, de alegria, de lembranças boas. Eu estava expurgando tudo que me sufocava por dentro.

Era um turbilhão sentimentos.

— Rebeca, você está bem? — Matteo se agacha diante de mim, do lado de fora do carro, claramente preocupado. — Me desculpa. — E me puxa para seu peito acalentando-me. — Eu... eu queria fazer uma surpresa.

E foi. A melhor.

— E foi linda — digo, olhando para ele. — Eu só não posso negar que... — o bolo enorme se forma na minha garganta — é que por um mês eu só tive esse carro de confidente. Só confiava nele em contar tudo que eu contei, o que eu sentia. Você me deixou com meu filho que eu pensava estar morto, me entregou um dinheiro e mandou eu me esconder em um país que eu não conhecia, que falava um idioma que eu não sabia, com uma identidade falsa. Eu nunca senti tanto medo em minha vida, e não era só por mim, e...

As palavras me sufocavam. Eu não sei quando foi se é que algum dia eu passei por isso, por essa crise convulsiva de choro.

— Psiu — Matteo me puxa mais uma vez abraçando-me forte. — Já passou, meu amor. Estamos juntos agora e isso é o que importa.

Era verdade. Mas as lembranças ainda se perpetuavam e eram muito recentes.

— Me perdoe, morena. Me perdoe por tudo — inspiro profundamente afastando-me dele.

Eu não sei o que me espera, mas não posso negar que estar casada com o homem que eu amo, ao lado do meu filho é mais do que eu poderia esperar.

Tudo está perfeito? Não, longe disso, mas quem vive uma vida perfeita se todos nós somos imperfeitos?

— Não tenho nada para te perdoar que já não foi perdoado — digo, acariciando seu rosto tão lindo. — Agora me dá a chave do meu guerreiro para eu dirigir um pouquinho. — Ele abre um sorriso apontando para o porta-luvas do carro e depois entra no banco do acompanhante se espremendo todo.

— Honestamente, eu pensei que você preferiria sair na Ferrari, e cá estou eu, entrando nesse projeto de carro da Volks — e faz careta tirando-me uma gargalhada.

E antes de eu ligar o carro, ele toca na minha mão.

— Não perca nunca essa sua doçura, simplicidade, Beca. Eu a conheci assim e até te achei burra — ele faz um bico mostrando-se arrependido —, mas você tem uma riqueza de espírito, um caráter tão lindo que me constrange diante dos meus erros.

Apesar de doer, eu gostava de sua honestidade. Ao menos agora eu sei que ele não se esconde atrás de qualquer mentira.

— Não fale besteira, Matteo. E eu não sou burra, sou muito inteligente — brinco com ele. — Agarrei um dos, se não o mais lindo italiano jovem, rico e gostoso. Que burrice é essa? — Ele ri e me puxa dando-me um beijo que acendeu tudo em mim.

Se não fosse o grito do meu filho me chamando, acho que faríamos amor naquele cubículo de carro.

— Amo você — ele diz mais uma vez.

— Eu também — digo, antes do meu filho aparecer no enorme galpão.

E pense na minha felicidade quando coloquei Filipo no banco de trás, liguei aquele som que só pegava a rádio local e partimos em direção à vinícola.

Eu estava completa.


Desculpa o longo silêncio. Vamos para o final.

XÊro




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